O Sermão do Monte: Os pobres de espírito

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Os humildes de espírito herdarão o reino dos céus.

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O Sermão do Monte: Os pobres de espírito.

Mateus 5.1–3 RAStr
1 Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e, como se assentasse, aproximaram-se os seus discípulos;2 e ele passou a ensiná-los, dizendo: 3 Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.
Se pudessemos resumir o sermão da montanha, nós poderíamos dividí-lo em três partes:
Na primeira parte Jesus fala dos cidadãos do reino (Mt 5.12-16), Ele:
Descreve o caráter destes cidadãos;
Descreve as bem-aventuranças (Mt 5.2-12);
Descreve a relação deles no mundo (Mt 5.13-16) - eles são o sal e a luz do mundo.
Na segunda parte Jesus apresenta a justiça do reino, o alto padrão de vida exigido pelo Rei (Mt 5.17-7.12);
Na terceira parte Jesus conclui com uma ardente exortação a que se entre no reino (Mt 7.13-27). Ele descreve:
O início do caminho (Mt 7.13,14);
O avanço do caminho (Mt 7.15-20);
O fim do caminho (Mt 7.21-27) - contrastando o que acontece com os que simplesmente dizem com os que fazem.
Na nossa passagem três coisas, de cara, nos chamam a atenção:
Jesus vê as multidões;
Jesus subiu ao monte;
Jesus passou a ensinar (aos discípulos, mas a multidão estava ouvindo).
Da mesma forma que Moisés subiu ao monte e recebeu as leis de Deus, Jesus depois de ver a multidão começando a deixar o arraial do pecado, do legalismo e da religiosidade, de forma semelhante, sobe ao monte, mas ao invés de receber uma Lei e passar ao povo, Ele mesmo, a Palavra encarnada passa a ensinar sobre o caráter dos seus súditos, a justiça do seu reino e a necessidade de fé para se entrar nele.
Ele começa o discurso com uma séria de características que enfatizam o caráter daqueles que podem influenciar positivamente o mundo e, com isso, glorificar ao Pai que está nos céus (Mt 5.3-16). Jesus começa primeiro falando sobre o caráter, antes de falar sobre a conduta, até mesmo porque a conduta acompanhará o caráter de um homem. Aqui Jesus descreve o caráter de todos os seus súditos e não somente de alguns extraordinários. Todos os seus súditos possuem as marcas apresentadas aqui pelo Rei. "Nenhuma dessas descrições refere-se àquilo que poderíamos chamar de tendências naturais. Cada uma das bem-aventuranças, em sua inteireza, é uma disposição que somente a graça e a operação do Espírito Santo em nós foram capazes de produzir" (Lloyd-Jones, David Martyn. Estudos no sermão do monte . Editora Fiel (www.editorafiel.com.br). Edição do Kindle)
OS DISCÍPULOS DE JESUS POSSUEM TRÊS CARACTERÍSTICAS QUE OS DISTINGUEM DOS QUE NÃO SÃO SÚDITOS DE CRISTO:
ELES SÃO BEM-AVENTURADOS
As bem-aventuranças poderiam se denominadas como "O fundamento de uma vida feliz".
"Esse é o tipo de homem que deveria ser congratulado, esse é o tipo de homem a ser imitado, pois somente ele é o homem verdadeiramente feliz" (Lloyd-Jones, David Martyn. Estudos no sermão do monte . Editora Fiel (www.editorafiel.com.br). Edição do Kindle.
A humanidade busca felicidade, mas esta só pode ser experimentada por aqueles que receberam a graça salvadora de Cristo. Os que estão em Cristo foram perdoados dos seus pecados e são chados em Cristo e abençoados por Deus Pai, em Cristo Jesus.
Quem foi abençoado por Deus é, deveras, feliz; a palavra traduzida por "bem-aventurado" nesta passagem bíblica seria mais bem traduzida por "feliz". Só Deus é digno de ser chamado bem-aventurado ou bendito por aquilo que ele é em seu caráter; mas Deus pode dispensar bênçãos ao homem. A pessoa que recebe bênçãos de Deus é, em verdade, um indivíduo feliz.
Freqüentemente se emprega a palavra "feliz" ou "bem-aventurado" no Novo Testamento para descrever a condição daqueles a quem Deus abençoa. Em João 13:17, ao concluir a primeira das grandes lições aos discípulos, ministrada no cenáculo pouco antes de sua morte, o Senhor voltou-se e disse: "Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes."
A palavra feliz, usada entre os gregos, em sua origem descrevia a condição dos deuses gregos que se supunha viverem satisfeitos, ou contentes, porque tinham tudo quanto desejassem e eram livres para gozar de tudo o que possuíam, sem restrições. Para a mentalidade grega, a felicidade relacionava-se com as posses materiais e com a liberdade de desfrutá-las. A felicidade deles tinha que ver com a gratificação irrestrita, ilimitada, dos desejos físicos. Uma vez que não se impunham limites às suas divindades, os gregos julgavam que os deuses eram felizes. Podendo viver com a mesma liberdade que atribuíam aos seus deuses, julgavam-se um povo feliz. A felicidade, para os gregos, relacionava-se com o mundo físico e material.
Porém, ao falar da felicidade, nosso Senhor relacionou-a com a santidade. Esse é o conceito bíblico; o Novo Testamento identifica a felicidade com pureza de caráter. A Palavra de Deus considera o pecado como manancial de miséria; a santidade, como fonte de paz, de satisfação, de contentamento ― tudo quanto incluímos na palavra feliz. Assim, quando o Senhor disse "Bem-aventurados os humildes de espírito", apresentou a primeira característica de santidade, geradora de santidade, e com isso lançou o fundamento de urna vida piedosa, feliz.
ELES POSSUEM UM CARÁTER SEMELHANTE AO DO SEU REI
Espera-se que todos os discípulos demonstrem todas as marcas do caráter de Cristo. Não basta ter uma e não ter outra. Cada aspecto do caráter cristão está interligado a outro. Se alguém é humilde de espírito, lamenta, é manso, têm fome e sede de justiça etc. Como Loyd Jone disse: "Cada uma dessas características, em certo sentido, requer a presença das demais qualidades".
HUMILDES DE ESPÍRITO
"Ser "humilde de espírito" é reconhecer nossa pobreza espiritual ou, falando claramente, a nossa falência espiritual diante de Deus, pois somos pecadores, sob a santa ira de Deus, e nada merecebemos além do juízo de Deus. Nada temos a oferecer, nada a reinvindicar, nada com que comprar o favor dos céus" (Stott, p.28).
A palavra "humilde", que nosso Senhor empregou em Mateus 5:3, é uma palavra muito interessante e descritiva. Para entender seu emprego, veja Lucas 16:19-22:
Ora, havia certo homem rico, que se vestia de púrpura e de linho finíssimo, e que todos os dias se regalava esplendidamente. Havia também certo mendigo, chamado Lázaro, coberto de chagas, que jazia à porta daquele; e desejava alimentar-se das migalhas que caíam da mesa do rico; e até os cães vinham lamber-lhe as úlceras. Aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos para o seio de Abraão.
A palavra que nos versículos 20 e 22 é traduzida por "mendigo" é a mesma que em Mateus 5:3 se traduz por "humildes". O mendigo era destituído de tudo, batido pela pobreza, sem recursos de nenhuma espécie. Humilde e mendigo derivam de uma raiz que significa "cobrir" ou "encolher". Era tão humilhante ao indivíduo confessar que nada tinha, e que por isso dependia de outrem, que o próprio ato de mendigar o rebaixava. Por isso é que o mendigo cobria o rosto, encolhia-se, acovardava-se quando estendia a mão para pedir uma esmola. Ele tinha vergonha de ser reconhecido.
Nosso Senhor não escolheu impensadamente esta palavra ao dizer: "Bem-aventurados os mendigos de espírito, bem-aventurados os paupérrimos espirituais, bem-aventurados os espiritualmente destituídos, bem-aventurados os falidos espiritualmente que se encolhem e se humilham por causa de seu total desamparo; porque deles é o reino dos céus." Em se tratando de coisas espirituais, humilde de espírito é o contrário, não da auto-estima, porém do orgulho espiritual. O que nosso Senhor condenou foi a auto-suficiência oriunda do orgulho espiritual.
O humilde de espírito é alguém que entende que:
Nada é - ele é um miserável pecador
Nada têm - suas obras são trapos de imundícia
Nada sabe - somente a loucura da pregação da cruz é capaz de salvar um homem.
Nada pode - o único que poderia pagar pelos pecados era Jesus Cristo, o Santo de Deus, o Cordeiro de Deus.
A pessoa que se caracteriza por orgulho espiritual não receberá de Deus coisa alguma; a bênção de Deus não pode descer sobre ela, porque o orgulho não serve de alicerce para a justiça. O orgulho espiritual não é demonstração de santidade mas de pecaminosidade; jamais pode produzir felicidade.
Humilde de espírito é aquele de quem foi retirada a base da auto-suficiência; é aquele cujo coração está ajoelhado. Tal pessoa caracteriza-se por uma atitude de total dependência. Neste caso, como em todas as Bem-aventuranças, o Senhor não instituiu um novo conceito. Pelo contrário, ele voltou-se para o Antigo Testamento:
Isaías 57.15 RAStr
15 Porque assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos.
Isaías 66.2 RAStr
2 Porque a minha mão fez todas estas coisas, e todas vieram a existir, diz o Senhor, mas o homem para quem olharei é este: o aflito e abatido de espírito e que treme da minha palavra.
Salmo 51.17 RAStr
17 Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus.
Em Filipenses 3:3, Paulo revelou esta humildade de espírito ao escrever: "Porque nós... não confiamos na carne." E em Romanos 8:4-5: "A fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito. Porque os que se inclinam para a carne cogitam das coisas da carne; mas os que se inclinam para o Espírito, das coisas do Espírito." A pessoa que, segundo a carne, procura agradar a Deus, alega ter condições de fazê-lo. Em estado de orgulho procura agradar a Deus. A única pessoa que agrada a Deus na vida diária é aquela que diz: "Ó Deus, não posso fazê-lo porque a carne é corrupta; mas confio total e completamente no poder sustentador do Espírito Santo em viver a vida de Cristo por meu intermédio."
A igreja precisa agir de acordo com o seu caráter transformado. Ela precisa ser radicalmente diferente do mundo e dos seus valores para poder irnfluênciá-lo. Quando a igreja se amolda aos valores mundanos ela perde o seu sal e a sua luz. O que atrai a admiração do indivíduo mundano é a antítese mesma daquilo que achamos nas bem-aventuranças. O homem natural aprecia certa dose de jactância, a despeito de ser precisamente essa a atitude condenada nas bem- aventuranças. Lloyd-Jones disse que "A glória do Evangelho, bem pelo contrário, consiste em que quando a Igreja é absolutamente diferente do mundo, inevitavelmente ela atrai as pessoas. É somente então que este mundo começa a dar ouvidos à mensagem cristã, embora possa odiá-la a princípio". Lloyd-Jones, David Martyn. Estudos no sermão do monte . Editora Fiel (www.editorafiel.com.br). Edição do Kindle.
ELES POSSUEM BÊNÇÃOS CELESTIAIS
deles é o reino dos céus.
“... porque deles é o reino dos céus”. Que significa isso? Nosso Senhor começou e encerrou as bem-aventuranças com esse informe, porquanto queria dizer que a primeira coisa que nos convém perceber, a respeito de nós mesmos, é que pertencemos a outro reino, que não o deste mundo. Os crentes não são diferentes dos incrédulos somente quanto à essência: mas também são pessoas que vivem, ao mesmo tempo, em dois mundos diferentes. O crente está no mundo, mas não pertence a este mundo.
Por qual razão Mateus fala em reino dos céus, ao invés de aludir ao reino de Deus? Sem dúvida, a resposta é que ele escrevia primariamente para os judeus, e o seu objetivo talvez tenha sido o de corrigir as ideias judaicas sobre o reino de Deus, ou reino dos céus.
O reino dos céus pode ser entendido por três perspectiva:
Os pobres de espírito possuem a vida eterna
Os pobres de espírito estão debaixo do reinado dos céus, de Deus e de Cristo, não mais debaixo do pecado.
Penso que as duas perspectivas estão corretas.
Conclusão:
Lloyd-Jones acredita que as descrições apresentadas por Jesus "indicam claramente (talvez com maior clareza do que qualquer outra coisa em toda a Bíblia) a diferença essencial e total entre o crente e o incrédulo".
Dr.Martin Loyd Jones disse:
"Minhas reações imediatas a essas bem-aventuranças anunciam exatamente aquilo que eu sou. Se porventura sinto que elas são difíceis e demasiadamente severas, se sinto que elas me são adversas, retratando um tipo de vida e um caráter que não aprecio, então devo temer que isso simplesmente significa que não sou um crente. Se eu não quero manifestar essas qualidades, então é que devo estar “morto em delitos e pecados”. É impossível que eu tenha recebido a vida eterna, se assim é a minha atitude. Por outra parte, se eu me sinto indigno, mas ainda assim quero ser conforme dizem essas descrições bíblicas, muito bem... então, por mais indigno que eu seja, se esse é meu desejo e ambição, é que a nova vida deve estar pulsando em mim, é que devo ser um filho de Deus, é que devo ser um cidadão do reino dos céus e do querido Filho de Deus. Que cada qual examine a si mesmo". Lloyd-Jones, David Martyn. Estudos no sermão do monte . Editora Fiel (www.editorafiel.com.br). Edição do Kindle.
Que temos nós para oferecer a Deus? Nada. Que tem Deus para dar-nos? Tudo. O que faz que as riquezas de Deus sejam nossas? Um pedido de socorro, um grito de dependência, uma confissão de nosso desamparo. "Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus."
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