Mateus 13.24-39; 36-43

Série expositiva no Evangelho de Mateus  •  Sermon  •  Submitted
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O autor continua expondo as explicações parabólica de Cristo quanto a dinÂmica distintiva do Reino, desta feita, através da noção dissociativa entre os filhos de Deus e os filhos do maligno.

Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
Expandindo a compreensão quanto aos efeitos distintivos que a mensagem do Reino causa, especificamente a divisão entre os que, compreendendo o Evangelho, são chamados ao Reino, em detrimento daqueles a quem “não é isso concedido” (v.11), permanecendo na ignorância de seus pecados e de sua natureza corrupta, negando que Cristo é o Messias, como fazem por exemplo os fariseus.
Nesta outra parábola, a dinâmica e programa do Reino são ainda mais explicitados aos discípulos, desta feita, relatando não somente a incapacidade de os não-eleitos serem salvos, mas também rememorando de maneira mais abrangente - tendo em vista que já fora dito que a causa dessa rejeição era a natureza pecaminosa e a operação do erro por Satanás - que os mesmos pertencem ao grupo rebelde, composto pelos filhos da serpente (cf. vs.38 "filhos do maligno").
A fim de que possa expandir outros conceitos complementares a partir de outras parábolas, somente no versos 36-43 o autor retorna à explicação concedida por Cristo desta.
Mediante estas considerações, constatamos que a tese central enfatizada por Mateus nesta próxima seção e parábola é a exposição da divisão básica da humanidade mediante o anuncio da mensagem do Reino.
Elucidação
A seção é iniciada com a menção à outra parábola a ser proferida por Jesus: "outra parábola lhes propôs" (v.24). Nesta, o Senhor Jesus esclarece a lógica fundante do argumento que vem construindo quanto a impossibilidade de os réprobos receberem o Reino e serem recebidos nele. Como dito, tanto a operação do erro por Satanás (Mt 13.19; 12.43-45), quanto a natureza corrupta dos corações dos ímpios (Mt 12.34), são a resultante da vontade divina em proscrever alguns de seu Reino devido seu decreto, e condição de rebelião destes.
Diante disso, agora Mateus passa a observar que essa determinação soberana incide uma divisão natural na humanidade, distinguindo-a em dois grupos: os eleitos, chamados na parábola de “trigo”, e os não eleito, identificados como “joio”.
Assim, a presente parábola fornece uma noção imaginária de como essa divisão está estruturada e qual é sua finalidade, como Cristo argumenta:
Mateus 13.24–30 RA
Outra parábola lhes propôs, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um homem que semeou boa semente no seu campo; mas, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo dele, semeou o joio no meio do trigo e retirou-se. E, quando a erva cresceu e produziu fruto, apareceu também o joio. Então, vindo os servos do dono da casa, lhe disseram: Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde vem, pois, o joio? Ele, porém, lhes respondeu: Um inimigo fez isso. Mas os servos lhe perguntaram: Queres que vamos e arranquemos o joio? Não! Replicou ele, para que, ao separar o joio, não arranqueis também com ele o trigo. Deixai-os crescer juntos até à colheita, e, no tempo da colheita, direi aos ceifeiros: ajuntai primeiro o joio, atai-o em feixes para ser queimado; mas o trigo, recolhei-o no meu celeiro.
Tal como ocorreu na parábola do semeador, novamente Cristo é indagado pelos discípulos quanto ao sentido ou significado dela, o que serve ao autor do Evangelho como sendo um meio através do qual aquele primeiro princípio que norteou o anúncio daquela primeira parábola se aplique também a esta, qual seja: ocultar o mistério do Reino aos réprobos, revelando-o aos eleitos. Por isso, o Senhor novamente concede a revelação do significado da parábola nos seguintes termos:
Mateus 13.36–42 RA
Então, despedindo as multidões, foi Jesus para casa. E, chegando-se a ele os seus discípulos, disseram: Explica-nos a parábola do joio do campo. E ele respondeu: O que semeia a boa semente é o Filho do Homem; o campo é o mundo; a boa semente são os filhos do reino; o joio são os filhos do maligno; o inimigo que o semeou é o diabo; a ceifa é a consumação do século, e os ceifeiros são os anjos. Pois, assim como o joio é colhido e lançado ao fogo, assim será na consumação do século. Mandará o Filho do Homem os seus anjos, que ajuntarão do seu reino todos os escândalos e os que praticam a iniquidade e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes.
Os elementos mais uma vez são arranjados e estruturados de maneira a que agora possam ser vistos através do locus da realidade. Em que pese isso, o pano de fundo da parábola é a história redentiva que encerra o conflito cósmico entre os filhos de Deus e os filhos do maligno, os quais possuem um designação primeva, se levarmos em consideração este tema à luz do Cânon como um todo. A guerra cosmológica entre as forças rebeldes contra o Reino do Criador, anunciada em Gênesis 3.15 é o pilar responsável por construir a conceituação apresentada pelo Senhor neste texto.
Tendo se insurgido contra o Criador, o diabo não somente tentou levar a criação à corrupção, como também implantou (cf. "semeou" v. 38b) nela sua própria semente, que ao longo das eras tem travado ferrenho combate contra o povo de Deus. Porém, tal como fora prometido, o momento em que ambos serão devidamente separados também fora determinado, e isso não aconteceu ainda "para que, ao separar o joio, não arranqueis também com ele o trigo" (v.29), ou seja, a parábola do joio apresenta um cenário de realização da obra redentiva através da preservação dos eleitos do SENHOR.
Transição
Mateus apresenta aos seus ouvintes/leitores a razão para a convivência da igreja num mundo tão caótico e hostil. Embora a pregação do Evangelho tenha recebido a promessa de ser efetiva naqueles que foram eleitos para a vida (v. 8), nos réprobos ela desperta antagonia e aversão, o que os faz perseguir a igreja. O autor exorta o povo de Deus a observar que a vontade divina mantém as coisas do jeito que estão, não por causa de alguma letargia em consumar a sua obra, e sim para que os eleitos - especialmente os que ainda não abraçaram o Evangelho - sejam preservados do derramar da ira de Deus no dia do juízo.
O que está “adiando” a ceifa, não é a malignidade dos réprobos, é o amor divino pelos justos, preservando-os de serem “arrancados antes do tempo” junto com o joio.
Dessa forma, os princípios a serem observados pela igreja, ao ter recebido este texto, devem também ser analisados e aplicados a nossa vida, mediante as seguintes observações:
Aplicações
1. Precisamos ser pacientes, aguardando o retorno de Cristo, vivendo em mundo que é hostil ao Reino e a seus agentes. Estamos vivendo junto ao joio.
Naturalmente, estar nesse mundo sempre causa em nós um sentimento de estranheza. Estamos aqui, mas claramente o Espírito Santo, todos os dias nos lembra que não somos daqui. Não concordamos com o estilo de vida dos mundanos; não pactuamos com seus princípios; nossas obras são diferentes, e tudo isso, aliado a operação do mesmo Espírito, resulta na glória de Deus que o mundo abomina.
Por sermos agentes do Reino dos céus seremos hostilizados pelos filhos do maligno. Contudo, é mister que tenhamos paciência, não nos conformando com este século (Rm 12.1), mas suportando a convivência com o joio - aqueles a quem não foi dado a graça de pertencerem ao Reino dos céus.
Ter o joio em nosso não deve ser impedimento para que busquemos o trigo, isto é, não podemos nos isolar do mundo, como fazem muitas tradições cristãs, mas estando nele, devemos trabalhar para que o Espírito chame seus eleitos à fé, e assim, complete sua obra, completando o último estágio do processo redentivo, que antecede o retorno do Rei.
O que os leva ao segundo ponto.
2.O amor de Deus por seu povo é que o faz retardar o retorno de seu Filho.
Por que Cristo ainda não voltou? À luz desta parábola já somos capazes de responder a essa pergunta: por ainda não haver eleitos a serem alcançados.
Veremos mais profundamente essa dinâmica no sermão de hoje a noite, em Gênesis 35.16-29, ma, adiantando este aspecto da história redentiva que veremos, e que é a mesma base da ótica do evangelista neste texto, o Senhor Jesus conforta o coração de sua igreja, alimentado a especificativa dos agentes do Reino a trabalharem para que mais eleitos possam abraçar a fé, abreviando os dias que antecedem sua vinda.
Não devemos achar que Cristo está demorando em retornar: na verdade, a espera demonstra seu amor por nós, pois ele deseja que nenhum só se perca (Jo 6.39), e no momento certo (i.e. a ceifa) há de recolher todo o seu trigo no seu celeiro, enquanto que ao joio, restará a execução da devida sentença: ser lançado na fornalha acessa.
Conclusão
J. C. Ryle, comentando esta parábola, encerra suas considerações, observando a glória do Novo céu e Nova Terra, sem a presença do Joio:
Quão lindo será o aspecto do corpo de Cristo, a Igreja, quando, afinal, tiver sido separada dos ímpios! Que bonito parecerá, então, o trigo, recolhido no “celeiro” de Deus, quando, finalmente, todo o joio tiver sido retirado do meio deles! Quão brilhantemente resplandecerá a graça divina quando não mais estiver sendo obscurecida pelo incessante contato com os mundanos e os não convertidos! (RYLE, 2018, p. 145).
Para os justos, tal mensagem é um conforto. Para os ímpios, um terrível ultimato. Por isso pregamos ao mundo: arrependam-se, antes que venha o dono do jardim, e arranque as ervas daninhas que ousaram tirar a beleza de sua plantação.
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