Mateus 13.47-52
Série expositiva no Evangelho de Mateus • Sermon • Submitted
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· 22 viewsO autor do Evangelho narra a finalização desse primeiro bloco de parábolas, expondo o programa do Reino dos céus e seus efeitos.
Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
A presente seção do Evangelho de Mateus destina-se a concluir a etapa de seu escrito que destinou para tratar do programa do Reino dos céus. Suas elucidações sobre a natureza, preciosidade e alcance do Reino, referidas por meio das parábolas anteriores, agora convergem para uma conclusão simples, que inclusive referencia a própria razão de ser das mesmas, tal como temos visto, qual seja: a revelação do Reino aos discípulos, e a simultânea ocultação do mesmo ao réprobos.
Agora, em suas últimas parábolas, Cristo demonstra algo que já havia dito, porém repete no intuito de questionar se os discípulos haviam compreendido o que foi ensinado (v. 51). A dinâmica distintiva do Reino provocando divisão na raça humana, é o tema escolhido para concluir suas considerações, proposto através da parábola da rede (vs. 47-50), seguido pela caracterização de seus discípulos como “homens versados o reino dos céus” (vs. 52).
Em face dessas considerações, a seção em questão do Evangelho de Mateus, destina-se expor a confirmação do entendimento da mensagem do Reino.
Elucidação
A perícope novamente é iniciada com outra comparação quanto a realidade do que é o Reino dos céus. Desta feita, grande parte de seus discípulos está afeita ao contexto referido por Cristo, e assim, a aproximação entre o sentido da parábola e sua realidade espiritual, torna-se ainda mais clara para eles, qual seja: a pesca.
O sentido tratado na parábola da rede é semelhante aquele exposto através da parábola do joio e do trigo: há uma divisão perene na raça humana, e essa divisão ficará ainda mais evidente no momento em que o Reino for publicado, pois naquela ocasião, a separação prometida por Cristo (chamada de ceifa (cf. vs. 39)) - agora figurada pela separação de peixes duma rede - é novamente mencionada, reforçando a promessa de que os maus serão tirados da presença dos justos.
Tal como no caso da parábola do Joio e do Trigo, a ideia de expulsão dos injustos da presença dos eleitos, ecoa o ensinamento bíblico de que o juízo consiste no banimento daqueles do Reino a ser publicado pelo SENHOR. "O mundo é o campo" (cf. vs. 38), e o lugar que será restaurado para ser a habitação do Deus Triuno em Cristo Jesus, onde estará para sempre com o seu povo. Para isso, o mal deverá ser varrido, e a criação, liberta e purificada dos efeitos do pecado.
Essa mesma operação agora é prefigurada pela parábola da rede. Entretanto a diferença latente entre as parábolas consiste na forma como justos e ímpios foram unidos num mesmo ambiente. Na menção a parábola do joio e o trigo, é dito que um inimigo havia plantado o joio no campo, junto ao trigo (v.25). Agora porém, a rede é "lançada ao mar, [e] recolhe peixes de toda espécie" (v.47), já pressupondo que de alguma forma, eleitos e não eleitos convivem. Somente quanto a rede está cheia, os pescadores a trazem à terra, onde iniciam o processo de seleção: "escolhem os bons para os cestos e os ruins deitam fora" (v. 48).
O detalhe proposto favorece a proposição de um ensinamento a seus discípulos: os elementos representados apontam para a dinâmica do Reino, e ao compararmos esta parábola com a que possui o mesmo princípio a ser exposto (i.e. a do joio e do trigo), veremos que: 1) A rede lançada ao mar representa a pregação e difusão do Evangelho através dos discípulos; 2) O abastecimento da rede com peixes, indica o momento em que a mensagem do Reino atingirá seu objetivo: testemunho para todas as nações; 3) A consumação do século é o momento em que Cristo retornará para publicar seu Reino, e nesse momento; 4) Os ímpios serão banidos da presença dos justos, sendo encaminhados para a morte eterna, momento que é prefigurado na parábola pelo ato dos pescadores (os anjos) escolherem os peixes bons para os cestos e os ruins deitarem fora.
Após tantas parábolas que demonstram a não participação dos ímpios no Reino, o autor posiciona estrategicamente esta última ao final, a fim de que seus leitores fossem exortados a não cessarem de pregar a mensagem do Reino, pois eles são como a rede que é lançada ao mar: usados para trazer à fé aqueles que, embora agora estejam no mundo e alheios à Cristo e seu Reino, sendo eleitos, sejam recolhidos nos “cestos” (fig. ling. ‘salvação’), através da conversão operada pelo Espírito, e assim, salvos da fornalha acessa (lugar onde os pescadores lançam os peixes ruins); "ali haverá choro e ranger de dentes" (v.50).
Como dito, a proposição parabolar é uma estratégia de Cristo a fim de que somente seus discípulos entendam a mensagem do Reino, o que passa a ser aferido e confirmado através da pergunta do Senhor a eles: "Entendestes todas estas coisas?" (v. 51). Naturalmente, como sugere os próprios termos da pergunta, Cristo não está se referindo apenas aquela parábola, mas a toda a realidade exposta por ele, inclusive nas outras. Notadamente esta pergunta, dado o uso das parábolas, é retórica, e a resposta dos discípulos (tal como já prevista por Cristo) é usada para reforçar a nova perspectiva do Reino que os discípulos haviam adquirido:
Então, lhes disse: Por isso, todo escriba versado no reino dos céus é semelhante a um pai de família que tira do seu depósito coisas novas e coisas velhas.
A comparação realizada por Cristo entre os discípulos e um escriba versado, não possui a finalidade de aproximá-los ao escriba da época, figura que até o presente momento (e como é visível, até ao fim da vida de Cristo) se opõem ao Reino. É muito mais provável que o termo "escriba" (gr. "γραμματεύς") aqui, seja usado mais como um qualificativo que aponta para o conhecimento que os discípulos agora tinham, que lhes proporcionava comparar os acontecimentos e fatos presentes (coisas novas), com as descrições e profecias do passado (figurado pelo retirar do depósito também coisas velhas).
O entendimento do Reino baseado na compreensão da identidade de Cristo como o Messias, e de sua mensagem como fato que inaugura o Reino dos céus e sua chegada para o seu povo, é uma graça comparada ao ser um homem verdadeiramente inteirado e favorecido com a interpretação da história redentiva tal como fora revelado nas Escrituras.
Transição
Novamente, essa noção vai de encontro ao público-alvo de Mateus, que ao ser introduzido ao ensino parabolar de Cristo, compreendendo-o, pode ver-se como agraciado em ter apreendido a mensagem salvadora do Reino dos céus, confiando nos efeitos do testemunho do Evangelho, aguardando o momento em que a rede será recolhida, e a redenção consumada.
Assim, os princípios latentes referidos no texto ao primeiro público, também devem ser aplicados e observados pela igreja hoje. Quais sejam:
Aplicações
1. A obra de testemunho do Reino através da igreja, progredirá até o retorno de Cristo, em que a obra salvadora será consumada.
Já havia ficado evidente que a redenção consiste numa separação realizada por Deus entre ímpios e justos. Porém, o ponto histórico reforçado por Cristo na parábola da rede que serve de parâmetro através do qual seus servos poderão compreender quanto ele voltará, é a própria missão de testemunho do Evangelho.
A mensagem do Reino pregada por nós, é como uma rede lançada ao mar, recolhendo os peixes que encontra. Porém, assim como na parábola, não entram na rede apenas os peixes bons; os maus também são trazidos ao momento da seleção.
Não temos como saber quais “peixes” são bons ou maus, até que estes revelem sua aceitação em relação ao convite ao Reino ou não. Por isso, a igreja é chamada a pregar, discernindo os tempos através das palavras das Escrituras interpretadas e expandidas por Jesus Cristo e seus apóstolos.
Não nos cabe a nós realizar a separação do joio do meio do trigo, ou dos peixes ruins do meio dos bons; o momento chegará, o próprio Cristo ordenará que seus anjos recolham os rebeldes para que sejam banidos de sua presença e de seu povo, a fim de que a criação torne-se novamente o tabernáculo no qual Deus e seu povo comungarão.
2. A confirmação de nosso pertencimento ao Reino consiste na compreensão da mensagem do Evangelho e na apreensão de seus princípios.
Cristo, diligentemente ensinou seus discípulos que o Reino dos céus é:
Como uma semente que frutificará apenas no coração dos eleitos (Parábola do semeador - vs. 3 à 23).
Como o mundo, que comportando maus e bons, aguarda para que a ceifa separe aqueles destes (Parábola do joio e do trigo - vs. 24 à 30; 36 à 43).
Maior do que todo e qualquer reino deste mundo, e portanto mais poderoso (Parábolas do grão de mostarda e do fermento - vs. 31 à 33).
Mais precioso do que qualquer bem ou riqueza desse mundo, e por ele devemos entregar nossa vida (Parábolas do tesouro escondido e da pérola - vs. 44 - 46).
O divisor responsável pela futura separação dos ímpios do meio dos justo, consumando assim os tempos e o momento em que será publicado (Parábola da rede - vs. 47 à 50).
Todo esse conhecimento deve ser internalizado por nós, pois nos foi dado o poder de compreender essas coisas à luz do próprio Cristo, crendo que ele é o nosso Salvador, e portanto, aquele responsável por cumprir as palavras do Pai de nos restaurar à sua presença como povo de propriedade exclusiva sua. Viver à parte ou aquém desses princípios só demonstraria que alguém não pertence ao Reino.
Aqui está a graça divina que confirma nossa eleição: com profunda atenção e presteza, atendemos à voz de nosso Supremos Pastor, compreendendo suas palavras de amor e graça, que nos mostram qual maravilhosa benção recebemos, por fazer parte do Reino dos céus.
Conclusão
Nosso Senhor, por meio de parábolas, dos Evangelhos e das Escrituras em sua inteireza, nos deixou princípios que devemos crer e praticar. Como escribas versados, compreendemos a vontade de nosso Rei, e através desses princípios devemos viver, expondo a mensagem que ele nos deixou: “arrependam-se e creiam em Cristo, e por ele sejam salvos do fim!”.