Mateus 12.38-50
Série expositiva no Evangelho de Mateus • Sermon • Submitted
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· 6 viewsO autor divino/humano registra a exposição do endurecimento e obstrução operados pelo pecado e por Satanás no coração daqueles que não foram habilitados para crerem em Cristo como salvador, ao passo que os eleitos, foram ligados profundamente ao Senhor.
Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
Em sequência ao episódio em que a natureza dos fariseus havia sido revelada, isto é, através da blasfêmia que cometeram contra Cristo, atribuindo sua obra à uma operação maligna, deixando de constatar o fato evidente, inclusive à luz do Antigo Testamento, de que por meio daqueles sinais, o Reino dos céus havia chegado, os fariseus demonstraram que não haviam recebido da parte de Deus a revelação necessária para reconhecerem a Cristo como o Messias, o que sacramentava sua condenação e proscrição do Reino de Deus.
Tal incapacidade de reconhecimento do tempo determinado para o cumprimento da Aliança da graça no envio do Salvador, fora usada, como comentado anteriormente, pelo autor bíblico para exemplificar a perseguição que aguardava os discípulos; uma demonstração daqueles princípios expostos pelo Senhor em 10.16-40.
A partir do versículo 38, Cristo continua expondo a cegueira dos fariseus, porém, amplia o conceito, inclusive clarificando a causa desta obstrução: a operação do erro no coração do homem executada por Satanás, ao passo que, em relação aos agentes do Reino, que fazem a vontade do Pai celeste, está reservado o acesso ao Reino e à salvação.
Diante dessas conclusões, percebe-se que a ideia central do texto de Mateus 12.38-50 é a operação do erro como impedimento à salvação e a segurança cristã de acesso ao Reino.
Elucidação
Após o momento em que Cristo é novamente confrontado pelos fariseus devido outro milagre que realizou, tendo estes atribuído as obras do Senhor ao poder de Satanás, negando a chegada do Reino por meio do Messias, agora Cristo prossegue sua denúncia contra esta facção judaica, expandindo o alcance de suas asseverações à todos quantos desconsideram ou não recebem sua pregação como sendo o marco inaugurador do Reino de Deus, e portanto, o momento que desencadeia as ações e eventos finais da obra redentora.
A diferença nesta seção em específico, além dessa amplitude no juízo de Cristo que recai não apenas sobre os fariseus, é a intensificação (tendo em vista que já havia sido declarado na perícope anterior) da constatação do estado de perdição dos rebeldes.
A perícope é iniciada com uma solicitação dos fariseus: "Mestre, queremos ver de tua parte algum sinal" (v.38). Diversos milagres haviam sido feitos pelo Senhor Jesus, como já constatado, porém, o pedido em si é algo novo, pois até agora os próprios fariseus haviam sido apenas expectadores dos sinais realizados.
Entretanto, ao passo que agora os fariseus parecem querer um sinal, podendo fazer crer que estavam se inclinando a reconhecer Cristo como o Salvador, o próprio Senhor lhes nega algum milagre, acusando aqueles homens de serem maus e corruptos; qualificativos que introduzem o julgamento de Cristo: "Uma geração má e adúltera pede um sinal [...]" (v. 39a).
Entretanto, ao contrário de uma negação em que poderia haver uma recusa completa no oferecimento de um sinal, a resposta de Cristo sugere uma outra conclusão: ao referenciar o episódio em que Jonas esteve no ventre do grande peixe, Cristo enfatiza que aquela narrativa era na verdade um prenúncio da própria vinda do Messias. A interpretação cristológica então usa aquele evento para descrever o que está ocorrendo agora na situação descrita no Evangelho.
Como registrado nos versículo 39b à 41, após Jonas ter estado 3 dias e noites dentro do peixe (Jn 1.17), pregou à cidade de Nínive, que por sua vez arrependeu-se de seus pecados, reconhecendo que diante de si estava um profeta enviado da parte de Deus para anunciar-lhes juízo, caso não contristassem seus corações reconhecendo o estilo de vida pecaminoso que promoviam.
A afirmativa final é de que: "aqui está quem é maior do que Jonas" (v.41), ou noutras palavras, para os ninivitas foi suficiente receberem a Jonas, que ao anunciar a mensagem divina, viu o arrependimento e a salvação serem estendidas àquele povo.
Isso denunciava com ainda mais veemência a gravidade da situação dos fariseus, pois estavam diante do próprio Deus, que havia encarnado para cumprir o propósito eterno da redenção. Que outro sinal poderia ser dado maior do que este? Homens incrédulos pediam um sinal que evidenciasse o messiado de Cristo, mas o próprio Cristo era esse sinal, e assim, o juízo recairia sobre aquela geração: "Ninivitas se levantarão, no Juízo, com esta geração e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas" (41). Aqueles que um dia foram temidos pelo profeta Jonas por causa de sua malícia (Jn 1.2), não sendo esta impedimento para ação salvadora divina, julgariam os fariseus; aqueles que gabavam-se de serem "homens da lei".
Ainda outro exemplo é usado por Cristo:
A rainha do Sul se levantará, no Juízo, com esta geração e a condenará; porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis aqui está quem é maior do que Salomão.
A experiência da rainha do Sul, ao vir de tão longe para apreciar a sabedoria que Deus havia concedido a salomão, foi suficiente para que constatasse a grandeza do SENHOR, tendo reconhecido a operação de seu poder sobre o rei. Ali estava diante deles quem era muito superior a Salomão, porém, não dando ouvidos a Cristo, veriam a própria rainha do Sul - uma estrangeira - condená-los por sua dureza, no dia do Juízo.
Tendo em vista esse quadro de dureza e obstinação em ouvir e ver o Evangelho (i.e. a obra redentiva executada por Cristo), o Senhor progride sua argumentação mostrando que a recusa dos fariseus era originada pela operação do erro em seus corações por Satanás, como esclarece Cristo a partir do versículo 43:
Quando o espírito imundo sai do homem, anda por lugares áridos procurando repouso, porém não encontra. Por isso, diz: Voltarei para minha casa donde saí. E, tendo voltado, a encontra vazia, varrida e ornamentada. Então, vai e leva consigo outros sete espíritos, piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado daquele homem torna-se pior do que o primeiro. Assim também acontecerá a esta geração perversa.
A aplicação feita por Cristo é simples, se levado em conta o contexto anterior. Para demonstrar a perversidade dos fariseus e de todos que com eles concordavam, O Senhor usa personagens da própria história para expor que, mesmo sendo estrangeiros (e.g. a rainha do Sul), ou reconhecidos pela pecaminosidade (e.g. ninivitas), mediante a operação do Espírito em seus corações, houve arrependimento e salvação para ambos, pois reconheceram a salvação anunciada por meio dos enviados do SENHOR para tal (i.e. Salomão e Jonas).
Por outro lado, mesmo com todos esses exemplos, aquela ‘geração’ (fig. ling. sinédoque: Cristo identifica os réprobos por uma associação generalizada) recusava-se a receber o Reino em seu Messias. Assim, ao relatar o "modus operandi" da operação do erro no coração daquela geração através desta breve parábola, o Senhor está demonstrando a razão para tamanha incredulidade: O período de tempo em que um demônio sai do homem, estaria ligado ao envio dos profetas e dos sinais do A.T que anunciavam a vinda de Cristo.
Nada obstante, mesmo tendo esses registros como testemunhas de que o Messias viria da forma como Cristo se apresentava, aqueles homens recusavam-se a crer nele, de maneira que o retorno do demônio com o outros sete espírito piores, tornando o último estado do homem pior do que o primeiro, era uma referência ao que estava acontecendo naquele momento, numa que, mesmo diante do próprio redentor, resistam sua mensagem.
A conclusão não poderia ser outra: se recusaram não apenas os emissários, mas também o próprio Rei, não restava esperança para aquela geração: seu atual estado seria pior do que a rebeldia anterior, ao não lerem os tempos determinados pela Escritura para a chegada do Reino, exemplificados por exemplos nos relatos concernentes a Salomão e a rainha do Sul, e Jonas e os ninivitas.
Em contraponto, o autor arranja a narrativa, tecendo na sequência desta fala de Cristo, o episódio em que os familiares do Senhor vão à sua procura. Ao ter chegado ao local, requisitando falar com o Jesus, o próprio Mestre direciona uma mensagem: [...] “Qualquer que fizer a vontade de meu Pai celeste, esse é meu irmão, irmã e mãe" (v.50).
Essa parte da narrativa está presente tanto em Lucas quanto em Marcos, de maneira a evidenciar a obra salvadora, confirmando o ingresso ao Reino por parte daqueles que creram em Cristo Jesus como o salvador.
Em Marcos 3.20-30, o escritor também exibe o coração contumaz dos fariseus, tendo eles blasfemado contra Cristo, da mesma forma que o contexto anterior da presente seção. E de maneira semelhante, Marcos registra a referência do Senhor aos agentes do Reino como seu irmãos, irmãs e mães, com vistas a confirmar a obra redentiva realizada. Lucas 8.16-18 registra a fala do Mestre, ao referir-se as obras dos filhos da luz como evidentes, isto é, impossíveis de não serem reconhecidas como obras peculiares daqueles a quem o Reino de Deus fora revelado.
Transição
O evangelista Mateus caminha na mesma direção, posicionando esse relato logo após o confronto com os fariseus ter resultado na exposição de suas condições de incapacidade de recebimento do Reino terem sido apresentada. Cristo salienta que, diferentemente daquela geração, cujo o coração fora obstruído para não enxergarem o Evangelho (i.e. Cristo), os que praticam a vontade do Pai celeste, podem descansar sob a condição de filhos de Deus; algo que jamais lhes será tirado, pois isso não foi concedido por nada que não a própria vontade do SENHOR. Os agentes do Reino, estão intrinsecamente unidos a Cristo, como por uma laço tão ou mais poderoso quanto a irmandade.
Essa dupla referência da obra salvadora - juízo e salvação - é erigida n texto tanto para continuar preparando os agentes do Reino para a oposição que enfrentarão, quanto para consolá-los em relação ao êxito do Evangelho, que independe tanto de quem o anuncia, quanto de quem o ouve, só podendo alguém ser anexado ao Reino, se ao Pai for agradável (Mt 11.25-26).
Em face disso, os princípios que deveriam ser observados pelo primeiro público a receber este texto, devem também ser aplicados a nós. Quais sejam:
Aplicações
1. A resistência dos ímpios é resultado da entrega divina dos homens à sua natureza caída, somado a escravização imposta por Satanás.
A obstinação, tanto da geração a qual Jesus se refere, quanto dos ímpios hoje, não é fruto apenas de um volição interna em se posicionar contra o Evangelho, mas também dos ardis de Satanás, que aprisiona os homens em suas próprias paixões, e assim, não lhes resplandece a luz de Cristo.
Porém, não devemos interpretar isso como uma ação diabólica independente. “O diabo é o diabo de Deus”, afirmou Lutero, e com isso, o reformador afirmou que cada passo dado pelo acusador é determinado pela Trindade, e assim, o inimigo atua nos filhos da desobediência impedindo-os de chegar ao Reino.
A estrada dos ímpios os encaminhará à degeneração e a morte. O caminho dos justos, guiados por Cristo, os levará à vida. O que nos leva ao nosso próximo ponto.
2. Nossa união com Cristo é a fonte da certeza da salvação.
Ao ser questionado quanto aos seus parentes, Cristo aponta que está ligado intimamente àqueles por quem se sacrificará, e o vínculo dessa ligação é a obediência dos agentes do Reino à vontade do Pai.
A conexão entre Redentor e redimidos é o laço poderoso também determinado pelo Santo Conselho que vinculou a Segunda Pessoa da Trindade aos eleitos separados para serem os servo do SENHOR na nova criação. Observando essa ligação e seus benefícios, João Calvino comenta:
300 citações da Reforma para pregadores Cristo, o Único Vínculo Verdadeiro da Unidade da Igreja (Ezequiel 11:19; Atos 4:32; 2 Coríntios 5:18–19; Efésios 1:22; 2:16; 4:3, 15; Colossenses 1:18–22; 2:19)
O único vínculo verdadeiro da unidade da Igreja é Cristo Senhor, que nos reconciliou com Deus Pai, e nos reunirá de nossa presente dispersão na comunhão de Seu corpo, para que, por meio de Sua única Palavra e Espírito, possamos crescer juntos em um coração e uma alma.
—João Calvino
É por causa de Cristo Jesus e seu sacrifício, que nosso olhos foram abertos, e fomos feitos irmãos irmãs seus, e filhos de Deus.
Conclusão
As vendas do pecado que tapavam nossa visão só foram abertas por causa da divina eleição, a qual recebemos por causa de Cristo que, espantando as trevas, fez-se para nós luz (Sl 36.9).