Mateus 14.22-36
Série expositiva no Evangelho de Mateus • Sermon • Submitted
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· 14 viewsO autor apresenta a identidade de Cristo como o Filho de Deus, como fundamento da fé que deve estar presente no coração de todo agente do Reino, sendo expressa inclusive nos momentos de maior dificuldade.
Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
Em face do teor identitário abordado até este ponto, segue-se a narrativa de outro episódio registrado pelo autor, com vistas a oferecer ao seu público-alvo uma compreensão mais aprofundada sobre Cristo Jesus e sua obra. Como dito, ao dar-lhes essa visão panorâmica do Redentor, Mateus não está preocupado em declarar algo que não conheciam ou sabiam, pois, segundo já evidenciado, é necessário que todo aquele que se aproxima de Cristo, creia nEle tal como o Evangelho o descreve e aponta, e por Evangelho, entenda-se toda a obra salvadora de Deus em que revela seus planos salvíficos, desde o Antigo Testamento.
O objetivo do redator é clarificar pontos mais específicos da identidade do Messias, e através destes, aplicar sua exortação ou princípio, chamando a Igreja ao exercício da fé, sobretudo no contexto de perseguição e dificuldades que enfrentavam, por professar Cristo como único Senhor no centro do império romano.
A narrativa neste ponto do Evangelho, assemelha-se muito a de Marcos, no que tange ao uso dos milagres como pontos elucidativos e referenciais quanto a Cristo, também como já clarificado.
A seção em destaque se propõe ao mesmo ideal, notando o Salvador, desta feita, a partir da perspectiva dos próprios discípulos, qual seja: a identidade do Rei-Messias: Filho de Deus.
Elucidação
Após o milagre da multiplicação dos pães e peixes, o registro evangélico aponta que, buscando Cristo estar a sós (v.23), depois de despedir as multidões e orar, encontrava-se afastados dos discípulos. O registro dessa problemática sugere não um obstáculo, mas um oportunidade através da qual o princípio do texto será demonstrado.
Embora a distância sugerisse que seria humanamente impossível para Cristo ir até aos discípulos, Mateus narra que: "Na quarta vigília da noite, foi Jesus ter com eles, andando por sobre o mar" (v.25). O comentário direto do autor confronta a lógica da situação, tornando o milagre ainda mais evidente, pois, diante da visão aterradora de um homem caminhando sobre as águas, seus próprios discípulos espantaram-se, e "ficaram aterrados e exclamaram: É um fantasma!" (v.26).
Ainda que a narrativa dos milagres seja tão excelente quanto a anterior, diferentemente daquela, desta feita, a atenção do escritor não está no milagre em si, mas na reação dos discípulos. O fato de Cristo estar andando por sobre as águas, como dito, surpreende os que estavam na embarcação, e uma interação peculiar ocorre.
Pedro questiona o Senhor, e lhe pede que, como confirmação de sua identidade, vá até ele. Essa fala é especialmente unida a temática elaborada pelo autor, pois o ponto em questão que vem sendo abordado nesta seção do Evangelho, é precisamente a identidade do Messias, reconhecida, mediante a fé, pelos agentes do Reino. O questionamento de Pedro põe em xeque não a persona do Messias, e sim sua fé em relação a ele.
A situação adversa como provação da fé, centraliza a narrativa e toca as circunstâncias experienciadas pelos primeiros ouvintes/leitores do presente evangelho. Através dessa situação confrontadora, a fé dos discípulos deverá ser aprimorada, e sua compreensão quanto a Cristo, expandida. O mesmo deverá ocorrer com a igreja que, numa situação de perseguição e adversidade, é conduzida providencialmente pelo próprio Deus a consolidar sua fé em Cristo Jesus, ressaltando quem ele realmente é, informação que é dada na própria narrativa.
Mediante a dúvida se de fato aquele homem era o mestre, Pedro sugere ir ter com Cristo por sobre as águas, replicando o feito. Mediante autorização, o discípulo logra êxito em caminhar até Cristo, até que, reparando "na força do vento, teve medo" (v.30). O conflito gerado no coração do futuro apóstolo encena e retrata a fragilidade da fé dos agentes do Reino, sendo representada pela pequenez da fé de Pedro, e novamente, atinge diretamente o público a quem o texto foi endereçado.
Exposições às adversidades devem conduzir os filhos de Deus não à uma arrogante postura irresponsável, mas à uma convicção quanto a quem é aquele a quem servem. O milagre, no texto é um meio de revelar e expor a fé em Cristo, e não o objetivo final ou razão de ser da própria fé. Pedro não deveria ter confiado que andaria sobre as águas, e sim, em que Cristo de fato é o Filho de Deus, o que ocorre em seguida:
Subindo ambos para o barco, cessou o vento. E os que estavam no barco o adoraram, dizendo: Verdadeiramente és Filho de Deus!
Transição
A conclusão mais excelente que chegará todo agente do Reino, é a de que em Cristo, todas as adversidades são dissipadas pela luz do Evangelho, que revela o controle do Deus Triuno sobre a história, garantindo a redenção do povo eleito do SENHOR, e é exatamente a esse conclusão que o autor divino/humano expõe à igreja, a fim de que o entenda, e através desse relato, tenha sua fé fortalecida.
Todas essas considerações, apontam para a igreja de Cristo hoje, princípios que devem ser observados, tal como intencionados pelo autor/divino humano. Quais sejam:
Aplicações
1. A fé deve nos levar à uma convicção profunda quanto a quem Cristo é.
Após verem a grandeza do Senhor Jesus e seu controle sobre a tempestade, os discípulos chegam a única conclusão que todo agente do Reino deve ter claro em sua mente: Cristo é o Filho de Deus.
Essa confissão não é apenas uma expressão exterior de quem entendemos ser Cristo, mas uma constatação que só pode ser feita e externalizada, por aquele que estão verdadeiramente comprometidos com o Reino, tendo sido chamados à salvação.
Não alegamos que Cristo é o Filho de Deus, a fim de obter dele algum milagre, ou por modismo, ou por quaisquer razões outras senão que, mediante esse profundo reconhecimento, somos encorajados e fortalecidos a enfrentar as dificuldades que nos sobrevém nesse mundo.
O que nos remete ao segundo ponto.
2. A fragilidade de nossa fé, muitas vezes oscila, quando somos ameaçados pelas circunstâncias adversas desse mundo, mas nossa fé deve estar no Filho de Deus.
Havia fé no coração de Pedro; a fé genuína, verdadeira. De fato ele era um discípulo de Cristo, um agente do Reino. Porém, a fé sempre estará em conflito natural com o pecado dentro de nós, que nos impede de crer perfeitamente, não no milagre, pois não é esse o objetivo da fé (diferente do que pregam muitos falsos profetas mundo a fora), e sim em Cristo Jesus, o Filho de Deus.
Desse conflito, resulta a inconstâncias de nossa certeza quanto a capacidade de Cristo nos acudir, ao enfrentarmos as adversidades, sejam perseguições (como era o caso da igreja primitiva, na época em que o Evangelho de Mateus foi escrito), ou outra circunstâncias.
O fato é que ao longo de nossa caminhada nesse mundo, também olhamos muitas vezes para a “força dos ventos”, e sucumbimos no esquecimento de que não servimos a ninguém além daquele que tem todo o poder para aquietar as tempestades que enfrentamos nessa vida, sejam elas de que natureza forem.
O Evangelho raiou em nossos corações, e isso significa que nada precisamos temer nesse mundo. Tudo o que devemos fazer nessa vida, é nos curvar e adorar aquele que foi declara pelo Pai como Rei sobre a criação, governando a história para sua glória e bem de seu povo.
Conclusão
Pedro, e os demais discípulos, assim como nós hoje, confessaram (confessamos) a verdade do Evangelho que resume a obra de salvação realizada pelo Pai, Filho e Espírito Santo: Verdadeiramente, Cristo Jesus é o Filho de Deus!