Sem espaço para justificação pelas obras - Gl 4.1-18 - pt.3

Sermões expositivos em Gálatas  •  Sermon  •  Submitted
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O argumento histórico e sentimental

Uma das coisas mais tristes do legalismo é que ele dá uma aparência de maturidade espiritual quando, na verdade, faz o cristão regredir a uma "segunda infância" em sua experiência com Deus.
Os cristãos da Galácia, como a maioria dos convertidos, desejavam crescer e progredir, mas tentavam fazer isso da maneira errada.
Sua experiência não é diferente daquela de muitos cristãos de hoje, que se envolvem com diferentes movimentos legalistas na esperança de se aperfeiçoarem na fé. Suas motivações podem ser corretas, mas seus métodos são errados.
É essa verdade que Paulo procura transmitir a seus convertidos queridos na Galácia.
Os judaizantes os haviam enfeitiçado, levando-os a pensar que a Lei os transformaria em cristãos melhores.
Sua velha natureza sentia-se atraída pela Lei, pois esta lhes permitia fazer coisas e medir os resultados exteriores. Ao avaliar a si mesmos e às suas obras, sentiam-se realizados e, sem dúvida, um tanto orgulhosos. Pensavam estar avançando quando, na verdade, regrediam.
Pessoas assim se encontram em situação semelhante à dos passageiros de um avião que ouviram o piloto dizer:
- A má notícia é que, devido a uma falha em nosso equipamento de navegação, estamos voando sem rumo há uma hora. A boa notícia é que estamos a uma boa velocidade e dentro do horário.
Nesta seção, Paulo usa três abordagens ao procurar convencer os gálatas de que não precisam do legalismo a fim de viver a vida cristã. Não precisam de outra coisa senão Jesus Cristo.

O argumento histórico.

1. Ele explica a adoção dos cristãos (Gl 4:1-7)

A adoção é uma das bênçãos da experiência cristã {Gl 4:5; Ef 1:5). Não entramos na família de Deus por adoção, da mesma forma como uma criança sem lar é adotada por uma família carinhosa em nossa sociedade.
A única maneira de fazer parte da família de Deus é pela regeneração, ao "nascer de novo" (Jo 3:3).
A palavra adoção, no Novo Testamento, significa "colocar na posição de filho adulto". É ligada a nossa posição dentro da família de Deus; não somos crianças pequenas, mas sim filhos adultos com todos os privilégios correspondentes a essa posição.
Infelizmente, muitas traduções do Novo Testamento não fazem distinção entre filhos de Deus e filhos adultos de Deus.
Somos filhos de Deus pela fé em Cristo e nascemos na família de Deus. Mas todo filho de Deus é colocado dentro da família como membro adulto, com todos os respectivos direitos e privilégios.
Quando um pecador crê em Cristo e é salvo, no que se refere a sua condição, é um "recém-nascido espiritual" que precisa crescer (1Pe 2:2-3 ); mas, no que se refere a sua posição, é um filho adulto que pode lançar mão da riqueza do Pai e desfrutar todos os privilégios maravilhosos de sua filiação.
Entramos na família de Deus pela regeneração, mas desfrutamos a família de Deus pela adoção.
O cristão não precisa esperar para começar a desfrutar as bênçãos espirituais que possui em Cristo. "E, sendo filho, também [és] herdeiro por Deus" (Gl 4:7).
A seguir, vemos Paulo discorrer sobre a adoção e lembrar seus leitores de três fatos.
O que éramos: crianças sujeitas a um aio (w. 1-3).
Por mais rico que seja o pai, seu bebê ou filho pequeno não é capaz de desfrutar, de fato, de toda essa riqueza.
No mundo romano, as crianças das pessoas ricas eram entregues aos cuidados de escravos. Não importava quem era o pai, o filho continuava sendo uma criança, sujeita à supervisão de um servo.
Na verdade, a própria criança não era muito diferente do servo que cuidava dela. O servo estava sujeito às ordens do senhor da casa, e a criança estava sujeita ao servo.
Essa era a situação espiritual do povo de Israel na era da Lei. Conforme comentamos anteriormente, a Lei era o "tutor" que disciplinava a nação, preparando-a para a vinda de Cristo (Cl 3:23-25).
Assim, ao levar os gálatas de volta ao legalismo, os judaizantes os conduziam não apenas à servidão religiosa, mas também a uma infância e imaturidade moral e espiritual.
Paulo afirma que os judeus eram como criancinhas pequenas, sujeitas aos "rudimentos do mundo".
O termo rudimentos significa "princípios fundamentais, o á-bê-cê". Israel passou cerca de quinze séculos no jardim da infância e na escola primária, aprendendo os fundamentos da vida espiritual, a fim de estar preparado para a vinda de Cristo.
Quando isso acontecesse, o povo receberia a revelação plena, pois Jesus Cristo é o "Alfa e o ômega" (Ap 22:13); engloba todo o alfabeto da revelação de Deus ao homem. Ele é a última Palavra de Deus (Hb 1:1-3).
Assim, o legalismo não é um passo rumo à maturidade; é um passo de volta à infância.
A Lei não era a revelação final de Deus; era apenas a preparação para essa revelação final em Cristo. É importante a pessoa conhecer os rudimentos do alfabeto, pois ele é o fundamento para a compreensão de toda a língua.
Mas, se uma pessoa passar os dias em uma biblioteca recitando o alfabeto em vez de ler toda a literatura maravilhosa a seu redor, estará se mostrando imatura e ignorante. Debaixo da Lei, os judeus eram como crianças vivendo sob a condição de servos, não como filhos adultos desfrutando a liberdade.
O que Deus fez: ele nos resgatou (w. 4, 5).
A expressão "plenitude do tempo" (Gl 4:4) refere-se ao tempo em que o mundo se encontrava providencialmente preparado para o nascimento do Salvador.
De acordo com os historiadores, na época em que Jesus nasceu, o mundo romano estava em uma situação de grande expectativa, aguardando um Libertador.
As religiões antigas morriam; as filosofias antigas mostravam-se vazias e incapazes de mudar a vida das pessoas.
O império era invadido por novas e estranhas religiões de mistérios. A falência religiosa e a carência espiritual podiam ser vistas por toda parte. Deus estava preparando o mundo para a chegada de seu Filho.
Do ponto de vista histórico, o próprio império romano ajudou a preparar o mundo para o nascimento do Salvador. Havia inúmeras estradas que ligavam as cidades entre si e, direta ou indiretamente, a Roma.
As leis romanas protegiam os direitos dos cidadãos, e os soldados romanos guardavam a paz.
Graças às conquistas tanto da Grécia quanto de Roma, o grego e o latim se tornaram línguas conhecidas por todo o império.
O nascimento de Cristo em Belém não foi um acidente; foi um compromisso marcado por Deus: Jesus veio na "plenitude do tempo" (e convém observar que ele também voltará no tempo certo).
Paulo faz questão de ressaltar a natureza dupla de Jesus Cristo (Gl 4:4), mostrando que ele é tanto Deus quanto homem.
Como Deus, Jesus "entrou no mundo" (Jo 16:28); mas, como homem, foi "nascido de mulher". A promessa antiga dizia que o Redentor nasceria da "descendência" da mulher (Gn 3:15); Jesus cumpriu essa promessa (Is 7:14; Mt 1:18-25).
Paulo disse quem veio - o Filho de Deus; disse quando ele veio e como ele veio.
Agora, explica por que veio: "para resgatar os que estavam sob a lei" (Gl 4:5).
Resgatar é o mesmo termo usado por Paulo anteriormente (Gl 3:13); significa "libertar mediante o pagamento de um preço".
Um homem poderia comprar um escravo em qualquer cidade romana (havia cerca de sessenta milhões de escravos no império romano) para mantê-lo como escravo ou para libertá-lo.
Jesus veio para nos libertar. Assim, uma volta à Lei era o mesmo que desfazer a obra de Cristo na cruz. Ele não nos comprou para nos manter escravos, mas para nos tornar filhos! Sob a Lei, os judeus não passavam de "filhos pequenos", mas sob a graça, o cristão é um filho adulto de Deus.
O que somos: filhos e herdeiros (w. 6, 7).
Mais uma vez, a Trindade toda se encontra envolvida em nossa experiência pessoal: Deus o Pai enviou o Filho para morrer por nós, e Deus o Filho enviou o Espírito Santo para habitar em nós.
O contraste nessa passagem não é entre filhos pequenos e imaturos e filhos adultos, mas sim entre servos e filhos.
Como o filho pródigo, os gálatas desejavam que seu Pai os aceitasse como servos, quando, na verdade, eram filhos (Lc 15:18, 19). Não é difícil ver o contraste. Por exemplo:
O filho tem a mesma natureza do pai; o servo não. Quando cremos em Cristo, o Espírito Santo vem habitar dentro de nós; e isso significa que somos "co-participantes da natureza divina" (2Pe 1.4)
A Lei jamais teria poder de dar a alguém a natureza de Deus vivendo em seu ser interior. A Lei só poderia revelar à pessoa sua necessidade premente da natureza de Deus. Assim, quando o cristão volta à Lei, nega a própria natureza divina dentro de si e dá espaço para a velha natureza (a carne) agir.
O filho tem um pai; o servo tem um senhor. Nenhum servo pode chamar seu senhor de "Pai".
Quando o pecador crê em Cristo, recebe dentro de si o Espírito Santo, e o Espírito lhe diz que ele é filho do Pai (Rm 8:1 5, 16).
É natural um bebê chorar, mas não é natural conversar com o pai. Quando o Espírito entra no coração, diz: "Aba, Pai!" (Gl 4:6); Abba é uma palavra aramaica que mostra a intimidade do filho com o Pai. Nenhum servo tem esse tipo de relacionamento com seu senhor.
O filho obedece por amor; o servo obedece por medo. O Espírito opera no coração do que crê, de modo a despertar e a aumentar seu amor por Deus. "Mas o fruto do Espírito é: amor" (Gl 5:22). "Porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo" (Rm 5:5).
O filho é rico; o servo é pobre. Somos "filhos e herdeiros". Uma vez que fomos adotados - aceitos na família como filhos adultos -, podemos começar a usar nossa herança desde já. Deus colocou à nossa disposição as riquezas da sua graça (Ef 1:7; 2:7), as riquezas de sua glória (Fp 4:19), as riquezas de sua bondade (Rm 2:4) e as riquezas de sua sabedoria (Rm 11:33ss) - e todas as riquezas de Deus encontram-se em Cristo (Cl 1:19; 2:3).
O filho tem futuro; o servo não tem qualquer perspectiva. Apesar de muitos senhores bondosos suprirem as necessidades de seus servos quando ficavam velhos, esse tipo de preocupação não fazia parte de suas obrigações. O pai, no entanto, sempre provê para o filho (2 Co 12:14).
Em certo sentido, nossa adoção ainda não se completou, pois aguardamos a volta de Cristo e a redenção de nosso corpo (Rm 8:23). Alguns estudiosos acreditam que esse segundo estágio de nossa adoção corresponde à segunda parte do processo de adoção dos romanos no caso de alguém de fora de sua família.
Primeiro, se realizava uma cerimônia particular, na qual o filho era comprado e aceito na família; depois, se realizava uma cerimônia pública, na qual a adoção era declarada abertamente diante das autoridades.
Os cristãos já passaram pelo primeiro estágio: fomos comprados por Cristo e recebemos dentro de nós o Espírito Santo. Estamos aguardando o segundo estágio: a declaração pública na volta de Cristo, quando "seremos semelhantes a ele" (1Jo 3.1-3)
Somos "filhos e herdeiros" e a melhor parte da nossa herança ainda está por vir.
1Pedro 1.4–5 NAA
4 para uma herança que não pode ser destruída, que não fica manchada, que não murcha e que está reservada nos céus para vocês, 5 que são guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para ser revelada no último tempo.

2. Ele lamenta a regressão dos GÁLATAS (Gl 4:8-11)

O que aconteceu, de fato, quando os gálatas abandonaram a graça e se voltaram para a Lei?
Em primeiro lugar, abriram mão da liberdade em troca da servidão. Enquanto eram pecadores ignorantes, haviam servido a falsos deuses e sofrido as conseqüências trágicas dessa escravidão pagã.
Então, creram em Cristo e foram resgatados da superstição e da escravidão. Agora, estavam abandonando sua liberdade em Cristo e voltando à servidão.
"Largaram" a escola da graça para se matricular no jardim da infância da Lei! Estavam destruindo toda a boa obra que o Senhor havia realizado na vida deles pelo ministério de Paulo.
A expressão "rudimentos fracos e pobres" mostra a extensão dessa regressão.
Desistiram do poder do evangelho em troca da fraqueza da Lei; abriram mão da riqueza do evangelho em troca da pobreza da Lei.
A Lei nunca foi capaz de dar riqueza ou poder a ninguém; pelo contrário, só servia para revelar a fraqueza e a falência espiritual das pessoas.
Não é de se admirar que Paulo tenha chorado por esses cristãos ao vê-los abandonar a liberdade pela servidão, o poder pela fraqueza e a riqueza pela pobreza.
De que maneira os gálatas regrediam?
Ao adotar o sistema religioso do Antigo Testamento com sua observância especial de "dias, e meses, e tempos, e anos" (Gl 4:10).
O Novo Testamento deixa claro que os cristãos não devem impor a observância religiosa uns sobre os outros (Rm 14:4-13). Não se deve louvar os que celebram determinado dia nem condenar os que se abstêm de comemorá-lo.
Mas se alguém acredita que está salvando sua alma, ou automaticamente crescendo na graça em decorrência de alguma observância religiosa, tal pessoa é culpada de legalismo.
Todos devemos ter cuidado com o espírito legalista que alimenta a carne, conduz ao orgulho e transforma um acontecimento exterior em substituto para uma experiência interior.

O argumento sentimental

3. Ele busca a afeição dos Gálatas (Gl 4:12-18)

Paulo era um pai espiritual extraordinário; sabia exatamente como equilibrar a repreensão e o amor. Agora, passa das "palmadas" para os "abraços", ao lembrar os cristãos do amor mútuo deles.
A certa altura, os gálatas mostraram-se dispostos a sacrificar qualquer coisa por Paulo, tamanho era seu amor por ele; mas agora, se tornaram seus inimigos. Os judaizantes haviam entrado em cena e roubado sua afeição.
O apóstolo sofreu de algum tipo de aflição física. Ao que parece, a princípio Paulo não havia planejado visitar essas cidades, mas fora obrigado a fazê-lo por causa de alguma enfermidade.
Alguns acreditam que se tratou de malária; outros acham que foi algum mal que lhe afetou os olhos (ver Gl 4:15). Qualquer que tenha sido sua aflição, tornou sua aparência um tanto repulsiva, pois ele elogia os gálatas pela maneira como o receberam apesar de sua aparência.
Para eles, o apóstolo era um anjo de Deus. É maravilhoso quando as pessoas aceitam os servos de Deus não em função de sua aparência exterior, mas sim porque são representantes do Senhor e trazem consigo a mensagem dele.
Agora, Paulo lhes pergunta: "O que aconteceu com aquele amor? O que aconteceu com a alegria que vocês experimentaram quando ouviram o evangelho e creram em Cristo?"
É evidente que Paulo sabia o que havia acontecido: os judaizantes haviam aparecido e roubado o coração dos convertidos.
Paulo lhes dizia a verdade, enquanto os falsos mestres lhes diziam mentiras. Paulo procurava glorificar a Cristo, enquanto os judaizantes glorificavam a si mesmos e a seus convertidos.
Gálatas 4.17 NAA
17 Esses que se mostram tão zelosos em relação a vocês não estão sendo sinceros. O que eles querem é afastar vocês de mim, para que vocês se interessem por eles.
Um verdadeiro servo de Deus não usa as pessoas para projetar a si mesmo ou ao seu trabalho; ministra em amor e ajuda as pessoas a conhecerem melhor a Cristo e a glorificá-lo.
Devemos ter cuidado com os obreiros religiosos que desejam nossa lealdade exclusiva, pois se consideram os únicos que sabem o que é certo. Pessoas assim nos usarão enquanto puderem e depois nos abandonarão em troca de outros seguidores - e a queda será dolorosa.
Cabe ao líder espiritual amar e seguir a Cristo, não promover a si mesmo e a seu ministério.
Paulo provou seu amor aos gálatas dizendo-lhes a verdade; mas eles se recusaram a aceitar. Cristo os havia transformado em filhos e herdeiros, mas eles se transformavam rapidamente em escravos e mendigos.
Não haviam perdido a experiência da salvação - ainda eram cristãos; mas não estavam mais desfrutando a salvação. Em vez disso, buscavam prazer nas próprias obras e, infelizmente, não tinham consciência do que estavam perdendo.
Na verdade, acreditavam que, ao colocar a Lei no lugar da graça e as obras da carne no lugar dos frutos do Espírito, estavam se aperfeiçoando na vida cristã.
Devemos avaliar com cuidado se nossa vida cristã avança rumo à liberdade ou regride rumo à escravidão.
Como no encontramos hoje aqui, podemos celebrar nossa liberdade em Cristo, ou estamos aqui cumprindo uma agenda religiosa a fim de receber o favor de Deus?
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