Gênesis 46.28-47-12

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O autor divino/humano exorta o povo de Deus à confiar no SENHOR, expondo o descanso (parcial) providenciado ao servo eleito, a fim de que aguardasse a redenção e o usufruto abundante das bênçãos do SENHOR da Redenção.

Notes
Transcript
“Este é o livro das gerações ...” (Gênesis 5.1).
Gênesis 46.28-47.12
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
Após a intersecção narrativa que rememora o pacto como fundamento para a fé de Jacó (e consequentemente para todo o povo), Moisés retoma a saga patriarcal, e narra a chegada de Israel e sua casa à terra do Egito. Essa chegada marca o encaminhamento para a conclusão da saga iniciada no capítulo 12 (em relação a trama patriarcal como um todo, inclusive a partir de Abraão).
Embora a seção anterior tenha feito referência ao trato pactual sob os auspícios da aflição que o povo de Israel enfrentou no Egito (tendo sido explicado como o povo foi parar naquela terra, isto é, pela migração de Jacó), como cumprimento daquela menção da Aliança registrada em Gênesis 15.13, que demarca o compromisso divino de cumprir seu propósito redentivo, agora o cenário apresentado é de recepção positiva: a salvação executada por Deus em favor de seu servo, proporciona não somente fuga da fome que assola as terras daquele período, mas também a abundância de mantimento, apontando para a grandeza e amplitude da benção do SENHOR sobre ele e toda a sua casa.
A peregrinação de Jacó, como já demonstrado, retrata a peregrinação do próprio povo rumo ao local determinado por Deus. A promessa feita pelo Criador aos hebreus, quando os retirou da terra do Egito, foi de levá-los à uma "terra que mana leite e mel" (Êx 3.8), e a prefiguração de tamanha regalia está posta na calorosa recepção de José para com seu pai e irmãos, seguida pela instalação deles nas melhores terras do Egito.
Assim, a intenção do Autor é declarar que o intento divino de providenciar salvação e conservação da vida (cf. Gn 45.5) foi atingido com êxito, e agora Jacó usufrui do favor do Criador, sendo sustentado por seu filho, aquele que representa o Messias e seu percurso redentivo que culmina com a glória de Deus na salvação de seu povo. Em face disso, a temática exposta pela seção de Gênesis 46.28-47.12 é a fruição da benção divina como demonstrativo do cumprimento da salvação.
Elucidação
Finalmente, o reencontro da família da Aliança ocorre, sob os auspícios de sua recepção na terra do Egito. A cena emocionante do reencontro de Jacó com seu filho José, eclipsa a saga que deste ponto em diante, tratará de registrar a estada do patriarca na terra providenciada pelo SENHOR para ser o lugar do seu repouso.
É válido, porém, enfatizar o princípio claro de cumprimento parcial da promessa divina aos três patriarcas: Abraão, embora tenha peregrinado e conhecido toda a terra que seria herdada por sua prole espiritual, não a possuiu por completo, senão um pequeno lote, adquirido para que fosse sepultada sua esposa, Sara, e que também lhe serviu de sepulcro (cf. Gn 25.7-11). De igual sorte, Isaque, embora tenha pleiteado a terra de Canaã com os filisteus, recebeu da parte de Deus apenas uma fração simbólica da mesma, que garantia-lhe o cumprimento posterior da aliança feita com seu pai e consigo. Agora, Jacó migra da terra prometida para o Egito, e lá morrerá, embora também não tenha visto a conclusão dos planos divinos que asseguravam a ele a redenção de sua casa; porém, ele desfruta de um descanso prévio, que o faz expectar o regresso/entrada na terra que pela fé, seu pai Abraão contemplava.
Em face disso, os três patriarcas que receberam a promessa divina formalizada no pacto abraâmico, não testemunharam o cumprimento final da Aliança, como interpreta o autor Aos Hebreus:
Hebreus 11.13–16 RA
Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Porque os que falam desse modo manifestam estar procurando uma pátria. E, se, na verdade, se lembrassem daquela de onde saíram, teriam oportunidade de voltar. Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade.
Frente a chegada de Jacó no Egito, lugar escolhido para que fosse o abrigo de salvação da calamidade (i.e. fome) que assolava aquelas terras, conclui-se que, embora ele esteja vivendo em repouso largo e farto, tal como o próprio faraó havia ordenado a José que se fizessem com seus familiares recém chegados (cf. vs. 5-6), o autor estrutura a narrativa a fim de provocar no leitor-ouvinte do texto uma sensação de não finalização dos propósito soberanos: Moisés apresenta a efetivação parcial do intento divino de salvar seu povo do perigo, mas alude que ainda não é chegado o momento final do plano salvífico.
Após o caloroso reencontro, o texto exibe um outro desdobramento da narrativa. A partir do verso 31, o autor registra o conselho de José a seu pai e seus irmãos, no que tange à sua atividade pastoril, que serve não somente como um indicativo de que não possuem interesse em tomar dos egípcios o que lhes pertence ou de ser uma ameaça para eles (embora seja exatamente isso que será pensado futuramente dos hebreus (cf. Êx 1.8-10)), mas resguarda uma intenção mais profunda.
O comentário feito por ele com relação aos egípcios considerarem abominação todo pastor de rebanho, não necessariamente indica um desprezo dos egípcios por esse ofício, numa que os próprio possuíam gado. Uma interpretação mais razoável é a de que, a partir desse princípio de separação, José estaria ressaltando a distinção entre hebreus e egípcios, com o intuito de manter o povo de Israel à salvo de misturar-se com os nativos, ecoando aquele princípio de preservação da linhagem santa visto em episódios anteriores.
Esse princípio teológico também pavimenta a exortação feita pelo autor: apesar de estranhos numa terra alheia, Israel e seus filhos mantiveram-se distantes de contaminar-se com outros povos, o que difunde a percepção que tinham de serem um povo separado para o SENHOR Deus. Tal atitude deveria ser replicada pelo povo, agora que está marchando pelo deserto rumo à terra prometida a Abraão: não é pelo fato de estarem em uma terra que, apesar de estranha, recebem as torrenciais bênçãos que sua obrigação de serem santos ao SENHOR diminuiu.
Transição
O conjunto dessas informações trabalhadas pelo autor mediante a elucidação da saga de Jacó e sua chegada ao Egito, alcançam o leitor/ouvinte contemporâneo a partir da ótica redentiva, que identifica o povo de Deus ao longo da história debaixo de um mesmo contexto.
Os princípios então exposto podem ser elencados e resumidos nas seguintes proposições:
Aplicações
1. Como interpreta o autor Aos Hebreus "resta um repouso para o povo de Deus" (Hb 4.9), descanso que será desfrutado no final da peregrinação da igreja nesse mundo.
Jacó contemplou o rosto de seu filho, e novamente experimentou da parte de Deus os benefícios do pacto redentivo estabelecido com Abraão e Isaque, seus pais, assim como aconteceu no vau de Jaboque, em Peniel (Gn 32.30). Agora, Deus lhe agracia com uma terra de descanso, onde poderá finalizar seus dias, fruindo as bençãos do SENHOR, sendo sustentado por José.
Porém, é provisório seu repouso, pois ainda não é o destino final reservado para todos aqueles que pela fé, aguardam a Canaã celestial. Assim como para Jacó, ao final de sua jornada, foi providenciado um descanso, ao povo de Deus está assegurado as bençãos do Criador, através da grandiosa obra executada por meio do Messias.
Tal como foi por meio de José que Jacó descansou de seus dias, em Cristo, obteremos a finalização de nossa caminhada, sendo abençoados pelo SENHOR, entrando na cidade cujo arquiteto e artífice é o próprio Deus, preparada desde antes da fundação do mundo para os filhos do Altíssimo.
Com mão poderosa e braço estendido, o SENHOR nos está conduzindo ao bom reencontro com ele, em que nos lançaremos ao pescoço de Cristo, nos alegrando com gozo eterno.
2. O lugar providenciado por Deus para nós, promovendo inclusive o desfrutar de bênçãos, mas isso jamais poderá nos fazer descansar de nossos deveres para com ele, em santificação e obediência.
Todo o cenário foi divinamente providenciado para que Jacó gozasse tantas bençãos da parte de Deus como ocorreu, mas isso não impediu a família da Aliança de se precaver de pecar contra o SENHOR, misturando-se aos egípicios de uma maneira que pudesse comprometer sua condição em relação ao pacto do qual participam.
De igual sorte nós, precisamos estar atentos ao fato de que as boas condições que o Criador nos proporciona - sabendo que são apenas uma introdução à fartura de bênçãos que desfrutaremos no porvir - não podem nos levar à um descanso de nossa função de seus servos. O pacto salienta nossa redenção, e essa graça da parte de Deus nos aperfeiçoa a cada dia (e finalmente naquele dia) para servos melhores servidores ao Grande Rei de toda a terra. Como poderíamos negligenciar tamanho favor, deixando com que as bênçãos que recebemos nos tornem indolentes e irresponsáveis quanto ao nosso dever de honrar e glorificar ao SENHOR, através da santidade e obediência aos seus mandamentos?
A advertência das Escrituras nos leva à reflexão de uma postura mai vigilante, não que da parte de Deus venha algo que nos inspire desconfiança, longe disso! Mas, o motivo de nossa atenção redobrada é nosso próprio coração, que por vezes, relaxa demais sob o pretexto de estarmos sendo abençoados por Deus.
Conclusão
À poucos capítulos do final da saga de Jacó e dos patriarcas de Israel, a condução deste à terra providenciada para ser seu escape da fome e destruição, revela o grandioso cuidado divino de fazer com que seus filhos descansem debaixo de sua mão abençoadora e providente, fazendo-nos ver o que aguarda cada crente que pela fé, contempla o lugar de seu eterno repouso: a Nova Jerusalém.
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