Mateus 11.20-30

Série expositiva no Evangelho de Mateus  •  Sermon  •  Submitted
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O autor apresenta o programa do Reino, que salva pecadores indignos, através da revelação do Pai no Filho, reservada apenas aos eleitos.

Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
Após a demonstração feita por Cristo quanto a chegada do Reino, isto é, em relação ao momento em que o Reino dos céus seria publicado, tendo referenciado esse momento através de João, o batista, o autor volta-se ao registro em que exibe a dinâmica do Reino (i.e. seu programa) em relação a salvação, tal como já abordamos anteriormente.
Após concluir a seção anterior com uma menção à incredulidade dos homens, Mateus registra uma sequência de juízos increpados pelo Senhor contra as cidades que lhe foram hostis rejeitando o Reino dos céus, exemplificando ele mesmo - assim como João Batista - os princípios que explicara no capítulo 10 quanto a perseguição a ser sofrida pelos agentes do Reino.
Entretanto, o juízo de Cristo é finalizado com um convite, direcionado aos que eram reputados como incapazes de crerem no Messias (cf. v. 25 “pequeninos”), ou de receberem o Reino: “Vinde à mim todos os que estais cansados e sobrecarregados” (v.28).
A partir dessas considerações, observamos que a tese central desta perícope do Evangelho de Mateus é o juízo distintivo do Messias e seu convite ao Reino.
Elucidação
A partir deste ponto de seu Evangelho, Mateus inicia o registro do começo da oposição do povo diante da autoridade do Messias, pois O Reino de Deus estava se revelando de uma forma completamente antagônica àquilo que era crido pelos judeus.
Humildade e servidão com certeza eram virtudes para os judeus, diferentemente dos gregos, mas não eram esperadas no Messias, pelo menos não da forma como estava sendo proposto em Cristo, o que gerou profunda estranheza no coração dos escribas e fariseus, bem como no coração dos habitantes de Corazim, Betsaida e Cafarnaum.
Mesmo com todos os sinais e prodígios que foram realizados, segundo Cristo, os povos daquelas cidades não creram. Aqui vale a ressalva de que, em nenhum momento, Jesus atribui a sua campanha qualquer tipo de falha ou insucesso, mas a justificativa da incredulidade dos habitantes dessas cidades revela-se no verso 25.
A dureza do coração dos habitantes dessas cidades é atribuída ao fato de o próprio Pai lhes ter endurecido coração, ocultando a revelação do Reino no Filho (Cristo).
O uso do comparativo feito no texto, serve como intensificação da afirmação. Sodoma e Gomorra são evocadas no texto como sendo cidades que, se tivessem recebido os milagres e feitos que foram realizados nessas três cidades, teriam sido poupadas da destruição. É interessante observar que a destruição daquelas cidades se deu ao fato da corrupção e degeneração causada pelo estilo de vida pecaminoso em que viviam. Porém, mesmo diante da vileza do pecado das mesmas, isso não é encarado como sendo um obstáculo para que prevalecesse a mensagem do evangelho.
No verso 25, Cristo aponta a obra ocultadora do Pai em relação aos “sábios e inteligentes”, como sendo o meio pelo qual foi operado o mantenimento destes em completo desconhecimento acerca de Cristo. Para Jesus, os “sábios e entendidos”, que haviam endurecido seus corações para a mensagem do Reino, foram na verdade impedidos de receber o Evangelho em seus corações, porque o ingresso no Reino não depende da sabedoria humana (cf. 11.19), mas de Deus o Pai agradar-se de revelar o mistério da graça em seu Filho, convidando para si “cansados e sobre carregados” à desfrutarem das maravilhas do Reino.
No verso 27, Cristo afirma que todas as coisas foram entregues a Ele pelo próprio Pai, e aqui mais uma vez é reforçado a ideia de que o Reino de Deus estava em Cristo, e tudo nesse Reino haveria de ser administrado por ele, seguindo a vontade do Pai, que por sua vez, havia estruturado o ingresso no Reino da seguinte forma: O Filho seria a chave, mas somente receberiam essa chave, aqueles a quem o Pai escolher entregá-la. Ao mesmo tempo que o Filho é aquele que concede acesso ao Reino, Ele é o instrumento operado pelo Pai para garantir esse acesso (ex: Cristo é a chave e a porta).
O Reino de Deus, que é prometido desde o Antigo Testamento, atinge o seu clímax: o que antes era uma sombra, uma promessa, agora torna-se realidade palpável. O Pai revela seu Reino em seu Filho, e abre as portas deste Reino a quem ele quer e a quem lhe agradar (verso 26).
Aos simples e incapazes, foi revelado o Reino de Deus em Cristo. Àqueles que não tinham instrução, ou eram como “crianças de colo” (cf. v.25 “pequeninos”), incapazes de por si só acharem que podem obter alguma coisa, a esses, fora revelado o Reino de Deus. Diferentemente das cidades de Corazim, Betsaida e Cafarnaum, que se achavam sábias demais para aderir à um evangelho que se distinguia daquele que eles haviam, por conta própria, elucidado para si, o convite à paz foi feito aos pequenos e indoutos, pela revelação do Pai no Filho.
No versículo 28, Cristo convida esses simples, a buscarem nEle, refúgio da opressão a que estavam sendo submetidos, e nesse aspecto, a própria divisão realizada pelo autor, nos ajuda a compreender o texto.
Nesta seção (que vai até 13:53), Mateus começa a narrar a reação que a pregação de Cristo está causando, e a narrativa posterior (cap. 12) a este discurso de Cristo, demonstra exatamente uma dissensão entre Ele e os fariseus devido aos rudimentos da Lei.
Neste episódio, uma das tradições dos fariseus será afrontada. Os discípulos de Cristo, com fome, estavam colhendo espigas e as comendo. A grande questão é que eles estavam fazendo isso em um dia de Sábado. Mesmo diante da necessidade, os fariseus pareciam estar dispostos a passar fome, a correr o risco de “quebrar a tradição”. Craig Keener, em seu comentário histórico-cultural afirma que o judaísmo aplicava a imagem do jugo à sujeição ou à obediência. O povo judeu falava em carregar o jugo da Lei de Deus e o jugo de seu Reino, que era aceito por meio do reconhecimento de que o SENHOR é o único Deus e da obediência a seus mandamentos.
Os fariseus elevaram esse princípio às últimas consequências, distorcendo o princípio da Lei, tal como é apresentado por Cristo, quando apresenta o relato do que fez Davi em uma situação semelhante. Os ditos “sábios” submetiam o povo a um jugo pesado e excruciante, além tirar deles qualquer vigor que uma expectação por refrigério poderia proporcionar, pois para os fariseus, a demonstração de devoção e sabedoria consistia em cumprir piamente cada traço da tradição, ou seja, a única opção era se submeter.
Cristo agora apresenta Nele o convite a um fardo leve e jugo agradável. Ele não retira o direito a exercer senhorio, mas fala que a submissão a sua autoridade traz satisfação e alívio, diferentemente do que era proporcionado por aqueles homens da Lei. Jesus também não está sugerindo agora, o abandono da Lei, como poderiam pensar alguns, mas Ele aponta para si mesmo como sendo o perfeito cumprimento da Lei, quando diz que ‘Ele é SENHOR do Sábado’ (12:8).
Cristo até aqui já havia demonstrado o contraste entre o jugo dos fariseus e o seu jugo, porém a repetição do argumento aqui enfatiza o convite, e ressalta essa diferença, acrescentando agora destaque ao seu jugo. Antes, ele havia usado a si mesmo como parâmetro que demonstrava o caráter do seu jugo (i.e. bondoso e humilde de coração; v. 29), e no versículo 30, ele reafirma essa diferença, com dois fins: 1)Primeiro, ele deseja realmente deixar claro que seu jugo não é como o dos fariseus. O peso da carga da tradição que os fariseus tinham colocando sobre os ombros do povo tornava a vida um peso e um fardo que era impossível de ser carregado. Tantas observações que acrescentavam cada vez mais pesos sobre os ombros daqueles que se submetiam a ela, provocavam uma vida sobrecarregada de cuidados e temores que no final das contas, tornavam o cuidado para com a Lei de Deus enfadonha e causticante. Cristo deixa claro que o seu jugo é agradável, suave e tranquilo.
Ele não está abrindo mão da obediência à Lei, está demonstrando que a revelação do Reino dos céus no Filho, dá verdadeiro alívio à vida espiritual. John MacArthur, comentando esse texto afirma que se trata de: “um convite aberto a todos (externado) que o ouvem, mas colocado de tal maneira que os únicos que responderão ao convite serão aqueles consumidos por sua própria falência espiritual e pelo peso de tentar salvar a si mesmos observando a Lei”. O fardo de Cristo é agradável, porque tem a Cristo como ancoradouro.
O Reino dos céus chegou, e agora as portas da salvação foram abertas pelo Pai na plenitude dos tempos, e Cristo era aquele que recepcionaria os cansados e fatigados, pois a entrada para esse Reino consiste em seguir as pisaduras dEle mesmo.
O segundo fim da ênfase que Cristo dá em seu contive, é para demonstrar a misericórdia do Deus Triuno. Fracos, cansados, oprimidos, sobrecarregados, mutilados pela tradição dos fariseus, incapazes de por si só providenciar qualquer meio com vistas a salvação, O Pai se inclina para estes no Filho, e lança o convite à paz revelando o Filho como aquele que os libertaria de um jugo de escravidão, e proporcionaria o regozijo de fazer parte do Reino dos céus, prometido desde o Antigo Testamento, e que alcançara o cumprimento derradeiro em Jesus Cristo.
Transição
A leveza do jugo de Cristo, lhes faria usufruir de uma paz que eles jamais haviam sentido.
Ensinados à guardar a Lei por via de tradições, desde o século IX a. C., com a formalização do judaísmo, o uso dessas tradições e observações da Lei foram utilizados como forma de manter viva e pura a fé entregue por Deus ao povo hebreu, quando estavam no cativeiro babilônico, mas, como lemos nas páginas dos Evangelhos, ano após ano, aquele movimento que deveria servir como baluarte que garantiria a pureza da fé, se transformou em uma tendência legalista e hipócrita de observação da mesma Lei por meio de tradições que submetiam o povo à um jugo terrível.
Os incrédulos em relação a chegada do Reino, receberiam como punição a exclusão do mesmo.
O convite de Cristo vinha agora, como oxigênio para quem estava à beira da morte, e mediante essas considerações, alguns princípios devem ser compreendidos e aplicados à nossa vida.
APLICAÇÃO
1 – Há uma barreira enorme no coração do homem, que só pode ser transposta, se ao Pai for satisfatório revelar o Filho.
Todo o mistério da fé e todo o plano de salvação consiste em Deus o Pai fazer-se notório pelo Filho, chamando a quem quer à paz, e à libertação do jugo da escravidão do pecado que nos era revelado pela Lei. Se o Deus Triuno não nos houvesse chamado no Filho, jamais gozaríamos dos benefícios da salvação. Estávamos distantes de qualquer possibilidade disso.
Devemos dar graças por termos sidos alvos desse convite, e de ter Deus se inclinado para nós, seres simples, sem qualquer sabedoria ou conhecimento minimamente capaz de nos proporcionar um vislumbre, ainda que distante, do tamanho da graça do SENHOR. Thomas Watson afirma: “há em nós o suficiente para levar Deus a nos corrigir, mas nada para levá-lo a nos adotar”.
2. Cristo veio para fracos e oprimidos, não para “sábios e entendidos”.
De alguma forma, com o passar do tempo, nosso coração enganoso nos faz achar que a participação no Reino de Deus, pode ser atribuída a uma particularidade que nos destaca das demais pessoas, e pensamos isso mesmo tendo uma teologia tão bem consolidada que afirma que a salvação é puramente por graça e não por nossos méritos. O texto nos convida à humilhação, percebida no método adotado por Deus para fazer notória a chegada do Seu Reino: a revelação de seu Filho amado.
Aos incapazes, aos fracos, aos doentes, aos cansados, aos sobrecarregados, aos débeis, aos perdidos, a esses é endereçado o contive à salvação, não àqueles que atribuem a si sabedoria ou entendimento, ou que se acham ‘bons”. O coração destes é endurecido, até que se humilhem e reconheçam que são como grãos de poeira sob as unhas do Deus Trino todo-poderoso.
3. Não estamos mais vivendo no mesmo contexto que viviam aquelas pessoas, debaixo de um jugo legalista e ilegítimo de uma tradição judaica, porém, constantemente nos esquecemos de que a vida em Cristo é leve e agradável, e por vezes, vivemos como se os fardos desse mundo superassem o fardo de Cristo.
Traçamos para nós, um estilo de vida cheio de vãs observações, como se isso fosse o proceder digno de um cristão. Cristo não nos libertou do legalismo, para que futuramente voltássemos a ele. A vida em Jesus Cristo é simples, é terna, é meiga, cheia de alegrias e satisfações. Não que estejamos agora isentos de desconfortos nesta vida, porém, a paz que desfrutamos em Cristo jamais pode ser abalada por qualquer outro jugo, pois agora, somos escravos do SENHOR Jesus, e nosso SENHOR não é mal e arrogante, mas bondoso e humilde de coração, e trata com misericórdia a seus servos.
CONCLUSÃO
Frente a tudo isso, que possamos louvar, bendizer, agradecer, exaltar, enaltecer o nosso Deus, por ter se revelado a nós em Seu Filho querido, e por meio do Espírito Santo, nos ter também convidado à salvação, nós, que somos falhos, pecadores, incapazes, e imperfeitos, fomos alvos de uma amor que não se pode descrever, que nos resgatou e nos fez participantes do Reino de Deus.
Cristo Triunfa!
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