Fundamentados em Cristo somente
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Introdução
Introdução
Uma expressão que ficou muito popular nos últimos anos foi "fake news". Termo em inglês que significa notícias falsas, mas que atualmente se refere especificamente a notícias falsas como se fossem verídicas. Essas notícias falsas nem sempre são fatos completamente mentirosos, mas muitas vezes são manipulações de uma verdade. Seja tirando fatos de contexto ou adicionando fatos inexistentes a uma realidade. As vezes nós ouvimos tanto uma afirmação que a gente começa repeti-la como se fosse verdade. Fazemos isso com a bíblia. Quantas vezes você ouviu:
"O cair é do homem, mas o levantar é de Deus"?
"Deus odeia o pecado mas ama o pecador"?
Quantas vezes você ouviu pessoas falando sobre Lúcifer, sendo que na bíblia não tem registros do nome de Satanás dessa forma?
Quantas vezes você já ouviu pessoas ensinando que Deus mudou o nome de Saulo para Paulo, enquanto na verdade Saulo é o nome hebraico e Paulo o nome grego da mesma pessoa. O próprio Jesus chama ele de Saulo na estrada de Damasco, ele é chamado de Paulo por Lucas após migrar do contexto hebreu para o grego. Gostaria de abrir parênteses sobre isso, mentira não é somente falar algo completamente falso, mas uma verdade manipulada é também uma mentira. A carta aos Colossenses teve como objetivo combater mentiras e manipulações da verdade que estavam ameaçando a igreja. Nós ainda hoje somos atacados com mentiras, não que essas mentirinhas que contei como exemplo sejam grandes ameaças, mas elas de alguma forma expõem a nossa fragilidade diante de distorções da Palavra.
6 Portanto, assim como vocês receberam Cristo Jesus, o Senhor, continuem a viver nele, 7 estando enraizados e edificados nele, e confirmados na fé, como foi ensinado a vocês, crescendo em ação de graças.
8 Tenham cuidado para que ninguém venha a enredá-los com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo. 9 Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade. 10 Também, nele, vocês receberam a plenitude. Ele é o cabeça de todo principado e potestade. 11 Nele também vocês foram circuncidados, não com uma circuncisão feita por mãos humanas, mas pela remoção do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo, 12 tendo sido sepultados juntamente com ele no batismo, no qual vocês também foram ressuscitados por meio da fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos. 13 E quando vocês estavam mortos nos seus pecados e na incircuncisão da carne, ele lhes deu vida juntamente com Cristo, perdoando todos os nossos pecados. 14 Cancelando o escrito de dívida que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, cravando-o na cruz. 15 E, despojando os principados e as potestades, publicamente os expôs ao desprezo, triunfando sobre eles na cruz.
Havia naquela época um movimento que visava enfraquecer a igreja de Cristo exatamente disseminando mentiras que pervertiam a fé de muitos daquela igreja ali em Colossos. Essas mentiras não negavam diretamente a existência de Jesus, mas distorciam a realidade de quem Cristo é, qual o lugar que Ele ocupa e qual a nossa herança Nele. Essa fake news de Colossos, que ficou popularmente conhecida como a heresia de Colossos (ela se disseminou por outras cidades, mas teve origem lá), era o gnosticismo, a primeira grande heresia da história da igreja. O gnosticismo quase matou a igreja nos séculos II e III, mas foi firmemente combatida pelos pais apologetas da igreja. Esse movimento misturava o conhecimento (gnose), ao misticismo, o ascetismo e o legalismo judaico. Não pretendo entrar no legalismo, mas gostaria de falar das raízes desse movimento e como isso continua ocorrendo nos dias de hoje.
O gnosticismo era um movimento filosófico inspirado no platonismo, que era dualista, cria na dvisão entre corpo e alma, onde o corpo era a prisão da alma. A alma que deveria ser purificada, enquanto a matéria era ruim. O ápice desse pensamento se deu exatamente na idade média quando a idéia do celibato como um estado superior ao matrimônio. Rituais de auto flagelaçao também como um exemplo de práticas influenciadas pelo dualismo gnóstico. Isso reflete também no desprezo pela vida como se a purificação da alma fosse o único objetivo na vida. Paulo derruba com uma única afirmação essa heresia ao falar que em Cristo corporalmente habitou toda plenitude de Deus. Eles pregavam também um misticismo baseado em seres espirituais intermediários entre Deus e os homens, além é claro da observância a rituais judaicos como circuncisão, claendário e dietas judaicas como meio de salvação.
Como esse pensamento era difundido, a partir de pessoas que dominavam a retórica, com um forte apelo filosófico afim de dar credibilidade intelectual. Outra característica é que eles apresentavam esse conhecimento como algo oculto, que foi escondido afim de manipular o pensamento das pessoas mas aqueles que conseguiam ter acesso ao conhecimento (a gnose) que eles ensinavam seriam verdadeiramente livres e teriam uma espécie de elevação espiritual. O Dr. Russell Shedd diz que os colossenses estavam sendo atraídos por uma “salvação” mística, intelectual e especulativa e pela busca de contato benéfico com poderes espirituais. Procuravam uma “perfeição”, não moral ou espiritual, mas teosófica. Paulo combateu toda essa palha, reconfirmando as principais verdades históricas e teológicas do evangelho.
Como essa realidade se dá nos dias de hoje?
Toda idéia, ideologia, sistema ou método que promete não necessariamente negar o evangelho, mas fazer um acréscimo ou se colocar como o único meio de obedência a algum preceito de Deus visando a redenção. Como nós, infelizmente, temos dificuldade de dicernir coisas simples da Palavra como as que eu citei no início, quanto mais manipulações que visam reinterpretar o próprio evangelho.
Toda idéia após o evangelho que é trocada de ordem, onde fazer algo ou pensar a respeito de algo de uma forma diferente atesta ou não a legitimidade da fé de alguém. Ser cristão na prática se torna crer em Jesus e mais alguma coisa (fazer ou acreditar). Não admitimos que um irmão pode estar equivocado em sua idéia ou simplesmente pensa diferente de mim. Fazer isso é negar de forma prática a suficiência de Cristo, quando negamos a sua suficiência, estamos negando o próprio Cristo.
Raciocínios falsos que tentam te levar ao ascetismo. O ascetismo é uma doutrina de pensamento ou de fé que considera a ascese, isto é, a disciplina e o autocontrole estritos do corpo e do espírito, um caminho imprescindível em direção a Deus, à verdade ou à virtude. Ascetismo é uma doutrina filosófica que defende a abstenção dos prazeres físicos e psicológicos, acreditando ser o caminho para atingir a perfeição e equilíbrio moral e espiritual. ... Por esta razão, é comum do ascetismo a pratica de penitências físicas, como flagelações, dietas rigorosas e frequentes jejuns. Eu conheço pessoas que pensavam em comprar uma área com um grupo de pessoas afim de se isolar do mudo caído e viver uma espécie de comunidade alternativa e se "blindar" do mau que está no mundo. A lógica do evangelho é completamente diferente uma vez que Deus nos salvou para eternidade mas essa realidade começa agora, promovendo um mudança de mente e também valorizando nosso corpo como instrumento da missão. O corpo não como prisão da alma mas como templo do Espírito Santo que nos envia em missão para o mundo caído. Somos livres do mau, mas não do mundo, este é o nosso campo missionário.
"Deus teve um único filho, e fez dele um missionário."David Livingstone
Por isso, o remédio para essa ameaça passa primeiramente em saber Quem Jesus é. Ele é o filho de Deus, o único mediador entre o homem e Deus, a imagem do Deus invisível como aprendemos há três semanas atrás.
Em segundo lugar, saber o lugar que Cristo ocupa (2.10b). Cristo não é um entre os muitos mediadores, como se Ele fosse uma mera criatura da Divindade. Ele é o próprio Filho de Deus, e também o cabeça, a fonte, o chefe e o Senhor de todas as hostes angelicais, sejam anjos santos ou decaídos. William Hendriksen corretamente afirma que Cristo é o cabeça de todo principado e potestade não no sentido pleno no qual Ele é o cabeça da Igreja, que é Seu corpo, mas no sentido de que Ele é o governador supremo de todas as coisas, de modo que fora do Seu comando os anjos bons não podem ajudar a ninguém e devido a Ele os anjos maus não podem ferir os cristãos.
Em terceiro lugar, saber o que temos em Cristo (2.10a). O aperfeiçoamento não é adquirido por meio de ciências ocultas, religiões de mistério ou iniciação em cultos pagãos. Somos aperfeiçoados em Cristo. Não é a gnose que nos leva a Deus, mas Cristo. Não somos transformados de pedras brutas em pedras lapidadas do edifício de Deus pelo esforço humano, mas pela obra de Cristo em nós, aplicada pelo Espírito.
Saber que em Cristo temos também o cancelamento da dívida. (2.14). Jesus não somente levou nossos pecados sobre a cruz (1Pe 2.24), mas também levou a lei e a encravou na cruz. A lei que era contra nós, porque era impossível que nós a cumpríssemos, foi também crucificada. Agora, estamos debaixo da graça, e não da lei.
Há quatro pontos neste versículo que queremos destacar como fundamentais para entendermos o cancelamento dessa dívida:
a. A admissão da dívida. A palavra grega queirografon, “escrito de dívidas”, era uma espécie de lista de acusações que continha as dívidas que o próprio devedor admitia. Era uma nota escrita a mão por um devedor que reconhecia sua dívida. Era uma admissão de dívida escrita de próprio punho. Era como uma nota promissória assinada pessoalmente pelo devedor. Os pecados do homem são uma longa lista de dívida para com Deus. Trata-se de uma acusação contra si mesmo; ou seja, de uma lista de acusações que o homem devedor assinou e reconheceu firma.
b. A anulação da dívida. Deus anulou ou apagou a lista de acusações. A palavra grega, traduzida por “removeu-o”, significa apagar, anular, queimar ou inutilizar uma acusação ou dívida escrita,ou cancelar um débito. Deus anulou o documento de nossos pecados; Ele apagou o registro das nossas dívidas de forma tão completa como se elas jamais tivessem existido. Russell Shedd diz que a figura de um tribunal está na mente de Paulo. O réu está no banco. A escrita repleta de acusações está sendo preparada e lida. Mas o juiz, que é Deus, inocenta o culpado, tendo satisfeito na morte de Jesus, Seu Filho amado, todas as exigências da lei.
c. A fixação da dívida na cruz. No mundo antigo, quando se cancelava uma lei, decreto ou prescrição, eles eram fixados em uma tábua com um cravo. Na cruz de Cristo foi crucificada a nossa lista de dívidas. Todas as acusações que pesavam contra nós foram pregadas na cruz de Cristo. Nossas acusações foram executadas. Foram eliminadas como se nunca tivessem existido. Em Sua misericórdia, Deus destruiu, prescreveu e eliminou todos os registros das nossas dívidas.
d. A legalidade da dívida. Paulo afirma: “tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenança, o qual nos era prejudicial…” (2.14). A lista de acusações estava baseada nas ordenanças da lei. O homem não podia guardar a lei, por ser pecador. Por isso estava debaixo de maldição (Gl 3.13). A lei é perfeita e exigia do homem total perfeição, por isso, ao tropeçar num único ponto, tornava-se culpado de toda a lei (Tg 2.19). Mas aquilo que o homem não podia fazer, Deus fez por ele em Cristo. O Filho de Deus tornou-se nosso representante e fiador. Quando Cristo foi à cruz, Deus lançou sobre Ele a iniqüidade de todos nós. Ele foi moído pelos nossos pecados e traspassado pelas nossas iniqüidades. Ele pegou o escrito de dívida que era contra nós, anulou-o, rasgou-o e o encravou na cruz. Ele bradou do topo da cruz: “Está consumado!” (Jo 19.30). A palavra grega tetélestai significa: Está pago! O homem agora não deve mais nada. A lei que dava legitimidade à nossa acusação foi cumprida e também pregada na cruz!
Isto não quer dizer que a lei moral tenha perdido o seu significado para o cristão. Não pode significar que agora deve deixar de amar a Deus sobre todas as coisas e a seu próximo como a si mesmo. Ao contrário, a lei de Deus tem uma validade eterna (Rm 13.8,9; Gl 5.14). O cristão encontra nela seu máximo prazer. O cristão a obedece em gratidão pela salvação que recebeu como uma dádiva da graça soberana de Deus. Todavia, ele foi liberto da lei como um código de regras e prescrições, como um meio de obter a salvação eterna, e como uma maldição, que ameaçava destruí-lo.
Conclusão
Conclusão
A boa notíca do evangelho é a liberdade do pecado, mas também de todo esforço humano de salvação, que gera em nós a esperança e a certeza da eternidade, mas também uma realidade presente de vida que glorifica a Deus.