Providência de Deus - Romanos 8.30

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O que nós chamados de providência é que Deus usa
O Teísmo cristão opõe-se tanto a uma deísta separação entre Deus e o mundo como a uma confusão panteísta de Deus com o mundo. Daí, a doutrina da criação é seguida imediatamente pela da providência, na qual se define claramente o conceito bíblico da relação de Deus com o mundo. Apesar de não se achar o termo “providência” na Escritura, a doutrina da providência, não obstante, é eminentemente escriturística. A palavra é derivada do termo latino providentia, que corresponde ao grego pronoia. Estas palavras significam primariamente presciência ou previsão, mas gradativamente adquiriram outros sentidos. A previsão é, de um lado, associada a planos para o futuro e, de outro, à realização concreta desses planos. Assim, a palavra “providência” veio a significar a provisão que Deus faz para os fins do seu governo, bem como a preservação e governo de todas as suas criaturas. É este o sentido em que em geral é usada atualmente na teologia, mas não é o único sentido em que os teólogos a têm empregado. Turretino define o termo em seu sentido mais amplo, como denotando (1) presciência (pré-conhecimento), (2) predestinação (preordenação), e (3) a administração eficaz das coisas decretadas. No uso geral, porém, hoje se restringe geralmente ao último sentido.
A. Providência em Geral
1. HISTÓRIA DA DOUTRINA DA PROVIDÊNCIA:
Com a sua doutrina da providência a Igreja tomou posição contra a noção dos epicureus de que o mundo é governado pelo acaso, e contra a ideia estoica de que ele é governado pelo destino. Desde o início os teólogos assumiram a posição de que Deus preserva e governa o mundo. Contudo, nem sempre tiveram eles uma concepção igualmente absoluta do domínio divino sobre todas as coisas. Devido à estreita conexão entre ambas, a história da doutrina da providência segue, no essencial, a da doutrina da predestinação. Os primeiros “pais da Igreja” não apresentam ideias definidas sobre o assunto. Em oposição à doutrina estoica do destino, e em seu desejo de proteger a santidade de Deus, às vezes eles exageravam na ênfase ao livre-arbítrio do homem, e nesse ponto manifestavam a tendência de negar o absoluto governo providencial de Deus com relação às ações pecaminosas. Agostinho tomou a dianteira no desenvolvimento desta doutrina. Contra as doutrinas do destino e do acaso, ele dava ênfase ao fato de que todas as coisas são preservadas e governadas pela soberana, sábia e bondosa vontade de Deus, mas afirmava o domínio de Deus igualmente sobre o bem e sobre o mal que há no mundo. Com a defesa da realidade das causas secundárias, ele salvaguardava a santidade de Deus e mantinha a responsabilidade do homem.
Durante a Idade Média houve pouca controvérsia sobre o tema da providência divina. Nem um só concílio expressou-se sobre esta doutrina. O conceito predominante era o de Agostinho, que sujeitava tudo à vontade de Deus. Não significa, porém, que não havia ideias divergentes.
A doutrina da providência divina de Tomás de Aquino segue em geral a de Agostinho, e sustenta que a vontade de Deus, como determinada pelas suas perfeições, preserva e governa todas as coisas, ou seja, tudo depende da vontade arbitrária de Deus. O cristão não acredita no acaso.
Lutero cresse na providência geral, ele não dava ênfase à preservação e ao governo divino do mundo em geral, como o fazia Calvino. Ele considerava a doutrina primordialmente em seus suportes soteriológicos.
Nos séculos 18 e 19 a providência foi praticamente eliminada por um Deísmo que descrevia Deus como tendo-se afastado do mundo após a obra da criação, e por um panteísmo que identificava Deus com o mundo, eliminava a distinção entre a criação e a providência e negava a realidade das causas secundárias. E embora o deísmo possa hoje ser considerado uma coisa do passado, seu conceito do domínio e direção do mundo tem continuidade na posição das ciências naturais, de que o mundo é dominado e dirigido por um sistema de leis.
E a Teologia Liberal moderna, com a sua concepção panteísta da imanência de Deus, também tende a eliminar a doutrina da providência divina.
2. A IDEIA DA PROVIDÊNCIA.
Louis Berkhof define a ideia da providência como:
A providência como o permanente exercício da energia divina, pelo qual o Criador preserva todas as suas criaturas, opera em tudo que se passa no mundo e dirige todas as coisas para o seu determinado fim. Esta definição indica que há três elementos na providência, a saber, a preservação (conservatio, sustentatio), a concorrência ou cooperação (concursus, co-operatio), e o governo (gubernatio).
Calvino, o Catecismo de Heidelberg e alguns dos dogmáticos mais recentes falam de dois elementos apenas, a saber, da preservação e do governo. Não quer dizer, porém, que eles queiram excluir os outros pensamentos, mas somente que o consideram incluído nos outros dois, indicando a maneira pela qual Deus preserva e governa o mundo.
OS OBJETOS DA PROVIDÊNCIA DIVINA
a. Os ensinamentos da Escritura sobre este ponto. A Bíblia ensina claramente o governo providencial de Deus (1) sobre o universo em geral, Sl 103.19; Dn 5.31; Ef 1.11; (2) sobre o mundo físico, Jó 37.5; Sl 104.14; 135.6; Mt 5.45; (3) sobre a criação inferior, Sl 104.21,28; Mt 6.26; 10.29; (4) sobre os negócios das nações, Jó 12.23; Sl 22.28; 66.7; At 17.26; (5) sobre o nascimento do homem e sua sorte na vida, 1Sm 16.1; Sl 139.16; Is 45.5; Gl 1.15,16; (6) sobre as vitórias e fracassos que sobrevêm às vidas dos homens, Sl 75.6,7; Lc 1.52; (7) sobre coisas aparentemente acidentais ou insignificantes, Pv 16.33; Mt 10.30; (8) na proteção dos justos, Sl 4.8; 5.12; 63.8; 121.3; Rm 8.28; (9) no suprimento das necessidades do povo de Deus, Gn 22.8,14; Dt 8.3; Fp 4.19; (10) nas respostas à oração, 1Sm 1.19; Is 20.5, 6; 2Cr 33.13; Sl 65.2; Mt 7.7; Lc 18.7,8; e (11) no desmascaramento e castigo dos ímpios, Sl 7.12,13; 11.6.
b. Providência geral e especial. Geralmente os teólogos distinguem entre providência geral e especial, a primeira indicando o governo de Deus sobre o universo todo, e a última, seu cuidado de cada parte dele em relação ao todo. Não são duas espécies de providência, mas a mesma providência exercida em duas diferentes relações. Contudo, a expressão “providência especial” pode ter uma conotação mais específica, e nalguns casos se refere ao cuidado especial de Deus por suas criaturas racionais. Alguns falam até mesmo de uma providência muito especial (providentia especialissima), com referência aos que estão na relação especial de filiação a Deus. Providências especiais são combinações especiais feitas na ordem dos eventos, como na resposta à oração, na libertação de dificuldades, e em todos os casos em que a graça e o socorro vêm, em circunstâncias críticas.
c. Negação da providência especial. Há os que estão dispostos a admitir uma providência geral, uma administração do mundo sob um sistema fixo de leis gerais, mas negam que haja também uma providência especial segundo a qual Deus se interessa pelos pormenores da história, pelos assuntos da vida humana e particularmente pelas experiências dos justos. Alguns afirmam que Deus é grande demais para interessar-se pelas coisas menores da vida, enquanto outros sustentam que ele simplesmente não pode fazê-lo, desde que as leis da natureza lhe amarram as mãos e, daí, sorriem significativamente quando ouvem dizer que Deus responde as orações. Agora, não há necessidade de negar que a relação da providência especial com as leis uniformes da natureza constitui um problema. Ao mesmo tempo, é preciso dizer que envolve um conceito muito pobre, superficial e antibíblico de Deus afirmar que ele não se interessa nem pode interessar-se pelos pormenores da vida, não pode responder as orações, nem prestar ajuda em emergências, nem interferir miraculosamente em favor do homem. Um governante que apenas baixasse certos princípios gerais e não desse atenção a particularidades, ou um homem de negócio que não examinasse os pormenores do seu negócio, logo estaria arruinado. A Bíblia ensina que mesmo as menores minúcias da vida pertencem à ordenação de Deus. Em conexão com a questão, se podemos harmonizar a operação das leis gerais da natureza com a providência geral, só podemos indicar o seguinte: (1) As leis da natureza não devem ser descritas como poderes da natureza a governarem absolutamente todos os fenômenos e operações. Elas na verdade não são mais que a descrição humana, por vezes deficiente, da uniformidade na variedade descoberta no modo pelo qual operam as forças da natureza. (2) A concepção materialista das leis da natureza como um sistema entrelaçado e fechado, agindo independentemente de Deus e realmente o impossibilitando de intervir no curso do mundo, é absolutamente errônea. O universo tem uma base pessoal. E a uniformidade da natureza é simplesmente o método ordenado por um ser pessoal em ação. (3) As leis da natureza, assim chamadas, só produzem os mesmos efeitos se todas as condições são as mesmas. Geralmente os efeitos não são resultados de uma força única, mas de uma combinação de forças naturais. Até um homem pode variar os efeitos combinando uma força da natureza com outra ou outras forças, e, entretanto, cada uma destas forças opera em estrita harmonia com suas leis. E se isto é possível para o homem, é infinitamente mais possível para Deus. Com todos os tipos de combinação, ele pode levar a efeito os mais variados resultados.
B. Preservação
1. BASE DA DOUTRINA DA PRESERVAÇÃO. A prova da doutrina da preservação é direta e por dedução.
a. Prova direta. A divina preservação de todas as coisas é clara e explicitamente ensinada em diversas passagens da Escritura. As seguintes passagens são apenas algumas das muitas que poderiam ser mencionadas: Dt 33.12,25–28; 1Sm 2.9; Ne 9.6; Sl 107.9; 127.1; 145.14,15; Mt 10.29; At 7.28; Cl 1.17; Hb 1.3. Numerosas são as passagens que falam do Senhor preservando o seu povo. Exemplos: Gn 28.15; 49.24; Êx 14.29,30; Dt 1.30,31; 2Cr 20.15,17; Jó 1.10; 36.7; Sl 31.20; 32.6; 34.15,17; 37.15,17,19,20; 91.1,3,4,7,9,10,14; 121.3,4,7,8; 125.1,2; Is 40.11; 43.2; 63.9; Jr 30.7,8,11; Ez 34.11,12,15,16; Dn 12.1; Zc 2.5; Lc 21.18; 1Co 10.13; 1Pe 3.12; Ap 3.10.
b. Prova por dedução. A ideia da preservação divina interfere-se da doutrina da soberania de Deus. Esta só se pode conceber como absoluta; não seria absoluta, porém, se existisse ou acontecesse alguma coisa independentemente da sua vontade. Só pode ser sustentada com a condição de que todo o universo e tudo que nele há é em seu ser e em sua ação absolutamente dependente de Deus. Infere-se também do caráter dependente da criatura. Uma característica de tudo quanto é criatura é que não pode permanecer existindo em virtude do seu poder inerente. O fundamento do seu ser e da continuidade da sua existência é a vontade do seu Criador. Somente aquele que criou o mundo pela palavra do seu poder, pode sustentá-lo por sua onipotência.
2. O CORRETO CONCEITO DA PRESERVAÇÃO DIVINA. A doutrina da preservação parte do pressuposto de que todas as substâncias criadas, quer espirituais quer materiais, têm existência real e permanente, distinta da existência de Deus, e só possuem propriedades ativas e passivas derivadas de Deus; e de que os seus ativos têm eficiência real, e não meramente aparente, como causas secundárias, de modo que podem produzir os efeitos que lhe são próprios. Assim, a doutrina protege-se do Panteísmo, com a sua ideia de uma criação contínua, que praticamente, se nem sempre expressamente, nega a existência distinta do mundo e faz de Deus o único agente do universo. Mas não considera essas substâncias criadas como auto existentes, desde que a auto existência é propriedade exclusiva de Deus, e todas as criaturas têm o fundamento da sua existência continuada nele, e não em si mesmas. Daí, segue-se que continuam a existir, e não em virtude de um ato meramente negativo de Deus, mas em virtude do exercício positivo e contínuo do poder divino. O poder de Deus acionado para a sustentação de todas as coisas é tão positivo como o poder exercido na criação. A precisa natureza da sua obra na sustentação de todas as coisas, tanto no ser como no agir é um mistério, embora se possa dizer que, em suas operações providenciais, ele se acomoda à natureza das suas criaturas. Dizemos com Shedd: “No mundo material, Deus age imediatamente nas propriedades e leis materiais e por meio delas. A preservação jamais corre contra a criação. Deus não viola na providência o que estabeleceu na criação”. A preservação pode ser definida como a obra contínua de Deus pela qual ele mantém as coisas que criou, juntamente com as propriedades e poderes de que as dotou.
3. CONCEITOS ERRÔNEOS DA PRESERVAÇÃO DIVINA. A natureza desta obra de Deus nem sempre é compreendida acertadamente. Há duas maneiras de vê-la que devem ser evitadas: (a) Que é puramente negativa. Segundo o Deísmo, a preservação divina consiste nisto: que Deus não destrói a obra das suas mãos. Em virtude da criação, Deus dotou a matéria de certas propriedades, colocou-a sob leis inalteráveis e depois a deixou mover-se por si mesma, independentemente de todo suporte ou direção de fora. Esta é uma representação irracional, irreligiosa e antibíblica. É irracional porque implica que Deus comunicou autossubsistência à criatura, quando a auto existência e autossustentação são propriedades incomunicáveis, que caracterizam unicamente o Criador. A criatura jamais pode ser autossustentadora, mas precisa ser mantida dia a dia pelo poder absoluto do Criador. Daí, não se exigiria um ato positivo de onipotência da parte de Deus para aniquilar existências criadas. Uma simples retirada de suporte naturalmente redundaria em destruição. – Este conceito é irreligioso porque afasta Deus para tão longe da sua criação que a comunhão com ele vem a ser uma impossibilidade prática. A história atesta claramente o fato de que ele invariavelmente quer a morte da religião. – Também é antibíblico, visto que pretende colocar Deus totalmente fora da sua criação, ao passo que a Bíblia nos ensina em muitas passagens que ele não é somente transcendente, mas também é imanente nas obras das suas mãos. (b) Que é uma criação contínua. O Panteísmo descreve a preservação como uma criação contínua, de modo que as criaturas ou causas secundárias são entendidas como não tendo existência real ou contínua, mas como emanando em cada momento sucessivo daquele misterioso Absoluto que é a base oculta de todas as coisas. Alguns não panteístas tinham uma ideia parecida da preservação. Descartes lançou as bases para essa concepção, e Malebranche a levou para o mais distante extremo coerente com o Teísmo. Até Jonathan Edwards a ensina incidentalmente em sua obra sobre o Pecado Original, e assim, perigosamente, quase chega a ensinar Panteísmo. Esse modo de entender a preservação não dá lugar às causas secundárias e, portanto, leva necessariamente ao Panteísmo. É contrário às nossas intuições originais e necessárias, que nos asseguram de que somos causas de ação reais e auto-determinantes e, consequentemente, agentes morais. Principalmente, fere a própria raiz da livre agência, da responsabilidade moral, do governo moral e, portanto, da própria religião. Alguns teólogos reformados também empregam a expressão “criação contínua”, mas com isso não ensinam a errônea doutrina que estamos focalizando. Desejam simplesmente acentuar o fato de que o mundo é mantido pelo mesmo poder que o criou. Em vista do fato de que a expressão está sujeita a ser mal-entendida, é melhor evitá-la.
C. Concorrência
1. A IDEIA DA CONCORRÊNCIA DIVINA E SUA PROVA BÍBLICA
a. Definição e explicação. Pode-se definir a concorrência como a cooperação do poder divino com todos os poderes subordinados, em harmonia com as leis pré-estabelecidas de sua operação, fazendo-os agir precisamente como agem. Alguns tendem a limitar a operação da concorrência, no que se refere ao homem, às ações humanas moralmente boas e, portanto, recomendáveis; outros, mais logicamente, estendem-na a ações de toda sorte. Deve-se notar logo de início que esta doutrina implica duas coisas: (1) Que as forças da natureza não agem por si mesmas, isto é, simplesmente por seu próprio poder inerente, mas Deus exerce operação imediata em cada ato da criatura. Deve-se sustentar esta verdade em oposição à posição deísta. (2) Que as causas secundárias são reais, e não devem ser consideradas apenas como o poder operativo de Deus. É só com a condição de que as causas secundárias sejam reais que podemos falar com propriedade de uma concorrência ou cooperação da Causa Primeira com as causas secundárias. Deve-se dar ênfase a isto, contra a ideia panteísta de que Deus é o único agente em ação no mundo.
b. Prova bíblica da concorrência divina. A Bíblia ensina claramente que a providência de Deus pertence, não somente à existência, mas também às ações ou operações da criatura. A verdade geral de que os homens não agem independentemente, mas são governados pela vontade de Deus, transparece em diversas passagens da Escritura. Em Gn 45.5 José diz que foi Deus, e não seus irmãos, que o enviara para o Egito. Em Êx 4.11,12 o Senhor diz que ele será com a boca de Moisés e lhe ensinará o que dizer; e em Js 11.6 ele dá a Josué a certeza de que o livrará dos inimigos de Israel. Provérbios 21.1 ensina-nos que “assim é o coração do rei na mão do Senhor; este segundo o seu querer, o inclina”; e Esdras 6.22, que o Senhor tinha mudado “o coração do rei da Assíria” para com Israel. Em Dt 8.18 traz-se à memória de Israel o fato de que foi Jeová que lhe deu capacidade para conseguir riqueza. Mais particularmente, a Escritura evidencia também que há uma espécie de cooperação divina naquilo que é mau. Conforme 2Sm 16.11, Jeová mandou Simei amaldiçoar a Davi. Também o Senhor chama à Assíria “cetro da minha ira”, e diz: “A vara em sua mão é o instrumento do meu furor”, Is 10.5. Além disso, ele pôs um espírito mentiroso na boca dos profetas de Acabe, 1Rs 22.20–23.
2. ERROS QUE DEVEM SER EVITADOS. Há vários erros contra os quais devemos guardar-nos, em conexão com esta doutrina.
a. Que ela consiste meramente numa comunicação geral de poder, sem determinar de forma alguma a ação específica. Os jesuítas, os socinianos e os arminianos sustentam que a concorrência divina é apenas uma cooperação geral e indiferente, de modo que é a causa secundária que dirige a ação ao seu fim particular. Essa cooperação é igualmente comum a todas as causas, estimulando-as à ação, mas de modo inteiramente indeterminado. Embora ative a causa secundária, deixa que esta determine o seu particular tipo e modo de ação. Mas se a situação fosse esta, estaria no poder do homem frustrar o plano de Deus, e a causa primeira seria subserviente à causa secundária. O homem estaria de posse do governo, e não haveria providência divina.
b. Que é de natureza tal, que o homem realiza parte da obra, e Deus realiza uma parte. Às vezes se descreve a cooperação de Deus e o homem como se fosse algo como os esforços conjuntos de um grupo de cavalos puxando juntos, cada qual fazendo a sua parte. Esta é uma visão equívoca da distribuição da obra. De fato, cada realização é, em sua inteireza, tanto uma realização de Deus como da criatura. É uma realização de Deus no sentido de que não há nada que independa da vontade divina, e no sentido de que é determinada, momento a momento, pela vontade de Deus. E é uma realização do homem no sentido de que Deus a leva a efeito por meio da atividade própria da criatura. Há uma interpretação aí, mas nenhuma limitação mútua.
c. Que a obra de Deus e a da criatura, na concorrência, são coordenadas. Isto já está excluído, pelo que foi dito no item anterior. A obra de Deus sempre tem prioridade, pois o homem depende de Deus em tudo que faz. A afirmação de Cristo na Escritura: “sem mim nada podeis fazer” aplica-se em todos os campos do esforço humano. A relação exata de ambos fica mais bem demonstrada nas seguintes características da concorrência divina.
3. CARACTERÍSTICAS DA CONCORRÊNCIA DIVINA
a. É prévia e predeterminante, não num sentido temporal, mas, sim, num sentido lógico. Na criatura não há nenhum princípio de atividade autônoma à qual simplesmente juntasse a sua atividade. Em cada caso, o impulso para a ação e movimento procede de Deus. Tem que haver uma influência da energia divina antes de a criatura poder agir. Deve-se notar particularmente que esta influência não termina na atividade da criatura, mas na criatura em si mesma. Tudo que há na natureza Deus faz agir e mover-se na direção de um fim predeterminado. Assim, Deus capacita e ajuda as suas criaturas racionais, como causas secundárias, a funcionarem, e isso não apenas dotando-as de energia, de maneira geral, mas dando-lhes energia para certos atos específicos. Ele opera tudo em todos, 1Co 12.6, e também neste caso, opera tudo conforme o conselho da sua vontade, Ef 1.11. Ele deu a Israel a capacidade de obter riqueza, Dt 8.18, e opera nos crentes tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade, Fp 2.13. Os pelagianos e semipelagianos de todo tipo geralmente se dispõem a admitir que a criatura não pode agir sem um influxo do poder divino, mas sustentam que este não é tão específico que chegue a determinar o caráter da ação de algum modo.
b. É também uma concorrência simultânea. Depois de iniciada a atividade da criatura, a vontade eficaz de Deus terá que acompanhá-la a todo momento, se é que a referida atividade deva continuar. Não há um só momento em que a criatura aja independentemente da vontade e do poder de Deus. É só nele que vivemos e nos movemos e existimos, At 17.28. Esta atividade divina acompanha ao acaso do homem em todo e qualquer ponto, mas sem privar o homem, um ato pelo qual ele é responsabilizado. Esta concorrência simultânea não redunda numa identificação da causa prima com a causa secunda Num sentido muito real, a operação é o produto de ambas as causas. O homem é e continua sendo o verdadeiro sujeito da ação. Bavinck ilustra isto indicando o fato de que a madeira queima, que somente Deus a faz queimar, mas que formalmente esta queima não pode ser atribuída a Deus, mas unicamente à madeira como sujeito da ação de queimar. É evidente que esta ação simultânea não pode ser separada da concorrência prévia e determinante, mas deve ser distinguida dela. Estritamente falando, diversamente da concorrência prévia, a ação simultânea termina, não na criatura, mas em sua atividade. Desde que não termina na criatura, pode, no abstrato, ser interpretada como não tendo quaisquer suportes éticos. Isto explica por que alguns teólogos reformados limitavam a concorrência prévia às boas ações dos homens, e quanto ao restante, contentavam-se em ensinar uma concordância simultânea.
c. É, finalmente, uma concorrência imediata. Em seu governo do mundo, Deus emprega toda sorte de meios para a consecução dos seus fins; mas não opera deste modo na concorrência divina. Quando destruiu com fogo as cidades da planície, praticou um ato de governo divino sem empregar meios ativos. Mas, ao mesmo tempo, esse ato constituiu sua concorrência imediata, pela qual habilitou o fogo a cair, queimar e destruir. Assim, também Deus opera no homem, dotando-o de poder, determinando as suas ações e sustentando as suas atividades o tempo todo.
4. A CONCORRÊNCIA DIVINA E O PECADO. Os pelagianos, os semipelagianos e os arminianos levantam séria objeção a esta doutrina da providência. Eles sustentam que uma concorrência prévia, que não seja meramente geral, mas que predetermine o homem a ações específicas, faz de Deus o autor do pecado, por este responsável. Os teólogos reformados estão bem cientes da dificuldade que aqui se apresenta, mas não se sentem livres para iludi-la negando o absoluto domínio de Deus sobre as livres ações das suas criaturas morais, visto que a Escritura o ensina claramente, Gn 45.5; 50.19,20; Êx 10.1,20; 2Sm 16.10,11; Is 10.5–7; At 2.23; 4.27,28. Eles se sentem constrangidos a ensinar: (a) que os atos pecaminosos estão sob o governo divino e ocorrem de acordo com a predeterminação e o propósito de Deus, mas somente pela permissão divina, de modo que ele não leva eficientemente os homens a pecarem, Gn 45.5; 50.20; Êx 14.17; Is 66.4; Rm 9.22; 2Ts 2.11; (b) que Deus muitas vezes reprime as obras pecaminosas do pecador, Gn 3.6; Jó 1.12; 2.6; Sl 76.10; Is 10.15; At 7.51; e (c) que Deus, no interesse do seu propósito, dirige o mal para o bem, Gn 50.20; Sl 76.10; At 3.13.
Não significa, porém, que todos eles concordam na resposta à questão, se há uma direta, imediata, dinamização do poder ativo da criatura, dispondo-a e predeterminando-a eficazmente ao ato específico, e também capacitando-a para praticar aquele ato. Dabney, por exemplo, embora admitindo uma concorrência física na criação inferior, nega-a com relação aos agentes livres. Contudo, a grande maioria a defende também no caso dos seres morais livres. Mesmo Dabney concorda que o governo de Deus sobre todos os atos das suas criaturas é certo, soberano e eficaz; e, daí, ele tem que enfrentar, juntamente com todos os demais, a questão quanto à responsabilidade de Deus pelo pecado. Dá ele sua conclusão com as seguintes palavras: “É esta, pois, a minha descrição da evolução do propósito de Deus quanto aos atos pecaminosos; de tal modo dispõe e agrupa eventos e objetos em torno de agentes livres por sua multiforme sabedoria e poder, que cada alma, em cada fase, é posta na presença das circunstâncias que, ele sabe, serão um induzimento suficiente para que ela se realize, por sua própria atividade natural e livre, exatamente aquilo que se chama plano de Deus. Assim, o ato é somente do homem, conquanto a sua ocorrência seja eficazmente assegurada por Deus. E o pecado é somente do homem. O interesse de Deus pelo pecado é santo, primeiro, porque toda a sua ação pessoal nos acertos para assegurar a sua ocorrência foi santa; e segundo, os seus fins e propósitos são santos. Deus não quer o pecado do ato por sua pecaminosidade; mas somente quer o resultado para o qual o pecado é apenas um meio, e esse resultado é sempre digno da sua santidade”. Contudo, a imensa maioria dos teólogos reformados sustenta o concurso em questão, e busca a solução da dificuldade fazendo distinção entre a matéria e a forma do ato pecaminoso, e atribuindo a última exclusivamente ao homem. O concurso divino dinamiza o homem e o determina eficazmente ao ato específico, mas é o homem que dá ao ato a sua qualidade formal e que, portanto, é responsável por seu caráter pecaminoso. De nenhuma destas soluções se pode dizer que satisfaz inteiramente, de modo que o problema da relação de Deus com o pecado continua sendo um mistério.
D. Governo
1. A NATUREZA DO GOVERNO DIVINO. Pode-se definir o governo divino como a contínua atividade de Deus pela qual ele rege todas as coisas teleologicamente a fim de garantir a realização do propósito divino. Este governo não é uma simples parte da providência divina, mas, como no caso da preservação e da concorrência, é toda ela, agora, entretanto, considera sob o ponto de vista do fim para o qual Deus guia todas as coisas da criação, a saber, a glória do seu nome.
a. É o governo de Deus como o Rei do universo. Nos dias presentes muitos consideram a ideia de Deus como Rei uma noção antiquada do Antigo Testamento, e a querem substituir pela ideia neotestamentária de Deus como Pai. A ideia da soberania divina deve dar lugar à do amor divino. Julga-se que esta se harmoniza com a ideia progressiva de Deus na Escritura. Mas é um erro pensar que a revelação divina, conforme se eleva a níveis mais altos, tenciona fazer com que nos desapeguemos aos poucos da ideia de Deus como Rei e a substituamos pela ideia de Deus como Pai. Já vai contra isso a proeminência da ideia do reino de Deus nos ensinos de Jesus. E se se disser que isto envolve apenas a ideia de uma especial e limitada realeza de Deus, pode-se replicar que a ideia da paternidade de Deus nos evangelhos está sujeita às mesmas restrições e limitações. Jesus não ensina uma paternidade universal de Deus. Além disso, o Novo Testamento também ensina a realeza universal de Deus em passagens como Mt 11.25; At 17.24; 1Tm 1.17; 6.15; Ap 1.6; 19.6. Ele é igualmente Rei e Pai, e é a fonte de toda autoridade no céu e na terra, o Rei dos reis e Senhor dos senhores.
b. É um governo adaptado à natureza das criaturas que ele governa. No mundo físico ele estabeleceu as leis da natureza, e é por meio dessas leis que ele exerce o governo do universo físico. No mundo mental ele exerce o seu governo de forma mediata, por meio das propriedades e leis da mente, e imediatamente, pela direta operação do Espírito Santo. No governo e controle dos agentes morais ele faz uso de toda classe de influência moral, como as circunstâncias, os motivos, a instrução, a persuasão e o exemplo, mas também age diretamente, pela operação pessoal do Espírito Santo no intelecto, na vontade e no coração.
2. A EXTENSÃO DESTE GOVERNO. A Escritura declara explicitamente que este governo divino é universal, Sl 22.28,29; 103.17–19; Dn 4.34,35; 1Tm 6.15. É realmente a execução do seu propósito eterno, abrangendo todas as suas obras, desde o princípio, tudo que foi, é e será para sempre. Mas, embora geral, desce também a particularidades. As coisas de maior significação, Mt 10.29–31, aquilo que é aparentemente acidental, Pv 16.33, as boas ações dos homens, Fp 2.13, como também as suas más ações, At 14.16 – tudo está sob o governo e direção de Deus. Deus é o Rei de Israel, Is 33.22, mas ele também domina entre as nações, Sl 47.9, nada pode escapar ao seu governo.
E. Providências Extraordinárias ou Milagres
1. A NATUREZA DOS MILAGRES. Usualmente se faz distinção entre providentia ordinaria e providentia extraordinaria. Na primeira, Deus age por meio de causas secundárias em estrito acordo com as leis da natureza, embora possam variar os resultados, com diferentes combinações. Mas na última ele age imediatamente ou sem a mediação de causas secundárias, em sua operação ordinária. Diz McPherson: “Milagre é uma coisa feita sem se recorrer aos meios ordinários de produção, um resultado produzido diretamente pela Causa Primeira, sem a mediação, pelo menos do modo habitual, das causas secundárias”. A coisa distintamente característica do feito miraculoso é que ele resulta do exercício do poder sobrenatural de Deus. E, naturalmente, isto significa que o referido feito não é ocasionado por causas secundárias que operam segundo as leis da natureza. Se fosse, não seria sobrenatural(acima da natureza), isto é, não seria milagre. Se Deus, na realização de um milagre, algumas vezes utilizou forças que estavam presentes na natureza, utilizou-as de maneira inteiramente distantes do ordinário, para produzir resultados não esperados pelo homem, e foi justamente isso que constituiu o milagre. Todo milagre está acima da ordem estabelecida da natureza, mas podemos distinguir diferentes classes, conquanto não graus, de milagres. Há milagres que estão absolutamente acima da natureza, de modo que não estão ligados, de modo algum, a quaisquer meios. Mas também há milagres que são contra media, nos quais os meios são empregados, mas de modo tal, que o resultado é uma coisa completamente diversa do resultado habitual daqueles meios.
2. A POSSIBILIDADE DE MILAGRES. Há objeções aos milagres, principalmente com base em que eles implicam uma violação das leis da natureza. Alguns procuram fugir à dificuldade presumindo, com Agostinho, que eles são simples exceções da natureza, como a conhecemos, implicando que, se tivéssemos um conhecimento mais completo da natureza, poderíamos explicá-los de maneira perfeitamente natural. Mas esta posição é insustentável, desde que pressupõe duas ordens da natureza, mutuamente contrárias. Conforme a primeira, o azeite da botija diminuiria, mas conforme a outra, não diminui; conforme a primeira, os pães foram consumidos gradativamente, mas conforme a outra, multiplicaram-se. É preciso supor, ademais, que um sistema é superior ao outro, pois, se não fosse, haveria tão somente uma colisão e nada resultaria; mas, se o fosse, o que parece é que a ordem inferior aos poucos seria dominada e desapareceria. Além disso, esse conceito priva o milagre do seu caráter excepcional, sendo que os milagres mostram-se como eventos excepcionais nas páginas da Escritura.
Há sem dúvida, uma certa uniformidade na natureza; há leis que governam a operação das causas secundárias no mundo físico. Lembremo-nos, porém, de que elas representam meramente o método usual pelo qual Deus age na natureza. É sua boa vontade agir de maneira ordenada e por intermédio de causas secundárias. Mas isto não significa que ele não possa deixar de lado a ordem estabelecida, e não possa produzir um efeito extraordinário, que não resulte de causas naturais, por um ato único de volição, se o julgar desejável para o fim em vista. Quando Deus opera milagres, produz efeitos extraordinários de maneira extraordinária. Quer dizer que os milagres estão acima da natureza. Diríamos também que são contrários à natureza? Houve teólogos reformados mais antigos que não hesitavam em falar deles como uma ruptura ou uma violação das leis da natureza. Às vezes diziam que, ocorrendo um milagre, a ordem da natureza era suspensa temporariamente. O Dr. Bruin acha correta essa maneira de ver, e o afirma em sua obra intitulada Het Christelijk Geloof em de Beoefening der Natuurwetenschap, e faz objeção às ideias de Woltjer, Dennert e Bavinck. Mas o acerto dessa terminologia mais antiga pode muito bem ser posta em dúvida. Quando se realiza um milagre, as leis da natureza não são violadas, mas são superadas num determinado ponto por uma superior manifestação da vontade de Deus. As forças da natureza não são anuladas ou suspensas, mas são apenas neutralizadas, num ponto particular, por um poder superior a elas.
3. O PROPÓSITO DOS MILAGRES DA ESCRITURA. Pode-se presumir que os milagres da Escritura não foram realizados arbitrariamente, mas, sim, com um propósito definido. Não são meras maravilhas e exibições de poder, destinadas a provocar admiração, mas têm significação revelacional. A entrada do pecado no mundo torna necessária a intervenção sobrenatural de Deus no curso dos eventos, para a destruição do pecado e para a renovação da criação. Foi mediante milagre que Deus nos deu a sua revelação especial e verbal na escritura, bem como a sua revelação suprema e fatual em Jesus Cristo. Os milagres estão relacionados com a economia da redenção, uma redenção que com frequência eles prefiguram e simbolizam. Não visam uma violação, mas, antes, uma restauração da obra criadora de Deus. Daí, vemos ciclos de milagres ligados a períodos especiais da história da redenção, e especialmente durante a época do ministério público de Cristo e da fundação da Igreja. Estes milagres ainda não resultaram na restauração do universo físico. Mas, no fim dos tempos, haverá outra série de milagres, que redundarão na renovação da natureza, para a glória de Deus – o estabelecimento final do reino de Deus em novo céu e nova terra.
QUESTIONÁRIO PARA PESQUISA: 1. A doutrina da providência é um articulus purus ou um articulus mixtus? 2. Qual foi o primeiro “pai da Igreja” a desenvolver esta doutrina? 3. Como diferem Lutero e Calvino, em sua concepção da providência divina? 4. O que explica o fato de que os arminianos aceitam a posição dos socinianos sobre este ponto? 5. Como devemos julgar a asserção de alguns teólogos reformados de que Deus é a Causa Única a atuar no mundo? 6. O que são as causas secundárias, e por que é importante sustentar que são causas reais? 7. A doutrina do concurso divino é antagônica à livre ação do homem? 8. Qual a concepção agostiniana dos milagres? 9. Por que é importante afirmar a realidade do miraculoso? 10. Os milagres admitem uma explicação natural? 11. Implicam eles uma suspensão das leis da natureza? 12. Qual a significação especial dos milagres da Bíblia? 13. Poderiam acontecer milagres hoje? 14. Acontecem de fato? 15. O que dizer dos milagres da Igreja Católica Romana?
BIBLIOGRAFIA PARA CONSULTA: Bavinck, Geref. Dogm. II, pp. 635–670; Kuyper, Dict. Dogm., De Providentia, pp. 3–246; Vos, Geref. Dogm. I, De Voorzienigheid; Hodge, Syst. Theol. I, pp. 575–636; Shedd, Dogm. Theol. I, pp. 527–545; Dabney, Syst. and Polem. Theol., pp. 276–291; McPherson, Chr. Dogm., pp. 174–184; Drummond, Studies in Chr. Doct., pp. 187–202; Pope, Chr. Theol. I, pp. 437–456; Raymond, Syst. Theol. I, pp. 497–527; Valentine, Chr. Theol., pp. 363–382; Pieper, Christl. Dogm. I, pp. 587–600; Schmidt. Doct. Theol. of the Ev. Luth. Church, pp. 179–201; Dijk, De Voorzienigheid Gods; Mozley, On Miracles; Thomson, The Christian Miracles and the Conclusions of Science; Mead, Supernatural Revelation; Harris, God, Creator and Lord of All, I, pp. 519–579; Bruin, Het Christelijke Geloof en de Beoefening der Natuurwetenschap, pp. 108–138[1]
[1]Louis Berkhof, Teologia Sistemática, trans. Odayr Olivetti, 4‍‍a edição. (São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2012), 153–164.
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