Abrindo o presente

Perdão é a cura para a condição humana, mas antes de falar da cura, no primeiro capítulo desta série, falamos sobre a doença; o pecado, isto é, “a falta de conformidade com a lei moral de Deus quer em ato, disposição ou estado” (STRONG). É um estado que se revela em ação, intenção e omissão!

Estudamos no segundo capítulo o plano de Deus para tratar o pecado. Jesus foi além do necessário, para nos dar a cura para a pena do pecado, como está escrito em Fp 2:8. O que fazer para ser perdoado? No terceiro capítulo buscamos a resposta para e estudamos a história da mulher perto do poço e vimos a proposta que Jesus fez a ela, conf. Jo 4:10. Pode o evangelho nos entristecer? Vimos na carta de Paulo aos coríntios que há uma tristeza benéfica em nossa realidade de pecadores. Este foi o quarto capítulo.

O estudo de hoje tem que ver não tanto com receber o perdão, mas com dar aos outros aquilo que recebemos de Deus.

Quando damos um presente queremos agradar a pessoa presenteada e não seria honesto dar algo que na realidade é útil para nós. Algo que traga mais benefícios a quem dá o presente do que a quem recebe. Eu gosto de livros, costumo dar muitos livros a minha esposa. Tenho um videogame e dei um jogo ao meu filho. Minha esposa gosta de viajar. Ela me deu um título de viagem – que eu tenho que pagar todo mês!

Perdoar assim como...

Mateus 6.14–15 RA

Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não perdoardes aos homens [as suas ofensas], tampouco vosso Pai vos perdoará as vossas ofensas.

Mesmo na condição de pecadores podemos compartilhar de algumas experiências com Deus: cuidar de um filho, amar alguém... perdoar!

Perdoar é ter uma experiência divina!

No Pai Nosso, condicionamos o perdão de Deus ao que oferecemos aos outros. Analisando a oração, o tempo em que se dá a petição é o presente – veja quando é pedido o pão de cada dia – assim a experiência de dar e receber o perdão também deve ser diária.

Isso é tão difícil e necessário, que é a única parte da oração que Jesus dá uma explicação. Daniel Steffen (2013) escreveu um artigo sobre o perdão em Mateus e afirma que tanto a Mishná quanto o Talmude tratam do perdão divino no Dia da Expiação também como resultado da reconciliação interpessoal.

“A parábola do credor incompassivo”

Mt 18:23-35 (Bíblia A mensagem) “O Reino de Deus é como um rei que decide acertar as contas com seus serviçais. Trouxeram à sua presença um servo que lhe devia o equivalente a trezentas toneladas de prata. Ele não podia pagar uma dívida tão vultosa. Então, o rei ordenou que o homem, com esposa, filhos e bens, fosse leiloado no mercado de escravos. O infeliz lançou-se aos pés do rei e implorou: ‘Dá-me uma chance, e pagarei tudo’. Sensibilizado com o pedido, o rei deixou-o ir, cancelando a dívida. O servo perdoado mal havia saído da sala quando se encontrou com um companheiro que lhe devia apenas cem moedas de prata. Furioso, agarrou-o pelo pescoço e ordenou: ‘Pague-me! Agora!’ O pobre homem lançou-se aos pés dele e implorou: ‘Dê-me uma chance, e pagarei tudo’. Mas o outro continuou irredutível. Mandou-o para a cadeia, com ordem de ser solto só depois de pagar a dívida. Alguns servos que presenciaram a cena ficaram revoltados e relataram o fato ao rei. O rei mandou chamar o servo de volta e disse: ‘Você é mau-caráter! Perdoei sua dívida quando você implorou por misericórdia. Não deveria você também ser misericordioso diante das súplicas de seu companheiro?’. O rei estava furioso e mandou que aquele servo ficasse na prisão até pagar toda a dívida. Meu Pai, no céu, fará exatamente a mesma coisa com aquele que não perdoar incondicionalmente qualquer um que peça misericórdia.”

As três personagens dessa história são: o rei – Deus; o grande devedor – eu e vc; o pequeno devedor. Essa história ensina sobre dívida, perdão e ingratidão. A relação entre as personagens também revela três pontos de vista sobre uma mesma situação. O Rei e o servo, em sua relação vertical, os dois servos em sua relação horizontal, de igualdade. Mesmo tendo recebido o perdão divino, negar dar o perdão ao igual implica em punição final.

O valor da dívida do servo com o rei era de 10 mil trabalhadores durante 18 anos. A dívida entre os servos era de um trabalhador por 100 dias. Era de R$ 306 milhões de um e R$ 330 mil do outro. Considerando que era um valor exagerado, Carson em seu comentário, traduz como “uma enorme quantidade de prata.”

O valor que um servo devia ao outro não era pequeno e conservo tinha o direito de cobrar, mas chama a tenção o fato de cobrar uma dívida depois de ter sido perdoado pelo mesmo motivo. Chama também a atenção pela violência com que tratou a situação. Jesus estava ensinado sobre o perdão imenso que recebemos de Deus, por uma questão de vida ou morte eterna.

Sem muito destaque de de grande importância para uma lição espiritual são os outros servos que testemunham a situação e vão contar ao rei. Qual deve ser nossa atitude diante da injustiça? Claro que não devemos ficar passivos, mas também não devemos ser vingadores dos inocentes. Os servos procuraram o rei, para que administrasse a situação.

Negar o perdão traz prejuízo a si mesmo!

“Dead Man Walking.” Você sabe o significado dessa frase? É usada pela polícia norte americana para os condenados a morte andando pela última vez pelo corredor até a sala de execução. Em uma dessas situações um freira que trabalhava como conselheira espiritual no corredor da morte, chamada Helen Prejean, depois de acompanhar a história de condenados durante vários anos, resolveu ser militante nesta causa. Tudo ganhou destaque quando ela conheceu um condenado por ter sequestrado e estuprado duas adolescentes em 1980. Robert Lee Willie. A história virou filme estrelado por Susan Sarandon e Sean Penn (Dead Man Walking, 1995, Polygram). Uma das vítimas foi Debbie Morris, com 16 anos. Ela saiu viva do crime e no ano 2000 publicou o livro PERDOANDO O HOMEM MORTO CAMINHANDO, onde conta como conseguiu encontrar paz e dar perdão depois da violência que sofreu.

Como Debbie conseguiu fazer isso? Ela mesma diz que foi uma ação divina em sua vida.

Perdoar é abrir um presente que você deu a outra pessoa!

Na série EM CRISTO FOI APAGADO nós estudamos sobre o perdão. Começamos entendendo a realidade inescapável e destruidora do pecado. Estudamos sobre como Deus tratou o mundo perdido e sobre como Jesus foi além do necessário para apagar o pecado da humanidade. Vimos como Deus espera nossa reação de tristeza quanto a realidade do pecado. Uma tristeza nos coloca no aminho da redenção

Hoje concluímos com a mensagem divina de que aquilo que recebemos e nos beneficiou deve ser compartilhado com outras pessoas e assim ter a alegria de saber que em Cristo, tudo foi apagado.

Referências: D. A. Carson. O Comentário de Mateus. São Paulo: Shedd, 2010; Daniel A Steffen. Is divine forgiveness conditional ou unconditional in the gospel of Matthew? 12/mar/2013. Disponível em: <https://bible.org/article/divin e-forgiveness-conditional-or-unconditional-gospel-matthew>. Acesso em: 13/03/22.