Rollo Intimidade com Deus

Cursilho de Cristandade  •  Sermon  •  Submitted
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Quebra-Gelo

Um dia estive aí sentado como vocês, convidado pra fazer Cursilho de Cristandade. Não sei vocês, mas eu vim pra cá pelo pedido de um grande amigo que é meu irmão Marcelo. Eu vim pra cá bem desconfiado. Primeiro porque Marcelo disse a mim que viria Hugo, meu outro irmão, e mais dois grandes amigos que temos desde a adolescência: Ítalo e Filipe.
Ele não tinha me explicado bem como seria essa parada. Só que era um lance de igreja, e até então eu não era convertido, mas tinha uma ideia desses passeios de crentes, porque minha sogra e meu sogro haviam se convertido há pouco tempo e tinham me levado pra um dia de lazer e já imaginava que teria alguma palestra e depois só diversão, piscina, futebol e comida. Mas desta vez seria melhor, pois na companhia de grandes amigos torna qualquer programa muito mais agradável.
Mas quando cheguei na Igreja Betânia de mala pronta, olhei pra um lado, olhei pro outro e nada dos caras, só Marcelo mesmo. Ele não tinha me explicado bem, e já perto da saída ele me informou que nenhum dos meninos iriam, aí perguntei onde estava a mala dele e ele me disse que também não iria. Oxe! Eu ia sozinho sem conhecer ninguém? Mas ele insistiu que nem por isso eu ia deixar de ir. E o pior foi quando ele disse que eu tinha que pagar pra ir, me apresentando o tesoureiro. Aí eu chiei. Mas ele me disse que na volta eu com certeza iria não só agradecer, mas também que iria afirmar que pagaria muito mais pelo que eu iria passar lá.
Pois bem. Entrei no ônibus e seguimos. Quando eu fiz, o meu Cursilho foi em Aldeia. Quando passava do quilômetro 14 da Estrada de Aldeia, aí entrava numa estrada de barro no meio de um matagal e sem postes, num escuro da mulesta. Como eu não conhecia ninguém, fiquei calado a viagem toda e não fiz questão de puxar papo com ninguém também. E no escuro da estradinha de barro, num sei porque, mas começou a me dar um medo. Fiquei pensando porque aceitei. Eu podia ter desistido quando soube que ia só. Até fiz uma oração, pedindo a Deus pra me livrar de todo mal. Acho que fiquei com um pouco de medo, porque até então, das raríssimas experiências que tive com igrejas evangélicas, foram cultos bem carregados, se assim podemos chamar, daqueles que as pessoas se manifestam e gritam muito. Tinha receio que essas coisas acontecessem lá.
Quando cheguei no local, o meu medo aumentou. Lugar no meio do mato, numa escuridão da mulesta e aquela música: “Taaaa, tatada, tatada, dá…” que pra mim soou muito medonha. E o reitor era Petronilo. Pra quem não conhece Petronilo, ele é um cabra alvo, relativamente alto, tem uma espécie de corcunda e um bigodinho estilo Hitler. Rapaz, ele é um cabra à primeira vista de dar medo ainda mais num ambiente que estava. E pior era a fala dele, bem pausada e rouca que dava um medo só…
Aí eu comecei a viajar na maionese e fiquei pensando que tudo aquilo fazia parte de uma seita religiosa. Me lembrei dos Ku Klux Klan que era aquele povo dos Estados Unidos que matavam negros e queimavam em fogueiras e vestiam aquelas roupas brancas parecendo uns fantasmas. Pronto, eu pensei logo que o melhor seria obedecer, pois certamente alguém mais rebelde ou desobediente poderia parar na fogueira santa, servindo de exemplo pra que os demais obedecessem.
Pior que eu pensava assim: como é que Marcelo, um cara tão inteligente entrou numa seita dessa? Pode ser que, uma vez dentro, não pode mais sair, se não morre. Então o pior foi ele ter me colocado nessa…
Aí fomos pro refeitório. Lá, antes de ser servido, pensei que a comida viria com algum remédio, alguma espécie de alucinógeno pra deixar a gente doidão, pra quando alguém bem chapado começasse a ver alucinações de coisas ruins e bichos feios, eles iam dizer: é o satanás! E ainda pensei que a melhor forma de colocar remédio na comida era servindo sopa. E adivinha qual foi o primeiro prato do primeiro dia? Sopa! Caramba! Eu sabia que era uma seita! Meu Deus! Eu pensava. Vou tomar a sopa pra ser obediente, sei que vou ver coisas estranhas, mas quando a doideira passar, preciso me lembrar que foi tudo alucinação.
Só vim relaxar no dia seguinte, quando tudo passou e nada do que eu pensei havia acontecido que não se tratava de seita nenhuma.

1. Introdução

1.1. Vida cristã pressupõe intimidade com Deus - Iniciar o rollo apresentando a amizade como forma de conhecer o outro. Da mesma forma a amizade com Deus nos leva a intimidade e ao seu conhecimento. Assim se estabelece o relacionamento íntimo com Deus.

Mas é isso… Amigos nos colocam às vezes em cada situação… No meu caso, foi a melhor situação. Quem aqui foi convidado a participar do Cursilho através de um amigo? [Espera eles levantarem a mão] Agora vou levantar uma questão pra gente pensar: porque você considera essa pessoa que te convidou como amigo? Ainda mais: como essa pessoa se tornou seu amigo? Amizade é algo que se estabelece com o conhecimento, certo?
Aqui alguns já conheceram novas pessoas e já sabem alguma coisa da vida dela, por exemplo, quantos filhos têm, se é ou não casado, talvez já saibam onde moram e onde e com o quê trabalham. Mas saber dessas coisas não o fazem amigos entre si. Só que, talvez, nestes três dias aqui, pode ser que você passe por algumas experiências com esse conhecido que resulte no início de uma grande amizade. Por quê não? Eu mesmo, fiz alguns amigos no meu Cursilho.
Então o conhecimento é o primeiro passo para uma provável amizade. E quanto mais conhecemos o outro por meio de relacionamentos, estamos construindo uma relação de maior intimidade. Em princípio, é assim que também pode acontecer entre nós e Deus. Quando o conhecemos e também passamos a nos relacionar com Ele por meio da amizade, nos tornamos íntimos dEle. E esse é o tema de nosso Rollo: Intimidade com Deus.
Agora prestem atenção! Sabe aqueles programas de entrevista? Como era o do Jô Soares e como é hoje o The Nigth apresentado por Danilo Gentili? Pois bem, esses entrevistadores, analisam a vida do entrevistado e ficam sabendo de muitas coisas que ocorreram na vida dele. Mas será que isto faz do entrevistador uma pessoa íntima do entrevistado? Claro que não! Não foi estabelecida uma relação de amizade entre eles. Então conhecimento apenas não resultará numa amizade, muito menos numa intimidade.
É preciso investir tempo em boas conversas, andar juntos, compartilhar a vida tanto nos bons como também nos maus momentos. Dessa forma nos tornamos íntimos, através de um relacionamento. Assim é com Deus também, se quisermos ser íntimos dEle, é preciso alimentar esse relacionamento.
Seja você pai ou seja filho, vocês vão concordar comigo que se a relação entre vocês esfriar, deixando de se falar, cada um resolvendo suas coisas em mundos separados, ainda que vivam debaixo do mesmo teto, como está ocorrendo em muitos lares, onde filhos isolados em seus aparelhos de telefone e pais desatentos e muitos ocupados, quando raramente, porque hoje em dia, diante das demandas, só aos finais de semana é que se sentam juntos pra comer, fica difícil fluir um papo porque ali estão dois estranhos sentados à mesa.
Por isso é preciso diariamente nos relacionarmos com Deus.

1.2. Intimidade com Deus pressupõe uma espiritualidade encarnada na vida. O Espírito de Deus na vida do Cristão.

Então esse papo de que sou cristão, também sou filho de Deus e tal, sem ter intimidade com Ele, não cola. É preciso que estas palavras apenas corroborem com aquilo que já é evidenciado no viver. A vida do cristão precisa refletir essa intimidade com Deus e não ser algo apenas aparente, mas precisa ser real e verdadeiro.
Quando lemos a Bíblia, vemos muitos exemplos de homens e mulheres que eram íntimos de Deus. Moisés, por exemplo, em determinado momento de sua vida, como ele era nômade, vivia em barraca ou tenda, mas ele costumava afastar sua tenda do restante do arraial. Dizia que ali era a tenda do encontro (Ex 33.7-11), e então, ao entrar na cabana, a Bíblia relata que uma coluna de nuvem descia em frente à porta e Deus falava com Moisés. Lá encontramos escrito: “O SENHOR falava com Moisés face a face, como quem fala a seu amigo.” (Ex 33.11a).
Deus falava com Moisés, não por ele ter mérito algum, mas porque uma vez Deus tendo ido ao encontro dele, Moisés respondeu com uma vida que busca a presença de Deus.
Certa vez Moisés recebeu uma ordem de Deus pra que em apenas falar a uma rocha esta jorraria água para todo aquele povo que estava peregrinando no deserto. Mas Moisés não creu na ordem do Senhor e resolver fazer à sua maneira. Num deu outra… Ele foi disciplinado por Deus e ficou sem entrar na terra prometida a qual o Senhor estava conduzindo o povo a possuir.
Moisés era um pecador assim como eu e você somos, mas isto não foi impedimento de haver comunhão entre Moisés e Deus. Mesmo que você seja o pior dos pecadores, ainda é possível arrepender-se e estabelecer uma comunhão sincera e verdadeira com Deus.
Deus sempre dá o primeiro passo, basta que nós possamos responder positivamente ao chamado de amizade de Deus. Talvez pra alguém aqui, esse Cursilho seja esse o movimento de Deus para início da mais essencial amizade que necessitamos. Esteja atento e diga sim a Deus. Mas como seria esse “sim”? Eu mesmo tive muita dificuldade em entender como ter amizade com um ser que não está presente da forma a qual se apresenta qualquer um de nós. Mas eu aprendi uma coisa essencial: Toda vez que procuro saber como proceder diante de qualquer dificuldade ou dilema, ou que decisão tomar, recorro-me à vida de Jesus.

1.3. Jesus Cristo apresenta-se como modelo dessa espiritualidade e nas bem-aventuranças nos traz inspiração e critérios para a vida. Apresentar as bem-aventuranças de forma rápida, salientando que aquele é o caráter de Cristo e somente em intimidade com ele aprenderemos e teremos a condição de tê-lo como referencial para nosso caráter.

Jesus é sem dúvida o maior exemplo de alguém com intimidade com Deus. Seu famoso ensinamento intitulado na Bíblia como o Sermão do Monte ou o Sermão da Montanha possui logo no início as chamadas bem-aventuranças que nos revela qual é o caráter daqueles que possuem intimidade com Deus. E é citado por Cristo que bem-aventurados, ou seja, os muito felizes são os pobres de espírito, os que choram, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os limpos de coração, os pacificadores e os perseguidos por causa da justiça.
Essas bem-aventuranças chamam muito a atenção porque parecem ir contra à maré do que normalmente se prega no mundo, pois o que esse mundo nos ensina é a felicidade na riqueza, nos que riem cheios de prazer, nos brabos que aplacam e aplicam sua justiça sem misericórdia naqueles que julgam ser inferiores, porque são os bestas, mas eles não, porque são maliciosos e acham-se espertos, e ai daquele que se meter em seu caminho, pois experimentará uma verdadeira guerra, porque é no conflito que eles satisfazem o desejo de demonstrar sua força.
Mas Cristo, em sua sabedoria afirmou que feliz é aquele que reconhece a sua miséria, sendo assim, se vêem pobres de espírito, contrário dos que se consideram ricos de espírito, pois quem já é rico de algo, então não necessita mais desse algo e não o procura mais. Essa pobreza de espírito revela o quão pecador somos, de igual forma carentes e necessitados da Graça de Deus.
E, por causa de nossos pecados, nos entristecemos e choramos. Mas Cristo diz que felizes são os que choram. Não achamos mais graça nem sentimos mais prazer na vida pecaminosa pregressa, e igualmente choramos por aqueles que também estão perdidos e sofrendo as consequências destas transgressões, pois estes pecados são os que provocam fome, guerra, destruição, famílias destroçadas, a indignidade humana como resultado da exploração do homem pelo homem, na coisificação do ser, onde mulheres têm seu valor atribuído pela sensualidade e tantas outras mazelas que só trazem tristeza naqueles chamados bem-aventurados os que choram. Essa é a real razão de nosso choro: o pecado.
Jesus também afirmou que os mansos são felizes. O manso não é aquele que em toda e qualquer situação se curva e aceita. Não é isso que foi mencionado por Jesus. Mas Cristo fala da mansidão como uma pessoa que se deixa conduzir pela vontade de Deus, uma pessoa não briguenta, não ranzinza, que não se ressente das injustiças as quais lhe são imputadas. Não guarda rancor. Em vez de ficar reclamando de tudo, ela encontra refúgio no Senhor e lhe entrega seu caminho. Então não trata-se de fraqueza, muito pelo contrário, essa pessoa recebe de Deus força suficiente para muitas vezes suportar o sofrimento para não causar dano. Trata-se de uma submissão à vontade de Deus.
Essa mesma pessoa é dita feliz por Cristo porque serão saciadas na sua fome e sede por justiça. Não se trata de um justiceiro que sai por aí fazendo justiça com suas próprias mãos, mas aquele que, reconhecendo sua condição pecadora, sabendo que foi justificado por meio do sacrifício de Jesus, possui alegria e gratidão transbordante, de tal modo que se move a viver uma vida que promove justiça. Não que as obras dessa nova vida levem à justiça, mas aquele que justificou é que conduz às boas obras.
Essas boas obras são resultantes de atitudes misericordiosas que só expressam a verdade nos atos por causa de um coração que foi limpo, lavado pelo sangue do cordeiro, nosso Senhor Jesus, que nos reconciliou com Deus, produzindo a paz que excede todo entendimento em nossos corações, ou seja, um descanso que vai além daquilo que é considerado normal, que mesmo em meio às tribulações, dificuldades, ameaças e aflições, encontramos paz e assim promovemos também essa paz, e assim somos chamados pacificadores por Cristo, por quem certamente sofremos perseguição, mas perseguição essa que aponta e revela o quão somos bem-aventurados!
Quando Jesus enumerou essas bem-aventuranças, ele não se referia a vários tipos de pessoas, umas mansas outras misericordiosas, outras de coração contritos pelo pecado… Ele se referia a um caráter apenas. Esse é o caráter do próprio Cristo. Portanto, para que sejamos íntimos de Deus, devemos possuir esses atributos em nosso caráter e isso só será possível tendo Jesus como referencial. É essencial admitir Jesus como mestre, ou seja, nos tornarmos seus discípulos que são chamados cristãos, ou seja, pequenos cristos. A isto denominamos de discipulado: uma caminhada ao longo da vida com o mestre Jesus.

1.4. É inconcebível o cristão viver com divórcio entre a fé e a vida.

Esse discipulado só é possível mediante a fé. E nessa caminhada de fé, conheceremos mais e mais aquele que nos criou. Essa caminhada que será agora nossa vida, nos conduzirá a um relacionamento mais íntimo com Deus. É impossível agradar a Deus sem fé. Não há possibilidade de ter uma vida dupla: secular e sacra, sendo uma pessoa nos cultos e outra no trabalho, por exemplo. Somos uma só pessoa e assim devemos assumir nosso caráter cristão onde quer que estejamos: em casa, na igreja, na escola, faculdade, no trabalho, etc. Agora, antes de qualquer coisa, sou um cristão, um cristão pai, um cristão filho, um cristão amigo, um cristão bancário, um cristão estudante, um cristão marceneiro, um cristão policial, um cristão enfermeiro, etc.
Já vimos que somos dotados de fé. E essa fé a usamos em muitos aspectos da vida. Devemos ter cuidado onde e como exercemos nossa fé. Lembremos que é através dela que nos comunicamos com Deus, com aquilo que é sagrado. Ela é o canal pelo qual recebemos a maravilhosa graça salvífica. A bronca é quando negligenciamos a fé e agindo assim, em vez de nos aproximarmos mais e mais de Deus, vamos no sentido contrário, nos afastando dEle e assim criando falsos conceitos do seu caráter.

2. Impedimentos à aceitação plena de Cristo

2.1. Falsos conceitos de Deus e Falsas atividades

É muito comum em nossas orações estarmos pedindo algo a Deus. Deus me abençoa com isso ou com aquilo, me ajuda assim ou assado, não permita que isso ou aquilo aconteça. E quando aquilo que tanto almejamos não se concretiza, nos frustramos com esse deus e desviamos nossa fé para outras coisas. Agindo assim, achamos que Deus é um empregado nosso.
Outras vezes só nos lembramos de Deus nos momentos de dificuldades. Aí clamamos: me ajuda Deus, me tira dessa. Mas quando tudo vai bem, nem parece que Deus existe, a vida é uma bagaceira. Neste caso, sem perceber, tratamos Deus como o serviço de Emergência quando ligamos pro 192 pra chamar o Samu, 193 o Bombeiro ou 190 pra Polícia. Já outras pessoas crêem que Deus é um carrasco. Pecou, vai ser fulminado. Se algo der errado já diz:, tá vendo? Foi Deus castigando, e vive fugindo da presença de Deus com medo ao invés de temê-lo.
Fora isso, a falta de intimidade com Deus nos leva a atitudes estranhas e interesseiras. Está muito na moda igrejas pregando um evangelho que não é o de Jesus, mas um que o fiel gosta de ouvir: que é amado por Deus, que é o ungido do Senhor e ai daquele que tocar ou mexer nele. Nas pregações, nada de mencionar a palavra pecado, melhor substituí-la por deslize, por falha e por engano, e afirmando que tudo de errado que cometemos é culpa do capiroto. Vendo tudo como ação de Deus ou de Satanás. Se uma senhora tropeçar e cair, diz logo que é o inimigo querendo derrubar e vai logo dando gritos de que tá amarrado em nome de Jesus e esquece até de ajudar a senhorinha a se levantar.
Ainda há aqueles que procuram Deus nas sensações. Todo culto quer “sentir” a presença do Espírito Santo com arrepios, lágrimas nos olhos ou gargalhadas provocadas pelo gozo do Senhor. Ainda que o culto tenha trazido a genuína Palavra de Deus, denunciando o pecado, anunciando a salvação e estimulando à uma vida de santidade, se não sentiu nenhuma emoção ou sensação, então o Espírito Santo não compareceu, ou seja, a própria criatura é quem determina se Deus estava ou não presente no culto.
Tudo isso é uma espiritualidade bem longe daquela a quem possui verdadeira intimidade com Deus.

3. O verdadeiro Deus dos cristãos

3.1. Conhecer Deus através da experiência

Perceba que esses falsos conceitos de Deus são sempre atitudes e tentativas frustradas de conhecê-lo por causa da motivação egoísta que possuímos. Ele é quem se revela a nós. Caso contrário, nós por nós mesmos, nunca procuraríamos a Deus. Quem busca aquilo que desconhece?
Eu penso que Deus ao nos criar, nos deu um senso de curiosidade que nos aguça a conhecer e descobrir tantas coisas, aumentando nosso conhecimento em tantas áreas. E como Deus está sempre se revelando a nós, o ser humano, de forma geral, através da curiosidade, também tem buscado conhecer mais do criador. O apóstolo Paulo afirmou que: 19Pois o que se pode conhecer a respeito de Deus é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. 20Porque os atributos invisíveis de Deus, isto é, o seu eterno poder e a sua divindade, claramente se reconhecem, desde a criação do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que Deus fez. (Rm 1.19-20)
Então não adianta querer conceituar a Deus. Precisamos apenas estar atentos às suas manifestações e aprender a “vê-lo” e “escutá-lo” a fim de nos relacionarmos da forma devida. Às vezes somos levados a querer impressionar a Deus, como se isso fosse possível. Não precisamos e Ele nem deseja ser impressionado. Ele conhece todo nosso ser e já sabe do que somos capazes. Nada do que faremos poderá impressionar. Aí entendemos que Ele quer nosso coração.

3.2. Aquele que experimentar Deus é animado por este Deus através de seu Espírito

Ele quer fazer morada em nós. Ele quer que caminhemos com ele. Mas isto só é possível em santidade. O próprio Espírito Santo nos auxilia a viver em santidade. Sempre iremos nos deparar em dilemas que exigirão um posicionamento e atitudes que nos aproximam ou nos afastam do Senhor. E sempre haverá o desejo de pecar, pois já entendemos que nossa natureza é pecaminosa. Não nos tornamos pecadores, mas já possuímos esse atributo, inclusive aqueles que aparentam não possuir pecados. Jesus mesmo disse a um líder religioso e influente de sua época que era necessário ele nascer outra vez, mas desta vez do Espírito, porque o que é nascido da carne é carne e o nascido do Espírito é espírito. Jesus afirmou a esse religioso, o Nicodemus, que ele era um pecador e que necessitava do Espírito Santo.

4. O que é espiritualidade

4.1. Deus nos chama para santidade

4.2. Espiritualidade é ação do Espírito Santo no cristão

4.3. Espiritualidade exprime adesão a Cristo

A carne significa pecado, enquanto que o Espírito é o próprio Espírito Santo. Jesus nos chama a viver uma espiritualidade santa. Viver em santidade, ou seja, separado por Deus para fazer sua santa vontade. Outra vez percebemos que Deus está à frente de nossas vidas, pois é a ação do Espírito Santo que agora nos leva a tomar atitudes que agradam a Deus. Se deixar viver pela ação do Espírito Santo é exprimir uma espiritualidade de adesão a Cristo. Isto é espiritualidade, uma vida vivida em conformidade com o propósito divino, com o Espírito Santo no comando de nossas vidas, moldando nosso caráter à semelhança de Jesus.

5. Oração como fonte de espiritualidade

Estamos falando de vida em sua plenitude, não numa ou noutra área da vida, mas em sua totalidade. E pra viver diariamente em intimidade com Deus, a fonte dessa espiritualidade é a oração. A oração com fé nos conecta com Deus. É por meio da oração que teremos a capacidade de viver da forma que Deus deseja, de viver essa espiritualidade, pois, uma vez conectado a Ele, poderemos entender o que quer de mim e de você.
Assim apresento a vocês um banquinho que iremos utilizar como ilustração da vida de um cristão. O tampo representa essa vida e ela será sustentada por umas perninhas, sendo uma delas a oração. Perceba que a oração isolada não sustém o tampo do banquinho, ou seja, a vida do cristão de forma equilibrada. Será necessária outras perninhas para trazer o devido equilíbrio.

5.1. Oração é diálogo

Oração nada mais é que uma conversa com Deus. Pense na oração agora só entre você e Deus. Oramos a Deus quando falamos com Ele da mesma forma quando conversamos com um amigo. Às vezes ouvimos alguém orar com um vocabulário rebuscado, cheio de palavras incomuns, mas quando fala ou conversa com alguém comum, não usa o mesmo vocabulário. [Exemplificar]
Se alguém não sabe ainda, eu lhe informo: Deus não é mudo. Digo isso porque alguns quando vão orar a Deus, falam, falam e falam, pedem, pedem e pedem e xau. Se orar é conversar, então trata-se de um diálogo, não de um monólogo. Na oração também é preciso calar para ouvir. Não se preocupe como ouvirá, lembre-se, a fé é essencial para essa comunicação.
Eu mesmo me questionava muito a respeito de como ouvir a Deus em minhas orações. E fazia um esforço, mas depois compreendi que Deus nos fala de muitas formas, e pasmem, Ele nos fala muito em nosso cotidiano através de outras pessoas tanto em suas falas, mas sobretudo em suas atitudes. Também em determinadas circunstâncias Ele nos responde às nossas orações.

5.2. Oração é vida apresentada a Deus

Certa vez, após ter me convertido, eu despertei para uma preocupação: de como educar meus filhos no caminho da verdade, para que recebam através de mim como herança a fé em Jesus Cristo. A gente faz o dever de casa e sabe que precisa dar o exemplo, mas mesmo assim a gente ainda fica um tanto temeroso pra saber se está educando corretamente, e com certeza em minhas orações estava presente esse pedido a Deus, para que meus filhos pudessem reconhecer e aceitar a Jesus. Quando a gente nem espera, nem está mais clamando por aquele pedido, chega uma mensagem de áudio no WhatsApp de minha esposa de uma professora da Escola Bíblica Dominical Infantil, em que a mesma estava surpreendida pelo gesto que meu filho Daniel teve em conduzir a turminha em oração quando foi pedido pra que eles colocassem seus sonhos aos pés do Senhor. Me lembrei imediatamente da minha preocupação de encaminhá-los na vida corretamente e recebi esta resposta, não da professora, mas foi de Deus.
Perceba que a oração está impregnada no dia a dia, nos afazeres, nas demandas que nos chegam. Afinal de contas, Deus está presente a todo momento conosco, ainda que não tenhamos a capacidade de percebê-lo, pela fé sabemos.

5.3. Através da oração construímos intimidade com Deus

Mas há momentos que devem ser dedicados à oração exclusiva. Jesus é o modelo de vida íntima com Deus. Ele o chama de Pai. E se por acaso for ter que aprender, então que possamos aprender com quem sabe, né? No livro do evangelista Lucas na Bíblia, no capítulo 11, verso 1 diz assim: Jesus estava orando em certo lugar e, quando terminou, um dos seus discípulos lhe pediu: — Senhor, ensine-nos a orar como também João ensinou os discípulos dele.
Rapaz… Parece hoje em dia a gente quando quer aprender alguma coisa, vamos nas redes sociais e encontramos um monte de gente ofertando curso disso e daquilo. Eu mesmo que gosto de música, aparece pra mim muitos músicos, inclusive renomados, que estão nessa de ofertar o curso e sempre de alguma forma, todos eles vendem o produto assim: aprendam com quem sabe, vou te ensinar o pulo do gato.
Por um lado, o caminho é esse mesmo, de aprender com quem sabe e faz. Se pôr um menino pra aprender a jogar bola comigo é uma coisa, outra coisa é colocar ele pra andar no meio da turma do Neimar. Com certeza lá ele vai desenvolver muito. Na rede social não dá pra caminhar com o professor…
Mas voltando ao texto que citei de Lucas, notaram que ele começa dizendo que Jesus estava orando em certo lugar e quando terminou foi que um discípulo o pediu pra que ensinasse como orar? Jesus com sua vida aguçou e despertou o desejo em seus discípulos a também ter intimidade com Deus pela oração. No livro de Mateus, relatando esse mesmo evento diz assim:
5— E, quando orarem, não sejam como os hipócritas, que gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos pelos outros. Em verdade lhes digo que eles já receberam a sua recompensa. 6Mas, ao orar, entre no seu quarto e, fechada a porta, ore ao seu Pai, que está em secreto. E o seu Pai, que vê em secreto, lhe dará a recompensa. 7E, orando, não usem vãs repetições, como os gentios; porque eles pensam que por muito falar serão ouvidos. 8Não sejam, portanto, como eles; porque o Pai de vocês sabe o que vocês precisam, antes mesmo de lhe pedirem.
9— Portanto, orem assim:
“Pai nosso, que estás nos céus,
santificado seja o teu nome;
10 venha o teu Reino;
seja feita a tua vontade,
assim na terra como no céu;
11 o pão nosso de cada dia nos dá hoje;
12 e perdoa-nos as nossas dívidas,
assim como nós também perdoamos
aos nossos devedores;
13 e não nos deixes cair em tentação;
mas livra-nos do mal
[pois teu é o Reino, o poder e a glória
para sempre. Amém]!”
Mt 6.5–13
Jesus nos ensina a não orar pra ser visto e aplaudido pelos outros, ou seja, sem hipocrisia, pelo contrário, que entremos em nosso quarto, e aí entendemos que quarto simboliza intimidade e de portas fechadas podemos de tudo falar a Deus que se passa em nossos corações de forma direta e sem rodeios e sem receio de ser julgado.
Também nos ensina que não adianta repetir e repetir, ou seja, criar um modelo de oração engessada que se torna sem graça e vai no sentido contrário da intimidade que é a impessoalidade. As vãs repetições são aquilo que atribuímos por fria religiosidade, onde repetimos algo sem que as palavras e atitudes tomadas apontem pra uma verdade em nossa vida. Fazendo da oração uma fórmula mágica para se alcançar desejos.
Inclusive a oração do Pai Nosso já foi por mim muitas vezes mecanizada, entrava no modo automático, não errava uma palavra, mas o pensamento tava bem distante. Ainda estou sujeito a essa mecanização. Portanto não é a repetição por repetição, mas a repetição sem fé, desconectada de nossa realidade, sem apontar pra o que está dentro de nós.

5.4. Oração é prática comunitária

Oração também deve ser uma prática comunitária. Nós vivemos em comunidades. E praticando a oração juntos, intercedendo uns pelos outros, expressamos o amor que temos uns pelos outros.

6. Conclusão

6.1. Apelo para uma vida nova buscando o caráter de Cristo

Mas a oração é um dos pilares que sustentam a vida de um cristão. E nossa vida é uma caixinha de surpresas. Lembro que quando eu era bem novo, acho que tinha uns cinco ou seis anos de idade e gostava muito de bichos. Acabei adotando um gato de rua. Um gato já velho. A gente batizou ele de Bundinha.
Lá em casa nessa época éramos três irmãos e minha mãe. Meu pai ainda não morava com a gente. E mainha trabalhava, era professora, e ia dar aula e deixava a gente em casa. Quem ficava responsável era meu irmão Marcelo que era o mais velho. Se eu tinha cinco anos, então Marcelo devia ter uns 7 ou 8 anos de idade.
E num desses dias em que estávamos só os três em casa, eu sempre curioso e relativamente treloso, peguei Bundinha, amarrei as patas dianteiras, fiz o mesmo com as traseiras e pus ele dentro de um saco desses de pano que a gente usava pra comprar pão na padaria. Pendurei o saco no varal e me diverti muito vendo o saco se contorcer. Quando aquilo perdeu a graça, resolvi liberar Bundinha, mas o bichano mesmo com as patas amarradas conseguiu escapar de mim e no seu desespero e de forma desengonçada por causa das patas enroladas no cordão, ainda conseguiu escalar e pular o muro que dava pra casa do vizinho que tinha um cachorro grande brabo.
Pronto… E pirralha, me desesperei e comecei a chorar. E como Marcelo era quem tomava conta da gente, fui até ele e contei o que tinha acontecido. Eu estava cheio de remorso e me sentindo culpado e achava que Bundinha já era… Mas Marcelo tomou uma atitude: fez-nos ajoelhar e oramos pedindo a Deus que livrasse Bundinha. E eu pedi um pouco mais, pra que no dia seguinte, como era de costume, que ele estivesse minha cama ao me acordar.
Adivinha quem estava no dia seguinte de manhã na minha cama? Bundinha! Essa experiência foi tão marcante pra mim que até hoje me recordo dela. É muito bom quando temos nossas orações respondidas.
Na minha adolescência eu montei uma banda de rock com alguns amigos. Um desses amigos era Paulo. A gente normalmente tocava música das bandas que gostávamos. Mas eu e Paulo tínhamos um tato pra compor nossas próprias canções. E quando eu já casado e com meu primeiro filho a caminho, Daniel o nome dele, Eu e Paulo compusemos uma canção especial pra vinda de Daniel.
A letra da música diz assim:
Vem depressa,
Mal posso esperar,
Vem com as estrelas,
O sol, o céu e o mar.
O mundo inteiro parou
Pra te ver chegar.
Tem tanta gente
Que te quer aqui
Qual o teu rosto?
Teu sonho e tua cor preferida?
Deus já estava cuidando de mim há muito tempo… Falei de minha experiência aqui no Cursilho. Foi no Cursilho que me converti ao Senhor. Daniel já estava com um aninho. E eu não era crente em Cristo Jesus. Quando a gente se converte, quando temos um encontro verdadeiro com Cristo, a gente se empolga, nasce uma alegria no coração e a gente começa a viver uma nova vida de fato.
Um ano depois da minha conversão, Deus nos surpreende com uma gravidez. Eu e minha esposa já tínhamos decidido ter outro filho e a gravidez em si não foi o fato surpreendente. Dani, minha esposa, estava sentindo um desconforto no pé da barriga e foi à emergência. Não era nada demais. Tratava-se de uma infecção urinária. Como ela estava grávida, o médico aproveitou e perguntou se ela gostaria de fazer uns exames pra saber como está o bebê e ela aceitou.
Eu trabalhando recebo a ligação dela chorando muito e me chamando no hospital. Chegando lá fiquei sabendo que o bebê era anencéfalo. Anencefalia ocorre quando não se forma a caixa craniana no feto. O próprio líquido amniótico corrói o cérebro do bebê.
Essa foi a pior dor que senti na vida. Nunca orei tanto na vida. Minhas orações eram basicamente dúvidas. Só que não tinha as respostas. Queria saber da vida, da alma do meu bebê. Eu e Dani ficamos mais unidos pela oração. Foi por meio da oração que Deus nos sustentou a suportar.
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