A obra do Espírito Santo (Jo 16.5-15)
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Culto Dominical 10 de março de 2019 – Exposições no Evangelho de João
Por Phylippe Santos
Jo 16.05-15 A obra do Espírito Santo
- Leitura de João 16.05-15 -
Introdução: No contexto da passagem que lemos, Jesus apresenta aos seus discípulos que o ódio que o mundo tem Dele e do Pai também terão de seu povo – “não é o servo maior do que o seu Senhor” (15.20b). Jesus também prediz ali acerca da forte perseguição que sobreviria à igreja no princípio, com a expulsão de cristãos das sinagogas e até o martírio de muitos deles. Jesus ainda não falara amplamente sobre os perigos pois sua presença atraía para si as tensões. Mas, com a proximidade de sua partida, Ele os conforta com a vinda do Consolador.
O nosso texto inicia com uma aparente contradição entre os versos 13.36, 14.5 e 16.5, quando Jesus afirma que, agora que Ele vai para aquele que o enviou, nenhum deles pergunta para onde ele vai. Levando-se em conta os aspectos literários, entendemos que Pedro e Tomé fazem as seguintes perguntas em tom de protesto. O comentarista D. A. Carson afirma que o tom dos discípulos é semelhante ao filho que esperava sair com o pai para pescar e seu pai é repentinamente chamado para uma emergência. O filho desapontado diz ‘ah!, papai, aonde o senhor está indo?’, porém não tem nenhum interesse em saber o destino – é simplesmente um protesto. Os discípulos, portanto, estavam muito ocupados consigo mesmo, com a sua perda. Antes da cruz, além de não entenderem bem os acontecimentos, eles não fazem a pergunta correta sobre o destino de Jesus, que era o seio do Pai. Em vez disso, conforme o verso 7, os discípulos continuam repletos de profunda tristeza.
I) A vinda do Espírito é necessária para a história da Redenção.
No entanto, Jesus diz para eles [e para nós] que é melhor que Ele vá, pois, sua partida é sucedida pela vinda do Espírito Santo. Meus amados, o Espírito Santo age na história do mundo desde a criação, dando acabamento às coisas criadas (Gn 1.2), atuando no povo da antiga aliança 2
apontando para a plenitude de Jesus Cristo, guiando os profetas e sacerdotes. Mas existe uma expectativa nos profetas de que o reino vindouro de Deus seria caracterizado pelo Espírito Santo (Is 11.1-10; 31.14-18; 42.1-4; 44.1-5; Ez 11.17-20; 36.24-27; 37.1-14; Jl 2.28-32). Meus irmãos, o sacrifício e ressurreição de Jesus são o fundamento do reinado de Cristo, e o Espírito Santo opera a atração das pessoas ao seu reinado. Jesus insiste que é melhor para nós vivermos agora, após a vinda do Espírito, pois desde Pentecostes Deus irrompeu triunfantemente o reino de salvação, inaugurando a nova aliança e trazendo milhões de pessoas de toda língua, tribo e nação ao senhorio de Jesus Cristo! Em aspectos escatológicos, a vinda do Espírito inaugura a era em que vivemos – a era da Igreja, e os períodos finais da história.
Na continuação do texto, no verso 8, Jesus afirma que “quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo”. Meus irmãos, nenhum de nós estaria aqui se não fosse a ação do Espírito Santo. Não haveria sequer uma conversão se não fosse a obra do Espírito Santo. Concordo com as palavras do pastor batista conhecido como “o príncipe dos pregadores, Charles Spurgeon, quando diz “É mais fácil um leão se tornar vegetariano, do que uma pessoa só ser salva sem a obra do Espírito Santo”.
Nos versos de 8 a 14 a obra do Espírito é caracterizada por três verbos: Convencerá, Guiará e Glorificará.
II) A obra do Espírito no convencimento
A palavra traduzida por “convencer” as pessoas do mundo também pode ser traduzida por “expor”.
a) Do pecado.
Essa exposição do pecado não é apenas levar a ter ideias certas sobre o pecado – “ah, eu entendia o pecado erradamente, agora eu entendo” (ex. 8.46). Não é esse tipo de convencimento, mas um reconhecimento envergonhado de culpa pessoal que chama uma pessoa ao arrependimento. O Espírito nos convence de que somos culpados pelo nosso pecado. Estamos invariavelmente em dívida com Deus – e nos recusamos a crer em Cristo. 3
Aqueles discípulos ainda não criam nas palavras de Jesus. Em reiteradas vezes que Jesus os ensina eles não guardam suas palavras. E incredulidade é pecado. E o Espírito lhes demonstraria que todo o fracasso espiritual deles era resultado do pecado da incredulidade. Quem não guarda as palavras de Jesus não pode amá-lo, não pode obedece-lo, não pode seguir seus mandamentos. Esse convencimento nos leva à única tristeza que Deus opera no meio de seu povo: a tristeza que leva ao arrependimento (2 Co 7.8-10).
É por isso que é tão importante a ação do Espírito removendo as raízes do pecado em nós para que ele não encontre mais morada em nossos corações, mas transforme esses corações em morada de Deus nas pessoas do Pai, do Filho e do Espírito. E esse convencimento não é da consequência do pecado, mas do pecado em si. E sua operação não é externa, mas interna.
b) Da justiça
Segundo o verso 10, da justiça porque Jesus está indo para o Pai. E como pode alguém ser culpado de justiça? Meus amados, é porque toda nossa justiça é como aquela apontada pelo profeta Isaías (Is 64.6): “todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia”. Meus irmãos, a nossa justiça é totalmente inadequada: queremos agir para merecer o favor de Deus, ou mesmo para nos tornar deuses. Muitas vezes nossa justiça própria é só maquiagem para cobrir um coração desesperadamente corrupto. Vejamos os religiosos da época de Jesus: se julgavam tão justos que acusaram Jesus de curar um homem paralítico há trinta e oito anos; tinham a Lei e os Profetas nas mãos, mas no coração e com seus atos tentaram matar Jesus. E com a partida de Jesus, o Espírito demonstrará que a justiça do mundo é infrutífera. Mas os discípulos de Jesus, aqueles que são habitados pelo Espírito, testemunharão à este mundo a verdadeira justiça, sendo conformados ao caráter de Cristo e gradativamente transformados à semelhança de Deus.
c) Do juízo
Porque o príncipe deste mundo já está condenado (11). Meus amados, o juízo deste mundo, ou a forma como o mundo julga as coisas é totalmente distorcido – o mundo vive em profunda cegueira espiritual. O julgamento do mundo é totalmente equivocado e moralmente perverso: 4
veja o que fizeram com o rei da glória! O único que não tinha pecado, o Deus-homem, foi condenado ao madeiro como o pior tipo de delinquente de sua época. O mundo debocha de Cristo diariamente. E o Espírito declara ao mundo de que ele é culpado pelo seu juízo falso porque o príncipe deste mundo já está condenado. Ele apanhou na cruz e foi exposto ao mais ridículo vexame (Cl 2.13-15).
III) Suportar
O mundo não pode suportar as palavras do Evangelho de Jesus. Você já tentou pregar o Evangelho para as pessoas e viu a reação delas? Outro dia um rapaz chegou a um pastor e disse: “pastor, fui pregar o evangelho a um colega na faculdade e ele ficou muito chateado comigo”. É lógico! O evangelho é uma ofensa para o mundo – ele diz que somos corruptos e merecedores da condenação eterna, e que a única forma de escaparmos da condenação é através da fé na pessoa e na obra de Jesus Cristo, o Filho de Deus que se fez carne, morreu e ressuscitou ao terceiro dia. Isso é loucura para o mundo (1 Co 1.22-25) e cheiro de morte (2 Co 2.14-16). Mas o Espírito faz com que os crentes suportem as palavras do Evangelho e as amem. O Espírito desvela o conhecimento de Cristo através das Escrituras.
IV) Guiará
Ele guiará os seus discípulos a toda verdade dizendo o que ouviu de Cristo e anunciando o que está por vir. O Espírito garante a unidade de Deus na revelação de sua Palavra. A Palavra enviada por Deus, encarnada e revelada em Cristo é registrada e aplicada pelo Espírito Santo. A palavra de Cristo são as palavras do Pai, e as palavras do Espírito são as palavras de Cristo.
V) Glorificará
A obra do Espírito é a glória do Filho – Esse é seu objetivo central! Como dizem os antigos, o ministério do Espírito Santo é o ministério de holofote: Ele não lança luz sobre si mesmo, mas sobre outro. Desta forma, Ele lança luz sobre Cristo para torna-lo glorioso, majestoso e belo aos 5
nossos olhos. Onde o Espírito está Cristo é exaltado – onde o Espírito está, Cristo é centro das atenções.
Aplicações.
1. Não podemos nos esquecer da pessoa do Espírito Santo. Sem Ele não há salvação para nós.
2. O convencimento gerado pelo Espírito na vida dos cristãos não fica apenas na culpa pelo pecado, justiça e juízo. Ele nos leva ao arrependimento de nossos pecados, a enxergar a justiça de outro e a confiança de que nosso pecados foram julgados em Cristo.
3. Somos totalmente dependentes dele. O Espírito age em nós removendo tudo que é fruto da incredulidade - a tua derrota recorrente na batalha contra o pecado só pode ser alterada pela ação do Espírito.
4. Pelo Espírito recebemos o Evangelho, somos guiados por Deus e somos levados a glorificar a Jesus Cristo, o Senhor da Igreja.
Soli Deo Gloria