Obediência, a forja da fé
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Obediência, a forja da fé
Êxodo 05
Introdução
“O clima contemporâneo é terapêutico, não religioso. As pessoas hoje anseiam não pela salvação pessoal, sem falar da restauração de uma era dourada mais antiga, mas por um sentimento, uma ilusão momentânea, de bem-estar pessoal, saúde e segurança mental” (Peter Lasch, The Culture of Narcissism).
Porque o Evangelho não é terapêutico? Porque o evangelho não visa necessariamente nosso bem estar. Ele visa os planos de Deus, e nos planos de Deus o sofrimento é inevitável. Logo, procurar o evangelho como uma possibilidade de mero bem estar é paradoxal a própria essência do evangelho, que é um chamado a obediência. E ao sermos obedientes em muitos momentos seremos conduzidos para a forja, para o molde, para a semelhança de Cristo e, Cristo ao encarnar nesse mundo ele não veio atrás de bem-estar, ele veio para em obediência cumprir uma missão.
O que você procura quando procura o evangelho? Não existe “Evangelho terapêutico”, porque o evangelho não é sobre nós, mas sobre Jesus, e antes do nosso bem-estar, o evangelho nos convida a uma fé obediente. “Todo aquele que deseja viver piedosamente padecerão perseguições”. Êxodo 05 nos mostra essa obediência, não como um fim terapêutico, não uma obediência para o bem-estar, mas uma obediência que forja corações segundo os propósitos eternos do Senhor, e é claro que a obediência nos livra de problemas, mas esse não é o fim principal dela.
Exposição do Texto
Nosso texto começa com “Depois, foram Moisés e Arão”. Depois, ele se apresentaram a Faraó, depois eles disseram ao Rei do Egito o que Deus ordenará. Mas, depois do que? Depois de Arão falar as palavras ao povo e depois de Moisés fazer os sinais à vista do povo, depois do povo ver e crer, ver e adorar (Ex 4.31). Depois disso, eles chegam a presença do Faraó em obediência ao SENHOR.
E agora, diante do Faraó, e cheios de esperança e expectativa pela libertação do povo de Deus, Moisés e Arão falam: “Assim diz o Senhor” (v.01). Diferentemente da ação precipitada de Moisés ao matar o Egípcio (Ex 2.11-22), agora, em obediência a DEUS e falando o que Deus ordenou, sendo instrumento, servo, e não senhor, ele diz: “Assim diz o SENHOR”.
Moisés entendeu que o instrumento de libertação não é o libertador. Compreendeu que deveria agir segundo as ordens de Deus e não segundo a forma que ele pensava ser melhor para libertar o povo e mudar a situação.
Agora, preste atenção na resposta do Faraó: “Quem é o Senhor?” Ou seja, quem é esse para que eu ouça sua voz e lhe obedeça? Quem ele pensa ser para que eu liberte o povo? Eu não o conheço e não permitirei que o povo vá! (v.02). Faraó pensava ser Deus e cria de fato que o povo de Israel era propriedade dele.
Voltemos ao verso 01. Quando Moisés e Arão se apresentam a Faraó; algo fica claro na mensagem. Deixa o meu povo ir para que me celebre uma festa, para que sacrifiquem a mim, para que me adorem. Ou seja, Moisés e Arão estão revelando a Faraó que o povo que ele escravizava pertencia a um Deus. Mesmo que há séculos sob o domínio Egípcio, o povo de Israel não era propriedade de Faraó.
A ordem de Deus foi clara: “Deixa meu povo ir, para que me celebre uma festa no deserto”. Ao ser confrontado, ao ouvir que o povo não era dele, não pertencia a ele, mas tinha um Deus específico, Faraó fica contrariado, prova disso foi sua resposta (v.02), “Quem é Yaweh?”.
Assim, de forma breve, Moisés e Arão, passam a dizer ao Faraó quem é o SENHOR. Ele é o Deus de Israel, ele é o dono do povo mesmo que ha séculos esse povo esteja sob o julgo de Faraó. E a ordem de Deus para o Faraó foi clara, liberte o povo, senão virei com pestes e espada (v.03). Mesmo com o aviso recebido, Faraó mantem sua postura de não liberar o povo para adorar ao Senhor. E ainda acrescenta, parem de interromper o povo nas suas tarefas, deixem-nos trabalhar.
Aplicação
Agir em obediência ao Senhor não é sinônimo de que as coisas acontecerão da forma que desejamos e no tempo em que queremos. Você pode ser obediente e fiel ao Senhor, e ainda assim, as coisas em sua vida podem não estar saindo como o esperado.
A obediência é a forja da fé, logo, obedecemos não para que as coisas aconteçam como planejamos, mas obedecemos porque cremos que Deus não dá passos errados, por mais que seus passos sejam maiores que nossa compreensão limitada. Qual foi o resultado da obediência de Moisés e Arão?
No mesmo dia em que falaram com Faraó conforme a ordem do Senhor, a carga de trabalho do povo aumentou, ou seja, a conversa com Faraó, a obediência a Deus, resultou em um sofrimento maior ao povo naquele momento (v.06-07). A obediência não gerou de imediato a libertação desejada, pelo contrário, promoveu um aumento de trabalho e um maior sofrimento ao povo (v.08).
Qual foi o motivo para que o Faraó intensifica-se o trabalho dos israelitas? “estão ociosos e, por isso clamam: Vamos e sacrifiquemos ao nosso Deus” (v.08b). Mas, me parece que mais do que preguiça ou ociosidade, Faraó estava querendo, talvez, mostrar que de fato teria poder sobre o povo. Quem de fato era a autoridade, ou quem de fato era deus sobre aquele povo, e isso explica quando ele afirma serem as palavras de Moisés e Arão, mentirosas (v.09). Mas, o que Faraó não sabia é que ele estava sendo usado para os propósitos de Deus para com o seu povo.
O sofrimento é um dos meios que Deus usa para moldar e fortalece a fé. Fé forte é a fé que passou por sofrimentos, dores, dificuldades e se manteve firme em Deus, “somente uma fé que se abalou, inabalável é” (Os arrais). Aqueles homens que ouviram a mensagem de Arão e viram os sinais realizados por Moisés e, por isso se inclinaram e adoraram, deveriam continuar adorando mesmo em meio ao sofrimento imposto por Faraó (v.12-14). O povo já estava em jugo de escravidão há séculos. Deus se revela, Moisés e Arão em obediência vão até Faraó e o que acontece? O povo é liberto? Não! O sofrimento aumenta, a carga de trabalho é intensificada a ponto de serem chicoteados. Provérbios 13.12: “A esperança que se adia faz adoecer o coração, mas o desejo cumprido é árvore de vida”.
Muitas vezes em nossa peregrinação durante esse jornada de libertação seremos ,por causa da obediência, conduzidos ao sofrimento. O povo em obediência no deserto, no êxodo, se depararam com inúmeros sofrimentos. A obediência é a forja da fé, não porque a obediência é garantia de que o nosso desejo será realizado, mas a certeza de que seremos moldados a imagem de Cristo.
Ilustração
Mojtaba Hosseini, 30, era um dos líderes de um movimento de igrejas domésticas que crescia muito no Irã. Depois de ficar sob um regime parecido com prisão domiciliar em 2009, ele foi preso em 2012. Após três anos na prisão, foi libertado em 2015. Em uma visita a ele em um lugar seguro fora do Irã, o cristão perseguido nos contou porque não parou seu trabalho na igreja mesmo já tendo sido preso uma vez. “Na verdade, não há explicação lógica, mas sentíamos que Deus não queria que parássemos, mesmo sabendo que poderíamos ser presos novamente a qualquer momento”, relata. Quanto aos dias na cadeia, ele diz que sabia que Deus estava com ele, mas isso não tornava o dia a dia na prisão confortável. Ele dormia e comia com assassinos, ladrões e traficantes. Ele confessa que sentia medo e tristeza, apesar de saber que o Senhor estava com ele. Depois de se dedicar intensamente à oração, Mojtaba sentiu o Senhor lhe falar que ele não estava lá por si mesmo, ou porque havia cometido algum pecado; mas por Deus, porque era seu propósito. Então ele começou a olhar para os outros prisioneiros com os olhos de Deus e compreendeu que o Senhor queria que ele lhes falasse do seu amor. Entendendo que Deus o havia colocado na prisão para resplandecer sua luz, Mojtaba começou a compartilhar o evangelho com os companheiros de prisão. Alguns aceitaram Jesus, outros aceitavam suas orações.
Aplicação
O que tem de terapêutico nessa ilustracão? O que tem de bem-estar ser preso por causa do evangelho e ainda assim ser obediente e fiel? O que você procura quando procura o evangelho? O que você deseja quando busca ser obediente ao Senhor?
Percebe? Obediência gerando sofrimento, a fé sendo forjada, o coração sendo moldado a imagem de Cristo, um homem obediente, mas um homem de dores, e no final, Deus sendo glorificado, conhecido, temido e adorado.
O texto nos mostra que os capatazes dos filhos de Israel tentaram intervir. O povo de Israel era numeroso (v.05), então, eles foram distribuídos em grupos e cada grupo tinha um “líder” do próprio povo para coordenar o trabalho daquele grupo. Esses “líderes” foram à presença do Faraó para tentar aliviar a carga de sobre os seus (v15). Tentativa em vã, Faraó se manteve na falácia de que o aumento da carga foi agravada porque o povo estava ocioso (v.17); Êxodo 1.11 nos mostra que o povo de Israel poderia ser qualquer coisa, exceto, ocioso, preguiçoso.
Ao saírem da presença do Faraó, os capatazes encontram-se com Moisés e Arão, e esse dialogo dos capatazes dos filhos de Israel com os instrumentos escolhidos por Deus para libertá-los é um retrato do nosso coração. Quantas vezes pastores, líderes e até mesmo irmãos em Cristo não foram acusados por outros de complicar a vida quando receberam um conselho para serem obedientes ao Senhor mas o resultado não foi o que a pessoa desejava?
Moisés e Arão foram culpados em tornar a vida do povo de Israel ainda mais difícil. Antes deles surgirem, eles sofriam, mas agora o sofrimento é mais intenso, e tudo para o que? Celebrar uma festa no deserto? Adoração? Ao ser questionado, os medos e anseios de Moisés vieram à tona. E isso fica claro, ele diz ao Senhor: “Porque me enviou?; Porque permitiu um sofrimento ainda maior?” (v.23).
Muitas vezes ser obediente ao Senhor te levará a um tempo de sofrimento. Essa teologia da prosperidade, do venha e pare de sofrer, esse “evangelho terapêutico”, é uma falácia do diabo. Obediência não é sinônimo de não sofra.
Ilustração
José em obediência foi parar em uma prisão. Paulo precisou experimentar o quanto importaria sofrer pelo nome do Senhor. Cristo, por causa da sua obediência ao Pai, foi parar em uma cruz.
E você ainda acredita mesmo que se tornar um cristão é passaporte para o não sofrimento? Moisés foi chamado para libertar o povo, mas quem disse a ele que nessa jornada de libertação tudo seria simples, rápido, fácil, e pior, como ele pensava que deveria ser?
Aplicação
1- As dificuldades não são maiores que o nosso Deus libertador. Antes da bonança e libertação Deus geralmente dá passos estranhos a nossa limitada compreensão, mas ele nunca dá passos errados.
2- Os instrumentos, pessoas, que Deus usa são colocados na forja. Devemos esperar por dor e sofrimento, inimigos cruéis e orgulhosos. A nossa obediência ao Senhor nos conduz ao sofrimento muitas vezes para que nossa fé possa ser forjada.
José de prisioneiro tornou-se governador, Paulo de perseguidor passou a ser um pregador perseguido, mas que no fim herdou a coroa da vida eterna. O povo que viu, creu e adorou no final do capítulo 04, é o povo que sofreu, mas também é o povo que foi liberto.
Conclusão
Se você está na forja da fé por que esta sendo obediente a Deus, e por isso está confuso, perplexo, com o coração amedrontado, o conselho é: recorra ao Senhor, apresente seu problema a ele, com fiel e fervorosa oração, e se você pensar em fugir, que seja para a presença do Senhor.
“O momento de Deus ajudar é quando as coisas estão piores. E a providência comprova o paradoxo, quanto pior, melhor” (Mathew Henry).
Como começa o capítulo 06? Com Deus afirmando a Moisés que por mão poderosa libertaria o povo. Quando o sofrimento intensificou, Deus agiu com mão poderosa. Não seria a mão de Faraó o ultimato, mas a mão de poder do nosso Deus. Quando seus problemas se intensificarem a ponto de não ver mais solução, lembre-se: A mão do Senhor é poderosa e a obediência, a forja da sua fé.
O evangelho não é terapêutico, a obediência não é sinônimo de bem-estar sempre, mas o evangelho é a mensagem de um Deus que luta por nós e a obediência um sinal de que mesmo sofrendo confiamos e adoramos a um Deus que sabe o melhor para o seu povo.
Vamos orar!