Mateus 14.13-21

Série expositiva no Evangelho de Mateus  •  Sermon  •  Submitted
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O autor exibe o caráter emergencial do anúncio do Reino através da identidade de Cristo, apresentada, metaforicamente, como alimento (i.e. pão) que nutre espiritualmente o povo de Deus.

Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
Caminhando mais além nesta quarta seção do Evangelho de Mateus, o autor direciona a atenção dos seus leitores/ouvintes à continuação do dilema de observação da identidade do Senhor Jesus Cristo como o Messias, e de como o recebimento deste à luz desse princípio, torna quem se aproxima dele apto a receber o Reino.
A narrativa apresenta um milagre sendo exibido como meio através do qual essa identidade é evidenciada. Notadamente, como já se tem percebido, os milagres possuem importância significativa no ministério de Cristo, como identificador do cumprimento do plano da promessa de Deus de redenção do cosmo e de seu povo, e esse aspecto ao longo das narrativas evangélicas pode ser intensificado, se entremeado por ênfases dadas pelos próprio redatores, através dos blocos temáticos de seus textos, em que arranjam os milagres com esse fim avalizador.
O texto de Mateus 14.13-21 é um exemplo disso, e o milagre da multiplicação dos pães e peixes, demarca um foco especifico através do qual tanto o público presente no evento (discípulos e demais eleitos na ocasião) quanto aquele que terá acesso ao texto, deverá ter para crer em Cristo. Este mesmo milagre, se emparelhado aos outros evangelhos, demonstra a capacidade providencial divina de suster seu povo com o alimento espiritual que lhe dá vida: Cristo, o pão vivo que desce do céu (Jo 6.32-35) e alimenta a igreja, é exibido por Mateus no momento em que este deseja declarar a identidade do Messias como parâmetro para recepção do Reino.
A seção de Mateus 14.13-21 exibe a identidade do Rei-Messias: alimento espiritual para o povo de Deus.
Elucidação
Em face da ocorrência milagrosa exposta na passagem em questão, a compreensão de que os mesmos também são usados pelos autores como formas de explicitar a divindade de Cristo, encerra o objetivo mais evidente de seus registros. Porém, quantos aos milagres, a intencionalidade de seu uso vai além de apenas comprovar que Cristo é Deus, mesmo porque, esse fato é pressuposto à própria apresentação de Jesus Cristo como o Messias Prometido. Logo, o agrupamento de alguns milagres em blocos pontuais dentro dos evangelhos, potencializam a observação do Senhor Jesus Cristo, a partir de um prisma específico.
Como já mencionado, nesta seção do texto de Mateus (e.g. caps 14.1 à 17.27), Cristo está sendo destacado através de sua identidade messiânica, que é reconhecida apenas por quem fora destinado à vida. E em se tratando de vida eterna, ou nova vida através da apresentação do Evangelho, o autor agora declara a fonte dessa vida mediante uma representação análoga dentro do "corpus evangelico": o alimento, ou pão, representando o nutrição espiritual promovida pelo Deus Triuno.
Compadecendo-se da multidão que o seguia, Cristo impede os discípulos de a despedir sem antes providenciar alimento: "Jesus, porém, lhes disse: Não precisam retirar-se; dai-lhes, vós mesmo, de comer" (v.16). Toda a situação explicita a necessidade daquela multidão do alimento, e essa necessidade é aproximada pelo autor à temática da necessidade espiritual que o ser humano tem do Messias e de seu Reino, libertando o homem do poder do pecado que o escraviza.
Essa demanda é ressaltada de maneira ainda mais contundente por Marcos em sua narrativa, quando descreve que Jesus ao ver a multidão "compadeceu-se deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor" (Mc 6.34).
A expressão retratada por Marcos (i.e. “ovelhas que não têm pastor”) já havia sido utilizada por Mateus anteriormente (cf. Mt 9.36), ao constatar a necessidade que os eleitos têm de serem pastoreados pelo Messias, inclusive nessa ocasião, os apóstolos são comissionados para realizarem este trabalho, sendo instrumentos do cuidado divino para com seu povo. Como a necessidade por Cristo, a partir do pastoreio e liderança, já havia ficado evidente, Mateus prefere enfatizar outro aspecto dessa necessidade, sem repetir a mesma expressão: a alimentação e nutrição espiritual promovida pelo Messias.
João em seu evangelho, expande essa compreensão, e enfatiza essa realidade, quando após o episódio do milagre de multiplicação, registra a fala de Cristo direcionada a multidão:
João 6.26–35 RA
Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes. Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará; porque Deus, o Pai, o confirmou com o seu selo. Dirigiram-se, pois, a ele, perguntando: Que faremos para realizar as obras de Deus? Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado. Então, lhe disseram eles: Que sinal fazes para que o vejamos e creiamos em ti? Quais são os teus feitos? Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: Deu-lhes a comer pão do céu. Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: não foi Moisés quem vos deu o pão do céu; o verdadeiro pão do céu é meu Pai quem vos dá. Porque o pão de Deus é o que desce do céu e dá vida ao mundo. Então, lhe disseram: Senhor, dá-nos sempre desse pão. Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede.
Os evangelistas concordam que a ênfase apresentada por Cristo ao realizar este milagre, consistia em ser visto como o único que pode saciar a fome daqueles que foram destinados à vida, e mediante a fé concedida pelo Espírito, para que fosse visto dessa forma, os eleitos obteriam a vida eterna.
Em que pese a demonstração dessa ideia, Mateus também tem em mente reforçar o compromisso os ouvintes/leitores de seu texto com relação à importância do testemunho do Evangelho. Se o convite ao Reino é uma necessidade tão perene ao ser humano, a igreja de Cristo não poderia se furtar de ser usada como instrumento do chamamento do Espírito aos eleitos que ainda não abraçaram a fé, como reforça Matthew Henry:
Comentário Bíblico Popular: Novo Testamento B. A Alimentação dos Cinco Mil (14:13–21)

O milagre é uma lição espiritual para discípulos de cada geração. A multidão faminta está sempre presente. Há sempre um pequeno grupo de discípulos com recursos aparentemente lamentáveis. E sempre há o Salvador compassivo. Quando os discípulos estão dispostos a dar-lhe o pouco que têm, ele o multiplica para alimentar milhares. A diferença notável é que os cinco mil homens alimentados na Galileia saciaram sua fome somente por pouco tempo; mas os que se alimentam do Cristo vivo hoje são satisfeitos para sempre (cf. Jo 6:35).

Transição
Essa noção fica evidente ao ter Cristo ordenado que seus discípulos não despedissem a multidão faminta (como já demonstrado (cf. v.16)), e de os ter enviado para distribuir o alimento multiplicado.
O conhecimento de quem Cristo é, e de como tal conhecimento garante à igreja acesso ao Reino, é usado por Mateus como base de sua dupla exortação: Cristo é único que pode saciar o espírito dos homens, livrando-os da morte pelo pecado, e por isso, a mensagem do Evangelho (como instrumento de divulgação do Messias), é vital à expansão do Reino e à saga redentiva.
Comentando este texto, J. C. Ryle reforça a imagem exibida neste trecho do Evangelho, com a seguinte indagação:
O que a multidão faminta em um lugar deserto representa para nós? Simboliza a humanidade inteira. Os filhos dos homens formam uma gigantesca companhia de pecadores que estão perecendo, famintos, em meio a um mundo hostil, desamparados, caminhando sem esperança rumo à destruição.[…] O que os pães e peixes representam? […] Eles são como figuras da doutrina de Cristo crucificado em favor de pecadores, como Substituto vicário, que, pela sua morte, fez expiação pelos pecados. […] Cristo crucificado tem demonstrado ser o pão de Deus, que desceu do céu para dar vida ao mundo (Jo 6.33). A história da cruz tem satisfeito amplamente as necessidades espirituais do homem, em todo lugar em que tem sido pregada. Milhares de pessoas, de todas as classes sociais, idade ou nacionalidade são testemunhas de que o evangelho é o poder e a sabedoria de Deus” (1Co 1.24). Todos têm provado do pão da vida e têm sido saciados. Eles têm descoberto que Jesus é “verdadeira comida” e “verdadeira bebida” (Jo 6.55) (RYLE, 2018, p. 157-158).
Essa ótica nos remete aos princípios demonstrados por Mateus, a serem apreendidos pela igreja de Cristo, a partir das seguintes aplicações:
Aplicações
1. Há no homem uma necessidade perene pelo alimento que somente Deus pode fornecer: Cristo Jesus.
Mateus apresenta outra faceta da identidade messiânica que deve ser percebida por todos aqueles que se aproximam dele, e esse mesmo aspecto reforça ainda a condição natural do homem: Cristo é o alimento provido pelo Pai para nutrição do homem caído, que em seus pecados, vaga debilmente por esse mundo, aguardando apenas o dia do juízo.
Somente a partir da fé que recebe o Messias segundo essa compreensão, alguém pode ter esse quadro revertido, e ter essa necessidade atendida.
Assim, a primeira coisa que o Rei Jesus faz em favor de seu povo, é iluminar-lhes o coração para que entendam sua condição. Ao longo de nossa trajetória nesse mundo, contemplamos diversas coisas que, pelo poder do pecado, seduzem nosso coração com a falsa noção que é daquilo que precisamos: dinheiro, realização profissional, louvor dos homens, fama, sucesso e etc. Essas e outras coisas jamais poderão atender a demanda mais básica do ser humano: redenção. Nenhuma das coisas deste mundo pode dar ao homem o vigor necessário para que se aproxime de Deus.
Somente o Pão da Vida, que desceu do céu em nosso resgate, pode nos nutrir com a graça, o amor e a salvação promovidas pelo Pai, a fim de que sejamos seu povo desfrutemos de plena comunhão com ele.
Tanto no mundo antigo, para o qual Mateus primeiramente escreveu, quanto para nós hoje, a mensagem do Evangelho é a mesma: venham a Cristo; o único que pode saciar a alma faminta do homem caído! Essa compreensão nos leva ao segundo princípio apresentado pelo texto.
2. A mensagem que somos chamados a propagar é esta: somente em Cristo o homem pode ser saciado.
Antes que as multidões partisse, Cristo as alimenta, enviando seus discípulos como instrumentos deste grande milagre. Como visto, essa mesma dinâmica é usada por Mateus como reforço do compromisso com anúncio do Evangelho.
Não se trata de mera conveniência, e tampouco esta missão está sujeita à nossa aceitação: a ordem de irmos ao mundo testemunhar de Cristo como o Pão da Vida enviado da parte do Pai é uma gritante necessidade. Nossos irmãos estão lá fora, famintos, definhando no pecado e nas trevas. Cabe a nós, mediante o poder do Espírito Santo, dizer-lhes que o vazio que estão sentindo só será preenchido pelo Filho de Deus, pelo Rei-Messias: Cristo Jesus.
Diante dessa missão, não podemos recuar, não podemos nos acovardar. Jamais daríamos às costas à alguém que está se afogando ou preste a sofrer um grande acidente. Como poderíamos nos calar, não falando da salvação em Cristo, a pessoas que estão sofrendo terrivelmente com os efeitos devastadores do pecado que aprisiona e escraviza o homem.
Deus, o Pai, providenciou que seus eleitos fossem trazidos ao banquete do Reino, através de seu convite estendido por meio de nós, seus agentes, e se somos seus filhos, não descansaremos até que todos os nossos irmãos estejam conosco à mesa, nos alimentando das bênçãos espirituais concedidas por Cristo.
Conclusão
John Flavel (1627 - 1691), resume a grandeza da satisfação que é promovida em Cristo com as seguintes palavras:
300 citações dos Puritanos para pregadores Tudo o que uma Alma Pode Desejar É Encontrado em Cristo (Isaías 55:1; João 4:10–15; 6:35, 53–58; 7:37–39)

Lance seus olhos entre todos os seres criados, examine o universo, observe a força em um, a beleza em um segundo, a fidelidade em um terceiro, a sabedoria em um quarto; mas você não encontrará ninguém superior em todos eles como Cristo. O pão tem uma qualidade, a água tem outra, a vestimenta uma outra, o remédio outra; mas nada tem tudo em si como Cristo tem. Ele é pão para o faminto, água para o sedento, uma vestimenta para o nu, cura para o ferido; e tudo o que uma alma pode desejar é encontrado nele.

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