A ESPERANÇA FUTURA DA GLÓRIA DE DEUS: Suas implicações para a vida cristã

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A promessa da futura presença e da glória de Deus no meio de seu povo, revelada a Ezequiel no santuário escatológico, traz implicações para a vida presente do povo da aliança. Saber que Deus habitará com seu povo deve motivá-lo à santidade, a obediência e a um culto biblicamente ordenado.

Notes
Transcript
Texto: Ezequiel 43
Introdução
1. Vimos, na mensagem anterior, que devemos examinar nosso texto tendo em mente duas doutrinas afirmadas desde o Antigo Testamento acerca do templo e da presença de Deus.
1.1. A palavra de Deus diz que os céus são o trono de Deus e a terra, o estrado dos seus pés (Is 66.1-2).
1.2. Deus não habita em santuário feito por mãos, como reconheceu Salomão, em sua oração inaugural na consagração do primeiro templo (1 Rs 8.27-30, veja também os vv.30, 32, 34, 36, 39). Esta verdade foi reforçada no Novo Testamento por Estevão e Paulo, em At 7.48-50 e At 17.24-25.
Contextualização
1. Com estas verdades em mente, observamos, primeiramente, nos capítulos 40 a 42, o relato de uma visão de um templo futuro, um santuário não feito por mãos humanas, cujas medidas apontam para a sua plenitude e perfeição. Conforme o v.1, este evento ocorreu 14 anos após a queda de Jerusalém e no 25º ano do exílio babilônico. Ezequiel viu um homem que lhe mostrou as medidas de um novo templo e lhe disse para contar a Israel o que viu. À medida em que o profeta adentra as estruturas desse templo, vai-se observando que cada compartimento tem medidas exatas, perfeitas e simétricas, e que quanto mais no interior do templo, mais santo é o lugar. Então, no capítulo 43, assistimos Ezequiel sendo levado pelo homem celestial à porta do templo “que olha para o oriente” (v.1), onde ele vê a glória do Senhor, que havia abandonado o templo (caps. 9.3; 10.18-19; 11.22-23), retornando a ele por aquela porta. Essa glória, que tinha o mesmo aspecto que ele viu no cap. 1.26-28 – um carro-trono divino, primeiramente, fez a terra resplandecer (v.2), depois, encheu e iluminou o templo (v.5) e provocou em Ezequiel a mesma reação de quando ele a viu pela primeira vez: ele se prostra rosto em terra (v.3; cf. 44.4; 1.28b).
2. Vimos, em seguida, o Senhor Deus declarando acerca daquela casa: “Filho do homem, este é o lugar do meu trono, e o lugar das plantas dos meus pés, onde habitarei no meio dos filhos de Israel para sempre”(v.7). concluímos, destas palavras divinas, que Ezequiel viu em uma visão apocalíptica seria o que, nas palavras do autor de Hebreus, seria “o maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, quer dizer, não desta criação”(Hb 9.11; cf. Hb 8.2), a futura habitação permanente de Deus no meio do seu povo.
3. Por um lado, uma promessa é confirmada ao povo de Israel, a saber, que nunca mais a casa de Israel profanaria, ou contaminaria o santo nome do Senhor nem o seu santuário. Portanto, nele não entraria pecado – como acontecera com o templo (43.7-8), reiterando das promessas dos capítulos 36 e 37, de que o Senhor mesmo converteria o seu povo e o restauraria. Por outro lado, o propósito daquela visão era levar o povo de Deus ao arrependimento, portanto era um chamado à santidade. Contemplando a glória do Senhor revelada nesse templo, a casa de Israel deveria se envergonhar de suas iniquidades (vv. 9-11). Ou seja, a contemplação da glória futura era uma motivação à santificação, “sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14).
Exposição:
Deus disse a Ezequiel que viveria entre os israelitas e instruiu o profeta a contar ao povo da aliança sobre o templo que viu. A promessa da futura habitação de Deus no meio do seu povo. O objetivo dessa revelação era mostrar algumas implicações da promessa para a vida presente do povo de Deus. Diante dessas observações , podemos extrair três princípios para nossa instrução.
1. A promessa da presença futura de Deus e de sua glória no meio do seu povo deve motivá-lo ao arrependimento. Devemos lembrar, antes de tudo, que a visão de um novo santuário e do retorno da glória de Deus para o meio do seu povo é uma proclamação da “gloriosa misericórdia de Deus, que convida os pecadores a um relacionamento com ele mesmo e provê os meios pelos quais esse relacionamento pode ser expresso, embora sem contaminar sua própria santidade ou comprometer a vida de seus devotos”.
O efeito pretendido da visão sobre o povo é que eles serão humilhados. Não há intenção de celebração na volta de Yahweh para o meio deles, não mais do que havia no estabelecimento da aliança eterna em 36.32. Pelo contrário, a frase final no v. 10b, envolvendo o Niphal de klm, introduz uma dimensão homilética à visão. Ao desafiar o povo a considerar seu próprio papel na profanação do nome divino por seu comportamento iníquo (‘ăwônôt), a palavra niklam destrói a suposição de dignidade e força a audiência a aceitar a responsabilidade pelo fracasso das relações divino-humanas. Esse mapa espiritual de santidade os coloca em seu lugar: eles são pecadores visitados por Deus, e convidados à sua presença unicamente pela graça. Mesmo na nova ordem, eles não receberão o direito ao favor divino. Yahweh volta por sua própria iniciativa e para seus próprios propósitos.
Block, D. I. (2012). O livro de Ezequiel. (D. A. M. da Silva, S. O. Nocetti, M. Tollentino, & V. G. Martins, Trads.) (1a edição, Vol. 2, p. 531). São Paulo, SP; Cambuci, SP: Editora Cultura Cristã.
2. O segundo princípio, já mencionado desde a mensagem anterior, é a de que a promessa da presença futura de Deus e de sua glória no meio do seu povo deve motivá-lo a uma vida de santidade. O novo templo é consagrado ao tomar-se mais uma vez a habitação de Deus. Portanto, “o princípio que governa a disposição e a ordem do templo deve ser o princípio da santidade”[1]. O lugar onde o Senhor habitará, será santíssimo (v.12). Por isso, a preparação para a glória futura exigia de Israel que abandonasse suas prostituições, conforme ordena o Senhor no v. 9: “Agora, lancem eles para longe de mim a sua prostituição e o cadáver dos seus reis, e habitarei no meio deles para sempre”. Aqui aprendemos também que a santidade é uma demonstração de nossa confiança nas promessas de Deus. Ao olhar para a planta do templo futuro e contemplar “como por espelho”, a glória futura, Israel se envergonharia de suas transgressões, conforme o v.10: “Tu, pois, ó filho do homem, mostra à casa de Israel este templo, para que ela se envergonhe das suas iniquidades; e meça o modelo”.
2. O segundo princípio é que a promessa da presença futura de Deus e de sua glória no meio do seu povo deve motivá-lo a uma vida de obediência. No v. 11, o Senhor ordena: “Envergonhando-se eles de tudo quanto praticaram, faze-lhes saber a planta desta casa e o seu arranjo, as suas saídas, as suas entradas e todas as suas formas; todos os seus estatutos, todos os seus dispositivos e todas as suas leis; escreve isto na sua presença para que observem todas as suas instituições e todos os seus estatutos e os cumpram. Embora os estatutos e dispositivos, ao que tudo indica, sejam aqueles referentes ao culto, aos sacrifícios e a todo o serviço do templo – como veremos no próximo ponto, a está em “observar” e “cumprir”, portanto, refere-se à obediência.
3. O terceiro princípio enfatizado em nosso texto é que a promessa da presença futura de Deus e de sua glória no meio do seu povo deve motivá-lo ao zelo na adoração. Ezequiel recebeu instruções quanto aos sacrifícios a serem oferecidos na purificação e consagração do altar. Observe a forma meticulosa como Deus prescreve as medidas do altar (vv. 12-17), bem como a liturgia a ser seguida no oferecimento dos sacrifícios (18-27). As ordenanças são acompanhadas de uma promessa: “...e eu vos serei propício, diz o Senhor Deus”. O que temos aqui são instruções quanto à adoração no templo. Como já vimos na mensagem anterior, sabemos que a adoração a partir da consumação da obra de Cristo não envolve mais o oferecimento de sacrifícios. No entanto, Ezequiel descreve o culto nesse santuário escatológico em termos do seu tempo e daquele estágio da revelação. Notemos que a ordem para que o próprio profeta realize os ritos de purificação (v.23). Sabemos, no entanto, que não havia mais o templo, Ezequiel morava longe de Jerusalém nunca chegaria a ministrar como sacerdote. Portanto, a linguagem é simbólica. O ponto importante para nós é o zêlo do Senhor pelo culto que o seu povo deveria prestar a ele. Devemos, ainda, lembrar, que todos aqueles sacrifícios eram tipos do sacrifício perfeito de Jesus Cristo que, com seu próprio sangue adentrou o santuário celestial, abrindo-nos um novo e vivo caminho. Contudo, embora os ritos cerimoniais da Antiga Aliança tenham sido abolidos, o princípio regulador do culto permanece. Deus deixou em sua palavra instruções acerca de como deve ser adorado.
1. Independentemente dos detalhes do magnífico edifício revelado a Ezequiel, e a exemplo do que ocorrera com o tabernáculo de Moisés e o templo de Salomão, o santuário não feito por mãos revelado a Ezequiel aponta para a pessoa e a obra de nosso Senhor Jesus Cristo e, por extensão, à igreja, “a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas” (Ef 1.23).
1.1. Ele é o santuário (Jo 2.19-21).
1.2. Pelo seu sangue, ele nos libertou dos nossos pecados, e nos constituiu “reino, sacerdotes para o seu Deus e Pai” (Ap 1.5b-6).
1.3. Assentado à destra de Deus, ele também fez da igreja o seu santuário, ao derramar o seu Espírito sobre nós. Assim, por causa da nossa união com Cristo, somos o santuário de Deus (1 Co 3.16-17; Ef 2 Co 6.16; 2.19-22; 1 Pe 2.4-5).
[1] TAYLOR, 1984, p.237.
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