Gênesis 33.1-17

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O autor desfecha a narrativa da reconciliação de Jacó com seu irmão, usando-a como paralelo para a história redentiva da restauração do povo de Deus à presença do Criador.

Notes
Transcript
“Este é o livro das gerações ...” (Gênesis 5.1).
Gênesis 33.1-17
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
Progredindo o episódio da reconciliação de Jacó com seu irmão Esaú, e de como através dessa reaproximação o SENHOR tem estabelecido seus propósitos redentivos na vida do patriarca, confirmando o pacto a ele e ao povo de Israel (a quem o autor dirige seu escrito), Moisés encaminha-se para expor o desfecho da trama, apresentando finalmente o encontro entre os dois irmãos.
A sobreposição do tema da aliança abraâmica e da história da redenção sobre esse reencontro, assume o caráter declarativo para o povo de Israel no tocante a misericórdia divina que o elegera para ser o povo de Deus, tendo sido restaurado à sua presença mediante a transformação e mudança de vida - tal como foi a tese exposta no capítulo 32, usando Jacó como referencial de tal ação - que, assim como os patriarcas (i.e. Abraão, Isaque, e agora Jacó), antes estavam numa condição de alienação em relação ao Deus Triuno, agora foram feitos filhos de Deus.
Assim, a tese central desta seção do Livro de Gênesis, capítulo 33, expõe a narrativa patriarcal da reconciliação como modelo referencial da história redentiva.
Elucidação
Após a luta com o homem (i.e. anjo (cf. Os 12.4)), em que Jacó teve seu nome mudado, referenciando a benção divina que lhe garantia a transformação de que precisava para ser "príncipe de Deus" ("Israel" cf. Gn 32.28), isto é, um herdeiro digno da aliança abraâmica e alguém através do qual Deus estava levando adiante seus planos salvíficos, o narrador, objetivamente, exibe o momento em que os dois irmãos, antes separados por sua condição distinta entre si, no qual a benção do SENHOR destacou um como sendo o portador da graça que lhe tornava participante da redenção em detrimento do outro (i.e. Jacó ao invés de Esaú), se veem novamente numa situação completamente diferente.
A narrativa vai sendo construída através de acelerações e detalhamentos de informações que vão conectando aos poucos as ações dos personagens ao contexto temático trabalhado pelo autor.
Após a observação da aproximação de Esaú, o autor detalha a reação de Jacó:
Gênesis 33.1–2 RA
Levantando Jacó os olhos, viu que Esaú se aproximava, e com ele quatrocentos homens. Então, passou os filhos a Lia, a Raquel e às duas servas. Pôs as servas e seus filhos à frente, Lia e seus filhos atrás deles e Raquel e José por últimos.
A disposição do bando nestes primeiros versos, conectam-se ao final da narrativa do capítulo 32.21, quando o relato do encontro é iniciado, mas logo interrompido pelo episódio da luta com o anjo, expondo o receio de Jacó quanto as intenções de Esaú, conforme havia fica nítido, à luz de 32.7: Raquel e José, a esposa e o filho preferido, vão por último, a fim de que fossem poupados caso Esaú tentasse agredir o bando.
Porém, toda essa tensão e receio são rapidamente desfeitos, quando, após narrar o gesto reverente de Jacó de prostrar-se em terra, o autor focaliza a cena do primeiro contato entre os irmãos: "Esaú correu-lhe ao encontro e o abraçou, arrojou-se-lhe ao pescoço e o beijou; e choraram" (v.4).
Os fatos desenvolvidos pelo autor, especialmente por serem contrários a expectativa de Jacó, devem ser lidos à luz do que ocorrera ao patriarca no vau de Jaboque. Ao mudar o nome de Jacó, o anjo menciona o significado ou motivo por trás de tal mudança: "Já não te chamarás Jacó, e sim Israel, pois como príncipe lutaste com Deus e com os homens e prevaleceste" (Gn 32.28).
A "vitória"sobre Deus está ligada ao logro sobre os homens, e tendo em vista o contexto, trata-se de um adiantamento de informações, concedido a Jacó mediante sua solicitação de proteção na jornada (cf. Gn 32.9-12): o anjo informa a Jacó que obterá sucesso em seu contato com Esaú; a graça do SENHOR fará com que o homem temido por Jacó seja aplacado, e assim, a reconciliação aconteça.
Ao descrever o choro de Esaú e Jacó, o autor encerra a narrativa da reconciliação, e com isso, demonstra a graça divina em favorecer seu eleito ao longo do trajeto redentivo, agora com uma menção ao restabelecimento do contato do povo para com Deus.
O projeto narrativo empreendido por Moisés neste texto, elucida a temática da obra redentiva em que o povo é transformado; tem sua história mudada e passa a ser visto como filho de Deus.
A menção de Jacó no verso 10, de que ver o rosto de Esaú era como ver semblante de Deus, demarca um comparativo (guardadas as proporções) entre os personagens. Como comenta Bruce Waltke:
Jacó associa o perdão de Esaú, e seu ato de poupar a vida de Jacó, com o ato divino de poupar sua vida. Justamente como Esaú aceita o tributo de Jacó e o recebe com o perdão, Deus graciosamente recebe os eleitos em decorrência do dom que Cristo oferece de si mesmo pelos pecados deles (WALTKE, 2010, p. 567).
Transição
O povo de Israel deveria, por meio desta narrativa, compreender que as bençãos da Aliança culminam na sua salvação após a execução da redenção mediante uma luta, travada não pelo povo, mas pelo Descendente de Jacó (que por sua vez descende de Abraão (cf. Gn 12.7)), o Messias prometido, incumbido da missão de levar de volta os eleitos pelo caminho antes bloqueado (cf. Gn 3.24) que conduz à vida eterna na presença do Criador.
Essa perspectiva redentiva, centraliza as intenções exortativa do autor, e alcançam-nos a partir de sua observação.
Aplicação
Mediante a luta de Cristo com Deus, fomos reconciliados com o Criador, e agora podemos olhar em sua face como filhos amados.
A aproximação dos personagens Esaú e Deus feita por Moisés, ao relatar a reação de Jacó ao ver seu irmão é delicada, porém evidente. O autor não faz uma comparação no sentido de que em todos ou muitos aspectos Esaú funcione como uma referência direta a ao Messias ou a Deus, porém, em termos da situação, e principalmente, levando em consideração a representação pactual embutida na narrativa, podemos observar a ação do autor divino/humano aproximando a reconciliação de Esaú e Jacó, ao processo através do qual o Criador está transformando este em um instrumento no curso de seus planos salvíficos.
A cada desdobramento da saga patriarcal, aspectos mais específicos da obra salvadora vão sendo desenvolvidos, e com isso, a complexidade da história da redenção também é acentuada, ganhando contornos mais claros quanto ao que ocorrerá no futuro quando o Messias se manifestar.
Jacó, antes aprisionado à uma fama negativa e pecado e iniquidade, é transformado e príncipe de Deus,e agora usufrui das prerrogativas de alguém perdoado e justificado diante do Criador. A constatação dessa condição é representada pelo reencontro com seu irmão, o que, como dito, demarca sua vitória sobre os homens (cf. Gn 32.28), em que ao perceber que os laços foram restabelecidos, Jacó obtém a convicção de que sua condição diante de Deus também fora restaurada.
À luz do texto anterior, tomamos conhecimento de que é através de Cristo e sua luta com Deus, que obtivemos a redenção, e agora, o texto de Gênesis 33.1-17 apresenta para nós os efeitos dessa obra: nossa reconciliação com o SENHOR foi garantida, e agora podemos contemplar seu rosto sem receio.
Nossa dívida foi paga. Nosso pecado foi expiado. Nossa natureza foi e está sendo restaurada, para que possamos nos encontrar com nosso Criador.
Conclusão
João Calvino, expondo nossa reconciliação com Deus em Cristo Jesus afirma:
300 citações da Reforma para pregadores A Misericórdia de Deus é o Único Porto Seguro (Romanos 3:21–31; Efésios 2:4–9; 1 Pedro 1:3)

O único porto seguro está na misericórdia de Deus, manifestada em Cristo, em quem cada parte de nossa salvação está completa. Como toda a humanidade é, aos olhos de Deus, pecadores perdidos, sustentamos que Cristo é sua única justiça, visto que, pela obediência dele, ele apagou nossas transgressões; por seu sacrifício, apaziguou a ira divina; por seu sangue, lavou nossas manchas; por sua cruz, suportou nossa maldição; e por sua morte, fez satisfação para nós. Afirmamos que assim o homem se reconcilia em Cristo com Deus Pai, por nenhum mérito próprio, por nenhum valor de obras, mas pela misericórdia gratuita.

Tendo vagado errantes nas trevas de nosso pecado, fomos resgatados por Cristo, para que vendo seu rosto, contemplássemos o rosto do Pai, fazendo parte de seu povo para sempre.
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