O Reino de Ponta Cabeça (Paralítico de Cafarnaum) Mc 2:1-12
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O Reino de Deus
O Reino de Deus
A Biblia possui uma mensagem central e um propósito. E esse propósito está manifesto e explicitado no centro da pregação do Senhor Jesus: “Arrependei-vos! É chegado o Reino dos céus”. Assim, se essa é a essência de sua mensagem então, obviamente, tudo que o Senhor Jesus faz e opera é uma consequencia e uma evidência dessa frase. Mas como isso funciona?
Para entendermos de verdade a profundidade dessa frase do Senhor Jesus Cristo, precisamos pensar desde o início. Fazendo um exercício de Teologia bíblica:
Deus Criou todas as coisas e ao fim criou o homem e a mulher. Mas criou esses ultimos de uma forma especial (a sua imagem e semelhança) para serem seus representantes sobre a terra, o obedecerem, se multiplicarem, espalhando a Glória da Img de Deus sobre toda a terra e cuidando dela toda, dominando e a desenvolvendo.
Buscando independencia, o homem caiu e essa imagem e semelhança foi corrompida, cada célula do homem é corrompida pelo pecado e esse se torna totalmente apartado de Deus. E agora jamais poderia viver com Ele novamente. E como a natureza estava sujeita ao homem ela também é colocada sob vaidade esperando a manifestação dos filhos de Deus (Rm 8:20-21)
Como Deus tem como Sua Perfeita Vontade a existencia de um mundo perfeito e dominado por um homem a seu serviço isso vai acontecer. E assim Ele inicia uma obra de redenção da criação escolhendo um povo para ser exemplo para as nações e trazer pessoas para Ele.
Esse povo falha, é levado ao exílio, mas passa a receber diversas e constantes profecias de um salvador que viria para os libertar e cumprir a promessa que Deus os havia feito. Esse Messias, seria um libertador e instauraria seu Reino Eterno na terra, tendo esse povo escolhido como centro e realizando milagres, mas também agindo com braço forte, derrotando as nações inimigas.
A partir disso, surge Jesus Cristo e um grande choque passa a surgir no coração e na mente de muitas pessoas. Afinal, os judeus esperavam Messias que realizasse curas e operasse milagres, mas também que fosse um líder militar para eles. Mas Jesus surge cumprindo a primeira parte, mas supreendentemente não cumprindo a segunda! O que geraria naturalmente na cabeça das pessoas a pergunta: sera que ele é o Messias? o Filho de Davi?
A obra de Jesus Cristo representa a operação e a instauração do Reino Eterno de Deus sobre a terra, o retorno ao proposito original de Deus para a sua criação, tendo o homem como seu representante e criando uma terra que não está maculada pelo pecado, ou seja, um lugar em que não existe dor, morte, angustia, tristeza, demonios ou qualquer coisa do tipo. Jesus Cristo personifica a vinda do Reino de Deus sobre a terra e cumpre em si as profecias, criando uma nova realidade em que esse propósito Eterno de Deus passava a poder ser presenciado em partes, mas que será uma realidade completa no futuro. A Obra de Cristo é a restauração da humanidade, ao seu padrão original e santo (mesmo que aos poucos pela ação de santificação) e a própria restauração do cosmos, para que esse fosse dominado pelo homem, como seu representante.
Com tudo isso em mente, podemos imaginar o quão complexo era esse entendimento para as pessoas da época. E vamos observar isso na prática, fazendo a análise de uma passagem muito marcante sobre esses pontos, mostrando o choque de realidade que existe entre o Plano bíblico de Deus e o entendimento cultural da nação na época de Jesus.
Contexto de Mc 2:1-12
Contexto de Mc 2:1-12
Para esse estudo faremos a leitura no Evangelho de Marcos, um evangelho que provavelmente foi escrito tendo Pedro como fonte (Papias em Eusebio de Cesareia), por ser o evangelho da ação (o mais direto dos evangelhos). Com um foco maior em apresentar os milagres (Ele possui menos citações ao AT, mas proporcionalmente mais relatos de milagres [18, contra 20 de Lucas]). O que mostra que Marcos queria ser bem direto mostrando a obra de Jesus e o seu evangelho, para que qualquer um entendesse, sem precisar apelas para teologia do AT. E o interessante é que as obras sobrenaturais de Cristo parecem ser o canal escolhido para isso. Como esta passagem que vamos ver agr.
Logo de partida, analisando o texto grego nós percebemos algo muito interessante: toda a história é narrada no tempo presente! Como se estivesse sendo retratado algo através dos olhos de alguem que estava lá e presenciou vividamente esse evento! Provavelmente o próprio apóstolo Pedro (que foi a fonte de Marcos).
Jesus vinha realizando diversos sinais milagrosos, desde a cura da sogra de Pedro, a expulsao de demonios, a cura de um leproso e também a cura de diversas outras pessoas que vinham sendo trazidas para Ele (Mt). O que aumentou poderosamente a sua fama na região.
Aqui é interessante perceber a diversidade de ações sobrenaturais que estão sendo retratadas.
Em determinado momento, Ele decide parar em uma casa em Cafarnaum e ensinar as pessoas a Palavra de Deus. Sendo que noticia corre pela cidade de Cafarnaum (Gr. foi ouvido) e uma multidão começa a se aglomerar para ouvir os seus ensinos. Aqui temos pontos muito interessantes:
Dentre essas pessoas que ali estavam haviam alguns escribas curiosos e aqui vale a pena contextualizar quem sao esses:
Em muitos momentos, vemos as pessoas indo até Jesus não pelos seus ensinamentos, mas pelos seus milagres. E aqui vemos que também existem pessoas sedentas pelo seu conhecimento. O que é perfeitamente compreensível, afinal muitos dos mestres da Lei e dos escribas, não eram generosos ou prestativos para ensinar os demais. Mas eram orgulhosos e recebiam poucos discipulos, tendo inclusive, desprezo pelas pessoas que não caminhavam em obediência a Lei. Sendo assim, ouvir alguém falando das escrituras livremente e com autoridade ainda maior que a dos escribas e dos fariseus chamava muita atenção (As pessoas queriam ouvir mais).
Mas de onde vinha esse orgulho tão profundo dos mestres da Lei? Entender isso um pouco melhor é muito importante entender a continuação dessa passagem. Já que, apesar de ali terem pessoas buscando o conhecimento, também havia ali fariseus, que apenas queriam motivos para “desmascarar Jesus”.
Pequeno contexto sobre o crescimento dos escribas e dos fariseus para entendermos a importancia deles:
Judeus muito apegados ao templo e a Lei > Exilio e destruição do templo > Imperio Medo Persa > Reconstruição do Templo > Povo Aprende a Lição e não pratica idolatria > Corrupção do Sumo sacerdocio (Joanã mata seu irmão Josué (ou Jesus) para ficar com o cargo > Povo percebe essa politica e com o tempo o cargo perde a reverencia que tinha > Templo casa de Cambio/banco (politica) > Povo decide se agarrar no que resta (A Lei) > Lei ganha principal foco e assim começa a ser copiada > Os copistas (escribas) ganham muita popularidade > Muitos deles se tornam mestres da Lei > depois de tempos, depois dos macabeus, surgem os fariseus e os mestre da Lei já são super populares e orgulhosos, com as pessoas os seguindo) > com cada vez um certo conhecimento mais disperso pela população, cresce também a expectativa por um Messias que os libertasse do dominio Romano (expectativa messianica).
O paralítico perdoado
O paralítico perdoado
Em meio ao seu ensino, quatro pessoas carregavam um amigo paralitico e tinham como objetivo apresenta-lo para que Jesus o curasse. Mas era impossível por causa da enorme multidão! É claro, afinal, as casas de Cafarnaum permititam abrigar no maximo 50 pessoas de pé e bem apertadas (a maior casa encontrada na arqueologia tinha 5,5 m²), então não é de se estranhar a dificuldade de acesso.
Não encontrando lugar para levá-lo a Jesus, decidem subir no telhado para o desce-lo por lá! Uma tarefa que talvez tivesse sido facilitada pelo fato de comumente as casas de Cafarnaum terem uma escada ao lado externo que levava ao telhado e esse telhado não era bem como imaginamos hoje, ele era plano e usado como área comum muitas vezes, seja para orar, para fazer refeições, ou mesmo para ir a um lugar mais arejado.
Assim eles sobem para aquela área, observam o ponto em que Jesus se encontrava e decidem tirar a cobertura daquele telhado (exato verbo grego), telhado esse que de forma geral era feito com galhos e troncos colocados transversalmente nos vigas da propria casa e cobertos com barro e palha. Assim, eles o fazem. Criam um buraco no telhado, causando uma provavel sujeira, e danos na propriedade, mas isso naquele momento não importava para eles. E nem para Jesus.
Quando eles começam a descer o paralítico, Jesus percebe aquela fé profunda e vendo essa atitude radical, temos um fato impressionante: Jesus observa aquele paralitico, mas não o cura de imediato, mas sim, olha para ele e diz, com carinho, “Filho, (No grego Teknon, um termo que pode tanto indicar carinho — seu uso principal, quanto indicar um superior agindo com autoridade e benevolência) os teus pecados estão perdoados” (Vemos aqui a benevolência do Senhor, agindo com sua autoridade dada pelo Pai e quebrando na terra, o dominio e o jugo do pecado).
Aqui temos um grande paradigma principalmente para os escribas. Afinal, somente Deus pode perdoar pecados! (Is 43:25, Mq 7:18, Ex 34:6-7, Nm 14:18-19, Sl 25:18;32:5;103:3;130:4, Is 55:7) Então, por que aquele homem proferia um absurdo daqueles? Aquilo seria blasfêmia! (Lv 24:16) Algo que deveria ser punido com a morte! Aquilo produz um confilto e um descontentamento tão grande neles que os escribas ficam arrazoando em seu coração contra Ele, o que quando observamos o termo grego διαλογίζονται, particípio de διαλογίζομαι, vemos que significa “ponderar”, as vezes no sentido de fazer uma balanço de contas e compreender melhor se aquilo está correto. Ou seja, os escribas estavam observando aquilo que havia acontecido e “refletindo/ponderando” com toda a sua base de informaçoes culturais e teológicas, para chegarem à conclusão que aquilo não fazia sentido, era uma blasfêmia!)
Sabendo o que se passava no coração daqueles homens, percebemos aqui um primeiro ponto fundamental: Jesus não os corrige! Ele os repreende e os lança um questionamento curioso: “Qual é mais fácil? Dizer ao paralítico: Estão perdoados os teus pecados, ou dizer: Levanta-te, toma o teu leito e anda?”
O que Ele queria dizer com isso naquele momento?
O que Ele estava dizendo era simples. Assim como os escribas, Jesus, obviamente sabia que, tanto a cura quanto o perdão dos pecados só são possíveis para Deus. Então a resposta mais apropriada para essa pergunta era "nenhum dos dois". Mas Jesus não era um simples homem, e para demonstrar a autoridade do Filho do Homem (Um título Messianico de Dn7), Ele novamente se dirige para aquele paralítico e diz: “Levante, pegue sua cama e ande.”
Agora, o choque está totalmente consumado! O que será que aconteceria a partir disso?
O mais “absurdo” acontece: Aquele homem, de fato se levanta e anda. Deixando todos admirados e atônitos! E eu explico o porque desse choque ter sido tão grande. Imaginem o seguinte!
A grande questão aqui é que no pensamento cultural judaico geral, muitos tinha a crença de que certas enfermidades ocorriam devido a pecados que as pessoas cometiam (Dt 28.27; 2Sm 12.13; Sl 41:4; 107:17-18; Jo 9:2; Jó 4.7; 22.5–10; Lc 13.4). Assim como também havia uma associação entre a cura e o perdão (2Sm 12:13; 2Cr 7:14; Sl 103:3; Is 38:17; 57:18-19).
Então, o que significava aquilo?
Como aquele homem poderia ter operado aquela cura após se colocar na posição de Deus? E se aquele paralítico de fato, foi curado, então isso não significava necessariamente que a sua declaração anterior de perdão de pecados também era verdadeira? Então Ele de fato poderia perdoar pecados? O que era aquilo? Seria um simbolo do cumprimento de Is 33:23-24? Mas quem seria aquele homem? Seria o messias? Mas nada na literatura judaica dizia que o Messias poderia perdoar pecados! Então quem era aquele homem? Que operava maravilhas que apenas Deus poderia?
Todas essas novas “variaveis” certamente entraram no arrazoado daqueles escribas, pessoas que com certeza tinham grande dominio da Palavra. Mas o texto não diz o que aconteceu com eles.
Sobre as pessoas em geral sim! Talvez elas não tivessem muito conhecimento da Palavra, talvez elas não estivessem entendendo o tamanho da complexidade do que estava acontecendo ali. Mas não importava! Porque isso não impediu que a sua admiração os levasse à render Glória a Deus e ao seu próprio veredito: “Jamais vimos coisa assim!”
Implicações Finais
Implicações Finais
O que quero trazer hoje aqui, irmãos. É que essa, obviamente não foi a única vez que Jesus fez algo assim. Todo seu ministerio era marcado de obras do tipo. E o fato de que Jesus operava tamanhos milagres, mas não incitava multidoes contra Roma, parecia ser completamente destoante do pensamento geral da sociedade, que queria um lider politico e militar.
O Reino de Deus que Jesus trazia, não era um Reino marcado pela violência, mas sim pela autoridade de Deus e pelo seu amor, que quebravam aquilo que era, na verdade, o verdadeiro e mais profundo mal do qual aquele povo padecia: o jugo de escravidao do pecado.
Tanto Cristo quanto seus apóstolos caminhavam na “contra mão do mundo” (temos em Mt 20:20-28, um exemplo disso). Agindo de forma totalmente contrária ao que muitos achavam certo. Por que o seu objetivo, na verdade, era muito maior do que aquela realidade pontual e terrena que ficava obscurecendo o discernimento do povo.
Jesus veio e com Seu ministério virou o mundo do avesso. De ponta-cabeça. Demonstrando de forma escancarada ao povo, o que era o verdadeiro propósito de Deus pra humanidade. E como se dissesse: “Ei, acorda!! A Verdade é essa! O verdadeiro mal é outro! E vocês estão totalmente cobertos e lambuzados nele, mas a fé em mim e nas minha Palavras liberta!! Essas suas prioridades não são as minhas, acorda!! Arrependei-vos por que é chegado o Reino dos céus!
E tudo isso nos faz pensar: Como é que estamos respondendo diante disso? Será que os desejos do nosso coração e os nossos sonhos; será que os nossos focos, realmente são os focos de Deus pra nós? Ou somos apenas os escribas do século XXI?
Será que estamos vivendo como cidadãos do Reino de Deus na terra? Será que fomos totalmente absorvidos pelo pensamento do mundo, ou estamos, de fato, vivendo de acordo com o evangelho? Será que estamos abrindo mão do evangelho por medo de perseguição? Por medo de perder nosso emprego ou coisas assim? Será que, no fim das contas, de fato precisamos admitir e encarar o duro fato de que nos negociamos e entregamos os nossos principios com a sociedade, porque nos importamos mais com o que vamos conquistar agora do que na vida eterna? O pior, será que de fato confiamos na vida eterna, ou a Palavra de Deus se tornou apenas uma regra de boas praticas para nós?
Jesus transformou a vida daquele paralítico. Ele o curou na mente, no espírito e no corpo. Jesus transforma! E a pessoa não fica igual! Do que mais nós precisamos? O que você está esperando para começar a agir?
Precisamos fazer essa reflexao, pedindo para o Senhor, em oração nos revelar se já estamos fazendo tudo o que podemos para o Reino (spoiler alert, não estamos) ou Ele ainda tem obras que deseja que façamos? E se o que nos falta não é disposição, mas sim entendimento de onde atuar, porque não pedimos para Ele essa direção?
Finalizo deixando essas reflexões em aberto e com o pedido para orarmos juntos e fazermos esse pedido de auxilio a Deus, para sondar o nosso interior e nos dar força, clareza e discernimento, nos ajudando a agirmos corretamente como cristãos.
Oremos.