Mateus 13.53-58

Série expositiva no Evangelho de Mateus  •  Sermon  •  Submitted
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O autor demonstra a incredulidade como resultado evidente do ensino de Cristo sobre o programa distintivo do Reino.

Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
Chegando ao final do capítulo 13 que, como dito, conclui a sessão em que o programa do Reino é exposto, o Evangelho retoma o tom narrativo a fim de esclarecer e elucidar exatamente a reação provocada pela difusão da mensagem do Reino por meio de parábolas, resultado esse que assevera e cumpre as palavras de Cristo ao ter afirmado que aos discípulos havia sido concedido o conhecimento dos "mistérios do Reino" (v. 11), ao passo que aos demais, não o fora.
Essa noção será exposta através da rejeição das multidões ao próprio Cristo, não tendo elas reconhecido-o como o Rei enviado da parte do Pai como publicador de seu Reino. Com isso, um ponto salutar do desenvolvimento do Evangelho é retomado: a síntese realizada por Mateus de que Cristo e o Reino são um e a mesma coisa, no sentido de que o segundo somente poderá ser recebido, se houver fé no primeiro.
"A incredulidade deles" (v. 58) é a exposição clara que a maioria esmagadora daqueles que ouviram os discursos de Cristo, não haviam compreendido sua mensagem, e estavam à parte do reconhecimento da identidade do Messias, e com isso, alheios à salvação.
Assim, a presente seção destina-se a observar a incredulidade como confirmação do efeito distintivo da mensagem do Reino.
Elucidação
Segundo analisado, a seção finaliza as exposições das parábolas de Cristo, alternando agora para a descrição narrativa da partida em retorno à Nazaré, sua terra natal, onde torna a ensinar e divulgar a mensagem do Reino. Entretanto, a mudança de cenário - embora não de ação - propõe uma intensificação do tema abordado na narrativa, que será notada ao final, pois, a familiaridade da localidade poderia sugerir que a pregação de Cristo seria melhor aceita, pois todos o conheciam. Contudo, o que acontece é o inverso.
De início, o autor chama a atenção para a reação do público ao ouvir a prédica do Senhor Jesus: "[...] se maravilhavam e diziam: Donde lhe vêm esta sabedoria e estes poderes miraculosos?" (v. 54a). O termo usado por Mateus para referir a reação da audiência (gr. "ἐκπλήσσεσθαι") remete à um espanto ou reação de surpresa/assombro. Certamente, para as multidões, o teor da fala de Cristo lhes era inusitado, assim como é registrado que muitos reconheceram a distinção de seu ensino ao final do sermão da montanha em 7.28. Porém, desta feita, o detalhamento do escritor aponta que o assombro das multidões não se dá pela mensagem em si, mas sim, por quem a estava anunciando: "[...] não é este o filho do carpinteiro? (v. 54b).
Houve uma dificuldade de apreensão da mensagem devido a identidade de seu emissor: para as multidões, o fato de Cristo expor todas aquelas palavras mediante uma autoridade confirmada por sinais prodigiosos era uma paradoxo. Como alguém que mostrara-se ser tão humano quanto qualquer outro, poderia agora realizar tantos sinais? O "contrassenso" do Reino dos céus ser exposto em sua plenitude através de um homem, não poderia ser compreendido por quem não recebeu o poder para absorver a realidade de que Deus se havia feito homem, para, habitando com seu povo, sacrificar-se para remissão dos pecados deste.
O clímax da revelação redentora era exatamente a "união dos céus com a terra" (metáfora para união das naturezas divina e humana em Cristo) através da mediação do Messias: o Deus-Homem estava publicando a grandeza do Reino através da simplicidade de palavras e proeza de sinais que exibiam a intenção soberana de libertar seu povo das mazelas do pecado. Contudo, uma mensagem tão portentosa e complexa estava acima e além das capacidades humanas de compreensão, e assim, o questionamento das multidões continua, demonstrando essa deficiência: "não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, José, Simão e Judas? Não vivem entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe vem, pois, tudo isto" (vs. 55,56).
O autor elabora o quadro geral dessa rejeição através de outro termo que, conectado ao primeiro, deixa claro a falta de fé dos seus ouvintes: "E escandalizavam-se (gr. lit. "ἐσκανδαλίζοντο" = ofenderam-se ) nele". A repulsa das multidões ao ver Cristo realizando sinais atinge seu limite, e a imagem retratada por Mateus até este ponto, progride para o desfecho que o autor deseja expor: ao longo desta seção (desde 11.2 até o presente texto) o programa do Reino foi declarado: trazer salvação aos eleitos, e divulgar a condenação dos réprobos. Porém, pouco a pouco, o redator usa o anúncio das parábolas e a explicação delas aos discípulos, para demonstrar o primeiro efeito, e a reação dos ouvintes, para indicar o segundo.
No mesmo relato conforme registrado por Lucas, há uma compreensão mais aprofundada quanto a fúria das multidões. O ensino exposto por Cristo neste ocasião, não estava sendo propagado por meio de parábolas como anteriormente. Segundo o Terceiro Evangelho, o Senhor Jesus, tendo aberto as Escrituras no Livro do Profetas Isaías, pronunciou às multidões que a profecia registrada no texto de Isaías 61.1-2, havia sido cumprido em sua chegada. Noutras palavras, Isaías profetizara que o Enviado do SENHOR viria, a fim de declarar executar a obra redentiva de libertação dos cativos, e aquele a quem se referiu Isaías era ele mesmo.
Foi esta a declaração que despertou o furor das multidões, pois, se para seus discípulos, tais palavras não eram outra coisa senão a evidente verdade do Reino, para outros, não passava de uma pretensiosa e arrogante afirmação que fora levianamente usada pelo Filho do carpinteiro. Notadamente, o paradoxo do Evangelho havia cumprido seu propósito: a incredulidade dos não-eleitos fora revelada, de maneira que o julgamento de Cristo clarifica essa realidade: "não há profeta sem honra, senão na sua terra e na sua casa" (Mt 13.57).
Assim como Elias e Eliseu, que por causa da infidelidade e incredulidade do povo, não foram enviados à nação de Israel para socorrer o povo nos momentos de aflição, ou quando lhes disciplinou por causa de seus pecados (cf. Lc 4.25-27), Cristo retirou-se dali, e diferentemente do que poderiam supor alguns, de que a incredulidade do povo de Israel foi um impedimento à mensagem do Evangelho, na verdade, à luz do contexto de Lucas e Marcos, indicava o juízo divino, que os condenava a permanecerem na incredulidade, pelo menos naquele momento.
Transição
A mensagem editada por Mateus em seu registro, propõe a observação da raiz da incredulidade no coração dos homens: a mensagem pregada não seria crida por simples incapacidade cognitiva de compreensão das parábolas, ou por algum tipo de privação imposta de maneira externa a qualquer fator que já não estivesse presente na natureza de quem ouve o Evangelho. A incredulidade consiste na recalcitrância humana em não reconhecer a Cristo como o libertador prometido no Antigo Testamento, e enviado no Novo.
Essa mesma consideração deve ser analisada e recebida pela igreja de Cristo hoje, pois embora os tempos tenham passado, a dinâmica do Reino permanece a mesma. E assim, o texto de Mateus 13.53-58, propõe a observação da seguinte verdade:
Aplicação
A incredulidade consiste na rejeição à Cristo Jesus, como o Deus-Homem enviado pelo Pai para salvar e remir pecadores.
As multidões viram os grandes sinais que Cristo realizou. Mas quando este revelou a causa de ter tamanho poder, o rejeitaram, pois julgaram impossível que um “homem como qualquer outro” pudesse ser capaz de realizar aqueles prodígios, e mais ainda, julgaram-no pretensioso e arrogante, reclamando para si o título de “Messias”, tal como estava preceituado nos profetas.
A mensagem do Evangelho é terrivelmente confrontadora para qualquer um que não receba do Espírito, o poder para crer. Cristo é o Filho de Deus, sendo ele mesmo Deus com o Pai e o Espírito. Ele é o Juiz que dispõe do poder de libertar e condenar; de dar vista e manter cego; de trazer à vida e matar. Tamanho poder desde a queda, sempre encontrou protesto entre os homens, que nunca poderão reconhecer nele, nada mais além do homem, assim como as multidões o fizeram, e embora também essa informação faça parte do bojo conceitual do Evangelho, não é a informação completa acerca de Cristo.
O Credo Niceno (325 d.C.) sintetiza a confissão credal da igreja nas seguintes palavras sobre Cristo:

Cremos em um único Senhor, Jesus Cristo, o único Filho de Deus, gerado eternamente do Pai, Deus de Deus, luz de luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado não criado, de um único Ser com o Pai; por meio dele todas as coisas foram feitas. Por nós e para a nossa salvação, ele desceu do céu, foi encarnado do Espírito Santo e da virgem Maria e se tornou verdadeiramente humano. Em nosso favor, ele foi crucificado sob a autoridade de Pôncio Pilatos, sofreu a morte e foi sepultado. No terceiro dia, ele ressuscitou de acordo com as Escrituras; ascendeu ao céu e está sentado à mão direita do Pai. Ele virá novamente em glória para julgar os vivos e os mortos, e seu reino não terá fim.

Foi a esse Jesus Cristo que as multidões rejeitaram, e tem rejeitado até hoje. Por outro lado, para a glória do Deus Triuno e salvação dos eleitos, é este Jesus a respeito de quem testemunhamos, crendo que aqueles que ele destinou para vida, ouvirão seu chamado.
Conclusão
Longe de ser um defeito, um equivoco ou algo do gênero, a incredulidade é a marca da queda que divide a humanidade, e o Reino de Deus é a proclamação da soberania divina que determinou uns para a salvação e outros para a condenação para a glória de Deus.
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