Fome na Casa do Pão

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Capítulo 3
Fome na Casa do Pão
(Rt 1.1–22)
A fome é uma experiência dolorosa.
Ela produz
· inquietação,
· desespero e
· até mesmo a morte.
Todavia, a fome é capaz de alimentar-se da própria morte.
Há muitos anos, um avião caiu nas montanhas geladas dos Andes. Muitas pessoas morreram. Os que escaparam da morte, transidos de frio e castigados pela fome, alimentaram-se de carne humana para sobreviverem. Seus companheiros de viagem tornaram-se alimento. Para fugirem da morte, sobreviveram por causa da morte daquelas desventuradas vítimas.
Estive visitando a Coréia do Sul em 1997. Kim Jong-II,
Enquanto o governo vive encastelado na pompa mais regalada, o povo é assolado por uma pobreza aviltante. Retornando daquela viagem, li na Folha de S. Paulo, no dia 2 de maio de 1997, que as autoridades sanitárias da Coréia do Norte estavam tomando medidas drásticas para evitar que as pessoas castigadas pela fome comessem os seus próprios mortos.
A fome é pior do que a morte.
Quando Jerusalém foi entrincheirada por Nabucodonosor, os judeus viveram também essa dramática realidade. Jeremias chegou a dizer que os que morreram à espada foram mais felizes do que aqueles que sucumbiram pela fome (Lm 4.9).
A fome mata pouco a pouco. É uma tortura em câmara lenta. Ela suga as energias e retira lentamente o oxigênio da pessoa. A fome dói. A fome consome. A fome mata.
Há fartura de pão no mundo, mas o descaso daqueles que têm fartura de pão por aqueles que estão famintos é tão grande que ainda vemos rostos desfigurados pela fome, crianças revirando os latões de lixo das nossas cidades, disputando com os urubus e cães doentes um pedaço de pão para mitigar a macabra fome. Enquanto uma minoria banqueteia-se regaladamente, ainda assistimos ao espetáculo doloroso de crianças e velhos com o ventre estufado, com o corpo macérrimo, com a pele furada pelas costelas em ponta, com os olhos sem brilho e o coração sem esperança, fuzilados pela dor de um estômago vazio.
Milhões de pessoas morrem no mundo todos os anos, vitimadas pela fome. Outras vivem com o ventre empanturrado de farinha com água, mas desnutridas. Não poucos têm pão, mas com escassez.
Li sobre uma grande família no sertão brasileiro que passou uma semana inteira alimentando-se apenas com um quilo de feijão. Todos os dias cozinhavam o mesmo feijão, tomando apenas o seu caldo.
A fome é uma realidade universal.
Ela tem castigado o ser humano desde o começo da humanidade, e é uma das marcas do fim dos tempos.
Belém de Judá também estava enfrentando um tempo de fome (1.1–3). A terra que manava leite e mel estava agora assolada. O solo ubérrimo se tornara seco e estéril. Os campos férteis não tinham nenhum sinal de vida.
A fome alastrava-se, deixando um rastro de pânico e medo.
A crise econômica era conseqüência da crise espiritual. Aquele era o tempo dos juízes, um longo período de mais de trezentos anos de muita instabilidade e inconstância do povo de Israel.
O povo só se voltava para Deus na hora do aperto, mas se esquecia dEle nos tempos de bonança.
Na verdade, aquele foi um tempo em que a nação se desviara de Deus. Cada um seguia o seu próprio coração. A Palavra de Deus fora esquecida, a apostasia tomou conta do povo e este virou as costas para o Senhor. A seca, a invasão do inimigo e a fome vieram, então, como juízo de Deus sobre a nação rebelde.
Quando o povo se afasta de Deus, os céus retêm as chuvas, e a fome assola a terra. Quando a igreja perde o fervor espiritual, ela perde a capacidade de alimentar as multidões com o pão espiritual. Quando falta pão na igreja, o mundo entra em colapso. Esse fato pode ser visto no livro de Rute.
Fome de pão na Casa do Pão
· Na Segunda Guerra Mundial, houve muitas atrocidades. Homens perversos, embrutecidos e dominados pela malignidade sacrificaram milhões de vidas, fazendo-as perecer nas câmaras de gás, nos paredões de fuzilamento, nos campos de concentração e castigando-as com trabalhos forçados e escassez de pão.
Após a guerra, várias crianças órfãs foram levadas para um orfanato. Inquietas, elas não conseguiam dormir. Ao serem observadas por um psicólogo, este percebeu que a inquietação das crianças era a insegurança e o medo de lhes faltar o pão.
O medo da fome lhes roubava o sono. O psicólogo orientou que cada criança antes de dormir deveria receber um pedaço de pão não para comer, mas para segurar. Assim, as crianças se aquietaram e conseguiram dormir seguras e sossegadas.
A fome traz inquietação. A certeza de que teriam pão no dia seguinte curou as crianças da inquietação que lhes roubava o sono.
Houve fome de pão em Belém, a Casa do Pão. Belém é um símbolo da igreja.
· Muitas vezes, também, falta pão na igreja, e as pessoas começam a passar fome. O pão que falta na igreja não é aquele feito de trigo, mas aquele que procede da boca de Deus.
· É a fome desse pão do céu que nos faz buscar a Deus com todas as forças da nossa alma.
· No dia em que a nossa fome de Deus for maior do que a fome por comida, por dinheiro, por fama e reconhecimento, então poderemos experimentar as maravilhas de Deus.
No entanto, precisamos também tapar os ouvidos ao clamor pessimista daqueles que nos dizem que não vamos conseguir, que a crise nos vencerá e que jamais Deus nos dará pão com fartura.
Quando falta pão na Casa do Pão, as pessoas se desesperam
O livro de Rute é uma história de amor que ensina ricas lições espirituais. Tommy Tenney, em seu livro Os caçadores de Deus, faz uma profunda e pertinente exposição do capítulo primeiro de Rute. Ele escreve sobre a fome que castigou a cidade de Belém e suas implicações para a igreja contemporânea.
Houve um tempo em que o nome da cidade de Belém era apenas uma propaganda enganosa, uma promessa vazia, uma negação da sua realidade.
Houve um dia em que os fornos de Belém ficaram frios e cobertos de cinza, e as prateleiras, vazias. A terra tórrida gemia sob o calor inclemente e escaldante do sol. A chuva dadivosa e benfazeja foi retida, e o céu fechou suas comportas. A semente perecia sem vida no ventre da terra. Nos pastos, o gado mugia desassossegado pela fome. Nos currais, não havia ovelhas. Nos campos, outrora farturosos, não havia frutos. Nas casas, não havia pão, e o povo começou a passar fome.
Onde há fome, há inquietação. Onde a fome chega, reina o desespero. A fome é implacável. Ela abate sem piedade as suas vítimas. A Casa do Pão ficou sem pão. As pessoas chegavam de todos os lados à procura de pão, mas voltavam de mãos vazias. Suas esperanças eram frustradas. Belém tornou-se um lugar de inquietação e angústia, e não de satisfação e plenitude.
Belém, um retrato da igreja
A Casa do Pão, vazia de pão, é um retrato da igreja contemporânea.
A igreja também é a casa do pão. As pessoas estão famintas.
Elas têm necessidades não do pão que perece, mas do pão da vida.
O próprio Deus é quem coloca essa fome em nós: “Eis que vêm dias, diz o Senhor Deus, em que enviarei fome sobre a terra, não de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do Senhor” (Am 8.11).
Muitas pessoas buscam saciar sua fome espiritual na igreja, mas não encontram nela o pão da vida.
Muitas pessoas buscam Deus na igreja, mas não O encontram na igreja.
· Encontram muito do homem e pouco de Deus.
· Encontram muito ritual e pouco pão espiritual.
· Encontram muito da terra e pouco do céu.
· A igreja hoje está também substituindo o pão do céu por outro alimento.
· Está pregando o que o povo quer ouvir, e não o que o povo precisa ouvir. Prega-se para agradar, e não para alimentar.
Dá-se palha, em vez de trigo, ao povo (Jr 23.28).
Há igrejas, também, que, além de não terem pão, estão vendendo farelo para o povo, e cobrando caro por ele.
Há líderes que, além de adulterar o evangelho, ainda o têm comercializado e mercadejado. Na ânsia do ter mais do que na busca do ser, muitas igrejas estão desengavetando as indulgências da Idade Média, dando-lhes novas roupagens, mercadejando a graça de Deus e induzindo o povo incauto ao misticismo mais tosco.
Contudo, também, há igrejas que estão dando veneno, em vez de pão, ao povo. Estão pregando doutrinas de homens, e não a Palavra de Deus.
Conduzem o povo através de sonhos, visões e revelações, em vez de anunciar-lhe a santa Palavra de Deus.
Estão dando um caldo venenoso ao povo de Deus, em vez de alimentá-lo com o pão do céu.
Há morte na panela, e não alimento saudável.
Há muitas heresias entrando sorrateiramente no arraial evangélico, dissimuladas como doutrinas bíblicas.
As multidões são atraídas, o entusiasmo do povo cresce, mas o povo está se alimentando de palha, em vez de pão.
Hoje, muitas pessoas estão famintas de outras coisas, e não famintas de Deus.
· Estão atrás das bênçãos de Deus, e não do Deus das bênçãos.
· Querem as bênçãos, e não o abençoador.
· Querem as dádivas, e não o doador.
· Querem agradar a si mesmas, e não a Deus.
· Querem a promoção pessoal, e não a glória de Deus.
· Buscam saúde e prosperidade, e não santidade.
· Correm atrás de sucesso, e não de piedade.
· Têm fome de Mamom, e não de maná.
Outros buscam conhecer a respeito de Deus, mas não conhecem a Deus.
· São ortodoxos de cabeça, mas hereges de conduta.
· São zelosos da doutrina, mas relaxados com a vida.
· São defensores da verdade, mas estão secos como um deserto e duros como uma pedra.
· Buscam conhecimento, mas não buscam piedade. T
· êm fome de livro, mas não fome de Deus.
· Têm luz na mente, mas não fogo no coração.
· Têm a cabeça cheia de conhecimento, mas o coração vazio de devoção.
· O resultado é que temos igrejas cheias de pessoas vazias de Deus, e igrejas vazias de pessoas cheias de Deus.
Essas pessoas têm fome de muita coisa, mas não do Deus vivo.
Sim, estamos precisando de uma geração que tenha fome de Deus.
Pior do que a fome é a inapetência, a falta de apetite.
Falta de apetite é doença, e a doença mata mais rápido do que a fome.
O salmista disse: “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo” (Sl 42.2). Os filhos de Coré diziam: “[…] o meu coração e a minha carne exultam pelo Deus vivo” (Sl 84.2).
O povo de Deus anda sem apetite espiritual.
As coisas de Deus parecem não empolgar mais os filhos de Deus.
Eles olham para as coisas de Deus e dizem: que canseira (Ml 1.13)!
Eles não têm deleite na Palavra.
Eles não tremem diante da Palavra.
Eles não têm pressa para orar. As reuniões de oração estão morrendo nas igrejas. O povo tem tempo para reuniões de planejamento, mas não tem tempo para orar.
O povo acha tempo para o lazer, mas não para buscar a face do Senhor. É que falta fome de Deus. É que a nossa alma não está impregnada de Deus nem apegada a Ele.
Cantamos que Deus é o amado da nossa alma, mas não conversamos com Ele, não ouvimos a Sua voz nem nos deleitamos nEle.
Cantamos porque gostamos de cantar. Celebramos porque isso faz bem a nós mesmos, mas não o fazemos para alegrar o coração de Deus nem para nos deleitarmos nEle. Cultuamos a nós mesmos, em vez de cultuar a Deus.
A fome de Deus é o primeiro passo para um reavivamento espiritual.
As pessoas vão à igreja, mas não há nelas expectativas de encontrar a Deus. Elas se acostumam com o sagrado. Elas lidam tanto com as coisas espirituais que perdem a sensibilidade com o sublime. Elas gostam de estar na Casa de Deus, mas não encontram Deus lá. Elas amam a Casa de Deus, mas não conhecem na intimidade o Deus da Casa de Deus.
Ter fome de Deus é considerar as vantagens do mundo como lixo por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo.
Ter fome de Deus é não se contentar com o farelo, com a palha seca, com o pão embolorado. Você tem fome de Deus? Você tem ansiado por Deus mais do que os guardas pelo romper da manhã?
Você tem clamado como Moisés: Oh, Senhor, eu quero ver a tua glória (Êx 33.18)?
Você tem clamado como Eliseu: “Peço que me toque por herança porção dobrada do teu espírito” (2Rs 2.9)?
Ou será que estamos satisfeitos com a nossa vida como estava a igreja de Laodicéia (Ap 3.17)?
· Sim, a maior necessidade da igreja não é de coisas; é de Deus.
· Não é dos dons de Deus; é de Deus.
· Não é das bênçãos de Deus; é de Deus.
· A nossa mais urgente necessidade é da glória de Deus, da manifestação do Senhor todo-poderoso em nosso meio.
· Precisamos desesperadamente do Pão do Céu!
Quando falta pão na Casa do Pão, as pessoas deixam a Casa do Pão
A fome deixa as pessoas desassossegadas.
Ela move e remove as pessoas do seu lugar.
Os irmãos de José desceram ao Egito para comprar pão.
Os quatros leprosos de Israel arriscaram suas vidas para procurar pão no acampamento do inimigo.
Quando a fome chegou a Belém, Elimeleque, Noemi, Malom e Quiliom abandonaram a cidade do pão. Eles colocaram o pé na estrada da fuga, em vez de escolher o caminho do enfrentamento.
Eles saíram movidos pela visão humana, e não guiados pela fé. Como Ló, buscaram segurança, e não a vontade de Deus. Buscaram novos horizontes, e não a direção do céu.
Elimeleque, em vez de buscar a Deus para resolver o problema, fugiu das circunstâncias adversas.
Em vez de clamar aos céus por restauração, ele e sua família fugiram da Casa do Pão para as terras de Moabe.
· Muitas pessoas deixam a igreja quando falta pão na Casa do Pão.
· Muitas pessoas vão procurar alimento em seitas heréticas, onde só tem veneno mortífero. Outras rebuscam os farelos do próprio mundo como fez Demas que amou o presente século e abandonou a fé (2Tm 4.10).
· A solução não é abandonar a Casa do Pão, quando falta pão.
· O verdadeiro pão só pode vir do céu.
· Ele não é produzido pelo esforço humano.
· É dádiva divina.
· A solução não é fugir à procura de outro pão, mas rogar ao Senhor que nos dê novamente o pão do céu.
Os tempos de restauração nascem da consciência de crise.
É quando sentimos nossa falência espiritual que nos prostramos aos pés do Senhor, clamando por restauração.
É quando os nossos celeiros estão vazios que somos desafiados a clamar por pão.
Quando há sinais de fome em nossas entranhas é que clamamos como o filho pródigo: “Quantos trabalhadores de meu pai têm pão com fartura, e eu aqui morro de fome!” (Lc 15.17).
A crise, longe de nos levar para as terras de Moabe e para as campinas do Jordão ou mesmo para as planícies do Egito, deveria nos levar para os joelhos e para uma busca sem trégua de restauração.
Erlo Stegen, em 1966, pregava entre os zulus, na África do Sul. Ele armava uma tenda, e o povo vinha para ouvi-lo. Certo dia, enquanto pregava sobre o poder de Jesus, uma mulher com semblante abatido e cansado aproximou-se dele. Após a mensagem, ela o abordou: “O Senhor está dizendo que o seu Deus tem todo o poder?”. Ele respondeu: “Sim, é exatamente o que estou pregando”. Ela, então, lhe disse: “Eu estou precisando do seu Deus. Minha filha está horrivelmente endemoninhada. Ela está amarrada num tronco dentro de casa, sangrando como uma ferida enfurecida. Vamos até lá para que a minha filha seja liberta”. Naquele momento, Erlo Stegen sentiu um calafrio na espinha. Pensou: E se essa moça não for liberta, o que será do meu ministério? Como continuarei pregando para esse povo? Como ficará a reputação do evangelho entre os zulus?
Com esses pensamentos fervilhando em sua cabeça, ele foi até a casa da mulher. Ao chegar, viu um quadro horrível. A moça estava amarrada num tronco com arame, sangrando como um animal ferido. Em vão, o pastor tentou expulsar aquela casta de demônios da moça. Convocou os outros obreiros, mas nada aconteceu. Levaram-na para uma fazenda e por alguns dias oraram, mas ela ficou ainda mais enfurecida. Ao trazeram-na de volta, Erlo Stegen pensou em desistir do ministério entre os zulus e abandonar o campo missionário. Nesse momento, o Espírito de Deus mostrou-lhe que sua necessidade não era abandonar o ministério nem parar de pregar, mas buscar poder do alto.
A partir daquele dia, eles começaram a buscar a Deus com quebrantamento e fervor. Começaram a estudar o livro de Atos, pedindo que Deus fizesse de novo as maravilhas que tinha operado no passado. Nos três meses seguintes, eles se reuniam três vezes por dia, e a única coisa que conseguiam fazer era chorar pelos seus pecados. Deus trouxe sobre eles um profundo quebrantamento. Ao final, o Espírito de Deus foi derramado poderosamente sobre eles e, imediatamente, às dezenas, as pessoas chegavam de todos os lados, confessando seus pecados e buscando a misericórdia de Deus. A moça possessa foi liberta, e maravilhas divinas se multiplicaram naquela região. Tive o privilégio de visitar esse lugar, a Missão Kwa Sizabantu, onde aconteceu esse extraordinário avivamento. Ali foi construído um templo para quinze mil pessoas, com cultos diários, e caravanas de vários lugares do mundo ainda visitam aquela missão para ouvir e ver as maravilhas que Deus operou no meio do Seu povo.
Uma triste constatação
Uma pergunta surge por todos os lados: por que as pessoas deixam a igreja ou não são atraídas a ela?
A resposta é: Porque não há pão.
O pão era um símbolo da presença de Deus.
Havia o pão da proposição, ou seja, o pão da presença (Nm 4.7).
O pão indica a presença de Deus. Nada satisfaz as pessoas de forma plena senão Deus.
O próprio Deus colocou a eternidade no coração do homem. Você pode ter templos suntuosos, pregadores eruditos, música de qualidade superlativa, mas só Deus satisfaz a alma.
As pessoas estão procurando desesperadamente algum lugar onde encontrar pão, onde saciar sua fome, onde satisfazer suas profundas necessidades.
As pessoas estão lotando os bares e se embriagando porque estão vazias, sedentas e famintas. Elas vão para os clubes noturnos, ao som de músicas estridentes, e dançam até o amanhecer porque estão com uma grande fome interior. Elas encharcam suas veias de drogas porque estão com um imenso vazio no coração. Elas buscam os centros espíritas e os terreiros de umbanda e candomblé porque há um buraco na alma delas com fome de Deus. Elas usam cristais no pescoço, buscando entrar em contato com o mundo invisível, porque estão famintas e insatisfeitas. Elas se atropelam em filas nos seminários de auto-ajuda, engolindo irrefletidamente toda a palha que lhes está sendo dada, porque estão ávidas de pão. As multidões estão confusas, dispersas e inquietas como ovelhas sem pastor. Como o pai aflito que rogou aos discípulos de Jesus que libertassem seu filho possesso, mas saiu desiludido pela falta de poder deles, temos visto também uma igreja que tem conhecimento, mas não tem poder. E outras que trombeteiam poder, mas não têm nem conhecimento nem poder. As multidões não estão encontrando pão na Casa do Pão.
Sim, isso deveria envergonhar a igreja. Milhões de pessoas estão procurando pão onde só há veneno, porque há escassez de pão na Casa do Pão. É triste constatar que muitas vezes as pessoas carentes, aflitas e famintas procuram a igreja, mas não encontram nada na despensa, nada além de prateleiras vazias, gavetas cheias de receita de pão, fornos frios e empoeirados. No máximo, escutam lindas histórias de como havia pão com fartura no passado.
Estamos celebrando como Israel as vitórias do passado. Cantamos com ardor o que Deus fez ontem. Mas, quando olhamos para o presente, nossa vida está seca como o deserto do Neguev. É bom relembrar as vitórias do passado, mas nós não podemos morar no passado. Não vivemos apenas de lembranças. Não basta saber que ontem tínhamos pão com fartura. Estamos precisando de pão hoje. Precisamos experimentar a intervenção de Deus todos os dias. As vitórias de ontem não são garantias de vitórias hoje.
Temos anunciado que há pão em nossa Belém. Mas, quando as pessoas vêm até nós, elas não são alimentadas. Quando as pessoas famintas procuram pão, tudo o que fazemos é contar-lhes os grandes feitos que Deus realizou. Falamos sobre o que Ele fez, onde Ele esteve, mas não do que Ele está fazendo hoje em nós e por nosso intermédio. Temos uma memória afiada para relembrar as maravilhas do ontem. Contudo, podemos dizer pouco sobre o que Deus está fazendo em nossas vidas. As pessoas vêm às nossas igrejas, mas elas não vêem a Deus na Sua glória entre nós. Dizemos-lhes Deus está aqui, mas elas não o vêem. Confundimos a onipresença de Deus com a Sua presença manifesta. É impossível Deus se manifestar e as pessoas não O perceberem. Quando Deus se manifesta em Sua glória, ficamos como Jacó: “Quão temível é este lugar! É a Casa de Deus, a porta dos céus” (Gn 28.17).
As pessoas têm vindo à Casa do Pão com freqüência, mas voltam com fome. Quando lhes falamos que temos pão com fartura, elas não acreditam, pois vêem até mesmo muitos crentes sofrendo de inanição. Quando anunciamos a elas que o pão que temos satisfaz eternamente, elas ficam confusas porque olham para os crentes, e eles estão insatisfeitos, confusos e inseguros. Quando elas vêm à igreja buscando o pão que lhes prometemos, chegam à conclusão de que fizemos uma propaganda enganosa. Muitas vezes, falamos que está fluindo sobre nós um rio de vida, mas o que as pessoas vêem é um rio de palavras vazias. Temos palavra, mas não temos vida. Temos doutrina, mas não temos poder. Temos ortodoxia, mas não temos unção. Temos receita de pão, mas não temos pão.
Quando falta pão na Casa do Pão, as pessoas buscam alternativas perigosas
Elimeleque e sua família, ao enfrentarem a crise da fome, fugiram para Moabe.
Quando Belém, a Casa do Pão, ficou vazia, aquela família se viu obrigada a procurar pão em outro lugar. O dilema é que Moabe não era um lugar seguro para aquela família; ao contrário, um lugar de sofrimento, doença, pobreza e morte. As alternativas do mundo podem nos jogar na cova da morte.
Quando a crise chega, quando há falta de pão na Casa do Pão, a solução não é abandonar a igreja, buscar novos rumos, novas teologias, novas experiências e novos modismos.
Nessas horas, o que a igreja precisa fazer é se humilhar diante de Deus. O que ela precisa é buscar o Pão Vivo do céu, Jesus.
Elimeleque e seus filhos Malom e Quiliom morreram em Moabe.
Eles perderam a vida buscando a sobrevivência.
Eles encontraram a morte, em vez de segurança.
Eles encontraram a sepultura, em vez de um lar.
Eles, no afã de evitarem a fome em Belém, encontraram a morte em Moabe.
Onde eles pensaram que preservariam a vida, a perderam.
A segurança de Moabe é falsa.
A fartura de Moabe é enganosa.
· Moabe significou para Noemi doença, pobreza e viuvez.
· Moabe significou para Noemi a perda dos seus dois filhos.
· Moabe é um símbolo do mundo e de sua aparente segurança.
· Moabe levará os seus filhos e os enterrará antes do tempo.
· Moabe separará você do seu cônjuge.
· Moabe tirará a sua alegria e encherá o seu coração de amargura.
· O preço cobrado em Moabe é muito alto: lá as pessoas pagam com seus casamentos, seus filhos e suas próprias vidas. Na verdade, Noemi partiu cheia de esperança e voltou pobre, vazia, amargurada e ferida (1.20,21).
Quando volta a ter pão na Casa do Pão, as pessoas correm para a Casa do Pão
Há um rumor que chega até Moabe:
“Então, se dispôs ela com as suas noras e voltou da terra de Moabe, porquanto, nesta, ouviu que o Senhor se lembrara do seu povo, dando-lhe pão” (1.6).
Noemi volta porque ouviu falar que havia pão em Belém.
Há um murmúrio que percorre as nossas cidades, ruas e becos; é o murmúrio dos famintos.
Se somente um deles ouvisse um boato de que o Pão está de volta à Casa do Pão, a notícia logo se espalharia com grande intensidade, e as multidões seriam atraídas irresistivelmente à Casa do Pão.
Os famintos viriam e constatariam que a propaganda não é enganosa. Elas diriam: não é uma farsa.
É verdade, realmente existe pão com fartura, podemos matar a nossa fome. Deus está na igreja. A glória de Deus resplandece na igreja.
O Pão do Céu é oferecido gratuitamente na igreja!
Sim, como necessitamos do Pão do Céu em Belém! Sim, como necessitamos da gloriosa presença de Deus em nossas igrejas! Tão logo as pessoas saibam que Deus está na igreja, elas virão de todos os lados. Tudo o que precisamos é da presença de Deus, é da glória de Deus sobre nós, é de pão com fartura para os famintos.
A história dos avivamentos nos mostra essa gloriosa verdade. Quando Deus visita o Seu povo, as multidões são atraídas à igreja. Os corações se rendem a Jesus, e a igreja se levanta no poder do Espírito Santo para alimentar os famintos com o Pão do Céu. Não precisamos nos contentar com migalhas. Não precisamos viver de farelos. Não precisamos nos alimentar das migalhas que caem da mesa. O Senhor nos oferece um banquete, fornadas de pão quente preparado nos fornos do céu.
Quando há pão na Casa do Pão, as pessoas nos acompanharão à Casa do Pão
Rute acompanhou Noemi a Belém (1.16–19,22).
Da mesma maneira que Rute, uma gentia, acompanhou Noemi à Casa do Pão, também as multidões famintas nos acompanharão à Casa de Deus quando souberem que Deus nos visitou com abundância de pão.
As pessoas virão à igreja quando provarem o pão da presença de Deus.
Rute encontrou pão em Belém.
Ela saiu de Moabe, lugar de morte, e encontrou a vida e um futuro glorioso em Belém.
Ela tornou-se avó de Davi, um símbolo do Rei messiânico. Davi nasceu em Belém, a Casa do Pão. Mas Rute também foi um membro da genealogia de Jesus. Jesus também nasceu em Belém.
Ele é o Pão da Vida (Jo 6.35,48). O Pão da Vida nasceu na Casa do Pão. Agora temos o Pão do Céu na Casa do Pão. A todos os que têm fome, Ele diz: “Este é o pão que desce do céu, para que todo o que dele comer não pereça. Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente” (Jo 6.50,51).
Quando tem pão na Casa do Pão, os pródigos voltam à igreja. Noemi voltou para Belém. A igreja ficará cheia quando as pessoas souberem que lá encontrarão pão com fartura. Quando Deus visita o Seu povo com Pão na Casa do Pão, os cultos tornam-se cheios de vida. Há sincera e abundante adoração. As músicas tornam-se cheias de alegria, as orações cheias de fervor, e os crentes cheios do Espírito.
Que a fome de Deus seja o sinal distintivo da nossa vida.
Que a nossa fome de Deus seja maior do que a nossa fome pelas bênçãos de Deus.
Um pastor na Etiópia estava pregando quando homens do governo comunista o interromperam, dizendo: Estamos aqui para acabar com esta igreja. De-pois de severas ameaças, agarraram a filha do pastor de 3 anos de idade e a arremessaram pela janela do templo à vista de todos os fiéis. Os comunistas pensaram que essa violência acabaria com a igreja, mas a esposa do pastor desceu, colocou sua filhinha morta nos braços e retornou ao seu lugar na primeira fila, e a adoração continuou. Como conseqüência da fidelidade desse humilde pastor, quatrocentos mil crentes fiéis, destemidamente, compareceram a suas conferências bíblicas na Etiópia.
Um pastor americano, encontrando-se com esse pastor, disse-lhe: “Irmão, nós temos orado por vocês, por causa da sua pobreza”. Esse humilde homem voltou-se para o pastor americano e disse: “Não, você não compreende. Nós é que temos orado por vocês, por causa de sua prosperidade”. Que a nossa fome de Deus seja maior do que a nossa fome por prosperidade e conforto!
Os pródigos não voltarão sozinhos à Casa do Pão
Rute voltou com Noemi. Noemi voltou e trouxe Rute. Semelhantemente, quando a igreja é restaurada, não somente os que saíram dela voltam, mas trazem outras pessoas. Quando o Espírito de Deus é derramado, os descendentes de Jacó brotam como os salgueiros junto à corrente das águas (Is 44.4). Precisamos fazer como os quatro leprosos de Samaria ao encontrarem pão: “Não fazemos bem; este dia é dia de boas-novas, e nós nos calamos” (2Rs 7.9).
Precisamos sair pelas ruas da cidade, pelas praças e becos dizendo que tem pão na Casa do Pão.
Se Deus realmente se manifestar com poder na igreja, o rumor dos famintos se espalhará no campo e na cidade.
Antes de podermos abrir as portas, os famintos já estarão na fila esperando o pão. E, quando os pródigos voltarem, não voltarão sozinhos, os gentios que habitavam em Moabe voltarão com eles.
Lopes, H. D. (2007). Rute: Uma Perfeita História de Amor. (J. C. Martinez, Org.) (1a edição, p. 49–66). São Paulo: Hagnos.
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