Mateus 13.1-23

Série expositiva no Evangelho de Mateus  •  Sermon  •  Submitted
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O autor demonstra por meio dos discursos de Cristo, a dinâmica do Evangelho do Reino e seus efeitos sobre todos os que o ouvem: a divisão natural entre os que foram destinados à vida, e os que não o foram.

Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
Ao expor a dinâmica do Reino que divide os homens entre os que, pelo poder do Espírito, ouvem a mensagem do Evangelho, e os que o rejeitam, Mateus inicia o capítulo 13 de seu texto, ampliando o programa do Reino, demonstrando os desdobramentos da revelação do Messias - Cristo Jesus -, e a reação que tal revelação causa no público a quem o Senhor anuncia a salvação.
Muito do que fora dito anteriormente ecoa através deste capítulo, como por exemplo a temática da resistência de muitos quanto ao anúncio do Evangelho. Entretanto, o foco central é a elucidação dos efeitos da chegada do Reino entre os eleitos de Deus, e a reação do mundo diante de tal evento. Para isso, o autor concentra neste capítulo um grande número de parábolas e interpretações, que elucidam e demonstram essa realidade: a mensagem é transmitida à todos, mas somente os eleitos a compreendem, pois somente a estes foi concedido o discernimento no Espírito para tal (v.11).
Assim, o autor estaria demonstrando na prática, não mais os efeitos da pregação do evangelho na vida dos agentes do Reino, isto é, não está mais em evidência a temática da perseguição ao Evangelho, embora posteriormente esse tópico volte a ser tratado, mas a ênfase neste caso reside na reação inevitável que o anúncio da salvação causa em todos os que a ouvem. Tendo Cristo já exemplificado que aquela geração era rebelde, e após clarificar o motivo da rebeldia (i.e. a operação do erro em seus corações), agora o Senhor Jesus dedica-se a exibir a veracidade da dinâmica divisória do Reino entre os filhos do Pai celeste, e os perdidos.
Mediante essas conclusões, a tese central do texto de Mateus 13.1-23 é o efeito distintivo da mensagem do Reino.
Elucidação
Novamente o cenário referido por Mateus são as exposições de Cristo às multidões:
Mateus 13.1–3 RA
Naquele mesmo dia, saindo Jesus de casa, assentou-se à beira-mar; e grandes multidões se reuniram perto dele, de modo que entrou num barco e se assentou; e toda a multidão estava em pé na praia. E de muitas coisas lhes falou por parábolas e dizia: Eis que o semeador saiu a semear.
Considerado as grandes seções do Evangelho de Mateus em que há registros dos discursos de Cristo, é possível aplicar o mesmo padrão de operação de anúncio da mensagem do Reino, isto é, não há uma mudança ou alteração no efeito da pregação de Jesus; tanto na ocasião do sermão da montanha, por exemplo, quanto agora, a exposição da realidade redentora por meio da obra messiânica de Cristo não é recebida por muitos, senão por aqueles que foram destinados à vida, naquele primeiro momento (e.g. os discípulos e alguns outros). Assim, o que se aplica como "modus operandi" aqui, estende-se às outras parábolas de Cristo.
Dos versos 3 ao 9 o autor expõe a parábola do semeador, e o ponto “curioso” é que não há qualquer menção a uma explicação às multidões. Embora a situação figurada na parábola seja extraída do cotidiano dos ouvintes, a pretensão de explicar a dinâmica do Reino não é encontrada, e somente a partir do versículo 10, de maneira privada, a razão para isso é exibida.
Os próprios discípulos de Cristo não haviam compreendido bem a motivação do Mestre ao pregar por meio de parábolas - tendo em vista inclusive que até aquele momento, Cristo não havia feito isso - e o questionam, ao que são respondidos com uma assertiva:
Mateus 13.10–11 RA
Então, se aproximaram os discípulos e lhe perguntaram: Por que lhes falas por parábolas? Ao que respondeu: Porque a vós outros é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas àqueles não lhes é isso concedido.
A mensagem do Evangelho anunciada por Cristo não deveria ser compreendida por aquelas pessoas, como parte do juízo divino em bloqueá-las de acessarem as verdades que, se nelas cressem, as salvariam. Essa ideia de juízo inibidor é extraída de um texto de Isaías, citado pelo Senhor em sua resposta aos discípulos:
Isaías 6.9–10 RA
Então, disse ele: Vai e dize a este povo: Ouvi, ouvi e não entendais; vede, vede, mas não percebais. Torna insensível o coração deste povo, endurece-lhe os ouvidos e fecha-lhe os olhos, para que não venha ele a ver com os olhos, a ouvir com os ouvidos e a entender com o coração, e se converta, e seja salvo.
Naquele contexto, o SENHOR emite esta fala a Isaías no momento em que o comissiona ao ministério profético, já adiantando ao profeta que sua mensagem não surtirá efeito no coração do povo até que todas as assolações que o SENHOR enviaria se cumprissem, fazendo o povo ser devidamente punido, mas antes de destruído, seria vivificado por meio da um rebento - uma figura de linguagem do texto para referir-se ao Messias -, que traria a libertação ao povo de Israel e o restauraria à aliança e comunhão com Deus.
Cristo Jesus aponta que naquele momento, ao ter proferido aquela parábola às multidões, a profecia de Isaías estava sendo plenamente cumprida: o povo, apesar de estar diante do Messias, não poderia entender sua mensagem, até que, pelo poder do Espírito, revelando-lhes a identidade de Cristo (i.e. o messias prometido), fossem restaurados.
O juízo de Deus contra o povo de Israel ainda estava operando; apesar de terem sido libertados do cativeiro babilônico, não o foram do cativeiro do pecado, e assim como o quadro anterior havia demonstrado (12.43-45), estavam de tal forma impedidos de crerem no Messias, a tal ponto de a mensagem do Evangelho lhes ser anunciada de maneira incompreensível, embora incompreensibilidade não signifique initelegibilidade, e sim, que seu teor espiritual não pode ser discernido pelo público, tal como o será (como é demonstrado a partir do verso 18) pelos discípulos.
Há uma categorização feita pelo Senhor quanto aos seus ouvintes. Apesar de serem todos judeus, isso não lhes asseguraria a salvação, e neste ponto do Evangelho, tal princípio é usado pelo escritor para expor mais uma vez o alcance global da salvação: a participação no Reino dos céus não estava restrita à nação de Israel, mas era uma dádiva endereçada a todos quantos fossem dado o poder de receberem o Evangelho:
Mateus 13.19–23 RA
A todos os que ouvem a palavra do reino e não a compreendem, vem o maligno e arrebata o que lhes foi semeado no coração. Este é o que foi semeado à beira do caminho. O que foi semeado em solo rochoso, esse é o que ouve a palavra e a recebe logo, com alegria; mas não tem raiz em si mesmo, sendo, antes, de pouca duração; em lhe chegando a angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza. O que foi semeado entre os espinhos é o que ouve a palavra, porém os cuidados do mundo e a fascinação das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera. Mas o que foi semeado em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende; este frutifica e produz a cem, a sessenta e a trinta por um.
Mediante a explicação do próprio Senhor, os elementos da parábola correspondem à realidade daquele momento, e de tudo o que foi visto pelos discípulos ao longo do ministério de Cristo até ali. O semeador é o próprio Messias: o executor do Evangelho. A semente é a Palavra do Reino; o anúncio da salvação. Por fim, os tipos de terra são os tipos de público com os quais Cristo se depara, e embora haja particularidades para cada público/terra, no fim a divisão consiste na existência de dois grupos: os que acolhem a mensagem do Reino e os que não a acolhem.
As razões para o não acolhimento são as mais variadas, revelando aspectos diferentes no impedimento para a recepção do Evangelho pelos ouvintes. Porém, à luz de todas essas dificuldades, como dito, o Senhor Jesus não está se referindo a agentes do Reino que, devido essas circunstâncias, deixaram de o ser; somente o último grupo pertence ao Reino dos céus.
Essa compreensão é direcionada por Mateus ao público-alvo tendo em vista reforçar o quadro que demonstra a razão para o Evangelho não ser recebido por muitos, mesmo com o esforço da igreja em anunciá-lo: não se trata de um problema com a mensagem (i.e. semente) e sim com o receptor (i.e. a terra). Por outro lado, aquele a quem for concedida a salvação, evidenciará isso por meio de suas obras (i.e. frutos) - sua vida clarificará a ação redentiva do Evangelho (v. 23).
J. C. Ryle, comentando esta parábola, especialmente na parte em que Cristo destaca a boa terra, em que a semente germinou, frutificando à cem, à sessenta e a trinta por um (indicativos de gradação na produtividade), afirma:
[...] Deixemo-nos ensinar, alicerçados nessa parábola, que só há uma evidência de que estamos ouvindo corretamente a Palavra de Deus. A evidência é produzir fruto. O fruto aqui referido é o fruto do Espírito. Arrependimento para com Deus, fé no Senhor Jesus Cristo, santidade de vida e de caráter, dedicação à oração, humildade, amor cristão, mente espiritual — essas são as únicas provas satisfatórias de que a semente da Palavra de Deus está realizando o trabalho que lhe é próprio em nossas almas (RYLE, 2018, p.140–141).
Transição
Ecoando o princípio bíblico de salvação e juízo fundidos numa mesma ação divina, Cristo (através do autor humano) direciona esta parábola à sua igreja, tanto para demonstrar-lhes os efeitos da mensagem do Evangelho entre os que não foram eleitos, consolando seu povo quanto ao avanço do Reino, quanto para consolá-los dando-lhes provas inequívocas da eleição: a frutificação pela graça.
Essa ação divisória, retrata as intenções de Deus de glorificar seu nome mediante a seleção que fez na eternidade, levando em consideração exclusivamente sua graça benevolente, salvando aqueles a quem quis para pertencerem ao seu Reino eterno, destinando outros à condenação. A compreensão dessas verdade, assim como o entendimento dessas parábolas, nos informam e apontam o verdadeiro estado de um individuo em relação ao SENHOR.
Assim, as exortações divinas que foram direcionadas a igreja através deste texto, devem ser observadas por nós, por meio das seguintes considerações:
Aplicações
1. A incapacidade de receber o evangelho expressa por muitos (cf. Mt 12), subsiste ao lado da esperança de que a mensagem do Reino será ouvida por aqueles que foram destinados à vida.
Precisamos lidar com a verdade de que o ímpio não entenderá o Evangelho até que em seu coração o Espírito implante a semente da Palavra do Reino, e a faça germinar, e muitos não foram agraciados com a eleição divina realizada na eternidade.
O Evangelho veio causar divisão (cf. Mt 10.34-35), e a divisão mais perene na humanidade consiste entre os que abraçam a cruz de Cristo para a seguirem, e os que não o fazem, e isso só ocorre por vontade divina.
Não se trata de inteligência, ou de conhecimento, ou de moralidade. Os não eleitos não compreendem que estão em perigo; não entendem que suas vidas se perderão por toda a eternidade, e não há nada que possam fazer para mudar isso.
Por outro lado, a igreja é chamada a semear. Apesar de sabermos que ao longo do trabalho, muitas semente cairão à beira do caminho, outras em solo pedregoso, e ainda umas terceiras cairão entre os espinhos, é a certeza de que a Palavra de Deus cairá também em boa terra que nos motiva a divulgar que o Reino dos céus está próximo.
Somos ferramentas do semeador, e ele tem executado seu trabalho por meio de seu povo. Como já visto, isso não é uma opção; é um dever. É assim que a glória de Deus será publicada: salvação e juízo serão anunciados através de uma mesma mensagem: arrependam-se e creiam e Jesus Cristo, o Filho de Deus.
2. A parábola do Semeador nos aponta a graça divina em consolar nosso coração, dando-nos provas de seu amor regenerador: a frutificação no Evangelho.
As últimas palavras direcionadas por Cristo às multidões, exibem a condição da igreja diante de todo o desentendimento causado nos fariseus e demais resistentes ao Evangelho: os eleitos frutificarão.
Essa produção pode variar de acordo com cada indivíduo: uns são mais producentes, isto é, destacam-se no serviço ao SENHOR através da piedade e santidade em suas vidas. Outros, sofrem com alguns pecados e dificuldades espirituais, sendo mais lentos no processo de frutificação. Porém, a certeza latente na fala do mestre, conforta nosso coração: "Outra [semente], enfim, caiu em boa terra e deu fruto: a cem, a sessenta e a trinta por um" (Mt 13.8).
Radicados em Cristo (e apenas por causa dele) nossas vidas evidenciam a transformação realizada por ele. Recebemos o dom da vida, e agora fomos chamados a proclamar sua benevolência e graça, no solo árido de um mundo rebelde, que embora vasto, possui nos mais variados lugares, boas terras, que aguardam a plantação do Evangelho.
Conclusão
O entendimento da mensagem do Evangelho, como aponta nosso Senhor, é a distinção que é operada no coração de seu povo, evidenciando que a semente caiu em boa terra. Em seguida, surgirão os frutos, como adornos da árvore da igreja, cuja raiz é Cristo, nosso Senhor.
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