A essência da vocação

1 Timóteo 1. 1-2

Introdução

Captação

A obra de salvação de Deus inclui a nossa vocação. Todos os homens são chamados para fazer alguma coisa neste mundo. O pecado nos impede de enxergar essa vocação com clareza. Mas em Cristo Jesus, somos novamente direcionados para o nosso propósito principal.

Vocação no sentido Geral: Chamados para glorificarmos a Deus. Somente em Cristo isso é possível.

Vocação específica: Todo homem é chamado para fazer alguma coisa específica neste mundo. Em Cristo, somos auxiliados para cumprir este propósito.

Pergunto: você é vocacionado?

Vocação não é apenas algo relacionado a ministério pastoral.

Idade Média: vocação sagrada e profana

Reforma: Toda vocação é sagrada

Dias atuais: secularismo. A vocação como um fim em si mesmo.

É necessário, resgatar o padrão bíblico de vocação. Por isso, quero te convidar a meditar neste texto comigo.

Contexto Remoto

A primeira epístola de Paulo a Timóteo uma epístola pessoal. Juntamente com 2 Timóteo e Tito são chamadas de cartas pastorais.

Autor: Paulo

Ano: Entre 62 a 64 d.C.

Público Original: Timóteo, discípulo e auxiliar do apóstolo Paulo.

Mensagem: orientações sobre a forma de administrar a igreja.

Cenário:

O império Romano estava em um Período conhecido como Pax Romana. É designado assim porque o império possuia estabilidade política e econômica. Por isso, havia facilidade no trânsito de pessoas para todas as partes do império, dado quase não haver revoltas nesse período.

Paulo havia acabado de ser liberto da sua primeira prisão. Ele então decide ir a Éfeso, ficando um período nessa cidade com Timóteo. Após certo tempo, Paulo resolve ir para a Macedônica e deixa Timóteo para continuar o trabalho na igreja. Como apóstolo ele detinha autoridade para enviar alguns discípulos de sua confiança para tarefas específicas em determinada igreja. Timóteo foi um deles. Portanto, Timóteo não era necessariamente um presbítero somente. Mais que isso. Ele era, nas palavras de William Hendriksen, "um enviado apostólico".

É durante esta viagem, que Paulo escreve esta carta para Timóteo. O apóstolo procura trazer orientações ao jovem em sua missão na igreja de Éfeso. Resumidamente, este trabalho consistiria no combate a heresias, na ordenação de presbíteros e diáconos, na orientação sobre o culto e na forma pela qual Timóteo deveria pastorear os diferentes grupos existentes na igreja.

Contexto Imediato

A epístola possui uma estrutura semelhante das demais escritas por Paulo. Ela tem uma saudação, um momento de ação de graças, o assunto propriamente dito, terminando com um breve conselho final.

A passagem em questão faz parte da saudação. Ela possui uma abertura característica das cartas paulinas. Paulo se identifica como autor, em seguida ele menciona a quem a carta é endereçada e por fim, uma saudação com a "graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor."

O problema do texto é fazer a devida preocupação de quem escreve e de quem recebe a epístola. Fazendo isso, ela nos apresenta aspectos importantes a respeito da vocação cristã. Olhando para Paulo e Timóteo, percebemos questões cruciais para tratarmos do tema da vocação. Vejamos, então, alguns destes aspectos:

Tema: Aspectos essenciais da vocação

1. O fundamento da vocação é a vontade de Deus

Paulo se identifica como apóstolo pelo mandato de Deus.

Apóstolo

Apóstolo aqui se refere ao ofício apostólico. Aqui, é necessário fazer uma análise sobre o uso da palavra apóstolo no Novo Testamento.

Apóstolo significa, basicamente, enviado. Em um sentido amplo, ela se refere a todo aquele que é enviado para um determinado propósito missionário. Neste sentido, não só os 12 e o apóstolo Paulo, mas muitos outros foram apóstolos, inclusive Timóteo.

Porém, em um sentido estrito, apóstolo se refere a um ofício específico, feito pelo próprio senhor Jesus, para fundamentação da igreja. Para ser apóstolo neste sentido, o critério é o de ser comissionado pelo próprio Senhor Jesus e te-lo visto em sua forma ressurreta. Assim, encaixa-se nesta condição os 12 e o apóstolo Paulo, como um nascido fora de tempo.

Por isso, não é adequado usar o termo apóstolo como um ofício nos dias de hoje, porque pode haver uma confusão do uso de termos. Em geral, quando alguns em nossos dias tentam reivindicar o título de apóstolo, eles o fazem no sentido restrito e não no sentido amplo. Assim, o ideal é considerar que “apóstolo bom, é apóstolo morto”. Logo, não existem mais apóstolos nos dias de hoje.

Apóstolo pelo mandato de Deus

O que Paulo deixa claro no inicio da sua carta é de que, quem está escrevendo não é apenas um crente comum, ou um amigo de longa data, mas um apóstolo designado pelo próprio Deus. Esse tipo de menção é importante para demonstrar a Timóteo que não se trata de uma mera conversa informal entre irmãos, mas de uma pastoral feita pelo seu pai na fé.

Nosso Salvador

Paulo também infere que Deus é o salvador. Todo o processo de salvação está originado nEle.

Toda esta designação do v. 1 aponta para um aspecto importante da vocação, a saber: a de que toda vocação procede da vontade de Deus. Se Deus é aquele que salva, se Ele é aquele que Ele escolhe, se Ele é aquele que regenera, então Ele também é aquele que vocaciona. Cabe ao Pai designar onde cada crente deve atuar em seu ministério.

Por isso, diante de cada ato que fazemos na nossa vida, seja na igreja, seja no dia-a-dia, precisamos nos perguntar: o que estamos fazendo está conforme a vontade de Deus para a nossa vida? Nossas ações correspondem ao chamado que Deus colocou nas nossas vidas?

Para saber a vontade de Deus, precisamos nos voltar a sua Revelação, a saber, a Escritura. Estamos nós buscando a sua vontade por meio da palavra?

2. A motivação da vocação é a esperança em Cristo.

Se o fundamento da vocação é a vontade Deus, a motivação da vocação é a esperança que temos em Cristo.

Esta esperança consiste no fato de que ele nos remiu. Somos salvo através da sua obra redentiva. E tal obra redentiva tem o seu ápice na ressurreição e ascensão. Quando Cristo ressuscitou, surge a esperança de que nós também vamos ressucitar.

A esperança está em saber que, no último dia, nós ressucitaremos para um corpo incorruptível. E a alegria de viver para Jesus será infinitamente maior, pois estaremos juntos com Ele para sempre!

Veja os seguintes textos^:

Colossenses 1.27 RAStr

aos quais Deus quis dar a conhecer qual seja a riqueza da glória deste mistério entre os gentios, isto é, Cristo em vós, a esperança da glória;

1Timóteo 4.10 RAStr

Ora, é para esse fim que labutamos e nos esforçamos sobremodo, porquanto temos posto a nossa esperança no Deus vivo Salvador de todos os homens, especialmente dos fiéis.

Sendo assim, a vocação não tem como fator motivador o sucesso, nem o dinheiro, nem bem-estar, nem nada daquilo que transparece do ponto de vista humano como um fator de motivação. A maior motivação do cristão é a esperança em Cristo.

Onde você tem depositado a sua esperança?

3. O propósito da vocação é o discipulado.

Embora Paulo não tenha sido o responsável pela "conversão" de Timóteo, ele foi o instrumento de Deus para conduzi-lo a santa vocação. Por isso, Paulo o chama de verdadeiro filho na fé.

Observe os seguintes textos:

Tito 1.4 RAStr

a Tito, verdadeiro filho, segundo a fé comum, graça e paz, da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Salvador.

2Timóteo 1.2 RAStr

ao amado filho Timóteo, graça, misericórdia e paz, da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor.

1Coríntios 4.17 RAStr

Por esta causa, vos mandei Timóteo, que é meu filho amado e fiel no Senhor, o qual vos lembrará os meus caminhos em Cristo Jesus, como, por toda parte, ensino em cada igreja.

Atos dos Apóstolos 16.1 RAStr

Chegou também a Derbe e a Listra Havia ali um discípulo chamado Timóteo, filho de uma judia crente, mas de pai grego;

Isso nos leva a pensar que todo o cristão pode ter um filho na fé. As vezes, sem nem perceber, participamos da formação espiritual de uma pessoa nos caminhos do Senhor. Nossos corações precisam estar abertos e dispostos para esta dádiva do Senhor.

Graça, misericórdia e paz.

A saudação com estas três palavras só aparece nas cartas de Paulo a Timóteo. Isso não era apenas uma saudação. Era tudo que Timóteo precisava nesse momento.

Precisava da Graça para que Deus pudesse agir por meio de seu ministério.

Precisava da misericórdia, porque sua tarefa era difícil e, assim, necessitava do amor de Deus nos momentos de aflição.

Precisava de paz para ter a consciência de que suas ações, por mais difíceis que sejam, ocorriam conforme a vontade de Deus e eram, portanto, necessárias para a edificação da igreja de Cristo.

2Timóteo 1.1–2 RAStr

Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, pela vontade de Deus, de conformidade com a promessa da vida que está em Cristo Jesus,ao amado filho Timóteo, graça, misericórdia e paz, da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor.

Conclusão

Recapitulação

Vimos, portanto, que a vocação tem como fundamento a vontade de Deus, como motivação a esperança em Cristo e como objetivo a geração de filhos espirituais.

Vocação é algo que Deus dá a todo o crente. Toda vocação tem como fundamento a vontade do Pai. Toda vocação tem como esperança a obra de Cristo. Toda vocação tem como resultado o discipulado, a geração de filhos na fé.

O problema do texto é fazer a devida preocupação de quem escreve e de quem recebe a epístola. Fazendo isso, ela nos apresenta aspectos importantes a respeito da vocação cristã.

Com o público antigo, nós compartilhamos a mesmas angústias acerca da nossa vocação. Deus me salvou. E agora? O que devo fazer. Nós, assim como Timóteo, temos aflições em nossa vida cristã. Mas é a nossa vocação que nos lembra a razão para vivermos com Ele, por Ele e para Ele.

Essa passagem aponta para Cristo na medida em que ela nos lembra que nada nesse mundo pode nos motivar mais do que a esperança nEle. Nenhum sucesso ministerial, financeiro, pessoal, equivale ao fato de que, quando Ele voltar, nós ressucitaremos em um corpo incorruptível e reinaremos com Ele para sempre. Cristo é nossa esperança.

A nossa vocação é fundamentada na vontade de Deus, é motivada pela esperança em Cristo e possui como propósito a geração de filhos na fé.

Em tempos onde muitas pessoas tem dúvidas quanto ao que são ou ao que devem fazer nesta vida, o evangelho nos lembra que fomos chamados pela vontade do Pai para que nossa esperança esteja firmada em Cristo e que o objetivo de tudo isso seja o de gerar vida na vida de outras pessoas.

Que você possa ser motivado a exercer a sua vocação dia após dia!