A SINGULARIDADE DO AMOR CRISTÃO - SERMÃO EM FILEMOM

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Notes
Transcript
SERMÃO - FILEMOM
A SINGULARIDADE DO AMOR CRISTÃO
INTRODUÇÃO
O contexto da escravidão
ELUCIDAÇÃO
O contexto da carta a Filemom
TEMA
A SINGULARIDADE DO AMOR CRISTÃO
1º O AMOR É FRUTO DE UM CORAÇÃO VOLUNTÁRIO
Texto
Pois bem, ainda que eu sinta plena liberdade em Cristo para te ordenar o que convém, prefiro, todavia, solicitar em nome do amor, sendo o que sou, Paulo, o velho e, agora, até prisioneiro de Cristo Jesus; sim, solicito-te em favor de meu filho Onésimo, que gerei entre algemas. Filemom 8-10
O pedido que Paulo faz a Filemom mostra a humildade do apóstolo, mesmo em sua condição de liderança. Ele fala que na sua condição de apóstolo, líder da igreja, o velho (ou ancião), prisioneiro de Cristo e pai espiritual de Filemom ele tem total liberdade não só de pedir, mas de ordenar aquilo que seria conveniente que Filemom fizesse, não só de perdoar a Onésimo, mas recebê-lo como membro de sua própria família, libertando aquele escravo de sua condição. Mas o que Paulo faz aqui mostra-nos que ele queria algo mais de Filemom, por isso ele resolve não usar sua autoridade, mas fazer um humilde pedido. Ele diz que solicita em favor de seu filho Onésimo em nome do amor.
Eu queria conservá-lo comigo mesmo para, em teu lugar, me servir nas algemas que carrego por causa do evangelho; nada, porém, quis fazer sem o teu consentimento, para que a tua bondade não venha a ser como que por obrigação, mas de livre vontade. Filemom 13-14
Paulo fala aqui do desejo que tinha em seu coração quanto a Onésimo, mas ele diz que não fez nada sem o consentimento de Filemom para que ele não se sentisse obrigado a fazer algo por pressão do apóstolo, mas para que fizesse aquilo de livre vontade. Para Paulo a motivação de Filemom deveria ser o amor, somente o amor. Sabendo da reputação de Filemom e do amor que ele guardava para com seus irmãos, Paulo sabia que ele faria aquilo com um coração voluntário, de total boa vontade. Um grande ensinamento nos é dado aqui, o amor cristão é demonstrado não por obrigação ou pressão, mas deve ser fruto de um coração disposto a amar voluntariamente. E quando tomamos qualquer atitude em nossas vidas que seja por outra motivação a não ser amor, nossos frutos não são mostrados genuinamente diante de Deus.
A atitude de Paulo em deixar que Filemom fizesse sua própria escolha mostra que no momento que nós temos um coração voluntário a amar, os frutos de nossos corações transformados tem a oportunidade de aparecer. Não para nossa própria glória e louvor, mas unicamente para a glória de Deus. Deus é glorificado através do amor expressado em nossas vidas.
Aplicação
Precisamos observar essa atitude de Paulo aqui. Ele sabia qual era o dever de Filemom como cristão, ele sabia que como crente o dever de Filemom era perdoar e amar o escravo fujão, mas ele não queria isso por obrigação, ele queria isso voluntariamente. Da mesma forma, esta é a vontade do Senhor para nossas vidas, é nossa obrigação como cristãos amar e perdoar uns aos outros, principalmente os da família da fé. O próprio Senhor Jesus nos ordenou isso. Ele disse: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros”. João 13.34 Está é uma ordem do próprio Senhor Jesus para as nossas vidas, amor é mais que sentimento, amar é um mandamento, amar é uma ordem dada pelo Senhor Jesus a todos os crentes. Então, como podemos dizer que amar não é obrigação? Sim, amar é obrigação de todo cristão! Mas a motivação para praticarmos o amor cristão jamais pode ser essa obrigação, pressão ou qualquer outra coisa, e sim o sentimento voluntário de nossos corações transformados.
Quando o nosso amor se torna uma obrigação ele está fadado ao fracasso e pode destruir a igreja. Muitas vezes agimos assim com aqueles que são parte do corpo de Cristo. Muitas vezes “amamos” as pessoas por vários motivos que não fazem parte de uma motivação correta. Principalmente aqueles irmãos que em algum momento já tiveram algum problema conosco ou que mostram ou mostraram atitudes que não gostamos. Amar aqueles que nos tratam bem, que não nos contrariam ou que nunca se indispõem contra nós é fácil, qual o mérito nisso? O grave problema é que geralmente apenas suportamos e aturamos aqueles irmãos que não temos simpatia para com eles porque somos obrigados a fazer isso.
Infelizmente isso é comum em nossas igrejas e até em nosso meio. Temos respeitado e aturado as pessoas com os problemas delas, não com um amor genuíno, mas por diversos motivos errados. Talvez, convivemos com pessoas que não gostamos porque não podemos dar outro jeito e não podemos colocá-las para fora da igreja. Talvez, convivemos com esses irmãos porque respeitamos a liderança ou pastor e tememos ser repreendidos. Talvez, queremos ser bem vistos dentro da igreja e por isso fazemos a política da boa vizinhança. São esses e outros motivos que infelizmente temos encontrado no coração de muitos irmãos. O amor tem sido praticado não por boa vontade, mas por total obrigação, e isso não é e nem poderá ser amor verdadeiro. É um sentimento mentiroso, fruto de total egoísmo de nosso coração pecaminoso.
Ilustração
O que Deus deseja das nossas vidas é que o apóstolo Paulo nos ensina na carta a Filemom. É que o amor praticado em nossas vidas deve ser um amor sem fingimento, deve ser fruto desse coração voluntário, que se dispõe a amar. Acima do exemplo ensinado por Paulo nós temos um exemplo superior, o exemplo de Cristo. O amor que houve em Cristo foi de fato um amor voluntário, ele mesmo afirma isso: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai”. João 10.11,18. Jesus não se entregou por obrigação, ele não foi obrigado pelo Pai a fazer isso, ele não foi forçado pelos judeus. Ele deu a sua vida por livre vontade. Este é o amor que se espera de nós, foi este exemplo que Jesus nos deu a ponto de entregar sua vida por nós, foi isso que Paulo nos ensinou aqui.
Aplicação
É isto que se espera da minha e da sua vida, que nós venhamos amar uns aos outros, mas esse amor deve ser vivido com entrega e disposição dos nossos corações. Se você ama alguém apenas porque lhe disseram que você deveria amar, porque falaram que este é seu dever, o seu amor infelizmente não é verdadeiro. Amar não é nada fácil, e amar aqueles que nos contrariam ou contrariam nossos princípios é mais difícil ainda.
Se temos dificuldade com isto devemos pedir ao Senhor que nos dê a capacidade de amar, que o Senhor coloque em nosso coração um amor voluntário. Um amor que está acima de qualquer obrigação ou outra intenção de nossos corações. Rogue ao Senhor, peça insistentemente, ele com toda certeza vai ouvir sua oração. Rogue ao Senhor que envie seu Espírito para trazer amor a seu coração endurecido. Ele é a fonte de todo amor, dele procede toda e qualquer boa vontade do coração humano, todo amor vem de Deus porque ele é amor. É nele que devemos buscar amor, somente nele.
“O amor cristão, seja para com Deus, seja para com o homem, é operado no coração pela mesma obra do Espírito”. Jonathan Edwards
Só o Espírito Santo pode colocar esse verdadeiro amor em nossas vidas, só buscando dele e rogando a sua graça poderemos receber esse amor genuíno. Busque do Espírito, beba do Espírito! Está é a minha oração, que o Espírito Santo de Deus visite a sua igreja trazendo um amor voluntário assim como o de Cristo para cada irmão. Que você esteja disposto a se entregar se preciso for, em favor de seus irmãos em Cristo, porque esta é a vontade de Deus.
No momento em que tiver um coração disposto a se doar, a se entregar por livre vontade de seu coração, você terá a oportunidade assim como Filemom de mostrar os frutos da transformação que o Senhor operou em sua vida, não para sua glória, mas somente para o louvor da glória de Deus. O nome do Senhor será glorificado através do amor visto em sua vida.
2º O AMOR É FRUTO DA UNIDADE CRISTÃ
Ele, antes, te foi inútil; atualmente, porém, é útil, a ti e a mim. Eu to envio de volta em pessoa, quero dizer, o meu próprio coração. Filemom 11-12
Paulo faz um trocadilho de palavras neste versículo. O nome de Onésimo significa útil, entretanto em sua vida antes de conhecer a Cristo, Onésimo havia sido inútil para Filemom, porque veio a fugir e até roubar a seu dono. Mas Paulo diz aqui que aquele inútil agora era um homem útil por causa da obra de Cristo em sua vida, o escravo fugitivo que não valia nada por causa de sua rebeldia e pecado, agora tinha um grande valor e utilidade na igreja e na obra de Deus. Ele estava servindo Paulo na prisão, mesmo naquele lugar o escravo estava sendo importante para que a pregação do Evangelho fosse feita e o nome de Cristo fosse anunciado. É por esse motivo que Paulo diz que enviaria Onésimo e que Filemom deveria receber aquele homem como sendo o próprio coração do apóstolo.
Pois acredito que ele veio a ser afastado de ti temporariamente, a fim de que o recebas para sempre, não como escravo; antes, muito acima de escravo, como irmão caríssimo, especialmente de mim e, com maior razão, de ti, quer na carne, quer no Senhor. Se, portanto, me consideras companheiro, recebe-o, como se fosse a mim mesmo. Filemom 15-17
Mais a frente Paulo mostra a Filemom a maneira que deveria receber seu escravo. Ele foi afastado de ti temporariamente, para que o recebas não apenas como um simples escavo, mas muito acima da condição de escravo. Paulo poderia ter levado Filemom a receber aquele homem como amigo, como servo ou outra coisa do tipo, mas o que vemos aqui é que Paulo dá a Filemom um dever muito maior, até mais difícil, o dever de receber aquele escravo que havia sido para ele imprestável e que lhe deu até prejuízo como um irmão caríssimo. Membro não só da família de Deus, mas da sua própria família.
É isso que podemos ver no restante do versículo, quando Paulo diz que Onésimo é especialmente para ele um irmão caríssimo, e deveria ser também para Filemom, pois ele tinha dois motivos para isso, primeiro porque havia uma ligação na carne entre Filemom e Onésimo, um era senhor e o outro escravo e os escravos tinham total ligação com a família de seus senhores, como se de certa forma fizesse parte dela. Segundo, porque agora Onésimo fazia parte da mesma família da fé, membro do corpo de Cristo com Filemom, em Cristo os dois haviam sido feito irmãos.
Dessa maneira, a consideração de Paulo pelo escravo é mostrada aqui, ele recomenda a Filemom que o recebesse não mais como escravo, mas como se fosse receber a ele próprio. Ele sabia que Filemom, não recusaria receber a Paulo, antes, pelo contrário o receberia com prazer e grande alegria. Sendo Onésimo parte da família da fé assim como Paulo, ele deveria recebê-lo com a mesma alegria e amor. Paulo nos mostra aqui que aqueles que foram feitos úteis por causa de Cristo, que são membros do corpo de Cristo, devem ser recebidos e tratados na igreja com igualdade, e com o mesmo amor que os demais. Paulo, apóstolo de Cristo, se compara e se coloca na mesma posição que um escravo fugido, com a intenção de nos ensinar a excelência do amor cristão.
Aplicação
Que belo ensinamento recebemos aqui através desse homem amável, este é um dos motivos mais esplendidos e um dos argumentos mais convincentes de Paulo para que Filemom mostrasse amor por aquele homem. Este ensinamento não é feito pelo apóstolo apenas aqui, mas em sua carta aos gálatas, Paulo fala que: “Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”. Gálatas 3.28 Esse pensamento deve ser cultivado na mente de todos nós cristãos, todos os que foram feitos filhos de Deus. Na Igreja do Senhor não há diferença entre classes, raças, cores, posição social, poder aquisitivo, nada que possa atrapalhar a unidade cristã. No momento que nós somos recebidos na família de Deus, todos somos colocados na mesma posição de igualdade perante Deus e deve ser também diante dos homens. Todos devem ser tratados de igual modo, pois é assim que o amor cristão é ensinado no seio da igreja.
Infelizmente isso não tem acontecido frequentemente nas igrejas. Muitos lideres, muitos irmãos e muitas igrejas tem perdido isso de vista e tem vivido algo diferente do que Paulo ensina aqui. Tem sido feita muita distinção entre grupos e classes nas nossas igrejas. Algumas igrejas investem tanto em seus templos com luxo e glamour que diante de tanta pompa muitos irmãos mais humildes se sentem até desconfortáveis em entrar em templos como esses. Outras igrejas impõem uma cultura que ostenta carros e mais carros luxuosos que os irmãos que andam a pé ou pegam ônibus se sentem menos dignos de estar ali. Já em outras, essa cultura está nas vestes. Os irmãos que e principalmente as irmãs, que se vestem melhor e com a roupa mais cara são as pessoas que são bem vistas dentro da igreja, e ai das irmãs que repetem a roupa nos cultos de santa ceia.
Outras escolhem sua liderança pela cara e pelo bolso. Elegem seus presbíteros pelo porte, pela presença, pela aparência, pela condição financeira, pelo dízimo, mesmo que esses homens não tenham nenhum compromisso com Deus. Mas aqueles irmãos piedosos, que vivem uma vida de oração genuína, mas que são mais pobres e não tem boa aparência, são colocados em outras funções da igreja que aos olhos humanos são inferiores, e jamais poderão ocupar lugar no púlpito.
Infelizmente temos criado uma cultura dentro das nossas igrejas que é elitizada, principalmente nós de igrejas históricas. Uma cultura que chama a atenção dos ricos, mas que despreza os mais pobres. Temos a tendência de receber bem aqueles irmãos que chegam bem vestidos, cheirosos, bem educados, com carros e olhamos troncho se alguém entra por nossas portas com roupas gastas e mal cheirosas. Em muitas cidades muitas de nossas igrejas estão em bairros nobres e são frequentadas pela alta sociedade. Isso levou até alguns comediantes a fazer a paródia de uma musica que diz: “Não há presbiteriano pobre”. Claro que de forma geral isso não é verdade, mas em alguns casos específicos isso tem sido a realidade de nossa igreja.
Irmãos, que venhamos atentar para a Palavra de Deus. Que o ensino que Paulo deu a Filemom seja também obedecido por nós. Que rico e precioso ensino! Devemos mostrar esse amor em nossas vidas, devemos aprender a olhar para a Igreja do Senhor assim como ele olha para ela. Assim como Paulo vê em Onésimo o valor inestimável de sua vida, sua importância e utilidade no Reino de Deus, precisamos entender que cada irmão, independente da função ou cargo que tem na igreja, ou mesmo que não tenha cargo nenhum, tem um valor e utilidade no corpo de Cristo. Por mais errada e inútil que tenha sido sua vida, a partir do momento que esta pessoa encontrou-se com Jesus e foi feita parte do seu corpo, ela se tornou útil para o Senhor
Assim como Paulo, apóstolo de Cristo se coloca na mesma posição do escravo e diz que Filemom deveria receber Onésimo assim como ele o receberia, nós também devemos entender a nossa posição em Cristo. Devemos entender que não somos superiores a nenhum dos outros irmãos, que dentro do corpo de Cristo todos são irmãos caríssimos, não importa se você tem mais dons aparentes que seu irmão, não importa se você tem um cargo que parece ser mais importante que o dele, não importa se você é pastor, presbítero, presidente do presbitério ou presidente do Supremo Concílio, em Cristo estamos todos na mesma condição que nossos irmãos. Precisamos ter humildade para reconhecer isso.
Maior exemplo que o de Paulo é o exemplo de Cristo, como diz o apóstolo Paulo aos filipenses: Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana. Filipenses 2.5-7. Não há maior exemplo de amor e humildade que esta, enquanto Paulo sendo apóstolo se coloca na posição de um escravo, Cristo sendo Deus se humilha na posição dos homens. E nós que somos pecadores, ainda temos a coragem de nos considerar superiores aos outros? Que venhamos reconhecer nossa condição e reconhecer os outros como irmãos caríssimos em Cristo.
Devemos obedecer ao Senhor assim como Filemom foi instruído. A receber o escravo como receberia ao apóstolo. Nós precisamos ter os braços abertos a receber a todos que se são chamados a fazer parte da família de Deus em nosso meio. Precisamos aprender a amar e receber bem a todos que entram por essas portas com o desejo de servir a Cristo. Independente de sua condição social, se é pobre ou rico, branco ou preto, doutor ou mendigo. Devemos receber em nosso meio aqueles que o mundo não quer receber, devemos receber os mais simples como receberíamos pessoas importantes. Devemos fazer banquetes aos mais humildes como faríamos às pessoas mais elegantes. Receber o simples pastor, como receberíamos a um eloquente pregador. Esta é a vontade de Deus para nossas vidas, que dentro do corpo de Cristo haja igualdade, e todos sejam como irmãos caríssimos.
3º O AMOR É FRUTO DO PERDÃO QUE RECEBEMOS CRISTO
Texto
E, se algum dano te fez ou se te deve alguma coisa, lança tudo em minha conta. Eu, Paulo, de próprio punho, o escrevo: Eu pagarei – para não te alegar que também tu me deves até a ti mesmo. Filemom 18-29
Paulo pede algo mais de que apenas receber a Onésimo, ele intercede pelo perdão de Filemom para com aquele homem. A luz desta clausula podemos inferir que Onésimo havia furtado algo de seu senhor, segundo o hábito dos escravos fugitivos; O apóstolo, porém, ameniza a gravidade do ato, acrescentando: ou te deve alguma coisa. Não só havia uma obrigação entre ambos reconhecida pela lei civil, mas o escravo se fizera devedor de seu senhor pelo mal que lhe causara”. João Calvino
Diante dessa situação de Onésimo Paulo provavelmente sabia que ele não teria condições de pagar a sua dívida ao seu Senhor, por isso ele diz: Coloque tudo em minha conta! Mais a frente ele diz: Eu, Paulo, de próprio punho, o escrevo: eu pagarei. Esta expressão usada aqui era algo bastante comum em notas promissórias, nas quais alguém assinava se comprometendo a pagar uma dívida, por isso Paulo diz que escreveu de próprio punho. Isso mostra que ele se compromete de tal forma em tomar para si aquela divida que toma totalmente a posição de Onésimo.
Só que existe um grave problema nesta promessa de Paulo. Como sabemos, ele está preso, ele não recebia salário, em sua prisão ele não podia trabalhar, provavelmente não tinha nenhum dinheiro em poupança, e como ele se compromete a pagar essa dívida? Paulo não estava mentido, ele não está tentando passar a perna em Filemom. A resposta para essa pergunta está no restante do versículo. “Eu pagarei – para não te alegar que também tu me deves até a ti mesmo”. O que Paulo está querendo dizer aqui é que a dívida que Filemom tinha para com ele é infinitamente maior que essa de Onésimo. Paulo fala isso porque provavelmente Filemom havia sido convertido ao Senhor através dele próprio ou de algum companheiro de Paulo que pregou o Evangelho para aquele homem.
O apóstolo usa um argumento muito convincente aqui, ele está querendo dizer que se não fosse por ele e pelo esforço que ele fez Filemom não teriam ouvido o Evangelho, era como se sua própria salvação dependesse de Paulo. O apóstolo sabia que foi o Senhor que converteu o coração de Filemom, mas como instrumento de Deus para isso, ele sabia também que mesmo que pedisse a vida daquele homem, ele não a negaria. Desta maneira, sendo a dívida de Filemom eternamente maior, Paulo diz que colocasse em sua conta porque havia crédito suficiente nela para pagar não só aquela dívida, mas inúmeras outras que fossem necessárias. Ou seja, a dívida de Onésimo já estava paga, não precisaria reembolsar nenhum centavo.
Por este motivo no versículo vinte Paulo faz novamente o pedido: Sim, irmão, que eu receba de ti, no Senhor, este benefício. Reanima-me o coração em Cristo. Filemom 20. Não haveria recusa para aquele doce pedido. Com toda certeza, pelo que ouvimos sobre a reputação de Filemom, ele atendeu aquele pedido perdoando Onésimo. O fato ter Paulo ter mostrado tanto amor pelo escravo fujão, sem dúvidas foi o que levou Filemom a atender generosamente seu desejo. Que sublime amor foi este de levar um homem livre a se entregar no lugar do escravo, a ponto de pagar até as suas dívidas.
Aplicação
O Senhor Jesus hoje nos faz gentilmente este mesmo pedido de Paulo, ele nos convida a ter em nosso coração a atitude de Filemom, de não só receber e considerar nossos irmãos na fé, mas perdoar todas as dívidas e ofensas que praticaram contra nós. Todos os problemas, todas as desavenças, qualquer palavra falada na hora e no momento errado, qualquer atitude incorreta, qualquer imperfeição, qualquer rancor e mágoa que possamos ter em nosso coração, isto hoje nos é ensinado a perdoar.
Ah meus irmãos, como isso é difícil por causa da dureza de nossos corações, os pecados que habitam em nossa natureza nos levam a ter um coração que reluta em não perdoar. Quantas famílias foram destruídas pela falta de perdão, quantos casamentos foram desfeitos, quantos relacionamentos entre pais e filhos foram arruinados. Até a igreja do Senhor Jesus tem sofrido por isso, quantas divisões, quanto partidarismo, quanto falatório e quantas brigas têm acontecido na igreja pela falta de perdão.
Ilustração
Mas hoje o Senhor Jesus nos leva a tomar a recomendação de Paulo a Filemom, a rasgar toda promissória de dívida daqueles que pecaram contra nós. Assim como ele dá este maravilhoso argumento para que Filemom perdoasse Onésimo, a ponto de se colocar no lugar daquele escravo e pagar sua dívida. Cristo nos mostra argumento ainda maior pelo seu exemplo. Ele sendo Deus, desfrutando com o Pai de toda glória ele resolve se fazer homem como você e eu e pagar dívida que era nossa.
Assim como Onésimo tinha com seu dono uma dívida que não poderia pagar, nossa dívida para com Deus era eterna, nós não tínhamos condição nenhuma de quitarmos essa dívida, a única maneira de pagá-la era com a nossa vida, morrendo eternamente, a morte era o salário que todos nós tínhamos para receber. Mas Cristo Jesus se ofereceu e se entregou para morrer em nosso lugar, uma terrível morte de cruz. Ele assinou a nota promissória e a tinta usada foi o seu próprio sangue. Escrevendo aos Colossenses Paulo diz: “tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz”. Colossenses 2.14. Nós não somos mais devedores, a nossa dívida já foi encravada na cruz. Aleluia! Louvado seja o Nome do Senhor, Cristo pagou a nossa dívida impagável, somente ele era capaz de fazer isso.
Aplicação
Precisamos então de motivos ou argumentos maiores que esse para perdoarmos nossos irmãos? Se nós que tínhamos uma dívida que ninguém podia pagar e Cristo nos perdoou pagando essa dívida, porque nós não perdoamos nossos irmãos que nos ofendem com dívidas tão pequenas? Assim como ele perdoou nossas vidas, que nós venhamos perdoar os que nos ofendem. Que venhamos depositar na conta de Cristo tudo o que recebemos de mal e que ao fim venhamos rasgar a nota promissória em gratidão ao Cristo fez por nós. Mais uma vez Paulo nos ensina isso em sua carta aos Colossenses: Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós; Colossenses 3.13b
Meus irmãos é muito inconveniente que nós que recebemos tão grande perdão venhamos negá-lo a nossos semelhantes. Por isso o Senhor Jesus nos ensina a orar dizendo: Perdoa-nos as nossas dívidas assim como temos perdoado os nossos devedores. O nosso perdão está intimamente ligado ao perdão do nosso próximo. Comentando sobre isso o grande pregador inglês Charles Spurgeon falou: A menos que você perdoe o seu próximo, estará lendo sua própria sentença de morte ao orar o Pai Nosso. Que terrível, mas correta afirmação. Não podemos ousar dizer que recebemos tão grande salvação e perdão se negamos nosso perdão a nossos irmãos.
Eu rogo que você tenha este sentimento em seu coração. Que você busque do Senhor o sentimento de perdão para com seu próximo assim como ele te perdoou na cruz.
CONCLUSÃO
O amor cristão é fruto...
· De um coração voluntário;
· Da unidade cristã e
· Do perdão que recebemos de Cristo.
Pois como afirmou o grande reformador Martinho Lutero: Todos nós somos Onésimos! Todos nós éramos inúteis e ele nos fez úteis, todos nós éramos devedores e ele pagou a nossa dívida, todos nós éramos escravos e ele nos fez livres.
Héber Asafe Areias Felix
Missionário
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