O bom pastor e os salteadores (João 10)

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Culto Dominical 05 de novembro de 2017 – Exposições no Evangelho de João
Por Phylippe Santos
João 10 O bom pastor e os salteadores
Introdução: O novo testamento, quando escrito originalmente, não dividido em capítulos e versículos como temos hoje. Esse texto é uma continuação do que meditamos em João 9. O homem cego de nascença que fora curado por Jesus, a Luz do Mundo, é expulso da sinagoga pelos líderes religiosos de Jerusalém, pois aquele homem e sua enfermidade foram instrumentos de Deus para o testemunho da obra e pessoa de Cristo. Diante disso, Jesus faz alusão a uma figura presente na cultura judaica do pastor e das ovelhas – uma quadro vivo na linguagem do AT (Ex.: Sl 23; Ez 34). Deus era o pastor de Israel e Israel era o rebanho do Senhor (Sl 74.1). Jesus deixa bem claro dois tipos de pastores e dois tipos de ovelhas.
1. O pastor infiel.
Aqueles fariseus expulsaram o homem que fora cego da sinagoga. Pensando eles estarem fazendo um ato zeloso em favor da sua posição religiosa, expulsando um “lobo” de seu aprisco, estavam, na verdade, expulsando uma verdadeira ovelha do Senhor Jesus. Os líderes infiéis estavam agindo como destruidores do rebanho. Enquanto pensavam estar excluindo o homem do povo de Deus, o próprio Deus afirma que ele é quem realmente pertence a seu povo.
A figura do aprisco (vs. 1)
Os líderes infiéis são apresentados por Jesus não como pastores de fato, mas como “ladrões e salteadores” (vs. 1). O aprisco era um local de proteção para as ovelhas – essa proteção poderia ser um lugar permanente ou temporário. Durante o frio, as ovelhas eram recolhidas a um aprisco ao anoitecer. Geralmente era construído de pedras com ramagens de roseiras silvestres, (citação comentário histórico...), lá elas estavam protegidas do frio, dos ladrões e dos predadores. Os apriscos poderiam ser uma parte do quintal de uma família, mas era comum também apriscos grandes e independentes, onde várias famílias mantinham suas ovelhas, contratando um “subpastor” para vigiar a porta e, eventualmente, cuidar delas. Ora, todo aquele que não se aproximava das ovelhas para cuidar delas, porém, com o intuito de se roubá-las, teria de fazê-lo “por outra parte” (vs. 1). Os ladrões e assaltantes estão mais interessados em tosquiar as ovelhas do que em guiá-las, alimentá-las e protegê-las, por isso, o porteiro não abriria a porta para eles. Em uma extrapolação do texto, se consideramos Deus, em sua soberania, como o porteiro, muitos que recebem honras e aplausos mas não cuidam das ovelhas segundo a ordem de Cristo, não possuem a aprovação de Deus.
João Calvino dizia que “nenhuma praga é mais destrutiva a Igreja do que quando lobos devastam sob a vestimenta de pastores. E também sabemos quão grave ofensa é quando israelitas bastardos e degenerados pretendem ser os filhos da Igreja e, sob esse pretexto, insultam os crentes”.
Sua voz é estranha (vs. 5)
Os líderes infiéis, como aqueles fariseus do capítulo 9, por mais que tentassem, não poderiam atrair as verdadeiras ovelhas de Jesus. Bem se sabia, e hoje existe comprovação para isso, que as ovelhas fogem dos estranhos. Como muitos apriscos naquela época eram compartilhados, as ovelhas de uma família não atendiam a voz de outros pastores. Aqueles que vinham com o intuito de desencaminhar as ovelhas não convenciam as verdadeiras ovelhas. Sua voz causa repulsa, medo e estranheza. Aqui entendemos porque as ovelhas de Cristo o seguem: porque sabem distinguir a voz dos pastores dos lobos pela voz. É o discernimento que o crente possui de distinguir a verdadeira doutrina das falsas invenções dos homens.
Um triste alerta é que as ovelhas não são atraídas, mas podem ser dispersas por falsos pastores.
Os falsos pastores matam, roubam e destroem (vs. 10)
Uma das marcas do pastor infiel é a busca por benefício próprio em detrimento das necessidades das ovelhas – Essa é a característica de um ladrão. O ladrão age em benefício próprio, seja para enriquecimento ou para matar a sua fome através da ovelha roubada. Elas servem apenas como um meio para alcançar um status, um domínio, um poder, uma satisfação pessoal. Essa figura apresentada por Jesus remete fortemente ao juízo de Deus sobre os pastores infiéis de Israel descrito no livro de Ezequiel, capítulo 34. O pastor infiel se alimenta, se veste e se mantem da morte das ovelhas. Cristo não está apontando para os profetas que lhe antecederam (vs. 8), mas para todos aqueles líderes religiosos que massacravam o povo.
Algo similar acontecia no contexto do início da Reforma Protestante. Falsos pastores colocavam sobre o povo o julgo da venda de indulgências. Isso não era feito para garantir a salvação do povo, mas para garantir cofres fartos ao clero. Como lembra a célebre frase de Johann Tetzel, "Tão logo uma moeda na caixa cai, a alma do purgatório sai". Hoje o paralelo é a teologia da teologia da prosperidade que, ao contrário de garantir um espaço no céu, faz a falsa promessa de um céu na terra. Ambos os casos, frutos da ganância de pastores infiéis.
É mercenário: não é dono das ovelhas (vs. 12)
Por que essa figura do mercenário é citada por Jesus? Naquela época haviam pastores auxiliares contratados. Eles não se responsabilizavam pelos ataques sofridos pelos rebanhos de feras selvagens, como lobos. Eles trabalhavam não por amor as ovelhas, mas por remuneração. Não havia preocupação real com as ovelhas, pois elas não eram suas.
Não expulsa os lobos, mas abandona as ovelhas (vs. 12)
O falso pastor tem uma última característica lastimável: ele não expulsa os lobos. Os lobos podem viver a espreita do rebanho e, se um lobo aparecer, ele corre. Não arrisca sua vida pelas ovelhas. Um pastor falso chama de ovelha quem é lobo – e isso deixa as ovelhas vulneráveis.
2. O verdadeiro pastor
Agora veremos o tipo de pastor que é Jesus e todos aqueles que cuidam de seu rebanho.
Ele abre a porta: não por arrombamento, mas o porteiro abre (vs. 2 e 3)
Jesus tem livre acesso ao aprisco das ovelhas. Ele vem com a intenção de cuidar de suas ovelhas. Ninguém lhe nega acesso, ele não precisa arrombar as portas nem saltar os muros. Ele é reconhecido pelo porteiro e pelas ovelhas, e as guia para fora e para o próprio bem delas.
Chama suas ovelhas pelo nome (vs. 3)
Embora no aprisco possam ter muitas rebanhos, o pastor as chama pelo nome e elas atendem. Conforme a tradição, os pastores conheciam cada uma de suas ovelhas e, eventualmente, dava nomes a elas de acordo com suas características (por exemplo, “nevada”). Ele as chama e elas se reúnem ao seu redor – diante disso, note que Cristo não apenas grita ou emite sons peculiares com a boca ou flauta: ele as chama pelo nome. Antes dele chamar já existem as ovelhas que são suas e que lhe atendem o chamado nominal (cf. Is 43.1). Ele as chama individualmente e constitui o seu próprio rebanho. A palavra de Jesus é o centro do chamado. E essa é a grande preocupação dos pastores servos de Jesus: que a sua palavra seja pregada para que as suas ovelhas ouçam sua voz lhe chamando pelo nome. É por isso que Paulo não cansa de repetir velhas verdades, pois, como ele mesmo afirma, “nada considero digno de ser conhecido, senão Jesus Cristo” (1Co 2.2).
Nem sempre Jesus falou com parábolas, mas ele faz isso aqui. E um dos motivo é esse: para distinguir o rebanho (9.39; 10.26).
Ele as lidera com a sua voz e vai adiante delas (vs. 4)
Geralmente, imaginamos a figura dos filmes de um pastor tangendo suas ovelhas com o auxílio de um cão pastor. Porém, a figura que temos aqui é a do próprio Cristo liderando e suas ovelhas pela sua voz – palavra. Ele é o bom pastor! Ele não permite que suas ovelhas dispersas pelos impostores se percam, mas Ele mesmo as busca e reúne (Ez 34).
Isso é uma maravilhosa consolação para nós “quando sabemos que Cristo, por sua fiel proteção, sempre guarda as suas ovelhas quando estas se veem no meio de variados ataques e astutos engenhos dos lobos e salteadores, de modo que nunca haja alguma delas que deserte dele.
Ele é a porta de salvação de suas ovelhas (vs. 7, 9 e 10)
Enquanto os líderes religiosos sufocavam as ovelhas, Cristo é que lhes dá a vida. Muitos pastores dormiam na porta dos apriscos para garantir a segurança de suas ovelhas. Provavelmente esse é o motivo de Jesus além de se identificar como o verdadeiro pastor, se identifica como a porta das ovelhas. Ele é a garantia de entrada e saída em segurança do aprisco. Ele é a fonte de vida abundante. Além disso, Cristo se identifica como a porta pois não há outra forma de entrar no rebanho de Deus senão por ele. Daí, inferimos que só serão bons pastores aqueles que direcionam os homens a Cristo,
Nesse trecho, Jesus inicia uma série de afirmações com “eu sou”, remetendo que ele não é apenas um pastor de ovelhas, mas o divino pastor de Israel.
Ele dá a vida pelas ovelhas (11, 12 e 14)
Enquanto os pastores auxiliares não se responsabilizavam de maneira radical com as ovelhas, visto que não eram suas, e na ameaça de ataque de feras selvagens preferiam resguardar suas próprias vidas do que a das ovelhas, Cristo é o bom pastor pois dá a sua vida por elas. Cristo enfrenta as feras, expulsa os lobos (não os domestica), preserva o rebanho. Se necessário, morre para salvar as suas ovelhas. Ele morre e garante vida as suas ovelhas (vs. 17 – 19). A morte de Cristo não é a morte e um homem por um homem só. Visto que Ele é Deus e não conheceu pecado, sua morte tem poder infinito e ele tem o poder para entregar a sua vida e reavê-la. A morte de um homem gerou vida a milhões de pessoas, sejam judeus ou gentios (vs. 16).
Ele dá garantias a elas (vs. 28)
O ensino de Jesus de Jesus sobre sua entrega vicária em favor de suas ovelhas não é uma discussão que nasce no século 16, ou mesmo nos século IV e V. Naquela época já causava debates (vs. 19 e 20). Mas esse ensino nos dá uma segurança que Cristo mesmo garante às suas ovelhas: ninguém pode nos tirar de suas mãos! (vs. 26-28).
Já aqueles que não são ovelhas de Jesus não sabem discernir a voz do pastor da voz do mercenário, recebem o estranho e dão ouvidos aos ladrões e salteadores. No capítulo 9 e 10 de João aprendemos que para aqueles que rejeitam a Cristo, a cegueira é acompanhada da surdez.
Esse Cristo que comprou suas ovelhas, que chama cada uma delas pelo nome e que garante vida a elas através dele mesmo – que é a porta para Deus, foi recebido nos portões celestiais em hinos de glória e vitória (Sl 24).
Soli Deo Gloria
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