A Boa Nova de Grande Alegria
Sermon • Submitted
0 ratings
· 22 viewsÉ especialmente nos acontecimentos que circundam o nascimento do Salvador que a alegria brilha mais.
Notes
Transcript
A BOA NOVA DE GRANDE ALEGRIA
“8Havia, naquela mesma região, pastores que viviam nos campos e guardavam o seu rebanho durante as vigílias da noite. 9E um anjo do Senhor desceu aonde eles estavam, e a glória do Senhor brilhou ao redor deles; e ficaram tomados de grande temor. 10O anjo, porém, lhes disse: Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo: 11é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. 12E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada em manjedoura. 13E, subitamente, apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo: 14Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem”. Lc 2.8-14
Alegria é uma palavra-chave no evangelho de Lucas. É especialmente nos acontecimentos que circundam o nascimento do Salvador que a alegria brilha mais. A sensação que se tem nas narrativas da natividade é a de que chegou ao fim uma longa e ansiosa espera. A tônica é exatamente a de que o evento mais esperado das gerações anteriores do povo de Deus finalmente estava às portas. Em sua primeira epístola, Pedro resume essa ansiosa expectativa da vinda de Cristo e de sua obra. Ao falar de nossa bendita esperança quanto à “salvação preparada para revelar-se no último tempo” (1.5b), no cap. 1.10-12, ele observa: “10Foi a respeito desta salvação que os profetas indagaram e inquiriram, os quais profetizaram acerca da graça a vós outros destinada, 11investigando, atentamente, qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam. 12A eles foi revelado que, não para si mesmos, mas para vós outros, ministravam as coisas que, agora, vos foram anunciadas por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o evangelho, coisas essas que anjos anelam perscrutar”.Este tema da expectativa da promessa e da alegria do cumprimento começa logo no capítulo 1 de Lucas, com a visão do sacerdote Zacarias, que viria a ser o pai de João Batista. Ele cumpria seu turno sacerdotal, intercedendo pelo povo, enquanto queimava o incenso, símbolo das orações do povo de Deus, quando um anjo lhe apareceu, anunciando-lhe o nascimento de um filho como resposta de suas orações. O anjo disse ao sacerdote, no v.13: “13... Zacarias, não temas, porque a tua oração foi ouvida; e Isabel, tua mulher, te dará à luz um filho, a quem darás o nome de João” . Zacarias e sua mulher já eram, como observa Lucas “avançados em dias”, além do que, Isabel era estéril (1.7). A observação de Lucas nos lembra outra história em que houve longa espera por um descendente num contexto de esterilidade e velhice: a de Abraão e Sara. Lucas certamente quer nos chamar a atenção para a relação entre a promessa e o cumprimento, pois o filho esperado de Abraão era o sinal e o penhor de uma descendência numerosa, que seria bênção para todas as famílias da terra. Além disso, ele quer também ressaltar o poder de Deus de realizar o impossível. Assim, o que o anjo anuncia é tanto para Zacarias e Isabel como para todo o povo de Israel uma boa nova de grande alegria, como está escrito no v.14: “14Em ti haverá prazer e alegria, e muitos se regozijarão com o seu nascimento”. Na verdade, como sacerdote, era dever de Zacarias dirigir orações pelo povo, expressando a expectativa messiânica e suplicando pela vinda do rei e pelo cumprimento da promessa. Possivelmente, essas orações intercessórias e de suplica coletiva se misturavam com súplicas pessoais. A questão é que, sem que Zacarias soubesse, ambas as expectativas – a sua e de Isabel por um filho, e a do povo de Israel pelo Messias – se sobrepunham, pois o menino que estava para nascer seria “grande diante do Senhor”, de quem deveria ser o precursor. Temos no anúncio do anjo a alegria como conteúdo da promessa. Mas por ter duvidado da profecia, Zacarias ficou mudo até o nascimento do menino.
No episódio seguinte temos outra manifestação de intensa alegria, quando, já grávida, Isabel recebe a visita de Maria, que já tinha ouvido do anjo Gabriel, o mesmo que aparecera a Zacarias, a notícia de que recebera a graça de ser a mãe do Salvador, por obra do Espírito Santo. Ao ouvir a saudação de Maria, a criança estremeceu de alegria no ventre de Isabel, que exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres, e bendito o fruto do teu ventre! 43E de onde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor? 44Pois, logo que me chegou aos ouvidos a voz da tua saudação, a criança estremeceu de alegria dentro de mim. 45Bem-aventurada a que creu, porque serão cumpridas as palavras que lhe foram ditas da parte do Senhor” (vv.43-44). Temos aqui a alegria da expectativa profética pela iminência do cumprimento. Essa alegria de Isabel e de João Batista contagia Maria, que percebe, nas palavras de sua parenta, quão abençoada fora e irrompe num cântico de louvor: “46Então, disse Maria: A minha alma engrandece ao Senhor, 47e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador, 48porque contemplou na humildade da sua serva. Pois, desde agora, todas as gerações me considerarão bem-aventurada, 49porque o Poderoso me fez grandes coisas. Santo é o seu nome” (vv.46-49). Maria expressa a alegria da bem-aventurança de quem creu na promessa.
Temos em seguida o nascimento de João, o precursor do Messias. Depois de confirmar o nome dado pelo anjo do dia da circuncisão de seu filho, conforme o v.64 “Imediatamente, a boca se lhe abriu, e, desimpedida a língua, falava louvando a Deus”. Zacarias experimenta o prazer e a alegria prometidos pelo Senhor por boca do seu anjo. O silêncio, fruto da incredulidade, dá lugar ao louvor incontido. O brado de louvor que fluiu dos lábios do sacerdote é mais do que um grito preso na garganta de um pai realizado. É o brado de séculos de espera, desde que Deus fizera a promessa a Abraão e a Davi, ressoando toda a expectativa profética. Como está escrito a partir do cap. 1.67: “67Zacarias, seu pai, cheio do Espírito Santo, profetizou, dizendo: 68Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo, 69e nos suscitou plena e poderosa salvação na casa de Davi, seu servo, 70como prometera, desde a antiguidade, por boca dos seus santos profetas, 71para nos libertar dos nossos inimigos e das mãos de todos os que nos odeiam; 72para usar de misericórdia com os nossos pais e lembrar-se da sua santa aliança 73e do juramento que fez a Abraão, o nosso pai, 74de conceder-nos que, livres das mãos de inimigos, o adorássemos sem temor, 75em santidade e justiça perante ele, todos os nossos dias”.(vv.67.75). Aqui vemos que a alegria pelo nascimento do Salvador é uma alegria no Espírito Santo e uma alegria do cumprimento da aliança divina.
Chega, enfim, o dia em que o Rei nasce, a “salvação que o Senhor preparou diante de todos os povos”, “32luz para revelação aos gentios, e para glória do seu povo de Israel”, como mais tarde cantará Simeão (2.31-32). E a alegria do seu nascimento não fica circunscrita à terra. Ela invade as regiões celestiais. Para ser mais exato, a alegria experimentada nas regiões celestiais invade a terra. Um anjo aparece a uns pastores no campo durante as vigílias da noite, e eles são cercados pela glória divina, suscitando-lhes temor e tremor. Conforme o nosso texto, nos vv. 10-12: “10O anjo, porém, lhes disse: Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo: 11é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. 12E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada em manjedoura”. Temos aqui a alegria da boa nova do nascimento do Salvador prometido, ou, ainda, a alegria evangelho anunciado. Aqui cabe uma nota histórica importante: toda a cena deve ser contemplada dentro do contexto político da época. Quando o herdeiro do trono nascia, o filho de César, arautos eram enviados por todo o império a anunciar a boa nova (evangelho) de que o herdeiro chegara.E esse evangelho que “os anjos anelam perscrutar” (1 Pe 1.12c) é para eles também fonte de alegria, pois, como Lucas registra que “13 ... subitamente, apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo: 14Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem” (2. 13-14). Os pastores foram até onde o menino estava e constataram o que o anjo lhes falou. Diz o v.20:
“20Voltaram, então, os pastores glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes fora anunciado”. Eles agora experimentam a alegria do evangelho ouvido e do Salvador contemplado.
Os pastores eram desprezados pela maioria da sociedade, porque o tipo de trabalho que realizavam era considerado imundo, uma vez que era comum, por exemplo, eles terem que tocar em cadáveres de animais e outras atividades que criavam impureza cerimonial. Além disso, não eram exemplos de virtudes. Não era incomum um pastor furtar a ovelha do outro. E o testemunho deles era tão sem credibilidade que não era aceito nos tribunais. É a esses pecadores indignos, sem nenhuma nobreza, e não a Herodes, a César Augusto ou à liderança religiosa de Jerusalém, que os anjos de Deus anunciam as boas novas de grande alegria. Aqui temos ilustrado um fato da revelação que, mais tarde, seria celebrado pelo próprio Senhor Jesus: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. 26Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado.” (Mt 11.25b-26). Sim, a boa nova de grande alegria é uma mensagem graciosa da parte de Deus.
Observe, portanto, como o nascimento de Jesus é cercado de alegria e louvor. A alegria é um ingrediente fundamental da vida cristã. Mas a alegria cristã não é um euforia irresponsável, fruto da superficialidade daqueles que fazem do pecado um divertimento. Nem tampouco é uma alegria fundamentada em confortos temporais. A alegria tem como fonte uma pessoa: “o Salvador, que é Cristo, o Senhor”, “8a quem, não havendo visto, amamos; no qual, não vendo agora, mas crendo, exultamos com alegria indizível e cheia de glória. (1 Pe 1.8).