Libertados
Introdução
Os mestres do engano, os emissários da heresia, os paladinos da mentira haviam chegado a Colossos disseminando seu veneno. Eles atacaram as doutrinas da criação e da redenção. Eles negavam tanto o fato de Cristo ser o criador quanto o fato de Cristo ser o redentor.
I - Libertados do Império das Trevas (v.13a)
Precisamos destacar alguns pontos aqui:
a. Existe um império do mal em ação no mundo (1.13). O mal é uma realidade concreta. Existe um ser maligno, de todo corrompido, que governa esse reino de trevas. O deus desse reino é Satanás. Ele é chamado de diabo, maligno, tentador, destruidor, pai da mentira, assassino, príncipe das trevas, deus deste século, dragão, antiga serpente. Esse reino é das trevas porque é o reino da escravidão, do pecado, da devassidão, da mentira, do engano, da condenação eterna. O reino das trevas é um reino em rebelião contra Deus. Ele amaldiçoa a Deus, nega a Deus, rejeita a Deus e fere as pessoas.125
b. O homem não pode libertar a si mesmo desse império de trevas (1.13). Satanás é o valente que tem uma casa, onde guarda em segurança todos os seus bens (Mt 12.28,29). O homem não pode escapar das garras desse valente por si mesmo. O conhecimento esotérico não pode quebrar as algemas dessa escravidão. O homem natural é prisioneiro nesse império (1.13), está cativo na casa do valente (12.29), está sob a jurisdição da potestade de Satanás (At 26.18), é escravo do pecado (Jo 8.34), anda segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência (Ef 2.1–3). Ele é absolutamente impotente para libertar a si mesmo. Werner de Boor diz que o homem não é libertado por resolução humana e luta própria, não por desesperados esforços, nem por lágrimas amargas e bons propósitos. Ele é libertado por Cristo. Conseqüentemente não precisa mais servir ao cruel inimigo.126
c. Deus é o único que pode nos libertar desse império das trevas (1.13). A libertação vem de Cristo e não do homem. O poder das trevas não pode ser quebrado pela força humana, mas somente pela ação divina. Jesus é o libertador e resgatador que invade a casa do valente, amarra-o, saqueialhe a casa e liberta os cativos de suas garras (Mt 12.28,29). O homem que outrora estava na potestade de Satanás é transferido agora para outro reino, o reino de Cristo (At 26.18). O verbo “libertou” está no tempo passado, significando que a obra de libertação foi absolutamente consumada. Estamos livres; somos verdadeiramente livres!
II - Libertados para o Reino do Filho (v.13b)
Deus nos transportou para o Reino do Seu Filho Amado (1.13). Russell Shedd diz que Deus montou uma “operação de resgate” para libertar os pecadores do poder das trevas.127 Estávamos no império das trevas, na casa do valente, guardado em segurança, presos pelas grossas correntes do pecado, cegos e oprimidos. Mas Jesus invadiu a casa do valente, saqueou o seu império e nos libertou. Deus abriu nossos olhos, tirou as correntes que nos prendiam, abriu os portões de ferro que nos trancavam nesse reino de escravidão e nos fez sair para uma nova vida.
Deus não apenas nos tirou da região da morte, como também nos transportou para dentro do Reino da luz, o reino do Filho do Seu amor. Houve um traslado, uma transferência imediata do império de trevas para o reino da luz. A palavra grega methistemi, traduzida pelo verbo “transportou”, significa remover de um lugar para outro, transferir.128 Essa expressão era muito comum nos dias de Paulo. Era usada no mundo antigo para descrever o costume de trasladar a população vencida por um reino a outro país.129
William Barclay destaca que foi um traslado das trevas para a luz, da escravidão para a liberdade, da condenação para o perdão, do poder de Satanás para o poder de Deus.132 Na mesma linha de pensamento, Fritz Rienecker afirma que o Reino de Cristo é o domínio cósmico de Cristo, adquirido por Ele mediante Sua morte na cruz e Sua ressurreição pelo poder de Deus.133
Duas implicações podem ser observadas a partir desse auspicioso acontecimento.
a. A salvação implica uma mudança radical de domínio sobre a nossa vida. Antes estávamos no império de trevas, sob o domínio cruel e opressor de Satanás. Antes estávamos no cativeiro do diabo, acorrentados pelo pecado. Agora, estamos livres e salvos. Fomos não apenas libertados do império das trevas, mas também transportados para o reino da luz. Agora Cristo, e não Satanás, domina sobre nós. Agora temos outro dono, outro senhor, outra vida, dentro de outro reino. Fomos transladados de uma vez por todas. Já estamos no Reino da luz (1Pe 2.9). Isso é escatologia realizada. Já estamos no antegozo da glória.
b. A salvação implica uma mudança radical de devoção do nosso coração. No reino das trevas servíamos a um príncipe carrasco. Ele nos oprimia, nos escravizava e nos mantinha prisioneiros para a morte eterna. Mas agora vivemos no Reino da luz, do amor, da paz e da vida eterna. No antigo império reinava o ódio; no Reino da luz domina o amor. No antigo império estávamos debaixo de cruel escravidão; no Reino da luz somos livres. No reino das trevas, Satanás queria a nossa morte; no Reino da luz, Cristo morreu por nós para nos dar vida.
III - Libertados temos a Redenção (v.14a)
Destacamos três pontos aqui.
b. Deus pagou um altíssimo preço pela nossa redenção. Deus nos comprou não com prata e ouro, mas com o sangue precioso do Seu Filho amado (At 20.28; 1Pe 1.18,19). Deus não poupou Seu próprio Filho, antes por todos nós O entregou para que pelo Seu sangue fôssemos resgatados da morte para a vida, da escravidão para a liberdade, da potestade de Satanás para o Seu glorioso reino.
IV - Libertados, então remidos (v.14b)
Além do resgate, do transporte para o reino de Cristo, e da redenção realizados no passado e no presente, temos ainda o perdão dos pecados. Destacamos quatro verdades preciosas para nossa reflexão:
c. O perdão alivia a alma do peso da culpa. O perdão de Deus remove de sobre o pecador o peso esmagador da culpa. Pergunte aos mais famosos cientistas do mundo se eles conhecem um medicamento para libertar da culpa; pergunte aos grandes artistas se eles são capazes de eliminar da consciência a culpa através da música, ou da pintura, ou da poesia; pergunte aos ricos e poderosos desta terra se o peso da culpa desaparece diante de tesouros de ouro ou de exércitos blindados – a pergunta será em vão. Em Jesus, todavia, você encontrará aquilo que seu coração anseia, não apenas como possibilidade ou consolação difusa, mas como realidade total e ditosa, aqui e agora, diz Werner de Boor.137 O apóstolo Paulo afirma: “… Nele temos a redenção, a remissão dos pecados” (1.14).
d. O perdão que recebemos de Deus é o padrão do perdão que devemos oferecer ao nosso ofensor. Os perdoados devem perdoar e perdoar com o mesmo tipo de perdão que receberam de Deus (3.13). Aqueles que foram objetos do perdão de Deus devem ser instrumentos desse perdão a outrem (Mt 18.21–35).