Mateus 10.41-11.1
Série expositiva no Evangelho de Mateus • Sermon • Submitted
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· 5 viewsO autor, encerrando as considerações de Cristo quanto a missão dos agentes do Reino - tendo levado em consideração o modo como a operariam e os sofrimentos por sua causa - agora elenca e resume as recompensas que poderão esperar por cumprirem o chamado, sendo a maior de todas elas, o ser recebido por Cristo em seu Reino, no caráter de justo.
Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
Após o esclarecimento de todas as exortações que os discípulos necessitavam ouvir, como diretrizes em sua missão de anúncio e publicação do Reino dos céus, o autor prepara-se para encerrar esta terceira seção de seu evangelho narrando as palavras finais de Cristo aos seus agentes.
Como emissários de Cristo, os discípulos foram orientados quanto a todos os aspectos que englobavam sua missão: desde o modo como fariam, até as lutas que enfrentariam, pois não estavam atuando numa esfera terrena, ou fazendo apologia a um sistema de governo mundano, e sim, anunciariam a chegada do Reino dos céus, sob os auspícios do poder do Messias, o Filho de Deus; Cristo Jesus, e de seu Espírito.
Ao longo da segunda seção deste capítulo 10 (vs. 16-39), um misto de ordem-aviso-estímulo, tomou conta do monólogo: sempre que Cristo apresentava um obstáculo ou dificuldade a ser enfrentada pelos agentes do Reino, uma promessa era anexada a fim de que não retrocedessem ou imaginassem que estevam lutando por uma causa perdida; as agruras que sofreriam, eram um reflexo da própria realidade do Evangelho, tal como executado pelo próprio Jesus.
Esses princípios estavam sendo elencados e usados pelo autor, a fim de que as exortações de Cristo alcançassem também a igreja a quem ele estava dirigindo seu escrito, fazendo uma correspondência entre os doze chamados por Cristo - aqueles que num primeiro momento de seu ministério, seriam seus enviados diretos, com todo aquele que, pela fé, recebe ao Senhor Jesus através da mensagem do Evangelho. As mesmas responsabilidades estão sobre todos os crentes (guardadas as especificidades do ministério apostólicos), assim como estão reservadas todas as recompensas, tema que ele encerra na presente seção.
Com base nessas observações, a tese central do texto de Mateus 10.40-11.1 é a demonstração das recompensas pela missão evangélica.
Elucidação
A iniciativa primeira do autor, ao resumir as recompensas, assim como as próprias intenções de Cristo, devem ser observadas por um prisma diferente do que poderia ser uma relação comum entre tarefa-recompensa. Ao descrever as dificuldades, notamos que há um específico detalhamento, que por sua vez remete a preocupação do Senhor Jesus, em tornar claros os obstáculos e sofrimentos que experimentarão os discípulos ao executarem a missão a eles confiada.
Porém, como dito, jungidas aos próprios sofrimentos a serem enfrentados, estavam também promessas que serviam de estímulo, e consequentemente, como recompensas, aos que entregassem suas vidas ao serviço do Reino (v.39).
O objetivo dessa última declaração de recompensas, sendo mais resumida que a primeira, assume outro parâmetro: unir ainda mais os discípulos ao ministério do próprio Cristo como mediador do Reino entre Deus e seus eleitos, no processo de restauração da criação.
Essa correlação entre os entes envolvidos na campanha de publicação do Reino e a Agência Trinitária que o promove, é estruturada no início da fala, e forma a introdução desta seção, conforme vemos no versículo 40: "Quem vos recebe a mim me recebe; e quem me recebe recebe aquele que me enviou".
Essa argumentação crescente, como dito, vincula os discípulos de maneira muito específica e direta a Cristo, ao Pai e ao Reino, isto é, eles não eram meros serviçais de um tirano, que possui como marca maior um distanciamento arrogante de seus serviçais, muito pelo contrário, a dupla conotação dessa afirmação de Cristo, ressalta a importância dos discípulos. Se alguém negasse receber qualquer um dos apóstolos, negando também a mensagem do Evangelho publicada por intermédio deles, estaria declarando sua aversão a Cristo, e consequentemente sua condenação, pois, ao negar o Evangelho e seus agentes, estaria negando a única possibilidade de salvação. Dar às costas aos discípulos significa rejeitar a Cristo, e rejeitar por sua vez a Cristo, implica diretamente numa rejeição a Deus. Os agentes do Reino foram postos numa posição crucial tal, que aceitá-los ou rejeitá-los poderia implicar no entrar no Reino ou ser impedido de tal.
Ligado à isso, segundo observado, os discípulos não foram largados à uma missão rasa e superficial, mas incluídos no processo através do qual o Reino dos céus é expandido, mediante o poder do Espírito que os usa como difusores da mensagem de salvação (v. 20). Assim, a ideia de galardão é exposta como sendo a única resultante possível no final do processo, tal como já fora adiantado por Cristo nos versículos 22 e 39.
O termo empregado por Cristo para expor a ideia de "recompensa" é "μισθος", que remete à ideia de salário por um serviço prestado, retirada do uso comum do ambiente de trabalho do período em que os discípulos viviam. Naturalmente, esse "salário" não poder ser interpretado como uma dívida de um senhor para como seu trabalhador, muito embora, o Senhor Jesus tenha usado essa imagem para prefigurar a relação entre os agentes do Reino e o Pai, conforme é visto no versículo 10. Contudo, essa dinâmica deve ser entendida a partir da graça divina que transformou inimigos em aliados, confiando a estes uma obra tão sublime quanto a de propagar a obra salvadora com a qual foram beneficiados, recebendo por isso, o favor do SENHOR que os recompensará ao final da jornada, quando por ocasião da publicação do Reino dos céus, Cristo há de tornar pública a recompensa que prometera aos seus discípulos, mostrando a magnanimidade e beneficência do Reino. Essa iniciativa recompensadora é explicada e expandida a partir do versículo 41:
Mateus 10.41 (RA)
Quem recebe um profeta, no caráter de profeta, receberá o “galardão” (gr. “μισθος”) de profeta; quem recebe um justo, no caráter de justo, receberá o galardão de justo.
Essa observação feita por Cristo remete ao critério que fará com que alguém seja recebedor dessa recompensa: assim como a negação aos discípulos implicaria diretamente num bloqueio de acesso ao Reino, o reconhecimento da mensagem do Evangelho entregue por meio dos agentes do Reino - sendo este o critério -, seria o demonstrativo de que aquele que aceita os discípulos entendera sua procedência, ou seja, aquele que aceita receber os discípulos, entendendo que foram enviados da parte de Cristo e do Pai, adentrariam o Reino, a fim de também receber a recompensa reservada aos filhos de Deus: a salvação e um lugar no Reino dos céus. Assim, qualquer pequeno gesto de colaboração com a missão para a qual estavam sendo enviados os apóstolos (bem como todo cristão), mesmo o fornecer um "copo de água fria" (v.42), entendendo que estava fazendo para a glória de Cristo e publicação do Reino, deveria ser interpretado como uma ação executada por alguém a quem fora revelada a salvação, e assim "de modo algum perderá o seu galardão" (v. 42b).
Transição
O texto de Mateus 10.40-11.1, nos mostra o incentivo final dado por Cristo aos discípulos, como consolo na jornada que empreenderiam na publicação do Reino dos céus: a vida eterna com Cristo, sendo recebido por ele no Reino, no caráter de Justo (v.41).
Os discípulos a quem o Senhor Jesus fala, bem como a igreja, que através do texto de Mateus, recebe essa mensagem, deveriam almejar a recompensa proposta; não de maneira superficial, isto é, como alguém que faz algo simplesmente esperando ser reconhecido ou pago por um serviço prestado, mesmo porque, a relação de trabalho no Reino não ocorre como no mundo, em que o salário é uma dívida do patrão para com seu empregado, mas como uma benção que é derramada sobre os eleitos que são salvos da ira vindoura, e usados como instrumentos através dos quais o Espírito chama à fé aqueles que ainda não ouviram o convite do Mestre para adentrarem os domínios do Rei: o Novo Céu e Nova Terra.
Assim como Cristo, "o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus" (Hb 12.2), devemos também nós suportar as lutas e adversidades que se nos apresentarão, a fim de que o nome do Deus Triuno em seu Messias, possa ser glorificado, e o Reino publicado.
O texto em questão nos convida a refletirmos sobre este princípio, aplicando-o às nossas vidas. Qual seja:
Aplicação
Em Cristo, receberemos a recompensa por ter sofrido em prol da publicação do Reino e do Evangelho, e essa recompensa superará qualquer dor que soframos nesse mundo.
Um dia, o Evangelho, através de alguém, resplandeceu para nós, e tendo recebido esse discípulo de Cristo, adentramos o Reino do próprio SENHOR, o qual agora, nos convoca a sofrermos por ele.
Como dito antes, a razão para esse sofrimento é o próprio evangelho, o qual não vivemos, pois só pôde ser executado pelo próprio Messias, porém, refletimos, vivendo por modo digno dele, para que através de nós outros eleitos de Deus nos recebam, não para nossa glória ou honra, mas por que, assim como Cristo declarou: aquele que recebe um de seus discípulos, recebe a ele mesmo (v. 40).
Se não queremos sofrer por Cristo, devemos rejeitar também a recompensa por ele prometida: vida eterna. Se não estamos dispostos a “provar o amargo antes do doce”, não somos dignos de sermos chamados “discípulos de Cristo”.
Por outro lado, por causa de tantos falsos evangelhos que têm surgido em nosso tempo, prometendo ao homem uma vida tranquila e “próspera”, rejeitamos essa tão grandiosa promessa, que nos impulsiona poderosamente a resistir nos dias maus: a menção de Cristo ao galardão que nos aguarda no final da carreira cristã.
Nosso Senhor Jesus, não nos promete dinheiro, prosperidade material ou coisas do gênero, mas no assegura a mansão celeste para a qual estamos caminhando, e essa promessa deve sempre ser lembrada por nós, como motivador para o cumprimento de nossa missão, pois aquele que uma vez recebeu o Evangelho, “de modo algum perderá o seu galardão” (Mt 10.42b).
Conclusão
Johnathan Edwards, demonstrando toda a grande riqueza que é Cristo como nossa sublime e maior recompensa, afirma:
Os remidos têm todo o bem objetivo em Deus. O próprio Deus é o maior bem, O Qual eles adquirem e apreciam através da redenção. Ele é o maior bem e a soma de todo bem que Cristo comprou. Deus é a herança dos santos; Ele é a porção de suas almas. Deus é a riqueza e o tesouro , o alimento, a vida, a habitação, o adorno e a coroa, a honra e a glória eterna deles. Eles não têm ninguém no céu além de Deus; Ele é o grande bem, No Qual são recebidos os remidos na morte, e No Qual eles ressuscitarão no fim dos tempos. O Senhor Deus, Ele é a luz da Jerusalém celeste; e é o "rio de água viva" que corre, e a árvore da vida que cresce "no centro do paraíso de Deus". A gloriosa excelência e beleza de Deus será o que para sempre entreterá as mentes dos santos, e o amor de Deus será o banquete eterno deles. Os remidos vão, de fato, apreciar outras coisas; eles apreciarão os anjos e apreciarão uns aos outros: mas aquilo que eles apreciarão nos anjos, ou uns nos outros, ou em qualquer outra coisa, que produzirá neles deleite e felicidade, será aquilo que fará ver Deus neles (Disponível em: https://www.desiringgod.org/messages/god-in-christ-the-price-and-the-prize-of-the-gospel?lang=pt).
Essa é a recompensa que nos aguarda: a comunhão com o Deus Triuno, em Cristo Jesus, no Reino dos céus para sempre.