Os deveres sociais dos cristãos

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Introdução

As marcas da verdadeira conversão e consequentemente santificação, tem implicações individuais e também coletivas. Semana passada falamos sobre as marcas da vida cristã na família. Hoje veremos como o meu relacionamento com Jesus reflete na minha relação com o trabalho.
Colossenses 3.22–4.1 NAA
22 Servos, obedeçam em tudo a seus senhores aqui na terra, não servindo apenas quando estão sendo vigiados, visando somente agradar pessoas, mas com sinceridade de coração, temendo o Senhor. 23 Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor e não para as pessoas, 24 sabendo que receberão do Senhor a recompensa da herança. É a Cristo, o Senhor, que vocês estão servindo. 25 E quem fizer injustiça receberá em troca a injustiça feita. E nisto ninguém será tratado com parcialidade. 1 Senhores, tratem os seus servos com justiça e igualdade, sabendo que também vocês têm um Senhor no céu.
Igrejas cujo os membros são justos, honestos, trabalhadores e comprometids com o bem comum, por amor ao Senhor, manifestam, manifestam alegria e gratidão no viver. O contrário disso é uma vida de amargura, insatisfação e um coração cheio de sentimentos de injutiça e rebelião. Essa alegria e gratidão reflete na forma como eu lido com o trabalho. Este talvez seja um tema mais simples dessas implicações, mas talez um dos mais difíceis de entender por razões da épca. Primeiro, não tente compreender o homem oriental com a mente ocidental. Não tente interpretar algo do século primeiro com sua mente no século XXI.
Em primeiro lugar o que precisamos entender: A bíblia não faz apologia a escravidão. Na verdade a fé cristã, a ética cristã foi fundamental na história para acabar com esse regime. O que vemos é a igreja nascendo em um mundo que a relação trabalhista era essa. Esse era o normal, era socialmente aceito, esse era o legal. Então, o que a ética cristã faz? Incentiva uma revolução ou qualquer ato rebelde? Não. Por que a fé cristã faz algo que nenhum sistema pode fazer, muda mentes e corações, e apartir dessa mudança ela trata os exageros e os aspectos pecaminosos nessa relação. Aponta para práticas, que embora legais, não cabiam para servos e senhores cristãos. Quer um exemplo claro? Estude a carta a Filemon, um pequeno livro da bíblia que consiste no conselho de Deus a um escravo fugitivo, chamado Onésimo e seu Senhor Filemon. Paulo encoraja a Onésimo a retornar para o seu trabalho como servo de Filemon, por outro lado ele escreve a Filemon encorajando a receber seu servo Onésimo como irmão em Cristo, com graça e não conforme a lei da época o autorizava. Paulo manda a carta para Filemon mandando ele recebê-lo como um irmão. A lei permitia que Filemon ao receber um servo fugitivo e matá-lo ou marcar a sua testa com um ferro quente. Parece escandaloso para nós, e de fato é, mas era algo comum e aceito pela sociedade judaica e também greco-romana da época.
O Novo Testamento na carta a Filemon e também aqui em Colossenses não contesta o sistema de escravidão em si, mas orienta escravos e senhores convertidos a partir do princípio que ambos são servos de um único Senhor, logo determinadas práticas e leis não cabem a partir dessa nova natureza.
Daí, tiramos o primeiro princípio, nem tudo que é legal é moral. Nem tudo que a lei permite cabe a cristãos, e isso inclui as relações de trabalho entre patrões e empregados cristãos. Não caia no engano de achar que essa instrução bíblica não tem nenhuma importância para você porque o regime de trabalho da época não faz parte da sua realidade. Você pode pecar da mesma forma dentro de uma relação trabalhista atual e legal.
Paulo dedica primeiramente quatro versículos para falar como deve ser um a conduta de um funcionário cristão. Nos deveres de esposas, maridos pais e filhos, ele dedica apenas um versículo para cada. Porque essa atenção aos funcionários, quatro versículos?

Empregados

Paulo dedica esses quatro versículos aos empregados para nos trazer o princípio que é fundmental para o funcionário Cristão realizar o seu trabalho de todo coração, não somente quando o seu patrão está olhando. Para o crente, o trabalho tem um caráter espiritual. O empregado cristão deve ser o melhor funcionário de uma empresa. Deve ser modelo e exemplo para os outros trabalhadores. Seu bom nome vale mais do que riquezas. Ele trafega do trabalho para o templo com a mesma devoção. Sua carreira profissional é litúrgica, pois faz do seu trabalho um tributo de glória ao Senhor. Não seja medíocre (estar na média) , seja uma referência de comprometimento, produtividade, pontualidade, honestidade, lealdade e generosidade. O funcionário publico cristão constrange o mundo com uma postura totalmente diferente com a atitudes de muitos que optam por essa carreira. Você contrataria um funcionário como você? Se você respondeu não, sendo você falho e pecador, imagine Deus que perfeitamente justo?
Deus nos fala também que nem sempre a recompensa que esperamos dos homens vem do jeito que a gente quer, e mesmo que isso ocorra, nós devemos continuar servindo a Deus com o trabalho. E ao mesmo tempo descansar na promessa de Deus que nenhuma injustiça desse mundo ficará impune (injustiça sob a pespectiva de Deus, a despeito da justiça dos homens).

Patrões

Lembra que falamos na semana passada que a ética cristã não é injusta, que todas as partes tem devees e direitos. Pois é, para o cristão que está em uma posição de liderança no trabalho ou é até mesmo o patrão, existem deveres prescritos nas Escrituras Sagradas. Ser patrão não é pecado, não te coloca automaticamente um uma posição de opressão como a teoria da guerra de classes propõe, mas como em qualquer outra posição de liderança, isso pode ocorrer. Então, para um cristão autêntico, a sua posição em si não é pecado, mas deve ser para a glória de Deus. Após falar da dedicação dos servos, Paulo volta sua atenção aos senhores. “Senhores, tratai os servos com justiça e com eqüidade, certos de quem também vós tendes Senhor no céu” (4.1). Paulo combate aqui a exploração dos servos e empregados pelos seus senhores e patrões.
Aqueles que estão em posiçao mais alta hierarquicamente devem saber que tem uma autoridade sobre si que é o Senhor. De Deus, empregados e patrões são servos da mesma forma. À luz do temor que se deve a Deus, patrões e líderes devem tratar seus empregados e subordinados com justiça e equidade, sabendo que um dia irão prestar contas disso.
A exploração desagrada a Deus (4.1).
Os senhores precisam tratar os servos com justiça e eqüidade.
Explorar os empregados, sonegar-lhes direitos e o salário (Tg 5.4–6), oprimi-los, ameaçá-los (Ef 6.9) ou tratá-los como seres inferiores é um grave pecado contra Deus.
O Dr. Russell Shedd diz corretamente que o maior dentre os homens não passa de um mordomo, administrando o que não lhe pertence. O patrão cristão não é aquele que se aproveita de circunstâncias e até mesmo brechas da lei para explorar seus empregados, mas aquele que lhes paga um salário justo e lhes dá condições dignas de trabalho. O patrão justo não é aquele que oprime e ameaça seus empregados com palavras duras, mas aquele que reconhece os seus trabalhadores. A Bíblia exalta o trabalho, que dele deve vir o sustento, e se Deus te deu a oportunidade de gerar trabalho/emprego, reconheça o trabalho dos seus empregados, mostre na prática que o trabalho vale a pena.
Está é uma questão tão espiritual que Deus escuta a voz do trabalhador que teve o salário retido com fraude (Tg 5.1–6). Deus ouve o gemido do trabalhador explorado. A exploração é um atentado contra o senhorio de Cristo (4.1). Os senhores precisam entender que também estão debaixo do senhorio de Cristo. Eles também prestarão contas de sua administração a Jesus. Eles também são mordomos de Deus e estão sob o Seu justo julgamento. Se senhores e escravos reconhecem que devem obediência ao único Senhor, então ambos têm em mãos o padrão verdadeiro para sua conduta uns para com os outros.
O empregado infiel assim como o patrão injusto não ficarão impunes. Eles colherão o que plantaram. O apóstolo Paulo é categórico: “Pois aquele que faz injustiça receberá em troco a injustiça feita; e nisto não há acepção de pessoas”. Enquanto a teoria de guerras de classe colocam o empregado como vítima de um sistema opressor e legitimando qualquer ato de insubumissão, Deus ele diz em sua palavra que não faz acepção de pessoas. Sendo assim, como pecamos na nossa relação com o trabalho?
Pecados relacionados ao trabalho:
Preguiça - Não gostar de trabalhar, se apoiar em circunstâncias para não trabalhar (Descanso porque produziu muito é diferente de não conseguir produzir nada). Deus exalta o trabalho, ele quem determinou que é através dele que deve vir o sustento. Não gostar de trabalhar, de produzir é pecado.
Workaholic - Nome bonito para viciado em trabalho. Não respeito o descanso, priorizo o trabalho a família mesmo sem precisar , faço do meu trabalho a minha fonte de realização e não trabalho para a glória de Deus. Muitos de nós cresceram em uma cultura onde trabalhar sem descanso é uma virtude, aqueles que nunca param são vistos como heróis. Em Gênesis 2 vemos a dinâmica do próprio Deus em relação ao trabalho.
Gênesis 2.1–3 NAA
1 Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e tudo o que neles há. 2 E, havendo Deus terminado no sétimo dia a sua obra, que tinha feito, descansou nesse dia de toda a obra que tinha feito. 3 E Deus abençoou o sétimo dia e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, tinha feito.
Quando olhamos para a criação, vemos um Deus que executou com execlência, criatividade, bondade e amor o maior trabalho de todos os tempos, e no final descansou. Quando olhamos para a cruz, vemos a obra de Cristo de entrega por nós.
O evangelho é capaz de proporcionar um novo enredo e conceito para o trabalho, e essa ressignificação coloca tudo no seu devido lugar: fazer tudo com excelência, ética, integridade e, principalmente, colocar o descanso no mesmo patamar que Deus colocou em Sua obra criadora. Antes de finalizar gostaria de citar um trecho do livro "Como integrar fé e trabalho do Pr Tim Keller":
“Quando afirmamos que os cristãos trabalham a partir de uma cosmovisão bíblica, isso não significa que vivem falando sobre os ensinos da Bíblia no local de trabalho. Algumas pessoas acham que o evangelho é algo que devemos “enxergar” no trabalho. Se fosse assim, os músicos cristãos deveriam tocar apenas música cristã, os escritores cristãos deveriam escrever histórias de conversão e os executivos cristãos deveriam trabalhar em empresas que ofereçam produtos e serviços cristãos para clientes cristãos. É verdade que alguns cristãos que trabalham nessas áreas fariam bem, às vezes, em agir assim, mas é um erro pensar que a cosmovisão cristã está atuando apenas quando estamos envolvidos em atividades notoriamente cristãs. Ao contrário, pensemos no evangelho como um par de lentes por meio das quais “enxergamos” tudo no mundo. Os artistas cristãos, quando são fiéis em sua arte, não são motivados unicamente por lucro nem por mero prazer de se expressar; e, por certo, contarão a mais ampla variedade de histórias. Para os cristãos que trabalham no mundo corporativo, o lucro será apenas um de vários resultados, e trabalharão de corpo e alma para qualquer tipo de empresa que sirva ao bem comum. O escritor cristão pode mostrar continuamente o desastre que é transformar qualquer coisa que não seja Deus em foco central da vida, e podem fazer isso até mesmo sem mencionar Deus diretamente”.

Conclusão

Como você tem se relacionado com o trabalho? Como você tem se agido com os seus superiores? Como você tem tratado os seus funcionários? Enquanto a cultura, o mercado e até mesmo ganância que são socialmente aceitos e até legais no mundo que a gente vive, o evangelho em várias situações nos aponta para uma outra direção. Aquem você deve fidelidade? Sua mente é orientada pelo mercado ou pela Palavra de Deus?
Quando Deus diz que não é possível servir a dois senhores, a Deus e a Mamón, ele está se referindo a todo sistema que prioriza o dinheiro à Ele e a vida que Ele estabelceu para nós como seus filhos. Quando a palavra final nas minhas decisões é o mercado e não a minha identidade como filhos de Deus.
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