Mateus 14.1-12

Série expositiva no Evangelho de Mateus  •  Sermon  •  Submitted
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O autor amplia conceito quanto a compreensão da mensagem do Reino, através da figura do próprio Messias que, sendo crida através do prisma do Evangelho, proporciona salvação, enquanto que ao ser rejeitada, revela a setença condenatória da reprovação.

Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
Tendo concluído a seção em que expõe o programa do Reino, Mateus avança na narrativa de seu evangelho. As parábolas anteriores demarcaram a temática da compreensão da mensagem do Reino e de seu propagador: Cristo Jesus, o Messias. Assim, o tópico do entendimento do Evangelho permanece latente, porém, agora mais intrínseco à identidade do próprio Messias.
Tal como as multidões não haviam compreendido o teor do que Cristo havia referido através das parábolas, há uma evidente confusão por parte de alguns personagens, no que tange ao conhecimento de quem verdadeiramente é Jesus Cristo. A narrativa da presente seção inicia-se, por exemplo, com a confusão de Herodes em relação a quem estava operando os sinais de que ouvira falar: "Por aquele tempo, 'ouviu o tetrarca Herodes a fama de Jesus' e disse aos que o serviam: 'Este é João Batista; ele ressuscitou dos mortos', e, por isso, nele operam forças miraculosas (Mt 14.1–2).
Ao passo que muitos aparentam dificuldade em reconhecer quem Cristo de fato é (alguns confundindo completamente sua identidade, como é o caso de Herodes), o ponto central ao longo de toda esta seção do Evangelho de Mateus , que vai de 14.1 à 17.27, é a concessão graciosa do conhecimento verdadeiro sobre o Messias.
À luz disso, a presente seção se propõe a introduzir a confusão identitária quanto ao Messias como marca da ação distintiva do Reino.
Elucidação
A presença de João, o batista, na narrativa, assevera dois aspectos vistos até este ponto do Evangelho: 1) que o Reino dos céus é chegado, tendo João sido usado como demonstrativo dessa realidade, e 2) que o Reino terá como opositores, aqueles que não compreenderem seu teor e seu propósito. Além disso, a figura joanina serve como "holofote" para o Messias, destacando sua chegada e propósito,e assim, é colocada em anexo a Cristo, de maneira a compor identidade.
O texto se inicia com uma referência ao sentimento de Herodes com relação a João, o qual confundiu com Cristo, como já exposto. Porém, toda uma narrativa em retrospecto é feita pelo autor, a fim de ligar aqueles fatos a Jesus, servindo como base de seu argumento neste ponto do texto. A perseguição de Herodias a João fundamentava-se na reprovação deste quanto ao relacionamento estranho que ela mantinha com o irmão de seu primeiro marido. A confrontação de João Batista, revelando os pecados da mulher do rei, equipara-se ao trabalho exercido por Cristo, por ocasião de sua vinda.
Os fariseus e demais opositores do Reino, manifestavam sua antagonia ao Senhor Jesus, também por causa da constante denúncia que o Senhor fazia (caps. 5 a 7) com relação à sua má compreensão tanto acerca de quem Cristo Jesus de fato era, quanto acerca da realidade do Reino, que estava se apresentando diferente do que as tradições humanas daqueles homens supunham quanto a chegada da plenitude dos tempos.
A pompa e glamour das tradições judaicas com relação ao Herdeiro do Trono de Davi, cogitavam o aparecimento de um nobre líder que os livrasse do colonialismo imposto por Roma à Israel. Além disso, a teologia proposta por Cristo, de um Deus graciosos, que ao invés de exigir do homem adequação à ritos e cerimonialismo externos, requeria sinceridade e prontidão para servir ao SENHOR da forma como ele determinara, inaugura uma compreensão mais profunda quanto a todo o Antigo Testamento, que é imediatamente ligado a Cristo Jesus e a obra redentiva.
Os relatos paralelos nos evangelhos sinóticos, traçam a mesma narrativa desenvolvida por Mateus, exceto que, em Marcos, a posição de Herodes ao ouvir as pregações e falas de João Batista, é de alguém que "quando o ouvia ficava perplexo, escutando-o de boa mente" (gr. "ἡδέως" = "alegremente") (Mc 6.20), o que sugere que, mesmo que Herodes não tenha sido de fato alcançado pelo Evangelho, foi impedindo de o fazer pela pressão que Herodias exerceu sobre ele. Noutras palavras, a narrativa marcana destaca que o instrumento de impedimento e confusão quanto a compreensão do Reino e, por sua vez, quanto a identidade de Cristo, foi ação externa.
A mesma imagem referencial quanto a disposição do coração de Herodes ao ouvir João Batista, é repetida por Lucas: "Herodes, porém, disse: Eu mandei decapitar a João; quem é, pois, este a respeito do qual tenho ouvido tais coisas? E se esforçava por vê-lo (Lc 9.9), embora também demonstre que estava impedido de compreender a identidade do Messias de maneira assertiva, pois em sua busca por Cristo, desejava ver se João não havia ressuscitado.
Mateus, absorvendo o conteúdo de Marcos, alude ao mesmo fato, embora tenha omitido o comentário feito pelo primeiro Evangelho, possivelmente, por compreender que o fato era conhecido pelo seu público, não necessitando haver uma repetição do mesmo trecho, conquanto a narrativa fosse de modo geral parecida.
A ocultação desse comentário quanto a postura de Herodes em relação a João, de acordo com o contexto mais amplo de seu escrito, sugere a elucidação do fato de que, como dito, a operação do erro e ineficácia da pregação do Evangelho pode ocorrer providencialmente de maneiras mais diversas do que simplesmente uma rejeição ativa e passional de um indivíduo.
Essa explicação ao seu público lhes serve de referência através da qual podem analisar situações em que, ao testemunharem do Reino a muitos, alguns que aparentemente mostravam-se inclinados a receber a Cristo, tornam as costas e "resistem-lhe" o chamado. De toda forma, cumpriu-se a sentença inevitável causada pela difusão do Evangelho: salvação para os que, tendo sido eleitos, reconhecem quem é Cristo, e perdição para os que o rejeitam, não compreendendo quem o Messias de fato é.
Transição
Com isso, narrativa da presente seção, conforme estruturada por Mateus, demonstra a intenção do autor divino/humano em exortar e preparar seu ouvintes a estarem prontos para testemunhar tais ocorrências ao longo da jornada da igreja de testemunho do Evangelho: muitos ouvirão falar de Cristo, e até se aproximarão para constatar quem o povo de Deus diz ser o Filho do Homem, porém, tal conhecimento só será concedido aos que, mediante a obra eletiva, forem chamados à graça. Do contrário, permanecerão alheios a quem Cristo é, e consequentemente, ao Reino.
Essa mesma aplicação, deve ser direcionada à igreja de Cristo hoje, mediante a seguinte observação:
Aplicação
O conhecimento profundo e íntimo de Cristo, advém da iluminação da consciência por parte do Espírito Santo.
J. I. Packer, comentando esse texto, afirma:
Meditações no Evangelho de Mateus O Martírio de João Batista (Leia Mateus 14.1–12)

Em todos os seres humanos, há uma consciência natural. Que isso jamais seja esquecido! Embora nasçamos neste mundo como criaturas decaídas, perdidas e desesperadamente iníquas, Deus cuidou para que houvesse sempre uma testemunha contra nós, em nosso próprio peito. Ela é um pobre guia cego, sem a ajuda do Espírito Santo. Não pode salvar ninguém. Não pode conduzir alguém a Cristo. Ela pode ser cauterizada e pisada aos pés. Porém, em todos os homens existe uma consciência que os acusa ou os justifica; e a Bíblia e a experiência humana são testemunhos disso (Rm 2.15).

Embora Herodes nutrisse alguma admiração por João Batista, assim como Jesus havia exemplificado através da parábola do semeador, Herodes era a terra cuja semente da palavra cai entre os espinhos: “os cuidados do mundo, e a fascinação das riquezas sufocam a palavra” (Mt 13.22).
Estamos diante da exemplificação clara daquela parábola, e não devemos crer que esta seja a única ocorrência dela. Ao longo da nossa vida, nos deparamos com pessoas que ouviram a mensagem do Evangelho, e em algum momento até manifestaram interesse. Porém, a obstrução da reprovação manifestou-se através das coisas dessa vida: interesses ou intervenções exteriores guiam indivíduos para longe de Cristo. Não que não haja pecado e corrupção suficientes no coração de cada ser humano para gerar esse afastamento, como se Deus de outra coisa precisasse a fim de atingir tal objetivo. Porém, aprouve à Trindade determinar que usaria as circunstâncias e situações desse mundo, a fim de revelar seu crivo eletivo: sua misericórdia e amor para com miseráveis pecadores.
Com isso, que fique claro para todos nós que a riqueza do conhecimento de Cristo é uma concessão divina. Saber que Jesus Cristo é o Filho de Deus, e que veio ao mundo para nos remir dos nossos pecados, crendo nele pela fé concedida pelo Espírito, é a maior graça que poderíamos obter, sem a qual, estaríamos como Herodes: sendo acusados diuturnamente por nossa consciência caída, sem jamais nos livrarmos da sentença condenatória que pesava sobre nós.
Conclusão
Mediante este texto, compreendemos o tamanho da benção que nos foi concedida: se podemos hoje chamar Cristo de Rei, é porque o conhecemos, e só o conhecemos, porque ele revelou-se, nos tirando do estado de miséria e ignorância, nos trazendo para si.
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