AS DIFICULDADES DO DISCÍPULO - MT 10.34-39
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AS DIFICULDADES DO DISCÍPULO
(Mateus 10:34-39 | NAA)
34. — Não pensem que eu vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada.
35. Pois vim causar divisão entre o homem e o seu pai; entre a filha e a sua mãe e entre a nora e a sua sogra.
36. Assim, os inimigos de uma pessoa serão os da sua própria casa.
37. — Quem ama o seu pai ou a sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama o seu filho ou a sua filha mais do que a mim não é digno de mim;
38. e quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim.
39. Quem acha a sua vida a perderá; e quem perde a vida por minha causa, esse a achará.
INTRODUÇÃO: O texto que nós acabamos de ler, talvez seja um dos discursos mais duros que o Senhor Jesus Cristo já pronunciou em todos os evangelhos. Aqui nós temos uma conversa sincera de Jesus com os seus discípulos acerca das dificuldades que eles encontrariam na caminhada deles nessa terra. É bem verdade que, em muitos contextos evangélicos, essas palavras de Jesus são quase apagadas da Bíblia. Por causa da grande influência dos falsos evangelhos, é muito comum você ligar a sua televisão ou abrir o seu aplicativo do YouTube e se deparar com mensagens triunfalistas que não admitem qualquer tipo de dificuldade para a vida do discípulo.
Por um lado, nós temos o falso evangelho da prosperidade, que ensina que o verdadeiro discípulo nunca vai enfrentar qualquer tipo de privação, dor ou necessidade em sua vida. Eles dizem que o crente de verdade, nunca vai chorar, adoecer, perder um parente ou ficar desempregado, porque – segundo eles – o crente nasceu para ser cabeça e não calda. Por outro lado, nós temos em alta no nosso Brasil o falso evangelho do coach. São pessoas que com uma fala mansa e eloquente costumam dizer que o verdadeiro discípulo sempre vai se dar bem, se ele tirar forças dentro de si mesmo. Segundo eles, Deus é obrigado a fazer com que todos os planos do discípulo tenham sucesso, como se Deus fosse um servo nosso. Percebam que o que todos esses falsos evangelhos em tem em comum é o fato deles excluírem a dificuldade e o sofrimento da vida cristã. É assim que milhões de pessoas, no Brasil e no mundo, são iludidas e afastas do verdadeiro evangelho e do verdadeiro Deus.
É exatamente por causa disso, que precisamos entender as palavras que acabamos de ler nessa noite. Aqui nós temos uma descrição clara, sincera e direta de Jesus acerca das lutas que enfrentaremos como discípulos. E examinando o texto de forma geral, vemos Jesus destacando pelo menos três tipos de dificuldades que temos de lidar durante a nossa vida. Primeiro, as dificuldades no mundo. Segundo, as dificuldades na família. E, terceiro,as dificuldades no coração. É com essas três verdades em nosso coração que iremos entender um pouco mais dos desafios da nossa caminhada como discípulos de Jesus nessa terra.
I. AS DIFICULDADES NO MUNDO (v. 34)
1. A DIFICULDADE QUE É ANTECIPADA POR JESUS (v. 34a).“— Não pensem que eu vim trazer paz à terra”. Essa é uma das falas de Jesus que pode soar estranho aos ouvidos de algumas pessoas. Mas para entender essas palavras de Jesus, precisamos entender o contexto daquela época. Quando Jesus veio a esse mundo, havia uma expectativa judaica de que o Messias instaurasse um tempo de paz absoluta entre as nações. Os judeus viam o Messias prometido por Deus como alguém que colocaria um fim imediato a todas as guerras e conflitos humanos, dando início a um tempo de paz mundial. É por causa disto que Jesus alerta os seus discípulos a não pensarem dessa foram; Jesus alerta os discípulos a não adotarem essa opinião pública. É como se ele estivesse dizendo que a paz que ele veio trazer não é uma paz barata, superficial e terrena. Nas suas próprias palavras: “não é uma paz na terra”. Não é uma paz nessa presente vida. Não é uma paz entre as nações. Não é uma paz para esse lado da eternidade. É nesse ponto que podemos ver a completa sinceridade de Jesus. Ele não ilude seus discípulos, prometendo mil maravilhas. Ele não cria uma fantasia de que a vida com ele vai ser mais fácil do que respirar. Não! Jesus é sincero e claro ao dizer que aqueles crentes enfrentariam dificuldades.
PONTE: E como vemos na sequência do texto, a dificuldade não é apenas antecipada por Jesus, ela também é...
2. A DEIFICULDADE É OCASIONADA POR JESUS (v. 34b).“...não vim trazer paz, mas espada”. Em tipos bíblicos a imagem da espada representa a guerra, o conflito e a divisão. E lendo o contexto da passagem, percebemos que é isso que Jesus tem em mente. Ele não está falando da espada que o discípulo tem de tomar. Ele está falando da espada que o discípulo tem de enfrentar nesse mundo. A espada da divisão, do conflito e da discórdia. É um processo natural da vida cristã. Quando tomamos uma decisão ao lado de Jesus, ao lado da verdade, nós encontramos ao nosso redor um mundo que vai nos perseguir por causa dessa decisão. Fazer parte da verdade é ser odiado pela mentira. Andar na luz é ser perseguido pelas trevas. Viver o bem é ser caluniado pelo mal. As pessoas que andam com Deus sempre sofrerão ataques daquelas que abandonaram a Deus. Enquanto o mundo for mundo, o homem for o homem e o Diabo for o Diabo, essa vai ser a nossa realidade. Seremos atacados por causa do nosso relacionamento com Jesus. Nosso amor pela verdade vai resultar em dificuldade. E é assim que teremos de enfrentar a espada desse mundo. É isso que Jesus está alertando aqui.
O DISCIPULO DEVE ESTAR CIENTE QUE ACEITAR A VERDADE SEMPRE RESULTA EM DIFICULDADE. Como discípulo, você nunca deve esperar o aplauso e a aprovação do mundo. Não foi isso que fizeram com o seu mestre, então não é isso que farão com você. Pelo contrário, viver com Deus implica em dificuldades. Pessoas que perseguem você no seu local de trabalho, por causa da sua honestidade; pessoas que perseguem você na sua universidade, por causa dos seus princípios ou pessoas que perseguem você pelo simples fato de você ser um crente. Essa é a espada que temos de enfrentar nesse mundo dividido. E não adianta a gente querer mudar essa situação pela força humana. Infelizmente, para amenizar essas dificuldades, muitas pessoas tem aderido a uma falsa paz. Há aqueles que cederam ao relativismo, e acham que cada um pode ter a sua própria verdade para que possamos viver a “paz”. E há aqueles que aderiram ao ecumenismo, dizendo que todas as religiões podem se tornar a mesma coisa. Uma falsa união que produz uma falsa paz. Mas o discípulo de Jesus sempre vai estar longe de qualquer paz que implique na negação da verdade de Deus. Para ter paz podemos perder muitas coisas; perder dinheiro, perder a nossa vez no trânsito, perder uma discussão, perder conforto, perder orgulho próprio ou coisas do tipo; mas nunca podemos perder a verdade. Como disse reformador Martinho Lutero: “A paz, se possível, mas a verdade, a qualquer preço”.
PONTE: Mas na sequência do texto, aprendemos que o discípulo não enfrenta apenas dificuldade no mundo. Ele também enfrenta...
II. AS DIFICULDADES NA FAMÍLIA (v. 35-36)
1. A DIFICULDADE DA DIVISÃO FAMILIAR (v. 35). “Pois vim causar divisão entre o homem e o seu pai; entre a filha e a sua mãe e entre a nora e a sua sogra”. O drama familiar que Jesus está relatando para nós é muito claro. Alguém dentro da família recebe Jesus e passa a ser atacado pelos outros familiares. Ao que parece, Jesus ilustra a situação falando de um pai crente que sofre perseguição do filho; e de uma mãe crente que sofre perseguição da sua filha e da sua nora. Já que naquela época era comum a família judaica morar toda na mesma casa, esse tipo de situação conflitante era ainda mais constante. O conflito de uma família que está dividida religiosamente falando. Quando lemos os evangelhos nós descobrimos que esse tipo de perseguição familiar foi algo que o próprio Jesus experimentou na pele. Apesar de ser o próprio Deus encarnado, os evangelhos relatam que os familiares de Jesus não acreditavam nele. Houve uma vez em Marcos 3 onde Maria e os irmãos de Jesus foram tentar prende-lo porque achavam que ele tinha perdido o juízo. Isso quer dizer que a divisão familiar que ele está mencionando para os seus discípulos é algo que ele conhece de perto. Foi o que aconteceu na sua família e é o que vai acontecer na família dos seus discípulos.
PONTE: E prosseguindo no texto, vemos que essa divisão familiar também resulta na...
2. A DIFICULDADE DA PERSEGUIÇÃO FAMILIAR (v. 36). “Assim, os inimigos de uma pessoa serão os da sua própria casa”. Essas mesmas palavras de Jesus estão registradas em Miquéias 7.6: “Porque o filho despreza o pai, a filha se levanta contra a mãe, a nora, contra a sogra; os inimigos de uma pessoa são os da sua própria casa”. Jesus utiliza esse mesmo provérbio profético para descrever o que o discípulo vai enfrentar em sua família, em alguns casos. Ele vai enfrentar a perseguição daqueles que acordam e domem ao seu lado. A perseguição da família. E isso não é novidade. Isso acontece desde o início. Foi isso que aconteceu na primeira família que pisou nessa terra. Abel amou a Deus e foi odiado, perseguido e assassinado pelo seu próprio irmão de sangue, Caim. Em 1 João 3:12,13, esse é o alerta do apóstolo: “...Caim [...] era do Maligno e matou o seu irmão. E por que o matou? Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão eram justas. Irmãos, não se admirem se o mundo odeia vocês”. O que todos esses versos bíblicos estão dizendo para nós em uma só voz é que o discípulo deve estar preparado para a perseguição familiar.
ESSA É UMA DAS DIFICULDADES MAIS DURAS DA VIDA CRISTÃ.Uma coisa é você sofrer perseguição no seu trabalho, na escola, na universidade ou até na sua vizinhança. Outra coisa é você sofrer perseguição dentro da sua própria família. Ser atacado pelas pessoas que carregam seu sangue. Em teoria, a família é o nosso ninho. É o lugar onde encontramos compreensão, segurança, carinho e amor, mesmo que o resto do mundo esteja explodindo. Mas quando esse ambiente familiar começa a ser permeado pela perseguição, isso dói na alma. E é isso que tem acontecido na vida de muitos discípulos ao redor do mundo. Numa família muçulmana, um cristão na família é imediatamente expulso de casa. Algumas famílias judaicas costumam fazer um funeral quando alguém recebe Jesus como Messias. E em algumas famílias religiosas, o cristão é tido como a vergonha da família, que quebrou a tradição dos avós e dos pais. É assim que muitos discípulos tem lidado com as dificuldades familiar. Mas o nosso consolo em meio a isso tudo é que por mais que sejamos atacados pela nossa família de sangue, nós sempre seremos abraçados pela nossa família de fé. Foi isso que o reformador Martinho Lutero, que enfrentou severas perseguições familiares também, escreveu num dos seus hinos mais populares conhecidos como “Castelo Forte”: “Se temos de perder, Os filhos, bens, mulher, Embora a vida vá, Por nós Jesus está, E dar-nos-á seu Reino”.
III. AS DIFICULDADES NO CORAÇÃO (v. 37-39)
1. A DIFICULDADE DE VIVER O AMOR SUMPREMO (v. 37). “Quem ama o seu pai ou a sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama o seu filho ou a sua filha mais do que a mim não é digno de mim”. Notem que ao mesmo tempo que Jesus fala sobre as perseguições duras que enfrentamos na família, ele fala também sobre a importância de amarmos a ele mais do que amamos a nossa família. Jesus sabe que, no calor da perseguição familiar, muitas pessoas são tentadas a abondar a fé por amor a família. É nesse ponto que Jesus desafia os seus discípulos a amarem a ele mais do que todas as coisas. Ele nos desafia a vivermos o amor supremo; a amarmos a sua pessoa mais do que amamos qualquer pessoa nessa terra. A ideia aqui não é que não devemos amar a nossa família de sangue. Longe disso. Seríamos verdadeiros demônios se fizéssemos isso. Mas o que Jesus está dizendo é que o amor a ele deve preceder a todos outros amores dessa vida. Essa, sem dúvidas é uma reivindicação radical. Nenhum fariseu, rabino ou mestre daquela época, jamais exigiu algo parecido dos seus discípulos. Mas Jesus fez isso. E fez com razão. Porque se Jesus é o próprio Deus, então a melhor coisa que fazemos em nossa vida é amarmos a ele acima de todas as coisas. É assim que somos desafiados a vivermos o amor supremo da vida cristã.
2. A DIFICULDADE DE VIVER A AUTO NEGAÇÃO (v. 38). “e quem não toma a sua cruz e vem após mim não é digno de mim”. Uma das coisas mais comuns na rotina do judeu daquela época, era ele abrir a porta de sua casa e ver um condenado sendo obrigado a carregar a cruz pela cidade até o local da sua crucificação. Aquele condenado carregava a cruz enquanto era cuspido, vaiado e talvez até apedrejado pelo povo. Era uma caminhada de tortura e vergonha. Foi isso que Jesus sofreu, momentos antes da sua morte. E é isso que os seus discípulos também iram enfrentar nesse mundo. O discípulo é chamado a tomar sua cruz. Isso quer dizer que ele tem de negar a si mesmo, tem de crucificar o seu ego, tem de ser vaiado por esse mundo e continuar seguindo Jesus em todo esse processo. É aceitar a Jesus enquanto negamos o nosso eu. E como o nosso texto indica, estamos carregando a nossa crus após Jesus. É a ideia de estarmos colocando os nossos pés nos passos ensanguentados que ele deixou nessa dura caminhada. O que estamos fazendo ao tomar a cruz não é nada heroico. Nada disso! Estamos fazendo apenas aquilo que Jesus já fez por nós.
PONTE: A, uma última dificuldade que é destacada no texto é...
3. A DIFICULDADE DE VIVER SEM AUTOPRESERVAÇÃO (v. 39).“Quem acha a sua vida a perderá; e quem perde a vida por minha causa, esse a achará”. Se existe algo que todos nós temos em comum é o nosso instinto de autopreservação. Ou o nosso instinto de sobrevivência. Queremos preservar a nossa vida de todo jeito. Queremos pagar qualquer preço para não perder a vida. Toda a luta diária que realizamos como seres humanos, desde quando acordamos até a hora de dormir, é uma luta para preservarmos a nossa própria vida. Mas aqui Jesus está dizendo que discípulo dele é aquele que está disposto a abrir mão da própria vida. Ele está disposto a perder a sua vida nessa terra: perder amigos, perder emprego, perder família, perder conforto, perder popularidade, perder diversões, perder festas, bebidas e drogas, perder elogios ou perder qualquer outra coisa dessa vida que fique no caminho na sua fé. O discípulo está disposto a perder a vida nessa terra, para que possa ganhar na eternidade. Essa é a forma de Jesus descrever a caminhada de um discípulo.
TODO DISCÍPULO ESTÁ ENVOLVIDO NESSAS LUTAS DO CORAÇÃO.As lutas que temos de enfrentar na vida não são apenas aqui fora, são também aqui dentro. É a batalha contra o nosso ego. A luta contra os desejos da nossa carne. A mortificação do nosso pecado. Essa é a verdadeira cruz que temos de carregar no nosso dia a dia. A cruz que Jesus menciona aqui não é uma doença, não é um marido ou um filho trabalhoso. A cruz é o nosso eu. Nosso ego. Nosso desejo de ter mais, de saber mais e de ser mais do os outros. E são esses desejos que precisamos crucificar. Mas é importante acrescentar que esse compromisso de morrer para o eu está fundamentada na promessa do viver para Deus. Jesus diz que se perdemos a nossa vida na terra, nós ganhamos a verdadeira vida na eternidade. É uma forma de Jesus encorajar o nosso coração. Não estamos lutando em vão. Estamos lutando porque temos a certeza da vitória. Estamos perdendo esse mundo porque já ganhamos o céu. Estamos abrindo mão dos nossos direitos nessa terra porque já temos a garantia dos nossos privilégios no céu. É com essa motivação em nosso coração que batalhamos contra o pecado no dia a dia. A certeza da vida com Deus é suficiente.
CONCLUSÃO: Resumindo, essas são as dificuldades que um discípulo tem de enfrentar:
Primeiro, as dificuldades do mundo. A nossa decisão a favor da verdade vai atrair a oposição de um mundo de mentiras.
Segundo, as dificuldades na família. Muitas vezes, por causa do nosso amor por Jesus, seremos atacados até mesmo pelas pessoas da nossa família.
Terceiro, as dificuldades no coração. A vida com Jesus implica na mortificação dos nossos desejos carnais.
É com esses princípios espirituais em nosso coração que podemos prosseguir sem se iludir. As dificuldades são muitas, mas em todas elas nós teremos o amparo e o consolo de Deus para nossa vida. Quando formos rejeitados pelo mundo, seremos aceitos por Deus. Quando formos desprezados pela nossa família de sangue, seremos abraçados pela nossa família na fé. E quando perdemos a nossa vida nessa terra, nós iremos ganhar a nossa vida na eternidade. Essa é a lida de um verdadeiro discípulo de Jesus.