Antes da vitória do Rei

Salmos 15-24  •  Sermon  •  Submitted
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Salmo 20
Para o diretor de música. Um Salmo de Davi
1 Que Yahweh te responda no dia da angústia,
Que o nome do Deus de Jacó te ponha no alto!
2 Que do seu santuário ele te envie socorro,
E de Sião te auxilie.
3 Que ele se lembre de todas as tuas ofertas,
E aceite os teus sacrifícios (Selá)
4 Que ele te conceda conforme o teu coração,
E te ajude a cumprir o teu plano
5 Então nos alegraremos na tua salvação,
E em nome do nosso Deus ergueremos bandeiras
Que o Senhor cumpra as tuas petições
6 Agora eu sei que Yahweh salva o seu ungido;
Ele responderá do céu com a força salvadora da sua mão direita.
7 Uns confiam em carros, outros, em cavalos;
Mas nós faremos menção do nome do nosso Deus
8 Eles se curvam e caem,
mas nós nos levantamos e ficamos de pé.
9 Óh Yahweh, dá salvação ao Rei!
Responde-nos no dia em que nós clamarmos!
Captação
Amados irmãos,
Nossa última série de exposições em 1 Timóteo focalizou acerca do bom combate da vida cristã. Vimos como somos chamados a lutar a boa luta da fé. Devemos como igreja ser corpo vivo que expõe a boa doutrina, que é a palavra de Deus, a qual não é fútil, mas produz o serviço de Deus na fé.
Diante disso, sabemos que neste combate, lutas virão. Momentos difíceis fazem parte da vida cristã. Assim, devemos nos perguntar: o que a igreja deve fazer diante das batalhas que tem enfrentado?
Assim, gostaria de chamar a atenção dos irmãos para este salmo para que possamos investigar resposta a este questionamento.
Para isso, faço aqui algumas considerações sobre o contexto do salmo. Primeiramente quanto a sua posição no livro e depois quanto ao salmo propriamente dito.
O Contexto do Salmo
O livro dos Salmos é resultado de uma compilação feita no período pós-exílico. O autor compilou diversas canções e a colocou seguindo uma ordem, um conceito definido. Assim, a divisão dos Salmos é geralmente feita classificando-o em 5 livros distintos, a saber:
Livro I: Salmo 1-41
Livro II: Salmo 42-72
Livro III: Salmo 73-89
Livro IV: Salmo 90-106
Livro V: Salmo 107-150.[1]
Você inclusive pode ver esta divisão em algumas bíblias.
No presente caso, o salmo 20 se encontra no livro I. Neste, a maioria dos salmos mostra Deus ou de seu “Ungido” estabelecendo e vencendo conflitos contra os seus inimigos.[2]
Mais especificamente, dentro de cada livro existem blocos de unidade entre os salmos. No presente caso, o salmo 20 faz parte de um bloco que começa no salmo 15[3]. Este bloco é denominado como “salmos de entrada”, pois, conforme o contexto pós-exílico, são caracterizados por funcionar como parte de uma liturgia para entrar no templo para adoração.[4]Isso pode ser notado pela semelhança entre o salmo 24 e o salmo 15, o qual inicia o bloco.
Além disso, é interessante observar a conexão deste salmo com o salmo 21.
são salmos reais de louvor narrativo. Assim, nota-se a proximidade que existe entre ele e o salmo 18, pois destacam a celebração a Deus. Contudo, agora, temos uma especificação, a saber: uma celebração intercessória pelo Rei de Israel, o Ungido de Yahweh.
Contexto Próximo
O sobrescrito לְדָוִ֗ד מִ֫זְמ֥וֹר(um salmo de Davi), evidencia que este é o autor do Salmo. Mas quem é Davi? Conforme 1 Sm 16. 1-13, Davi é ungido Rei de Israel. Porém, sua coroação definitiva só ocorrerá em um período posterior. Após a morte de Saul, ele é aclamado Rei de Judá (2Sm 2. 1-7) e 7 anos mais tarde torna-se Rei sobre todo o Israel (2Sm 5. 1-5).
Durante seu reinado, Davi trouxe não só grandes conquistas militares, mas se dedicou a implementar uma vida de culto e adoração ao povo de Israel. O centro desta adoração estabeleceu-se em Jerusalém, cidade a qual conquistou dos Jebuseus (2Sm 5. 6-12). Os dois momentos pelos quais ele leva a arca (2Sm 6; 1Cr 13. 1-14; 15.25 – 16. 3, 37), sua vontade em construir um templo para Yahweh (2 Sm 7. 1-17) são indicativos do seu esforço em adora-lo com todo o seu coração. Porém, são os salmos de sua autoria que revelam sua profunda devoção a Deus e o amor que ele tinha por seus mandamentos.
Portanto, Davi compõe este salmo, o qual é dividido em 2 estrofes. A primeira do v. 1-5; a segunda nos versículos 6-9.
A proposta deste salmo é apresentar uma celebração em favor do Ungido de Yahweh. Dessa forma, este salmo, na medida em que consiste em uma profunda adoração a Yahweh, procura trazer aspectos que respondem esta pergunta: O que o povo de Deus deve fazer antes da batalha? Tema: algumas atitudes que o povo de Deus deve fazer antes da batalha.
Interceder pela vitória do Rei
· A primeira parte do salmo é uma intercessão ao Rei. A ideia é de que ele está se preparando para ir a batalha com seu exército. O dirigente, então, começa uma oração cantada, na qual pede que Deus traga bom êxito a campanha militar. Vamos ver alguns aspectos desta intercessão.
· O Senhor te responda no dia da tribulação(v.1a). Outra tradução: “no dia do cerco.” A guerra nunca foi algo fácil. E nem mesmo os relatos de gloriosas vitórias do povo de Israel escondiam isso. Guerras envolviam sangue, dor, lutas intensas e momentos angustiantes. E justamente quando estes momentos ocorressem, como um cerco ou quando a peleja se mostrasse a mais vil e perigosa possível, era imprescindível que Deus agisse para livrar o seu Ungido e, assim, o transportasse para uma vitória salvadora. Por isso, este pedido era primordial para que a vitória do Rei ocorresse.
· “o nome do Deus de Jacó te eleve em segurança.” (v.1b). Uma tradução possível e mais literal seria: “te ponha no alto!”. A ideia da altitude é de que ela trazia vantagens nas batalhas. Estando no alto, o exército não apenas poderia escolher o lado para atacar, como também estaria mais seguro contra as investidas inimigas. Estar no alto significava estar em segurança.
· SENHOR/o nome do Deus de Jacó: o paralelismo lembrava o povo de Israel que o Deus para o qual se está pedindo é o Deus da aliança. O nome SENHOR é usado para se referir ao Deus pactual, aquele que estabeleceu uma aliança com o seu povo. Este Deus da aliança foi aquele que estabeleceu um pacto com Jacó e toda a sua descendência, Este Deus mudou nome de Jacó para Israel, e consequentemente, a sua identidade. Israel não poderia esquecer de que era para este Deus que eles estavam intercendendo.
· “Do seu santuário te envie socorro e desde Sião te sustenha. (v. 2) O dirigente continua a sua intercessão agora lembrando ao Rei e ao povo que este Deus da aliança possui uma habitação. A expressões santuário e Sião se referem a ao local onde Deus ordena a sua benção. Lembre-se do Salmo 133. É no monte Sião que o Senhor ordena a sua benção e vida para sempre. O local aqui não é no sentido de uma limitação geográfica do ser Deus, mas ao lugar de onde Ele resolveu conceder e vida e espalha-la para todo o seu povo! Portanto, não se quer aqui limitar Deus a um lugar. Pelo contrário: o que o texto nos ensina é de que este Deus sai do lugar onde ele está para exercer a sua misericórdia e graça aos da sua nação!
· Lembre-se de todas as tuas ofertas de manjares e aceite os teus holocaustos. (v. 3). Agora o salmista enfatiza na sua intercessão de que este Deus da aliança é digno de toda honra e culto. O sistema sacrificial instituído pela lei mosaica era parte integrante da vida do povo de Israel. Por isso, o Rei sempre oferecia sacrifícios e holocaustos ao SENHOR. E antes de ir para a guerra isso não seria diferente. Mas de nada adiantaria sacrifícios e holocaustos que não fossem aceitos pelo SENHOR. Era necessário que o Deus da aliança os aceitasse e assim concedesse o seu perdão e graça. Por isso, o pedido se torna importante aqui. Se o Rei fosse bem-sucedido na batalha, isso era sinal de que não apenas a oração foi ouvida, mas de que os sacrifícios foram aceitos por Deus.
· Conceda-te segundo o teu coração e realize todos os teus desígnios. v. 4 Este Deus pactual também é soberano. Ele realiza tudo conforme a sua Santa e perfeita vontade. É muito bom fazer a vontade do SENHOR, e muito bom também quando os nossos desejos também são desejos dEle. Querer aquilo que Deus quer significava aqui vida abundante. Se Deus quisesse que o Rei fosse vitorioso, então ele seria. Do contrário, nem a melhor estratégia militar poderia lhe dar a vitória. Por isso, o pedido era para que Deus concedesse a vitória e, mais do que isso, que este desejo por vitória estivesse alinhado a vontade divina.
· Celebraremos com júbilo a tua vitória e em nome do nosso Deus hastearemos pendões; satisfaça o Senhor a todos os teus votos. (v. 5) A parte final desta estrofe encerra com a mudança no verbo. Agora é todo o povo falando: celebraremos. O dirigente declara que, quando o Rei voltasse todos estariam alegres, levantando as suas bandeiras em nome do SENHOR. O povo declararia publicamente, os feitos do Santo de Israel. Por fim, uma última intercessão ao Rei, na qual se refere ao momento futuro em que o Rei retornaria e cumpriria os votos que havia feito antes de sua partida. Tudo teria corrido bem, e o Rei então cumpriria o que havia prometido ao Deus de Israel.
· APLICAÇÕES:
1. A intercessão é um aspecto fundamental da oração. Devemos orar pelas batalhas que travamos na nossa vida enquanto igreja. É desejo do Senhor que façamos isso.
2. Devemos também interceder por nossas lideranças eclesiásticas. Eles estão na linha de frente conduzindo o povo de Deus. E estar nessa posição não é fácil. Por isso, eles carecem de nossas orações.
3. Também a intercessão deve abranger as lideranças governamentais. Em uma época tão politizada como a que estamos vivendo, devemos lembrar que é nosso dever orar para que o magistrados exerçam suas funções com justiça e sabedoria, independemente de suas inclinações políticas ou opiniões religiosas. Lembremos que Paulo ao escrever Romanos 13 disse que a honra deveria ser dadas as autoridades que não eram nem um pouco cristãs. Indo mais além, a figura dos imperadores romanos não era marcada por honestidade. Mas mesmo assim, eles deveriam ser objeto das orações dos discípulos de Cristo.
Expressar confiança na vitória do Rei
Até o versículo 5, o aspecto de intercessão era o predominante no salmo. Porém, a partir do v. 6 temos outro aspecto que salta aos nossos olhos. Trata-se de uma expressão confiante na vitória do Rei. Vejamos aqui: Agora, sei que o Senhor salva o seu ungido (v. 6a). Veja que o salmista não está dizendo que sua confiança será em um tempo futuro. O verbo SEI demonstra que sua confiança é atual, é no momento agora. Ele tem plena convicção de que o Deus da aliança salvará o Rei, o seu ungido. ele lhe responderá do seu santo céu com a vitoriosa força de sua destra. (v. 6). A certeza do pedido se confunde com a esperança futura de salvação. O povo de Deus confia no presente e espera pelo futuro glorioso. Tem convicção no agora e manifesta sua expectativa em que Deus sairá da sua habitação para dar a vitória definitiva com a sua mão direita.
· Destra (v. 6). Trata-se de um antropomorfismo. Um antropomorfismo é quando figuras relacionadas ao corpo humano são usadas para destacar a ação divina. Exemplo: “Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar, nem surdo o seu ouvido para não poder ouvir” (Isaías 59.1). Aqui no salmo 20.6 o antropomorfismo revela que Deus age com poder. Sua destra ou mão direita é forte e poderosa. Isso torna a confiança nEle ainda mais evidente.
Uns confiam em carros, outros, em cavalos; nós, porém, nos gloriaremos em o nome do Senhor, nosso Deus. (v. 7) A confiança no Deus da aliança é tão forte, mas tão forte, que não há qualquer tipo de temor em relação ao exército inimigo. “Eles podem ter muitos mais soldados. Eles podem se vangloriar de toda as suas carruagens e cavalarias. Mas nós continuamos a confiar no Senhor, nosso Deus.” A confiança do povo não estava nas coisas materiais, as quais eram tão importantes na guerra (carros e cavalos). Eles confiavam em Deus, e por isso, toda a sua energia e atenção estava voltada para eles nesse momento. “Eles se encurvam e caem; nós, porém, nos levantamos e nos mantemos de pé”. (v. 8). A confiança se faz ver ainda mais forte. Dessa vez, o salmista já consegue até mesmo visualizar a vitória no campo de batalha. É como se ele estivesse vendo a luta acontecer. “Vejam só: mesmo com carros e cavalos em abundância, eles estão caindo; enquanto isso, nós que confiamos no Senhor, continuamos de pé.” Isso acentua ainda mais o grau de confiança que o povo tinha na vitória do Rei. Fundamentação:
i. “O cavalo prepara-se para o dia da batalha, mas a vitória vem do Senhor.” (Pv 21.31)
ii. “Ai dos que descem ao Egito em busca de socorro e se estribam em cavalos; que confiam em carros, porque são muitos, e em cavaleiros, porque são mui fortes, mas não atentam para o Santo de Israel, nem buscam ao Senhor! Todavia, este é sábio, e faz vir o mal, e não retira as suas palavras; ele se levantará contra a casa dos malfeitores e contra a ajuda dos que praticam a iniqüidade. Pois os egípcios são homens e não deuses; os seus cavalos, carne e não espírito. Quando o Senhor estender a mão, cairão por terra tanto o auxiliador como o ajudado, e ambos juntamente serão consumidos.” (Is 31.1–3.)
iii. “Não há rei que se salve com o poder dos seus exércitos; nem por sua muita força se livra o valente. O cavalo não garante vitória; a despeito de sua grande força, a ninguém pode livrar.” (Sl 33.16–17).
iv. Todos estes textos reforçam a ideia de que a nossa confiança na vitória não deve estar em coisas, mas no Deus da aliança!
Ilustração: 2 Crônicas 32: a vitória do Rei Ezequias
i. O exército assírio era maior e melhor
ii. O império assírio já tinha desbaratado diversos reinos inimigos
iii. O reino de Judá já havia experimentado do poderio assírio em outras oportunidades.
iv. O império assírio estava com ódio de Judá, por este ter abandonado a servidão feita anteriormente;
v. Tal cenário caótico poderia fazer com que o povo esmorecesse. Mas o que ocorreu foi que Ezequias confiou no Senhor e exortou o povo a confiar no Senhor.
vi. Mesmo com as afrontas feitas por Senaqueribe, Jerusalém se manteve firme durante o cerco. O resultado? O Anjo matou milhares de soldados assírios, e assim, tiveram que retornar a sua terra, onde o Rei assírio teve um fim trágico no templo do seu Deus.
vii. Ironia: O deus assírio não foi páreo para vencer o Deus de Israel, e não pôde nem mesmo guardar a vida do rei assírio estando no templo dele.
viii. Mas o Deus de Israel não decepciona: ele cumpriu as suas promessas. Ele manteve os termos da sua aliança. Ele deu a vitória ao povo de Deus. E tudo isso ocorreu em um cenário onde o povo de Deus demonstrou confiança.
Aplicações:
1. Confiemos em Deus. Este texto foi escrito para mostrar que diante da batalha que há de advir nossa confiança deve estar no Deus da Aliança, que nos deu o nosso Rei vitorioso, Jesus Cristo!
CONCLUSÃO
Portanto, diante das batalhas devemos: 1) Interceder pela vitória do Rei; 2) Expressar confiança na vitória do Rei.
Mas, aqui cabe uma pergunta. O v. 6 nos fala a respeito do Ungido. A pergunta é: Quem é o Ungido do Senhor?
A resposta imediata é: O Rei. É isso o que o salmos e outras passagens nos revelam. O Rei é o Ungido do Senhor.
Mas temos agora que olhar para nós como igreja e nos perguntar: quem é o nosso Rei? Por isso abra a sua bíblia em Lucas 19. 37, 38.
Quem é o seu Rei?
Cristo saiu a frente de nós, venceu a batalha que nós não poderíamos vencer e agora nos direciona para o evento final. Estamos confiantes na sua vitória definitiva e aguardamos isso com esperança.
Portanto, devemos confiar o nome do nosso Rei Jesus. A sua batalha é dura, mas a vitória é certa, porque ela foi dada pelo Pai.
Como igreja, passamos por angústias e aflições. Muitas delas são causadas por causa do evangelho que professamos. Diante disso, devemos manter os nossos corações fixos em Deus. Devemos celebrar o nome do Senhor, porque nós somos o seu povo, a batalha é dele, e somente dEle virá a vitória.
O v. 9 encerra este salmo com uma petição final. Que esta petição seja a nossa oração como igreja. Deus nos abençoe!
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