O Bom combate e seus aspectos

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Introdução

“A vida Cristã é sim uma guerra, uma guerra contro o erro que Satanás tem infiltrado na igreja evangélica, uma guerra contra a depravação de nossos próprios corações idólatras, uma guerra contra a inércia espiritual e a carnalidade, e uma guerra contra o mundo, que se opõe a tudo que a igreja valoriza. Estes são inimigos gigantescos que a igreja e cada membro dela tem que confrontar dia após dia. Mas também se deve advertir que estes inimigos não morrem facilmente. Os vencemos hoje apenas para batalhar contra eles amanhã. Tal é a natureza dessa guerra.”
Steven Henning In: Esperanza en medio de la crisis: Lo que la biblia enseña acerca del sufrimiento.
Essa forma de falar da vida cristã está fora de moda estes dias. Não é um discurso palatável para uma sociedade que almeja o conforto e não o confronto. No entanto, ela parece casar muito bem com o texto que nós lemos. Aqui chegamos a um texto central do capítulo que resume tudo que de certa forma já foi mencionado pelo apóstolo Paulo nas linhas anteriores.
Breve recapitulação.
Algumas perguntas:
O que é este bom combate?
Como combater o bom combate?
Olhemos, então, para esta passagem e busquemos alguns aspectos deste bom combate:

TEMA: Os aspectos do bom combate.

1. O bom combate é um dever.

Significados de “dever” segundo algumas versões:
Responsabilidade (Hendriksen)
Mandamento (ACF)
Admoestação (NAA)
Instrução (NVI)
No grego: παραγγελίαν (parangelia)
Aparece 5 vezes no Novo Testamento:

28dizendo: Expressamente vos ordenamos que não ensinásseis nesse nome; contudo, enchestes Jerusalém de vossa doutrina; e quereis lançar sobre nós o sangue desse homem.

5Ora, o intuito da presente admoestação visa ao amor que procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem hipocrisia

Em geral, a palavra traz a ideia de uma instrução que deve ser ouvida. Não se trata de um ensinamento cuja prática é opcional. Pelo contrário: Paulo tem a intenção de admoestar Timóteo e espera que ele aplique tal admoestação.
Portanto, o bom combate é tratado como um dever. Não é algo pelo qual Timóteo possa abrir mão. É seu dever combater o bom combate.
Mas isso não é apenas para Timóteo. Todo cristão é um discípulo. E como tal, também tem uma missão a fazer neste mundo. O bom combate não é um dever somente da liderança da igreja, mas de toda a comunidade.

2. O bom combate é uma luta

Milícia (ACF)
Palavra strateuo

στρατεύῃ

Aparece 7 vezes no Novo Testamento.
Quando usada como sujeito, refere-se ao soldado:

14Também soldados lhe perguntaram: E nós, que faremos? E ele lhes disse: A ninguém maltrateis, não deis denúncia falsa e contentai-vos com o vosso soldo.

4Nenhum soldado em serviço se envolve em negócios desta vida, porque o seu objetivo é satisfazer àquele que o arregimentou

Quando usada como verbo, tem-se a ideia de militar, fazer guerra, ou servir militarmente:

11Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma

3Porque, embora andando na carne, não militamos segundo a carne

Assim, a vida cristã se configura como uma luta que se é constantemente travada.
Lutar contra o quê? Contra quem? O apóstolo nos responde isso em outra carta:

12porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes

Timóteo estava enfrentando problemas com pessoas. Estas pessoas estavam ensinando uma falsa doutrina na igreja. Ele sabia que precisava confrontá-las. Era necessário admoestá-las e ensinar a igreja a sã doutrina. Porém, Timóteo deveria ter em mente que estas pessoas não eram os seus principais inimigos. Na verdade, a principal luta de Timóteo eram as forças espirituais malignas que queriam acabar com a igreja, fazendo-a desviar da doutrina correta.
“O pastor tem duas vozes: uma para chamar as ovelhas. E outra para espantar os lobos.” (João Calvino)
WALLACE, Ronald. Calvino, Genebra e a Reforma . São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã. 2004 p. 144
Aplicação: devemos ter a consciência de que a nossa vida cristã consiste em lutas. Desafios fazem parte da nossa caminhada com Cristo. Não há uma escolha a parte disso.
Além disso, devemos ter a consciência de que nessa luta, temos um inimigo sorrateiro e que tenta nos cegar para o que é verdadeiro. Enquanto na cabeça de muitos as ações diabólicas consistem em mudanças de vozes, aumento de força desproporcional e demais manifestações extraordinárias, o que percebemos na vida cristã é que Satanás age de maneira muito mais sutil. Os relacionamentos são um exemplo disso. Uma maledicência, uma fofoca, um conflito mal resolvido não seriam portas apropriadas para Satanás e suas hostes?
O ensino também é uma forma pela qual Satanás tenta atacar a igreja. Este era o caso da igreja de Éfeso. Por meio de uma falsa doutrina, a igreja estava sendo desestimulada no serviço, enfraquecida no amor e ignorante a respeito da Lei do Senhor. Por isso, a preocupação com o ensino é tão presente nesta carta. E por isso também a igreja necessita de boa instrução para o seu crescimento e pleno exercício das suas funções.

3. O bom combate é uma boa luta.

O combate do cristão é uma luta de fato. Porém, é uma luta que vale a pena.
Esta palavra é um adjetivo comum que aparece 103 vezes no NT. Sempre o significado gira em torno de algo que é bom, excelente, melhor. Apenas alguns exemplos:

33Ou fazei a árvore boa e o seu fruto bom ou a árvore má e o seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore

1Fiel é a palavra: se alguém aspira ao episcopado, excelente obra almeja

Portanto, Paulo não apenas diz que é dever de Timóteo combater o combate. Ele salienta que este é um bom combate. Na verdade, é a luta que vale a pena lutar.
Sei que pode parecer linguagem de Coach, mas é importante que nós possamos escolher as lutas que valem realmente a pena lutar. Timóteo não poderia ficar perdendo tempo com questões secundárias ou fúteis tais quais seus adversários. Ele precisava se concentrar naquilo que era de fato importante e lutar por isso.
Da mesma forma estamos nós como igreja: nossa batalha contra as forças do mal é uma boa batalha porque é ela que vale a pena. Lutar contra os sintomas não é tão eficaz no combate ao foco da doença. Além disso, nossa luta é uma boa luta porque a vitória já está garantida pelo nosso Deus em Cristo Jesus. Devemos ter consciência de que é uma árdua e constante batalha, mas é uma batalha cuja vitória é certa!

4. Para combater o bom combate, é necessário estar firmado no seu chamado.

Como Timóteo deveria combater o bom combate? Esta pergunta começa a ser respondida, quando notamos a espressão que aparece entre vírgulas no v. 18: “firmado nelas.” Nelas o quê? Este nelas se refere a parte superior do versículo: “segundo as profecias de que antecipadamente foste objeto”. Portanto, para combater o bom combate, Timóteo precisava estar firmado nas profecias dadas a ele anteriormente.
Que profecias foram essas feitas a respeito de Timóteo? Foram declarações a respeito do seu chamado. Pessoas da igreja podem ter reconhecido nele as dotações necessárias para o ofício de evangelista, e isso foi ratificado pela imposição de mãos do presbitério. É o que nos mostra 1 Timóteo 4.14

14Não te faças negligente para com o dom que há em ti, o qual te foi concedido mediante profecia, com a imposição das mãos do presbitério.

O cristão hoje deve aguardar algum tipo de revelação especial para assim combater o bom combate? Não no sentido de uma revelação extraordinária, mas devemos entender que é a igreja que reconhece o nosso chamado. Embora o elemento subjetivo seja importante (um momento de quebrantamente a sós com Deus no quarto, por exemplo) devemos ter a consciência de que é o corpo de Cristo o responsável por identificar as dotações de seus membros e cabe, posteriormente, a liderança, confirmar isso.
Exemplo: alguém que não ora com regularidade não pode declarar que possui o dom de intercessão; alguém que não tem paciência em ouvir não pode afirmar que possui o dom de presidir ou de pastorear; etc.
Porém, é fato que todo aquele que é cristão é membro do corpo de Cristo, e como tal, possui uma função a exercer. E para isso, é necessário: 1) Uma busca espiritual (Deus, pra quê o senhor me chamou?); 2) Uma busca pessoal (Em que eu sou bom); 3) Uma busca por ouvir a igreja (Irmão, você faz isso muito bem! Acho que você tem chamado para isso.)
Essa busca equilibrada nos ajudará a combater o bom combate. Fazendo assim, fugiremos do risco tanto do ativismo como da negligência.

5. Para combater o bom combate, é necessário manter a fé e boa consciência.

Manter:
Conservar (ACF)
Apegar-se (NVT)
O sentido de manter a fé é de persistir nela. Fé aqui se refere a sã doutrina, as verdades do evangelho de Cristo.
Boa consciência. Esta expressão já aparece no v. 5 do mesmo capítulo. A boa consciência é resultado de um coração regenerado pelo Espírito Santo. A boa consciência contribui para que o pecado seja abandonado e, assim, a fé é fortalecida. No caso em questão, a boa consciência contribui para a manutenção da Fé.
A ilustração usada por Paulo sobre Naufragar na fé possui algum significado especial?
Parece que sim. Ao abandonar a boa consciência e naufragar, Paulo parece ilustrar que a vida cristã é como um barco a navegar e que o cristão não somente é um soldado mas também um marinheiro. Largar a boa consciência é ficar a deriva. Largar a boa consciência é naufragar na fé. Foi isso que aconteceu aos hereges de Éfeso.
Quem eram Himeneu e Alexandre?
Um deles é citado por Paulo em 2 Timóteo 2. 17,18

17Além disso, a linguagem deles corrói como câncer; entre os quais se incluem Himeneu e Fileto.18Estes se desviaram da verdade, asseverando que a ressurreição já se realizou, e estão pervertendo a fé a alguns

Eles são alguns dos que estavam propagando falsas doutrinas em Éfeso.
Conforme o v. 4 eles se especializaram em fábulas que eram criadas a partir de genealogias bíblicas. Ao fazerem isso se vangloriavam deste pretenso conhecimento. Porém, era um tipo de ensino que nada produzia para o reino de Deus e só gerava soberba para eles mesmos.
Qual foi a atitude de Paulo em relação a eles? Porque ele fez isso?
Paulo os entregou a Satanás. Esta expressão aparece no em 1 Coríntios 5.5 e favorece a ideia de disciplina eclesiástica. Paulo aplicou a excomunhão a Himeneu e Alexandre. E não só isso. Ao serem entregues a Satanás, estes hereges tornaram-se sujeitos as mais terríveis aflições físicas e espirituais. Talvez este seja o sentido da palavra castigo aqui mencionada.
Contudo, o objetivo deste ato não era para que eles sofressem por si, mas para que não blasfemassem mais. O nome de Deus era a questão principal. A glória de Deus era mais importante. E assim, a disciplina visava a correção. Tudo isso aconteceria para que Himeneu e Alexandre deixasse as heresias que propagavam.

Conclusão

Vemos então alguns aspectos do bom combate neste texto: 1) O bom combate é um dever; 2) O bom combate é uma luta; 3) O bom combate é uma boa luta; 4) Para combater o bom combate precisamos nos firmar em nosso chamado; 5) Para combater o bom combate precisamos manter a fé e boa consciência.
Este texto nos alerta para o fato de que a vida cristã é repleta de desafios. O cenário bucólico de vida sem problemas não existe. A visão de que o crente vitorioso é aquele que tem uma “vida boa” é distorcido. Porém, este desafio é bom. É algo que podemos desfrutar. Não precisamos esperar a Nova Jerusalém para se alegrar no Senhor. Podemos fazer isso hoje. Que você possa fazer isso hoje. Deus está nos chamando para combater o bom combate.
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