Tristeza transformada em alegria (Jo 16.16-24)

Evangelho de João  •  Sermon  •  Submitted
0 ratings
· 115 views
Notes
Transcript
Culto Dominical 24 de março de 2019 – Exposições no Evangelho de João
Jo 16.16-24 Tristeza transformada em alegria
- Leitura de João 16.16-24 -
Se você colocar o título dessa mensagem [“tristeza transformada em alegria”] no Google encontrará inúmeras mensagens de cunho religioso. Três coisas ficam evidentes: a primeira é de que essa é uma das grandes angústias do ser humano – por que ficamos tristes? por que a tristeza existe? por que sofremos? O que há de errado com o ser humano individualmente, com a humanidade [coletivamente] e com o mundo? Há como viver sem experimentar a tristeza? A segunda é que a alegria é a grande expectativa humana. Existe no coração humano uma inclinação para a alegria, para o prazer, para a satisfação. O homem está, a cada segundo de vida, procurando novas fontes de alegria. A humanidade espera que após a tristeza venham ventos de alegria. Em terceiro lugar, o naturalismo/existencialismo não pode trazer as respostas para os grandes questionamentos humanos, como a realidade da tristeza ou porque a alegria é a grande expectativa humana. Quando estamos tristes não procuramos artigos científicos, teodiceias, procuramos fonte de alegria.
No texto que lemos, nos versos 16-19, os discípulos ainda custam a entender que a morte de Jesus estava se aproximando – “mais um pouco”; alguns dias, na verdade. A cada fala sobre o que aconteceria com Jesus deixava os discípulos atônitos e desesperados. Isso fica bem claro aqui nesses três versos em seus questionamentos.
E Jesus é verdadeiro em sua explicação, mas lhes entrega uma das promessas mais sublimes do Novo Testamento: “vocês chorarão e lamentarão pelo que acontecerá comigo, mas o mundo se alegrará. Ficarão tristes, mas sua tristeza se transformará em alegria”. Essa é uma das ações mais maravilhosas operadas por nosso Deus: a capacidade de tornar a tristeza em bem.
Vejamos: Existia ali uma porção de tristeza e lamento diferente da que o mundo experimenta. Não é apenas a tristeza que é comum à humanidade. É diferente no sentido contrastante mesmo: enquanto os discípulos chorassem, o mundo se alegraria. Mas a promessa de Jesus vem a seguir: a sua tristeza se transformará em alegria.
A crucificação de Jesus é a alegria do mundo – uma alegria perversa. O filho de Deus seria morto pelos judeus, testemunhado e instigado pela perversidade dos gentios, com a aprovação e maquinário estatal de Roma. A ausência de Cristo não lhes causaria qualquer tristeza. Eles podem estar supostamente felizes sem a presença de Cristo. Já os discípulos se sentiam como uma noiva prestes a ficar viúva – alguém que está triste pela morte anunciada de seu cônjuge. Eles chorarão e lamentarão diante do seu amado pendurado numa cruz, experimentando a agonia daquela morte dolorosa e humilhante. Mas todo o choro seria transformado em alegria, conforme as palavras do próprio Cristo. Como eles se alegrariam? Pois Cristo ressuscitaria! É uma alegria na glória futura, conforme o verso 22 “Da mesma forma, agora vocês estão tristes, mas eu os verei novamente”.
Meus irmãos, aqui podemos fazer dois destaques:
1 Nós temos alegria na ressurreição:
Veja – a morte de Jesus traria lamento aos discípulos que ali estavam com Jesus. Mas esse lamento sairia no mesmo momento em que a alegria da ressurreição entrasse pela porta. Jesus vive, e isso é alegria para eles! (Jo 20.11-20).
Meus irmãos, Jesus ressuscitou! O Pai recebeu o sacrifício de Jesus e nossos pecados foram perdoados. A morte foi vencida e tragada na morte de Cristo. Jesus subiu para o Pai, para onde todos nós iremos um dia. O Espírito nos foi entregue e o povo santo de Deus está sendo reunido em todo mundo e ao longo da história – o reino de Cristo avança! Como não ficarmos alegres?
E o Espírito que habita em nós, o Consolador, é o selo e garantia de nossa herança até o dia em que Deus nos resgatará para o louvor de sua glória. (23, 24) Por causa da ressurreição temos livre acesso ao Pai, no nome de Jesus, e receberemos aquilo que pedirmos, tendo alegria completa[1]!
A ressurreição anuncia não só que a alegria virá após a tristeza, mas que a alegria jamais pode ser arrancada de nós. Nesse período de nossas vidas a alegria está misturada à tristeza. Mas a tristeza está com seus dias contatos e a alegria que em nós foi plantada frutificará para sempre.
A cruz, um elemento de morte, se tornou um símbolo de alegria e esperança para os cristãos – pois a olhamos da perspectiva da ressurreição - Jesus está novamente vivo! Ele está revestido de uma glória peculiar porque venceu sobre a morte. Jesus, em sua própria carne, sabia que experimentaria a mais cruel das tristezas, porém tinha certeza de que a sua tristeza seria transformada em alegria (Fp 2.5-11 e Hb 12.2-3). Nós também, como uma mulher que enfrenta um parto, mas é consolada e alegrada pelo bebê em seus braços (21).
Cristo ressuscitou – somos mais que vencedores agora. Nosso pecado foi crucificado com Cristo e apagado com o lavar do sangue de Jesus. Nosso pecado foi lançado em Cristo e totalmente consumido. O nosso acusador, o príncipe deste mundo foi expulso (12.31). Pela ressurreição, a ceia não é uma reunião de lamento, mas um memorial festivo da morte de Cristo. É a tristeza transformada em alegria.
2 Nós teremos total alegria na segunda vinda de Cristo.
Meus irmãos, da mesma forma que os discípulos se alegrariam, pois Cristo os veria novamente, um dia veremos a Cristo face a face. Se na morte, ao fecharmos os olhos aqui, os abriremos no esplendor do céu, quão maravilhoso, então, será o retorno de Cristo – o que nos ofuscará a vista não será o esplendor da cidade celestial, mas o brilho majestoso da face de Cristo, o nosso salvador.
Não devemos perder de vista que a tristeza nos lembra que fomos feitos para a alegria. A sensação de não se achar normal estar triste é porque fomos feitos para a alegria. Mas a tristeza ainda faz parte dessa fase da nossa história. A tribulação faz parte da escola cristã – estamos sendo conformados à semelhança de Deus, e esse processo é doloroso. Mas não se compara com o fruto final. Nossas “aflições pequenas e momentâneas que agora enfrentamos produzem para nós uma glória que pesa mais que todas as angústias e durará para sempre. Portanto, não olhamos para aquilo que agora podemos ver; em vez disso, fixamos o olhar naquilo que não se pode ver. Pois as coisas que agora vemos logo passarão, mas as que não podemos ver durarão para sempre” (2 Co 4.17,18). A tristeza desse mundo caído será tragada na glorificação que será operada em nós (Rm 8.18-28).
As pessoas tentam se relacionar com a tristeza de formas distintas. Há os que negam ou rejeitam a tristeza como um dado da realidade – um fato. A dor para eles não é real – imagine dizer isso para uma mãe que acabou de perder o seu filho. Há os mais hedonistas que não buscam meditar em como enfrentar a tristeza, mas vivem freneticamente em busca do prazer – porém, não possuem repouso, pois, por causa do pecado, encontram prazer apenas nos ídolos. Eles podem até se satisfazer por um momento, mas, como as promessas dos ídolos são sempre falsas e os ídolos são como o vento, nunca o ídolo realiza alegria perfeita e eterna. Paulo se deparou, em Atenas, com os epicureus, em que o sentido da vida é buscar o máximo possível de prazer se distanciando das fontes de sofrimento[2]. Tudo que tiver de viver viva agora, não se preocupe com o porvir. O apóstolo também se deparou com os estóicos, que se blindam de insensibilidade diante das circunstâncias, evitando frustrações que minam o prazer[3]. Aceita-se o “destino”. Hoje nós temos uma mentalidade consumista – que busca prazer nas coisas. Os consumistas vivem em constante inquietação, sendo satisfeitos por coisas, caras ou baratas. O que não satisfaz precisa ser descartado. Tem suas almas renovadas com guarda-roupas cheios, geladeiras abastecidas, e projetando uma imagem falsa para a sociedade.
Nada disso supera a tristeza fatal do coração humano. Só a presença de Cristo pode nos dar verdadeiro sentido e transformar nossas tristezas em alegria real e eterna. O sofrimento que experimentamos é real – mas mais real ainda é o nosso salvador e a sua promessa de que dos nossos rostos serão enxugadas todas as lágrimas.
Soli Deo Gloria
[1]Desde conversões, luta contra o pecado, fortalecimento e unidade da igreja, aos presentes da graça como a transformação da família, filhos numa boa escola, a saúde de nossos amigos. [2]Como agir com um cônjuge em estado terminal? [3]“Não se alegre com o emprego de agora, você pode ser demitido amanhã”.
Related Media
See more
Related Sermons
See more