Vivendo pela graça - Gl 2.11-21
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Introdução
Introdução
“O preço da liberdade é a eterna vigilância!" Wendell Phillips, anti-escravagista Americano.
Paulo havia arriscado a vida para levar o evangelho a lugares distantes e não estava disposto a deixar o inimigo roubar dele ou de suas igrejas sua liberdade em Cristo.
Foi essa "vigilância espiritual" que levou Paulo a outro embate, dessa vez com o apóstolo Pedro, com Barnabé e com alguns dos amigos de Tiago.
1. A RECAÍDA DE PEDRO (Gl 2:11-13)
1. A RECAÍDA DE PEDRO (Gl 2:11-13)
A primeira coisa a observar é a liberdade de Pedro nessa ocasião. Desfrutava comunhão com todos os cristãos, quer judeus quer gentios. "Comer com os gentios" significava aceitá-los e colocá-los no mesmo nível que os judeus, como uma só família em Cristo.
Pedro foi criado no judaísmo ortodoxo e teve dificuldade em assimilar tal verdade. Jesus havia ensinado essa lição enquanto estava com Pedro antes da crucificação (Mt 15:1-20).
O Espírito Santo a enfatizou novamente ao enviar Pedro à casa de Cornélio, o centurião romano (At 10). Além disso, tal verdade fora aceita e aprovada pela assembléia dos líderes em Jerusalém (At 15).
Nessa ocasião, Pedro foi uma das principais testemunhas em favor da liberdade.
Antes de criticar Pedro, talvez devêssemos examinar nossa própria vida e averiguar a quantas doutrinas bíblicas conhecidas nós obedecemos de fato.
Ao estudar a história da Igreja, vemos que, apesar de terem a Bíblia completa, cristãos de todas as eras demonstraram a mesma dificuldade de crer e de colocar em prática as verdades da fé cristã.
A liberdade de Pedro foi ameaçada por seu medo. Enquanto estava em Antioquia, a igreja recebeu a visita de alguns colaboradores de Tiago (lembrando que, apesar de ser cristão, Tiago também era um judeu zeloso).
Paulo não está insinuando que Tiago enviou esses homens para investigar Pedro, nem diz que eram líderes da igreja de Jerusalém.
Mas, sem dúvida, pertenciam ao "partido da circuncisão" (At 15:1, 5) e desejavam conduzir a igreja de Antioquia ao legalismo religioso.
Depois de sua experiência com Cornélio, Pedro foi repreendido e havia se defendido habilmente (At 11).
Nessa ocasião, com a chegada de alguns membros da "oposição" aqueles que estavam pervertendo o Evangelho, vemos o apóstolo perder sua coragem. "Quem teme ao homem arma ciladas" (Pv 29:25).
Como podemos explicar esse medo?
Dentre outras coisas, sabemos que Pedro era um homem impulsivo. Era capaz de demonstrar fé e coragem extraordinárias em um instante e definhar logo em seguida.
Caminhou sobre as ondas para ir ao encontro de Jesus, mas logo se assustou e começou a afundar.
Quando estava no cenáculo, se gabou de que morreria de bom grado por Jesus e, em seguida, negou o Mestre três vezes.
Sem dúvida, Pedro mostrou-se muito mais coerente no Livro de Atos do que nos quatro Evangelhos, mas não era perfeito - assim como nos também não somos!
Seu medo em viver pela graça e defender essa verdade, causou sua queda. Deixou de desfrutar as "refeições de comunhão" com os cristãos gentios e se separou deles.
Essa recaída de Pedro apresenta dois aspectos trágicos.
Em primeiro lugar, ela o transformou em um hipócrita. Pedro fingiu que suas ações eram motivadas pela fidelidade, quando, na verdade, eram resultantes de seu medo e covardia.
Como é fácil usarmos a "doutrina bíblica" para encobrir nossa desobediência!
Em segundo lugar, Pedro fez outros se desviarem com ele. Até mesmo Barnabé acabou se envolvendo nessa dissimulação. Barnabé fora um dos líderes espirituais da igreja de Antioquia (At 11:19-26), de modo que sua desobediência deve ter exercido influência enorme sobre os outros membros da congregação.
Suponhamos que Pedro e Barnabé tivessem prevalecido e levado a igreja ao legalismo.
O que poderia ter acontecido?
Antioquia teria continuado a ser a grande igreja missionária que enviou Paulo e Barnabé? (At 13). Teria, em vez disso, enviado "missionários" do partido da circuncisão e tomado ou dividido as igrejas que Paulo já havia fundado?
Podemos observar que esse problema não era uma questão de personalidade ou de partidarismo; antes, tratava-se da "verdade do evangelho". Paulo estava preparado para lutar por essa verdade.
2. A REPREENSÃO DE PAULO (Gl 2:14-21)
2. A REPREENSÃO DE PAULO (Gl 2:14-21)
Para Paulo que o que estava em jogo era nossa liberdade em Jesus Cristo.
É interessante observar que Paulo desenvolve toda a repreensão com base nas doutrinas do Evangelho.
Vemos quatro doutrinas cristãs sendo negadas por Pedro em decorrência de sua separação dos gentios.
i- A unidade da Igreja (v. 14).
i- A unidade da Igreja (v. 14).
Pedro era um judeu, mas por sua fé em Cristo, havia se tornado cristão. Uma vez que era cristão, fazia parte da Igreja, e dentro da Igreja não há distinções raciais.
28 Assim sendo, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vocês são um em Cristo Jesus.
Vimos como o Senhor ensinou essa lição importante a Pedro, primeiro na casa de Cornélio, depois na assembléia de Jerusalém.
As palavras de Paulo são fortes: v.14b - "Você é judeu e, no entanto, tem vivido como gentio. Agora, quer que os gentios vivam como judeus. Que incoerência é essa?"
O próprio Pedro afirmara na assembléia em Jerusalém que Deus "não estabeleceu distinção alguma entre nós e eles" (At 15:9).
Mas agora, Pedro está estabelecendo uma distinção. Mesmo que a igreja se expresse em vários grupos, o povo de Deus é um só.
Qualquer prática de nossa parte que vá contra as Escrituras e que cause separação entre os irmãos é uma negação da unidade do corpo de Cristo.
ii- A justificação pela fé (vv. 15-18).
ii- A justificação pela fé (vv. 15-18).
Esta é a primeira vez que o termo justificação aparece nesta epístola. A "justificação pela fé" foi o lema da Reforma e é importante compreender essa doutrina.
"Como pode o homem ser justo para com Deus?" (Jó 9:2).
Trata-se de uma pergunta vital, pois a resposta tem conseqüências eternas.
A Bíblia tem uma resposta, "Mas o justo viverá pela sua fé" (Hc 2:4) ; e foi essa verdade que libertou Martinho Lutero da escravidão religiosa e do medo.
Esse conceito é tão vital que três livros do Novo Testamento o explicam para nós: Romanos (1:17), Gálatas (3:11) e Hebreus (10:38). Romanos explica o significado de "o justo"; Gálatas explica "viverá" e Hebreus explica "pela fé".
Mas o que é justificação?
John Stott diz que a palavra “justificação” é um termo legal que foi tomado emprestado dos tribunais. É exatamente o oposto de “condenação”. Condenar é declarar uma pessoa culpada; “justificar” é declará-la sem culpa, inocente ou justa.
Na Bíblia, essa palavra significa o ato imerecido do favor de Deus por meio do qual ele coloca diante de si o pecador, não apenas perdoando ou isentando-o da culpa, mas também aceitando-o e tratando-o como justo.
Uma vez que somos justificados pela fé, trata-se de uma transação imediata entre Deus e o pecador que crê em Cristo. Se fôssemos justificados pelas obras, teria de ser um processo gradual.
Além disso, a justificação é um ato de Deus; não o resultado do caráter ou das obras de um homem. "É Deus quem os justifica" (Rm 8:33).
O pecador não é justificado diante de Deus fazendo as "obras da lei", mas sim depositando sua fé em Jesus Cristo.
Como Paulo explicará mais adiante nesta epístola, a Lei foi dada para revelar o pecado, não para redimir do pecado.
20 Porque ninguém será justificado diante de Deus por obras da lei, pois pela lei vem o pleno conhecimento do pecado.
Em sua graça, Deus colocou nossos pecados sobre Cristo - e "depositou em nossa conta" a justiça de Cristo.
21 Aquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós, para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.
Na justificação, Deus declara justo o pecador que crê; ele não o torna justo.
Antes de o pecador crer em Cristo, ele é culpado diante de Deus; mas no momento que crê em Cristo, é declarado inocente e não pode jamais ser chamado de culpado outra vez!
A justificação não é apenas "perdão", pois uma pessoa poderia ser perdoada e depois voltar a pecar e se tornar culpada novamente. Uma vez que fomos "justificados pela fé", nunca mais seremos declarados culpados diante de Deus.
Quando um pecador é justificado pela fé, seus pecados não são mais lembrados nem usados contra ele, e Deus não registra mais suas transgressões.
1 Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, cujo pecado é coberto. 2 Bem-aventurado é aquele a quem o Senhor não atribui iniquidade e em cujo espírito não há engano.
Por fim, Deus justifica os pecadores e não as "pessoas boas". Paulo diz que Deus justifica "o ímpio" (Rm 4:5).
O motivo pelo qual a maioria dos pecadores não é perdoado é o fato de não admitirem sua condição! E Jesus Cristo só pode salvar pecadores.
Ao se separar dos gentios, Pedro negava a verdade da justificação pela fé, pois dizia: "Nós, os judeus, somos diferentes dos gentios e melhores do que eles".
No entanto, judeus e gentios são pecadores (Rm 3:22-23) e só podem ser salvos pela fé em Cristo.
O que Pedro faz e também os judaizantes que defendem a justificação por obras da Lei é um grande absurdo.
Paulo ao escrever os versos 16 e 17 nos diz:
“Se nós, que somos justificados em Cristo, ainda somos considerados não-justificados, mas pecadores, que ainda precisam de justificação por obras, então, não é Cristo que nos justifica, mas as obras.
E se então somos salvos pelas obras, significa que a única coisa que Cristo produziu foi nos tornar pecadores.”
Isso é impossível, você concorda?
É por isso que Paulo argumenta a partir de uma impossibilidade, ou seja, Cristo não pode ser ministro do pecado, de modo nenhum.
Logo, o Evangelho é a proclamação de Cristo, que perdoa o pecado, concede a graça, justifica e salva pecadores. De modo nenhum Cristo é ministro do pecado. Mas aquele que dele nos livra.
iii. O próprio evangelho (w. 19, 20).
iii. O próprio evangelho (w. 19, 20).
Se uma pessoa é justificada pelas obras da Lei, por que Jesus Cristo morreu?
Sua morte, sepultamento e ressurreição são as verdades essenciais do evangelho (1Co 15.1-8). Somos salvos pela fé em Cristo (ele morreu por nós) e vivemos pela fé em Cristo (ele vive em nós).
Além disso, o Espírito nos identifica de tal modo com Cristo, que morremos com ele (ver Rm 6). Isso significa que estamos mortos para a Lei.
Voltar para Moisés, ou para as obras, é o mesmo que voltar para o cemitério! Fomos ressuscitados para andar "em novidade de vida" (Rm 6:4); e, uma vez que vivemos pelo poder de sua ressurreição, não precisamos da "ajuda" da Lei.
O Evangelho anuncia que agora nosso viver está em Cristo, vivemos nos movemos e existimos por Cristo e para Cristo. v.20
Lutero diz:
Morrer para a lei, isto é, não ter absolutamente mais nada com a ver com a lei. Pois se somos justificados somente pela fé em Cristo, a lei não merece nossa atenção para sermos salvos.
Se vivemos para Deus é unicamente porque estamos unidos pela fé ao Cristo crucificado que se deu por nós, e isso torna possível a vida da fé.
iv. A graça de Deus (v. 21).
iv. A graça de Deus (v. 21).
Os judaizantes desejavam combinar a Lei com a graça, mas Paulo declara que isso é impossível. Voltar à Lei significa "anular" a graça de Deus.
Pedro havia experimentado a graça de Deus na própria salvação e proclamou a graça de Deus no próprio ministério. No entanto, ao se separar da comunhão cristã dos gentios, negou abertamente a graça de Deus.
A graça diz: "Não há distinção! Todos são pecadores, e todos podem ser salvos pela fé em Cristo!"
Mas por meio de suas ações, Pedro dizia: "Há distinção! A graça de Deus não é suficiente; também precisamos da Lei, de nossos esforços.
A volta à Lei anula a cruz: "se a justiça é mediante a lei, segue-se que morreu Cristo em vão" (Gl 2:21).
A Lei diz: faça para ser aceito. A graça diz: já foi feito "Está consumado", você já foi aceito em Cristo. "Porque pela graça sois salvos, mediante a fé" (Ef 2:8).
Não temos qualquer registro da reação de Pedro à repreensão de Paulo, mas as Escrituras indicam que Pedro reconheceu seu pecado e foi restaurado à comunhão. Por certo, ao lermos as duas epístolas de Pedro (1 e 2 Pe), não encontramos qualquer distorção do evangelho da graça de Deus.
Na verdade, o tema de 1 Pedro é "a genuína graça de Deus" (1Pe 5:12); o termo graça é usado em todos os capítulos da carta.
A graça venceu esse embate, com certeza Pedro se arrependeu e o Evangelho venceu, mas agora essa responsabilidade de viver pela graça recai sobre nós.
3. A RESPOSTA DOS CRISTÃOS
3. A RESPOSTA DOS CRISTÃOS
Sabemos como Pedro reagiu quando foi desafiado a viver de acordo com a verdade do evangelho: amedrontou-se e fracassou.
E sabemos como Paulo reagiu quando viu a verdade do evangelho ser diluída: mostrou- se corajoso e a defendeu.
Mas a pergunta importante para os dias de boje é: de que maneira nós respondemos à verdade do evangelho, como vivemos pela graça?
Permita-me sugerir algumas perguntas para cada um de nós responder.
i. Fomos salvos pela graça de Deus?
i. Fomos salvos pela graça de Deus?
O único evangelho que salva é o evangelho da graça de Deus revelada em Jesus Cristo. Qualquer outro evangelho é falso e amaldiçoado (Gl 1:6-9).
Confiamos em nós mesmos, em nossa moralidade, em nossas boas obras ou até mesmo em nossa religião?
Se esse é o caso, então não somos cristãos, pois o verdadeiro cristão é aquele que crê somente em Cristo.
8 Porque pela graça vocês são salvos, mediante a fé; e isto não vem de vocês, é dom de Deus; 9 não de obras, para que ninguém se glorie.
ii. Tentamos combinar a Lei com a graça?
ii. Tentamos combinar a Lei com a graça?
Pela Lei, devemos fazer alguma coisa para agradar a Deus; mas pela graça, Deus consumou a obra por nós, e tudo o que precisamos fazer é crer em Cristo.
A salvação não é dada pela fé em Cristo mais alguma coisa; a salvação é somente pela fé em Cristo.
Apesar de a participação em uma igreja e as obras obras serem benéficas em seu devido lugar como expressão de fé no Senhor, jamais podem ser anexada à fé em Cristo, a fim de garantir a vida eterna.
6 E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça.
iii. Regozijamo-nos no fato de sermos justificados pela fé em Cristo?
iii. Regozijamo-nos no fato de sermos justificados pela fé em Cristo?
Costuma-se dizer que "justificado" significa "como se nunca tivéssemos pecado", e é verdade.
Experimenta-se profunda paz no coração ao saber que a vida está em ordem diante de Deus (Rm 5:1).
E maravilhoso pensar que a justiça de Cristo foi depositada em nossa conta! Deus não apenas nos declarou justos em Cristo, como também se relaciona conosco como se nunca tivéssemos pecado!
Não é preciso jamais temer o julgamento, pois os pecados já foram julgados em Cristo na cruz.
1 Agora, pois, já não existe nenhuma condenação para os que estão em Cristo Jesus.
iv. Andamos na liberdade da graça?
iv. Andamos na liberdade da graça?
Liberdade não quer dizer libertinagem; antes, significa a liberdade em Cristo para desfrutá- lo e para nos transformarmos nas pessoas que deseja que sejamos.
10 Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.
Não é liberdade para fazer, e sim liberdade para não fazer. Não vivemos mais sob a escravidão do pecado e da Lei.
Conforme Paulo explicará na seção prática desta epístola (Gl 5 - 6), obedecemos a Deus por amor, não por causa da Lei. Os cristãos possuem uma liberdade maravilhosa em Cristo.
Desfrutamos essa liberdade?
v. Estamos dispostos a defender a verdade do evangelho?
v. Estamos dispostos a defender a verdade do evangelho?
Isso não significa que vamos nos tornar detetives do evangelho investigando outros crentes e outras igrejas.
Mas significa que não temeremos as pessoas quando negarem as verdades que nos concederam vida eterna em Cristo.
10 Por acaso eu procuro, agora, o favor das pessoas ou o favor de Deus? Ou procuro agradar pessoas? Se ainda estivesse procurando agradar pessoas, eu não seria servo de Cristo.
Muita gente com quem temos contato acredita que somos salvos ao crer em Cristo e também "praticar boas obras... guardar os dez mandamentos... obedecer ao Sermão do Monte" e mais uma porção de "adendos religiosos".
Podemos não ter a mesma autoridade apostólica que Paulo, mas temos a Palavra de Deus para proclamar, e é nossa obrigação compartilhar a verdade.
vi. "Procedemos corretamente segundo o Evangelho da Graça"?
vi. "Procedemos corretamente segundo o Evangelho da Graça"?
A melhor maneira de defender o Evangelho da Graça é vivendo por meio dele.
Minha defesa verbal do evangelho não adiantará de muita coisa se, em minha vida, eu cair em contradição com meu discurso, como Pedro.
Como uma igreja que deseja ser centrada no Evangelho, precisamos entender que pregar o santo evangelho implica em viver de acordo com este evangelho.
27 Acima de tudo, vivam de modo digno do evangelho de Cristo, para que, ou indo até aí para vê-los ou estando ausente, eu ouça a respeito de vocês que estão firmes em um só espírito, como uma só alma, lutando juntos pela fé do evangelho;