EXPECTATIVA E PACIÊNCIA
Dez dias de Oração 2022 • Sermon • Submitted
0 ratings
· 92 viewsNotes
Transcript
EXPECTATIVA E PACIÊNCIA
Duas chaves para a espera dos eventos finais
Texto: Romanos 8:19-25
INTRODUÇÃO
Quem já leu a Bíblia sabe que em diversos textos aparecem alguns contrastes que parecem se contradizer. E isso não é diferente com as cartas paulinas, veja alguns exemplos:
Em Romanos 7:4, ele diz: “também vós morrestes relativamente à lei”; uma leitura breve nos levaria a pensar que ele está contra a lei, no entanto, no verso 12 do mesmo capítulo diz: “a lei é santa; e o mandamento santo, justo e bom”. Em Romanos 2:25 a 29 é como se estivesse desmerecendo o judaísmo, porém, em Romanos 3:1 e 2 Paulo apresenta as vantagens de ser um judeu. Cada uma dessas aparentes “contradições” tem uma explicação clara e profunda.
II – EXPECTATIVA E PACIÊNCIA
Em Romanos 8:19-25 encontramos outra aparente contradição dos textos de Paulo, vamos ler. Ela aparece no verso 19 onde Paulo fala sobre esperar o retorno de Cristo com “ardente expectativa”, e no verso 25 ele fala para esperar com “paciência”. A pergunta a ser feita é: devemos esperar os eventos finais com ardente expectativa ou com paciência?
Para compreendermos esse texto precisamos entender o contexto do capítulo 8. Esse capítulo é um contraponto ou uma resposta ao capítulo 7. No capítulo 7, Paulo usa treze vezes a palavra pecado, treze vezes a palavra morte. Paulo apresenta nesse capítulo a falência do homem que vive na carne. Já no capítulo 8, Paulo chega no auge da sua carta aos Romanos, e algumas das palavras-chave do capítulo são: glória, vida, esperança, filhos, herdeiros, redenção.
Enquanto no capítulo 7 Paulo aborda pecado e graça, no capítulo 8 seu desejo é levar o leitor a ter um vislumbre da bendita esperança da redenção que encontramos em Jesus. Ele apresentou nos capítulos anteriores o que a cruz fez por nós o que a cruz está fazendo em nós e, finalmente, o que a cruz fará por nós. Mas enquanto a redenção completa não chega, ele apresenta no capítulo 8 dois conselhos sobre como esperar a redenção.
O primeiro conselho é dado nos versos 19, onde ele diz que não apenas as criaturas, mas também nós devemos esperar com “ardente expectativa” a redenção. Essa é uma expressão muito forte e para você entendê-la gostaria que criasse a seguinte imagem em sua mente.
ILUSTRAÇÃO – Quando eu era pequeno, tinha uns 8 anos minha mãe viajou da onde nós morávamos no Pará, aqui para BH, eu nunca havia ficado longe da minha mãe, do meu pai sim, da minha mãe não, e esse foi sem sobra de dúvida a pior separação da minha vida até aquele momento. Para que eu me conformasse com a ausência dela. Alguém me disse que ela traria um trator de brinquedo que meu padrinho me daria. Para uma criança que fazia boizinho de argila, homenzinhos de bucha vegetal e carinho de caixa de fósforo, um trator de brinquedo era um presente maravilhoso. Imagine alguém na ponta dos pés, pescoço esticado com o corpo inclinado para frente, com a mão na testa e fechando um pouco os olhos para olhar fixamente para um ponto no horizonte de onde minha mãe viria. Duas coisas me faziam ter uma expectativa tremenda do retorno de minha mãe, uma era ela mesma, a outra o brinquedo. Imaginou a cena.
É exatamente isso para Paulo é expectativa ardente. Na tradução Phillips essa passagem encontra-se da seguinte forma: “Toda a criação está na ponta dos pés para ver o maravilhoso espetáculo dos filhos de Deus recebendo o que lhes pertence”.
No segundo conselho encontrado no verso 25, Paulo diz que devemos “esperar com paciência”. Como em todas as aparentes contradições dos escritos de Paulo essas passagens não se excluem, se complementam. É como se ele estivesse nos dizendo: “Há uma maneira correta e uma maneira incorreta de esperarmos a redenção e os eventos finais. Você não deve esperar com tanta paciência que acabe perdendo a expectativa e não pode esperar com tanta expectativa que acabe perdendo a paciência”. Infelizmente, na vida cristã muitas vezes é difícil manter um equilíbrio entre expectativa e paciência.
III – EXPECTATIVA IMPACIENTE
Vamos começar estudando a maneira errada de esperar a redenção. Alguns dão uma ênfase exagerada na expectativa e não têm paciência de esperar as promessas, gerando o que chamamos de uma expectativa impaciente. Eles querem experimentar agora aquilo que ainda não está disponível.
Quando uma pessoa começa a pregar que aqui já podemos ter a vitória completa sobre o pecado, e assim vai pegando textos de Ellen White para embasar seus argumentos de que uma geração sem pecado irá surgir nos últimos dias, está deixando que a expectativa da glória saia dos trilhos e está tendo uma expectativa impaciente. Infelizmente esse ensino leva inevitavelmente ao legalismo amargo ou a hipocrisia. E quando tentamos explicar que não é assim, que nunca ficaremos isento do pecado e da nossa tendência para o erro enquanto Cristo não voltar, essas pessoas acham que nós somos pecadores demais e que desejamos continuar no erro.
Como eu anseio ouvir Jesus dizendo: “Vosso conflito está terminado”. Quando ouvirmos isso entenderemos que nunca mais teremos lutas contra o pecado, mas só ouviremos isso em frente à porta de pérola do Céu!
“Jesus abre amplamente as portas de pérolas, e as nações que observaram a verdade, entram. Ali contemplam o Paraíso de Deus, o lar de Adão em sua inocência. Então aquela voz, mais harmoniosa do que qualquer música que tenha soado já aos ouvidos mortais, é ouvida a dizer: “vosso conflito está terminado” (O Grande Conflito, p. 646).
Então, tenha cuidado com essa expectativa impaciente de querer antecipar a perfeição e a vitória completa!
Expectativa impaciente também acontece quando uma pessoa começa a buscar na internet vídeos especulativos sobre os eventos finais, vídeos sobre o decreto dominical, perseguição e o ecumenismo. Tudo isso vai acontecer, mas no tempo determinado por Deus, não no nosso. Deus está agindo na história para efetuar a nossa salvação, mas se sua “ardente expectativa” se concentrar apenas na especulação de eventos você poderá perder o foco dos eventos finais. O foco dos eventos finais deve ser Cristo e não perseguições, decretos, bestas ou ecumenismo. Isso não quer dizer que não devemos estudar as profecias ou conhecer o momento histórico em que estamos vivendo; pelo contrário, devemos estar sempre alertas e vigilantes. O que não deve acontecer é especulação e criação de teorias que não tenham um claro respaldo na Palavra revelada.
Cristo está no controle do tempo e dos eventos. Ele vai voltar como prometeu para estabelecer o reino eterno, e se perdermos o foco em Cristo, poderemos perder o principal evento das profecias bíblicas, o retorno de Cristo.
IV – PACIÊNCIA IRRESPONSÁVEL
A segunda maneira errada de esperar Jesus voltar é o que eu chamo de paciência irresponsável. Alguns dão uma ênfase exagerada à paciência e terminam caindo na letargia, apatia e frieza espiritual. Quando as promessas da segunda vinda já não aquecem seu coração e você vai sendo vencido pela incredulidade isso significa que você está com uma paciência irresponsável.
Se você estudar os sermões de Cristo irá perceber que esse tema foi a base de muitos dos seus ensinos. Um dia ele pregou um sermão sobre dois servos: um que estava preparado para o retorno do seu senhor e outro que estava completamente despreparado. Esse sermão está registado em Lucas 12:43-46. Qual era o problema desse servo despreparado? Ele se tornou tão paciente que perdeu a expectativa; ele sabia e cria que o seu senhor retornaria, mas disse “em seu coração” meu Senhor tarda em vir.
Será que esse não é o seu problema? Você crê no retorno de Cristo, você canta sobre ele, você segue a igreja que proclama a segunda vinda, mas você está tão paciente que perdeu a expectativa? O grande perigo dessa atitude é porque ela acontece no coração, você não precisa proclamar que não crê na volta de Jesus, você não precisa declarar que perdeu a fé, você ainda lê sobre esse assunto, você canta sobre isso, mas de maneira sutil você tem agido como alguém que perdeu a expectativa.
V – COMO ESPERAR OS EVENTOS FINAIS COM UMA ATITUDE CORRETA?
Ardente expectativa: O primeiro conselho de Paulo para esperar o retorno de Cristo é: Espere com uma ardente expectativa. Ou seja, deseje o retorno de Cristo, clame por isso. E a melhor maneira de desejar o retorno de Cristo com expectativa é conhecê-Lo intimamente.
Será que você já não perdeu a expectativa pelo retorno de Jesus? A ardente expectativa deve levá-lo não à especulação, mas ao conhecimento pessoal e íntimo do Senhor. Para aqueles que não reservam tempo para ter um encontro pessoal com Cristo, a volta de Jesus pode não passar de uma doutrina. Não permita que o seu tempo na terra limite o seu contato com o Céu.
Esperem com paciência: O segundo conselho de Paulo é: “Esperem com paciência”, não uma paciência irresponsável, mas sim uma paciência expectante e cheia de esperança. Enquanto Jesus não retornar, iremos passar por momentos difíceis, Paulo nos aconselha: sejam pacientes. Iremos derramar lágrimas, perder entes queridos, enfrentar a fúria do inimigo, mas Paulo nos aconselha: sejam pacientes, não desanimem”.
Uma das melhores maneiras de permanecer paciente, aguardando o retorno de Cristo, é trabalhando intensamente para a causa da cruz. João, o discípulo amado, tornou-se seguidor de Cristo quando ainda era jovem e passou toda sua vida crendo na promessa da segunda vinda de Jesus. João investiu toda a sua vida nessa crença, trabalhou pela causa, não com o que lhe sobrava, mas com o seu melhor, e por causa dessa causa ele já cansado e idoso foi preso na ilha de Patmos.
Ali, ele recebeu as visões do tempo do fim. Sua conclusão após tudo o que viu e ouviu está registrado em Apocalipse 22:20: “Certamente, venho sem demora”. Talvez, se estivéssemos no lugar de João, diríamos: “Senhor há tantos anos estou te esperando sem demora, mas para mim está demorando muito, como posso escrever que o Senhor virá sem demora?”. A resposta de João apresenta sua paciente expectativa: “Amém. Vem, Senhor Jesus”.
Quem conhece Jesus intimamente e trabalha intensamente por sua causa não está preocupado com a data, só deseja que Ele venha. Se hoje, amém, vem, Senhor! Se amanhã, amém, vem, Senhor Jesus... O importante é que Ele venha.
CONCLUSÃO
Vamos concluir com uma história. Talvez, só um homem tinha o direito de perder a ardente expectativa no retorno de Jesus. Esse homem foi Guilherme Miller. Ele mais do que ninguém experimentou o amargo no estômago da decepção do não aparecimento de Cristo nas nuvens em 1844.
Ele havia estudado a Bíblia minuciosamente com oração, ele não tinha presunções de grandeza em seu coração. Deus claramente o enviou para pregar, e ele o fez até a exaustão por 12 anos para mais de meio milhão de pessoas. E mesmo assim o evento que ele predisse não se cumpriu. Hoje sabemos com clareza que ele havia acertado a data da profecia, mas errado o evento. Jesus não voltaria em 1844.
Em meio a toda essa decepção, ele que foi ridicularizado em diversos jornais, e declarou:
“Eu acreditei e preguei que Cristo haveria de vir a qualquer momento no fim do período profético. Mas eu ainda acredito e, com a ajuda de Deus, vou pregar até que Ele venha. Eu posso dizer com todo o meu coração e alma: Amém, vem, Senhor Jesus”.
“Aguardo a cada dia e hora o retorno de Cristo. Desejo estar com Ele e posso dizer que ainda o amo como o amei a 28 anos atrás. Eu achava que já deveria estar com ele, mas ainda estou aqui, um peregrino e estrangeiro, à espera da mudança de mortal para imortal. Apesar de eu ter sido duas vezes decepcionado, eu não estou abatido ou desanimado. Deus tem estado comigo em espírito, e tem me consolado. Minha mente está perfeitamente calma, e minha esperança na vinda de Cristo é tão forte como nunca. Eu quero permanecer firme dia após dia até que Ele venha”.
A inabalável confiança de Miller no breve retorno de Cristo continuou até o momento da sua morte, em 20 de dezembro de 1849. Durante os últimos meses da vida de Miller, ele estava confinado à cama. Quando a morte parecia iminente, um telegrama foi enviado a seu amigo, Josué V. Himes, para ir a Low Hampton, Nova Iorque. Himes o encontrou praticamente cego e muito fraco, mas Miller reconheceu seu amigo. Uma das poucas coisas que Miller disse a Himes foi:
“Diga aos irmãos que a vinda do Senhor está próxima; mas eles devem ser pacientes e esperar por Ele”.
Três dias depois, na parte da manhã do último dia de vida de Miller, ele não conversou com ninguém em particular, mas dizia continuamente: “Ele é poderoso para salvar!”, “Ó, eu quero estar lá”, “Vitória! vitória!”, “Vencida está a morte!”.
Depois disso, ele finalmente cochilou. Ocasionalmente, ele despertava, e abria os olhos, mas não foi capaz de falar. Ele continuou a respirar cada vez mais lentamente, até às três e cinco da tarde, quando ele com calma e docemente deu seu último suspiro.
Ellen White teve uma visão em que viu um anjo guardando o túmulo desse guerreiro de Deus até a ressureição. Deus não irá falhar com seu servo, pois Ele o conhecia. Miller conhecia muito sobre a volta de Cristo e não se permitiu ser surpreendido pelo conhecido. Essa é a nossa maior tragédia como adventistas: Aqueles que chegarem a perder a salvação serão surpreendidos pelo evento que mais conheciam. E finalmente chegarão à conclusão que conheciam apenas a doutrina da volta de Cristo, mas não a pessoa de Cristo.
APELO
Talvez você tenha compreendido, por meio desse sermão, que está vivento em uma expectativa impaciente ou em uma paciência irresponsável e hoje gostaria de dizer: “Senhor eu te amo e quero em breve proclamar, olhando para a nuvem: Esse é o Deus que eu aguardava.
Então, Senhor, desperta-me, hoje para o perigo de ser pego de surpresa apesar de todas as oportunidades e o conhecimento. Ajuda-me a ter diariamente um encontro espiritual contigo até o dia em que terei um encontro face a face contigo.