Gênesis 42
Série expositiva no Livro de Gênesis • Sermon • Submitted
0 ratings
· 11 viewsO autor apresenta o início da narrativa final, que demonstrará a salvação reservada para o povo de Deus, através do julgamento do pecado.
Notes
Transcript
“Este é o livro das gerações ...” (Gênesis 5.1).
Gênesis 42
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
Após o desfecho do episódio anterior da saga de Jacó, em que José é coroado como governador do Egito, sendo publicado por Deus como instrumento de sua ação providencial salvífica, Moisés abre uma nova seção dentro da trama, a fim de elucidar alguns outros pontos complementares, que fornecerão uma perspectiva mais profunda quanto a obra redentiva que está se processando.
Ao lado da temática de salvação da calamidade, está se processando a narrativa da redenção do pecado; um encontro temático feito ao longo de todo o livro de Gênesis até este ponto. Aspectos mais gerais e mais específicos são alternados dentro do texto, focalizando e expandindo a visão dos ouvintes/leitores do livro, a fim de verem quão grandiosa é a obra que o Criador está realizando.
O capítulo 42 será usado com esse propósito, e novos princípios (subjacentes ao primeiro (i.e. a redenção do povo de Deus)) serão explicitados, como, por exemplo, o retorno da temática do pecado dos irmãos de José contra este, e o julgamento divino do caso. Se o pecado dos irmãos foi o meio através do qual os planos do Criador foram executados, o clímax da saga deverá retomar esse tópico a fim de que a resolução e conclusão da narrativa possam acontecer.
Essa é a preocupação do autor, e a tese deste capítulo do Livro de Gênesis, qual seja: a continuação da narrativa providencial redentiva (pt 4): preparação para o julgamento (pt 1).
Elucidação
A expressão inicial, evidencia o retorno do autor a um ponto anterior da narrativa: "Sabedor Jacó de que havia mantimento no Egito..."(v.1). Naturalmente, não podemos perder de vista que todos os acontecimentos até aqui mencionados, não estão centrados ultimamente em José, mas em seu pai. Porém, a menção de Jacó no início do texto, o retira dessa condição implícita, trazendo ativamente ao centro da narrativa, de acordo com o plano pactual-redentivo de Deus.
Deve-se levar em consideração ainda que, em Jacó, as doze tribos de Israel (e portanto todo o povo de Deus) são representadas. Assim, compreender que agora o autor está concentrando-se naquele personagem, também proporciona o entendimento de que, mais evidentemente, o que acontecer a partir deste ponto, terá implicações mais abrangentes, como mostrar-se-á com os irmãos de José, personagens que também são trazidos de volta ao centro da saga.
O envio dos irmãos de José ao Egito é o contexto que prepara o enredo para as cenas por vir. Benjamim, entretanto, é impedido de acompanhar seus irmãos, revelando o temor do patriarca de que perca também o outro filho de Raquel, sua amada esposa, que havia morrido por ocasião do nascimento daquele. Novamente a providência aparece de maneira oblíqua no texto, pois tanto o envio dos dez irmãos, quanto a permanência de Benjamim, servirão para que a revelação de José seja feita de maneira mais intensa na trama.
O texto divide-se em três blocos que começam e terminam com as impressões de Jacó quanto aos fatos: dos versículos 1 a 5, o autor destaca o envio dos irmãos em missão ao Egito; de 6 a 24, a narrativa concentra-se no encontro dos irmãos de José com este, atingindo seu auge com a declaração de Rúben: "Não vos disse eu: Não pequeis contra o Jovem? E não me quisestes ouvir. Pois vedes aí que se requer de nós o seu sangue" (v. 22). Por fim, a parte final do texto (vs. 25-38) mantém a tensão iniciada pelo requerimento de Benjamim à presença de José e o questionamento: Jacó permitirá que seu filho desça ao Egito, sob o risco de morte tanto para um (Jacó) quanto para o outro (Benjamim)?
Estas duas últimas seções se encarregam de expor dois temas que o autor traz à lume: A tese mais latente do texto (i.e. o pecado dos irmãos de José) agora volta à ser o contexto central da história, a fim de que sua resolução seja efetivada, e a continuação da linhagem pactual através dos patriarcas.
Tendo traído seu irmão e o vendido aos ismaelitas, desde o capítulo 37 os irmãos de José não mais vistos na narrativa. Se olharmos para o texto, de fato não há considerações ou expressões que façam o leitor lembrar-se desse evento (i.e. a traição dos irmãos) como necessitando de uma conclusão. Porém, seu retorno abrupto ao palco principal da trama, confirma essa intenção.
O teor exortativo do autor é aplicado mediante todo o drama vivido pelos irmãos ao terem se encontrado com o governador do Egito: embora José os tenha reconhecido, seus irmãos não, e com isso, o grão-vizir de faraó age com sua identidade oculta, sendo usado como aquele instrumento divino para concretização dos propósitos do SENHOR.
Para que a redenção se estabeleça, o pecado deverá ser tratado, e como explicado, após o primeiro contato com o governador, o texto alcança seu clímax: tendo José requerido comprovação das palavras de seus irmãos, de que eram apenas compradores de cereal e não espiões, depois de os ter detido, ele determina que Simeão fique no Egito, e Benjamim seja trazido, como prova final de suas alegações:
Se sois homens honestos, fique detido um de vós na casa da vossa prisão; vós outros ide, levai cereal para suprir a fome das vossas casas. E trazei-me vosso irmão mais novo, com o que serão verificadas as vossas palavras, e não morrereis. E eles se dispuseram a fazê-lo.
Como exposto, o comentário de Rúben interpreta o sentimento de todos os irmãos: o sangue de José, que achavam ter morrido (v.13), está sendo requerido. Tal percepção se intensifica com a descoberta de que o dinheiro com que pagaram o cereal, fora posto de volta nos sacos que carregavam, e constataram que o mal que fizeram antes, agora estava sendo julgado:
Abrindo um deles o saco de cereal, para dar de comer ao seu jumento na estalagem, deu com o dinheiro na boca do saco de cereal. Então, disse aos irmãos: Devolveram o meu dinheiro; aqui está na boca do saco de cereal. Desfaleceu-lhes o coração, e, atemorizados, entreolhavam-se, dizendo: Que é isto que Deus nos fez?
Em segundo lugar, outro problema surge, este, ainda mais sério: como dito por Jacó, atender a ordem do governador poria em risco a vida de Benjamim, e se algo lhe acontecesse, o próprio patriarca morreria. A possibilidade da morte de Jacó cria uma problemática que vai de encontro ao cumprimento dos planos redentivos do SENHOR, afinal, a trama tem guiado todo o processo de vida de José a fim de que sirva como ferramenta da obra salvadora do Criador em favor do filho de Isaque, como pois agora ele poderia morrer, sem que visse as promessas do SENHOR serem concretizadas e reafirmadas?
Essa perspectiva intensifica ainda mais a gravidade do pecado dos dez filhos de Jacó: ao terem traído José, eles não estavam apenas cometendo um pecado direto contra seu irmãos; a narrativa revela que as consequências de seus atos poderiam impactar no curso da história de seu pai, e consequentemente, Moisés apresenta aquele erro como tendo implicações diretas na história da aliança redentiva que o Criador estabeleceu com Abraão, Isaque e Jacó.
Transição
A ampliação das consequências do pecado dos irmãos de José é propositalmente destacada pelo autor, como fonte e base de sua exortação ao povo de Israel contida nesta seção do livro de Gênesis. Desde o capítulo 3, a ideia de que o pecado não pode ficar sem julgamento vem sendo trabalhada através dos personagens: Adão, Noé e agora os patriarcas mais recentes (i.e. Abraão, Isaque, Jacó e seus doze filhos) exibem o quadro da história redentiva, em que Deus age no santo enredo, a fim de enaltecer seu nome triunfando sobre o mau, e isso implica dizer que, novamente, o julgamento do pecado é inevitável: um ato pecador não passará impune, e seus executores deverão ser trazidos à julgamento, para que o SENHOR desfeche a história.
Israel poderia ver através deste texto, como o pecado pode acarretar consequências terríveis, mesmo entre aqueles que receberam a promessa do pacto, e tais ações os perseguirão. Essas ênfases preparatórias ressaltarão intensamente o aspecto remidor do texto, mas antes, fazem parte da advertência do escritor divino/humano que adverte o povo de Deus acerca do julgamento do pecado.
Tais ênfases podem ser consideradas a partir das seguintes aplicações:
Aplicações
Como visto;
1. O pecado jamais passará despercebido aos olhos de Deus.
Desde a venda de José aos ismaelitas, até a ascensão e encontro deste com seus irmãos, vários anos se passaram, e como analisado, a própria percepção dos irmãos de José, era a de que, mesmo tendo sido um grave "erro", tudo aquilo havia findado com a "morte" de seu irmão sonhador… era o que pensavam.
Aqui, em primeiro lugar, devemos ver uma tendência sempre presente em nossos corações: a de suavizar nossos pecados, legando-os ao esquecimento, achando que dessa forma tudo passará. Não importa quão hediondo seja a nossa transgressão, sempre tentamos aliviar as coisas para que não pareçam tão graves. Porém, os irmãos de José experimentaram que a justiça divina jamais revela um pecado, e agora, o sangue de José é reclamado.
Se insistirmos em chamar pecado de "erro", "equívoco" ou "mero deslize", estaremos apenas adiando o inevitável: a disciplina soberana do Criador.
O caminho do arrependimento e reconhecimento do pecado deve ser trilhado assim que o erro for constatado; protelar isso, é apenas agir cinicamente, achando que Deus pode ser corrompido, o que torna nossos pecados ainda mais odiosos.
2. O pecado se oferece-se a nós como alternativa viável, mas suas consequências sempre serão mais desastrosas do que podemos supor.
Ao vender seu irmão, os dez filhos de Jacó não imaginavam onde o pecado os levaria, e o que aconteceria dali em diante por causa da vileza de suas iniquidades. Eles estavam dispostos a transgredir uma ordem divina, e desligaram-se de seu irmão ao ponto de dá-lo como morto ao seu pai (cf. Gn 37.32-33).
Porém, o que ocorreu não foi apenas uma traição, mas eles, assim como tantos outros personagens, inclusive até filhos de Deus, se puseram contra os planos divinos de continuar sua linhagem através de seu povo eleito, representado pelos patriarcas, e a agora que seu pecado estava sendo julgado, o risco de perder Benjamim, ameaçava a vida de Jacó, e assim, o desenvolvimento da linhagem eleita.
Aqueles homens não poderiam imaginar que aquele primeiro erro os levaria tão longe, mas foi exatamente o que aconteceu, e não podemos achar que conosco as coisas se processam de maneira diferente.
O ludibrio de nossos corações pecadores nos faz sempre observar os "ganhos" à curto prazo que a transgressão pode nos proporcionar: satisfação pessoal, prazeres, facilidades na vida e etc, porém nunca revelará o custo de tudo isso: família, dignidade, e principalmente, comunhão com o SENHOR, não que deixaremos de ser salvos, mas enquanto o pecado não for tratado, enquanto a transgressão não for revelada e nosso coração exortado pela justiça divina, amargaremos as consequências terríveis que o pecado pode causar.
Aqui o aviso bíblico é mais do que pertinente: "[…] sabei que o vosso pecado vos há de achar" (Nm 32.23), melhor será se nós encontrarmos a Cristo primeiro.
Conclusão
O início do julgamento dos irmãos de José se iniciou, e ficaram frente-a-frente com seu pecado, e vulneráveis diante do SENHOR, agora só lhes restar esperar qual será a sentença, e assim, o aviso bíblico nos encaminha para longe do pecado, demonstrando para nós, que destruição e ruína aguardam todos os que lhe dão ouvidos.