A providência de Deus em tempos de crise

Exposição em Rute  •  Sermon  •  Submitted
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Introdução

Existe uma música, muito conhecida antigamente do grupo Titãs, o nome da música é epitáfio, e o refrão diz o seguinte: “o acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído”. Por mais que soe entranho em nossos ouvidos, essa é uma ideia que está incutida na mente das pessoas, onde aquilo que acontece em suas vidas é obra do acaso, ou é sorte, ou até mesmo o universo que planejou aquilo para elas.
E essa ideia irmãos está presente até mesmo no meio cristão. Inclusive, tem até uma música também, que é vista por alguns como “gospel”, da Priscila Alcantara com Whindersson Nunes, o trecho do refrão diz o seguinte: “talvez é o que o universo espera de nós”. Ideias como essas estão presentes não somente nas músicas, mas também em filmes e séries, entre outras coisas mais.
Porém, quando nós analisamos as sagradas escrituras, entendemos que não existe essa de acaso, universo ou sorte. O que existe é um Deus que é soberano sobre todas as coisas. Que está assentado no seu trono, e o cetro está em suas mãos e operando ele ninguém pode impedir irmãos. Essa é a verdade das escrituras.
E no livro de Rute isso é muito perceptível, como Deus está dirigindo cada passo desses personagens para um fim glorioso que trará glória e louvor ao nome do Senhor. E o capítulo 2 do livro de Rute demonstra na prática como isso aconteceu nessa história. Portanto, esteja atento aquilo que Deus quer nos ensinar nessa noite.
1. Vamos relembrar
A primeira coisa que quero relembrar aqui é o meu objetivo através da exposição do livro de Rute.
Partindo do pressuposto que Deus é o personagem principal dessa história, o meu objetivo através dessa exposição é olhar para o livro de Rute na perspectiva da soberania de Deus.
Dessa forma analisaremos o livro de Rute não de maneira isolada, mas como fazendo parte de um todo, pois como observaremos, esse livro é uma pequena parte de uma história muito maior.
2. História
A nossa história terminou com a chegada de Noemi e Rute nas terras de Belém de Judá. Após quase dez anos nas terras de Moabe, Noemi enfim está de volta a sua terra natal.
Esse retorno, como já vimos, causou grande reboliço na cidade, estava todo mundo falando da velha e viúva Noemi que retornou com sua nora Rute para Belém de Judá.
E de forma providencial, elas chegaram a Belém bem no início da sega da cevada. E como veremos, essa informação é bastante significativa para o rumo em que essa história tomará.
E o capítulo 2 do livro nos traz mais detalhes a respeito desse retorno. Pois uma colheita estava próxima a começar, e não seria uma colheita qualquer, mas de uma verdadeira reviravolta nessa história.
Mas, sem mais delongas, vamos ao texto.

Desenvolvimento

Eu quero usar o versículo 1 ainda como parte da minha introdução, mas agora uma introdução ao capítulo 2. Pois é isso que o autor do livro faz aqui no versículo primeiro. Vejamos:
1. Um novo personagem
Rt 2.1 “Tinha Noemi um parente de seu marido, senhor de muitos bens, da família de Elimeleque, o qual se chamava Boaz.”
Nós temos aqui a abertura de um novo episódio dessa história, onde temos uma informação nova e aparentemente meio solta, onde somos apresentados a um novo personagem.
Porém, as informações dadas aqui nessa introdução do capítulo acerca desse novo personagem são bem aleatórias e simples. Aguçando ainda mais a curiosidades dos leitores e acrescentando um suspense a história.
Vamos agora analisar essas informações iniciais que temos.
A primeira coisa é: Noemi tinha um parente por parte do seu esposo. E essa informação é essencial para o rumo que está história terá. Então guardemos essa informação.
A segunda coisa é: Esse parente de Elimeleque era rico. Era alguém influente que ocupava uma alta posição social em Belém de Judá.
A terceira informação do texto é: Além de influente, o homem era também do mesmo clã que Elimeleque. E não se engane, essa informação não é repetida. Ele não era um parente distante de Elimeleque, mas ele era do mesmo clã. Ou seja, era um parente próximo sobre o qual as obrigações e deveres de um remidor recaiam sobre ele. Ele era um parente apto a restaurar os direitos perdidos por uma pessoa próxima.
E uma pergunta vem à mente do leitor do livro: Não poderia ele, em algum momento, ajudar as duas viúvas vulneráveis? Não poderia ele ser o remidor lá de Levítico 25.25-27 e Deuteronômio 25.5-11 e cumprir a lei do levirato?
Para quem não sabe, a lei do levirato tinha o objetivo de preservar a linhagem da família do falecido. Ou seja, caso um homem falecesse sem ter gerado um filho com sua esposa, seu irmão solteiro deveria casar-se com a cunhada viúva. Em algumas ocasiões, na ausência de um irmão disponível, um parente próximo poderia casar-se com a mulher viúva.
E então, o narrador acrescenta o nome do personagem: Boaz. Seu nome significa “nele há força”. Esse personagem não é incluído na história por acaso irmãos. Deus está preparando um papel importante nessa história para ele. Mas a forma como tudo isso aconteceria permanece em aberto.
E aqui irmãos nós já podemos começar a enxergar as teias da providência de Deus, se entrelaçando. Lembra lá do tapeceiro? Que falamos na última exposição. Pois é, o capítulo 1 talvez fosse um verdadeiro emaranhado de fios, que ao olhar não víamos muita beleza, mas o capítulo 2 nos mostra Deus agindo de forma providencial e começando a entrelaçar os fios para completar a sua obra na vida desses personagens.
Mas vamos continuar no nosso texto.
2. A atitude de Rute
Rt 2.2 “Rute, a moabita, disse a Noemi: Deixa-me ir ao campo, e apanharei espigas atrás daquele que mo favorecer. Ela lhe disse: Vai, minha filha!”
Rute, a Moabita. Essa menção do versículo 2 acontece cinco vezes no livro. E acredito que possa ter uma significância interpretativa, pois através dessas sutilezas no texto, o autor pretende que o leitor sinta a raça como barreira entre Rute e a sociedade em geral.
O versículo 2 ainda nos informa que Rute tomou uma atitude: Deixa-me ir aos campos.
Provavelmente não fazia muito tempo que elas tinham chegado de viagem. E uma viagem longa. Mas Rute não liga para o cansaço pois ela tomou para si a responsabilidade do cuidado para com Noemi.
Afinal de contas elas precisavam comer. A comida não vai aparecer sozinha na mesa. Apesar delas estarem na terra prometida, a dispensa está vazia.
Ela sabe que sua sogra está debilitada, tanto fisicamente como emocionalmente, e sem condições de trabalhar. Ela entende sua responsabilidade e resolve agir diante disso.
E o texto segue dizendo que “apanharei espigas atrás daquele que mo favorecer”. O direito de apanhar espigas era garantido por lei. Era direito dos pobres, viúvas e órfãos ir aos campos apanhar aquilo que caia ao chão da colheita. Olha o que diz lá em Levítico sobre essa lei:
Lv 19.9-10 “Quando também segares a messe da tua terra, o canto do teu campo não segarás totalmente, nem as espigas caídas colherás da tua messe. Não rebuscarás a tua vinha, nem colherás os bagos caídos da tua vinha; deixá-los-ás ao pobre e ao estrangeiro. Eu sou o Senhor, vosso Deus.”
E como é que acontecia esse trabalho? Primeiro, na colheita havia a seguinte divisão de trabalho: os homens faziam o trabalho mais duro de agachar e cortar os feixes. As mulheres iam seguindo atrás juntando e atando os feixes. À medida que esse trabalho ia sendo feito, um pouco do produto ia ficando pelo caminho. Desse pouco que sobrava pelo caminho, os forasteiros e necessitados podiam apanhar para a sua própria provisão.
Essa frase de Rute talvez demonstre falta de conhecimento dessa lei, pois ela pretendia pedir permissão antes de colher. Ou talvez fosse apenas precaução mesmo, até por que os dias eram difíceis, lembra que era o período dos juízes, e Rute era uma mulher vulnerável, então todo o cuidado era pouco ali.
Noemi então concordou com a petição de Rute. É até um pouco curioso isso, por que para uma pessoa tão tomada pela a amargura, como vimos anteriormente, Noemi foi até afetuosa aqui com sua nora.
Aplicação
A primeira coisa irmãos que podemos aprender nesse texto é com relação a essa atitude de Rute, que é bastante significativa e valiosa para o nosso aprendizado. E nos leva a pensar: Esperar em Deus ou agir?
Rute nos ensina que a Soberania de Deus não anula a responsabilidade humana. E esse é o principal tema desses versículos que lemos.
Rute entendeu isso. Ela entendeu que não estava em posição de exigir nada de Deus. Ela entendeu a sua responsabilidade e agiu diante disso. Ela não ficou de braços cruzados esperando o milagre acontecer.
E quantas e quantas vezes irmãos nós agimos de forma contraria a essa atitude de Rute. Ficamos de braços cruzados esperando o milagre a acontecer.
Achamos que aquele emprego que tanto almejamos vai cair do céu. E acabamos não nos preparando para o mercado de trabalho, não mandamos curriculum, não atualizamos o perfil no LinkedIn.
A moça ou o rapaz quer encontrar alguém para namorar e casar. Mas não passa um perfume, não arruma o cabelo, não conversa com ninguém, não faz amizades. Acha que a pessoa vai cair do céu e Deus vai dizer é esse.
Queremos que pessoas se convertam ao evangelho, mas não queremos ter o trabalho de evangelizá-las. Queremos que simplesmente elas brotem do chão como flores dentro da igreja.
Devemos sim orar por essas coisas, mas também devemos agir. Combinando oração com ação. Tendo em mente que Deus está agindo por meio de nossas ações também, inclusive dos nossos esforços.
Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta (Tiago 2:17).
Outra coisa que podemos aprender é que esse trabalho de apanhar espigas não era um trabalho de muito glamour, mas em nenhum momento você vê Rute reclamando da sua situação. Você não vê Rute dizendo para o Senhor coisas como: Eu deixei minha terra, minha família, meus deuses para apanha espigas no campo? Onde está o Deus de Israel que não vê a minha situação.
Pensando nisso, quantas vezes nós não murmuramos dos nossos empregos, reclamamos da função que exercemos e nunca estamos satisfeitos com a posição que Deus tem nos colocado. Achamos que Deus tem por obrigação em nos abençoar. E acabamos caindo na autocomiseração.
Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens (Colossenses 3:23).
E Rute simplesmente sai irmãos, confiando que o Deus de Israel irá direciona-la ao campo daquele irá favorece-la.
3. Acaso ou providência?
Rt 2.3 “Ela se foi, chegou ao campo e apanhava após os segadores; por casualidade entrou na parte que pertencia a Boaz, o qual era da família de Elimeleque.”
Agora no versículo 3 o autor resume como foi esse dia de trabalho de Rute no campo. Ela saiu, chegou e apanhou após os segadores.
Mas essa não é a informação mais importante desse versículo, mas o que se seque sim. O autor diz que: “por casualidade entrou na parte que pertencia a Boaz”.
Algo surpreendente acontece naquele belo dia de trabalho. Seria casualidade? Sorte? Destino? Ou o universo? Rute vai parar justamente nos campos de Boaz. Aquele personagem que foi sutilmente introduzido no versículo 1.
O verbo e o substantivo do hebraico utilizados nessa frase, descrevem eventos acidentais, aqueles sem propósito nem causa óbvia ou específicos.
Porém, quando analisamos o contexto e o livro como um todo, fica claro que a intenção do autor é causar espanto e o sentimento de surpresa nos leitores. Que ao lerem essa parte da história sorriem e dizem: “Acidente? Seeei”.
É claro que não é acidente irmãos! Deus está envolvido nessa história, e aqui isso fica muito claro. No capítulo 1 o autor já demonstrou o envolvimento de Deus nessa história, e aqui no capítulo 2 ele só está dando continuidade aquilo que ele começou.
É a mão oculta do Senhor que está por trás de todos esses acontecimentos de forma providencial disfarçado de acidental, regendo de forma magistral os passos de Rute até os campos de Boaz com um propósito, como nós veremos a seguir.
De forma providencial, Rute deixou de ir para os campos de outros belemitas. Para ela, era só mais um dia de trabalho, mas para Deus era o dia em que sua história, assim como a de sua sogra, mudariam de uma vez por todas.
E no final do versículo, o autor nos lembra novamente, que Boaz era da mesma família de Elimeleque. A mesma expressão que ele usou no versículo 1. Essa informação pode até parecer um pouco redundante, mas acredito que o autor tinha o objetivo de encorajar a especulação por parte dos leitores sobre as possibilidades futuras agora que Rute fez contato com a propriedade de Boaz.
Aplicação
A mensagem central desse capítulo irmãos é que a casualidade humana tem como pano de fundo a providencia divina.
O que para Rute era só mais um dia, se tornaria o dia em que a tragedia de um passado doloroso abriria espaço para um futuro glorioso.
Talvez Rute pensasse que foi uma mera coincidência em um conjunto de circunstancias não planejadas, mas na verdade foi parte do cuidado gracioso de Deus.
Irmãos, não existe casualidade. Existe um Deus que é soberano e guia as nossas vidas, assim como guiou os passos de Rute. Devemos encarar nossas vidas dessa forma.
Como dizia Francis Schaeffer: a vida é composta de dois andares. No andar debaixo, pensamos que as coisas acontecem por casualidade, mas, no andar de cima, temos a garantia de que as mãos de Deus dirigem nosso destino. As casualidades humanas são na verdade providências divinas.
Quantas e quantas vezes irmãos, acontecem coisas em nossas vidas que inicialmente encaramos como acaso, mas na verdade, quando paramos e pensamos, percebemos que foi a boa mão do Senhor, nos livrando, nos direcionando, nos açoitando.
Jerry bridges, em seu livro: Deus está mesmo no controle? Ele diz o seguinte sobre a providencia de Deus: “A providência de Deus é Seu constante cuidado e governo absoluto sobre toda a Sua criação para Sua glória e para o bem do Seu povo”.
Devemos nos lembrar dessa lição importante do texto irmãos. Coisas casuais à nossa vista na verdade são planejadas pelo Todo-Poderoso. Não há acaso. Este simples fato deve trazer conforto ao nosso coração irmãos. Deus sabe a situação de sua família, o sofrimento escondido que só você conhece. Ele está agindo, Ele está no controle.
Assim como isso pode te trazer conforto, também pode te trazer terror. Pois Deus também vê o seu pecado que ninguém sabe, e ele não te deixará impune diante dessas coisas. Ele julgara! Lembra da fome do capítulo 1? Aprendemos que aquilo não foi uma casualidade, mas sim a mão de Deus pesando sobre o seu povo a fim de conduzi-los ao arrependimento.
E ele fará a mesma coisa com você, que está vivendo na prática do pecado e não se arrepende, não confessa e não abandona esse pecado.
As coisas que você diz que são “azar”, na verdade pode ser Deus querendo te ensinar algo.
Lembrai-vos das coisas passadas da antiguidade: que eu sou Deus, e não há outro, eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim; que desde o princípio anuncio o que há de acontecer e desde a antiguidade, as coisas que ainda não sucederam; que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade (Isaías 46:9,10).
Um ponto que eu gostaria de destacar aqui irmãos antes de seguimos no texto é sobre a soberania de Deus e a responsabilidade humana. No versículo 2 como vimos, destacamos a atitude responsável de Rute, e aqui no versículo 3 vemos Deus exercendo sua soberania, guiando cada passo de Rute naquele lindo dia de trabalho. Uma não anula a outra, na verdade elas se complementam.
4. A soberania de Deus em prover Boaz
Rt 2.4-7 “Eis que Boaz veio de Belém e disse aos segadores: O Senhor seja convosco! Responderam-lhe eles: O Senhor te abençoe! Depois, perguntou Boaz ao servo encarregado dos segadores: De quem é esta moça? Respondeu-lhe o servo: Esta é a moça moabita que veio com Noemi da terra de Moabe. Disse-me ela: Deixa-me rebuscar espigas e ajuntá-las entre as gavelas após os segadores. Assim, ela veio; desde pela manhã até agora está aqui, menos um pouco que esteve na choça.”
Boaz enfim chega no campo. O personagem misterioso que foi sutilmente introduzido no versículo 1 entra em cena. E como disse anteriormente, o seu papel nessa história é de vital importância.
Boaz agora está no mesmo local e ao mesmo tempo que Rute. Os dois nunca estiveram tão próximos. E agora o leitor fica torcendo pelo encontro dos dois, esperando uma grande reviravolta na história.
Não sabemos ao certo se houve um intervalo de tempo grande entre a chegada de Rute ao campo e a chegada de Boaz. O que sabemos é que a chegada do personagem aconteceu após a chegada de Rute. Boaz provavelmente havia saído à trabalho, após os seus servos terem iniciado o serviço no campo.
A presença de Boaz ali, presumivelmente foi para inspecionar o progresso da colheita. Eu imagino Boaz chegando e os seus ceifadores todos comentando uns com os outros: o patrão chegou, se liga aí pessoal que o homem tá de olho.
Aparentemente, Boaz era uma dessas pessoas que acreditava que a fé deve fazer parte do trabalho diário, porque seu cumprimento aos empregados foi: O Senhor seja convosco. E essa não era uma saudação muito comum, pois a maioria dos israelitas se saudavam com um simples shalom. Talvez, essa seja uma saudação especial dada na época da colheita.
Não sabemos ao certo o motivo para tal saudação, mas o que sabemos é que o objetivo de Boaz era encorajar os trabalhadores dizendo que Deus estava presente com eles, abençoando seu trabalho.
E os ceifeiros respondem tal saudação de Boaz com um: o Senhor te abençoe. Talvez isso também tenha sido uma formula usada especialmente na colheita, tanto para saudar os outros como para rogar a provisão de Deus de uma colheita abundante.
Mas, o que é interessante aqui nessa troca de saudações entre Boaz e seus empregados é que o autor do livro, de forma sutil e simples, mais uma vez indica a presença de Deus no cenário em que a história se desenvolve.
O texto segue, e somos informados que algo chamou a atenção de Boaz e o fez pausar naquele momento. Boaz, como um bom patrão, conhecia a todos aqueles que trabalhavam para ele. Porém, tem uma moça ali que não faz parte dos seus empregados. Então Boaz pergunta ao seu encarregado: De quem é esta moça? Por mais que soe estranho tal pergunta, fazia parte do costume oriental, e também pode indicar que talvez fosse impróprio se dirigir diretamente a uma mulher desconhecida.
E a pergunta de Boaz tem uma resposta longa e detalhada por parte do servo, e tal reposta nos dá mais informações de como foi o dia de trabalho de Rute naquele campo.
Primeiro ele diz que ela é: “uma moça moabita”. Dessa forma o autor relembra ao leitor de forma sutil a procedência estrangeira de Rute e o quanto isso implica em riscos ao trabalho que ela estava exercendo naquele momento.
Depois ele diz que ela: “veio com Noemi da terra de Moabe”. Aparentemente, com essa informação, o autor indica que além da identidade étnica, Rute era mais conhecida por sua associação com Noemi e a volta dela para sua terra natal.
Tais informações do encarregado serviram a um propósito, fornecer um ela literário entre os acontecimentos do capítulo 1 e os do capítulo 2. Fazendo essa ligação direta.
Mas as informações não param por aí, o encarregado em seguida relata uma declaração que Rute lhe fez, provavelmente quando chegou ao campo, ela disse: “Deixa-me rebuscar espigas e ajuntá-las entre as gavelas após os segadores”.
Lembra do que Rute havia falado anteriormente para Noemi? Ela disse: “Deixa-me ir ao campo, e apanharei espigas atrás daquele que mo favorecer”. E foi exatamente isso que ela fez, pediu permissão. Aparentemente, Rute ficou aguardando a chegada do dono do campo, pois o encarregado ou recusou o seu pedido ou não tinha autoridade para concedê-lo.
Essas informações devem ser entendidas como uma transição entre os acontecimentos dos versículos 3 e 4, como um breve resumo da sessão toda.
Rute então fica ali aguardando a permissão para o seu pedido. Esse pedido de permissão indica que Rute estava disposta a ir além do costume normal de recolher, a fim de ter o suficiente para ela e Noemi.
Aparentemente, ela ficou aguardando um longo tempo até a chegada de Boaz. Mostrando assim muita firmeza e paciência por parte de Rute. Ela estava disposta a esperar, para agir dentro das prerrogativas daquele que iria lhe favorecer. Demonstrando aqui uma devoção e uma humildade admirável a ser seguida. Ela praticamente fixou residência ali no campo, estando disposta a esperar o tempo que fosse necessário, até a chegada daquele que lhe daria permissão para fazer seu trabalho.
Aplicação
O que nós podemos aprender nessa sessão dos versículos 4-7?
A primeira coisa que eu aprendo é com Boaz. Ele faz do seu trabalho um tributo de glória ao Senhor. Através da forma como ele encara o seu trabalho e como ele trata os seus funcionários. Ele é um homem rico de posses, mas não é mesquinho ou avarento. Pelo contrário, é um homem generoso, que está disposto a ajudar aqueles que precisam. E isso se evidenciará no decorrer da história.
Ele não dicotomiza a vida entre secular e sagrado. Para ele tudo é sagrado. O seu relacionamento com os seus empregados revela o seu intimo relacionamento com Deus. E no antigo testamento isso é muito comum, não existe essa separação entre sagrado e secular. O todo da vida é vivido diante da face de Deus.
Então aqui, mais uma vez quero falar sobre trabalho. Primeiramente com você, que é patrão, ou exerce alguma função de liderança. Como você tem tratado os seus encarregados? Com gentileza ou com rispidez?
Não se engane, o seu relacionamento com o seu próximo diz muito como é o seu relacionamento com Deus.
Ou você acha que Deus não se importa ou não está envolvido no seu trabalho e no seu dia a dia? Você acha que Deus só está envolvido com a sua vinda na igreja duas vezes por semana, e você acredita que isso é o suficiente para alimentar o seu lado sagrado. E quando você saí por essas portas, você passa a viver sua vida secular.
Não se engane. Deus está envolvido em nossas histórias. Por isso glorifiquemos a Deus em toda a nossa forma de viver, não somente em nosso trabalho, mas em tudo aquilo que fazemos. Lembremos das palavras do apostolo Paulo em 1 Coríntios 10:31: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”.
Outra coisa que é possível aprendermos através da analise desse texto é que: as vezes a melhor demonstração do cuidado soberano do Senhor se dá por intermédio de pessoas chave que Ele coloca em nossas vidas.
Vejam só as condições favoráveis que Deus está provendo para Rute na pessoa do dono do campo Boaz, e não somente para ela, mas também para a sua sogra Noemi. Que anteriormente, por conta de toda a amargura que estava sentindo, não reconheceu o cuidado do Senhor em prover a presença de Rute ao seu lado. Que agora está no campo disposta a trabalhar para trazer comida para dentro de casa.
Portanto irmãos, reconheçamos e louvemos a Deus por aqueles que o Senhor tem colocado ao nosso lado.
Maridos, sejam gratos ao Senhor pela sua esposa. Esposas, sejam gratas pelo seu marido. Filhos sejam gratos pelos seus pais. Igreja, sejamos gratos pelos nossos irmãos. Pois se temos uns aos outros é porque Deus tem cuidado de nós.

Conclusão

Para concluirmos irmãos. Que texto maravilhoso, onde podemos aprender sobre um Deus que provê, um Deus que cuida do seu povo, mesmo quando nem percebemos.
Não é obra do acaso, sorte ou universo. Sempre foi Deus, cuidando e abençoando o seu povo.
Mas, perguntas ficam no ar. E agora, será que Boaz irá enfim ajudar Rute? A história de Rute e Noemi enfim terá um final feliz?
A reposta para essas perguntas nós só teremos na nossa próxima exposição, onde analisaremos um diálogo muito interessante entre Boaz e Rute. Diálogo esse que será determinante para o desfecho que essa história terá. Afinal de contas, aquele dia de trabalho ainda não havia acabado, ainda havia muita coisa para acontecer.
Mas isso é cena para os próximos capítulos.
Vamos orar.
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