O PARADOXO DA CRUZ. Lucas 9.44-48

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Grande ideia: Vivemos nessa tensão absurdamente humana entre glorificar a Deus com nossa humildade ou glorificar a nós mesmos com a nossa notoriedade.
Estrutura: Jesus, o Filho do Homem está no seu caminho da humildade (vv. 44-45) e os seus discípulos estão no caminho da notoriedade (vv. 46-48).
Paradoxo é uma declaração contrária à opinião dominante ou a um princípio admitido como válido. O termo também significa ausência de nexo ou lógica.
O Caminho da Cruz (306 Cantor Cristão)
Foi Jesus que abriu o caminho pra o céu
Não há outro meio de ir
Nunca irei entrar no celeste lar
Se o caminho da cruz errar
Para o céu por Jesus irei
Para o céu por Jesus irei
Grande é o meu prazer
De certeza ter
Para o céu pela cruz irei
Certamente eu vou no caminho da cruz
Com resolução andar
É desejo meu de gozar no céu
Essa herança que Cristo deu
Os caminhos ímpios do mundo deixei
Jamais neles vou seguir
Sigo, pois, Jesus, com a minha cruz
No caminho que ao céu conduz
Caminho da humildade. (vv. 44-45)
(a) Conectando com a porção anterior, e o contexto:
Jesus já havia predito a sua morte, após confissão de Pedro: “Tu és o Cristo de Deus”. Lc 9.18-21
Jesus já havia dito que sua proposta de discipulado (“seguimento”) seria como alguém “tomar a sua cruz”. Lc 9.23-27
Cronologicamente após essas palavras (testemunho confirmado pelos demais evangelistas) Lucas registra o evento da “transfiguração de Jesus”. Lc 9.28-36
Agora, após o maravilhamento da multidão em relação à majestade de Deus, Jesus contrapõe com mais um lembrete da sua morte e ressurreição. Lc 9.43-45
(b) O chamado de Jesus é peculiar: “Prestem bem atenção” (NAA), “Fixai os vossos ouvidos” (ARA), “Ouçam atentamente o que vou lhes dizer” (NVI) e “Deixai essas palavras em vossos ouvidos” (BKJ).
" Deixe-o penetrar em seus corações; então o siríaco e o árabe o leram. A palavra de Cristo não nos faz bem, a menos que a deixemos penetrar em nossas cabeças e corações.
Henry, Matthew. Comentário Bíblico Matthew Henry: (Novo Testamento) (p. 1973). Edição do Kindle.
(c) Lucas usa 25 vezes esse título de Jesus: “Filho do Homem”.
Sumário de Teologia Lexham Títulos de Jesus

Filho do Homem - As Escrituras Hebraicas usam o título “Filho do Homem” de diversas maneiras. Portanto, é difícil interpretá-lo cristologicamente de uma maneira direta. É esse título pelo qual Jesus mais se referia a si mesmo; na verdade, ele é usado sessenta e nove vezes somente nos Evangelhos. Alguns estudiosos acreditam que “Filho do Homem” é basicamente uma referência abreviada a Cristo como o representante da humanidade. A maioria, no entanto, vê o significado do título como proveniente da imagem apocalíptica de Daniel 7:13-14 e vários escritos intertestamentais. Nestas passagens, o Filho do Homem é uma figura apocalíptica, uma pessoa celestial que um dia governará e julgará o cosmos pela eternidade. De fato, Jesus cita duas vezes essa mesma passagem em Daniel quando ele promete que virá outra vez nas nuvens com poder (Mat. 24:30; 26:64). Parece que seu uso desse título tinha um duplo propósito: reivindicar seu status messiânico ao mesmo tempo em que enfatizar a natureza eterna e espiritual (e não primariamente política) de seu messianismo.

(d) Mas, é fato que os discípulos ainda não entendiam as implicações desse caminho de morte. E Lucas explica que o sentido da cruz estava encoberto a eles, para que não o compreendessem. E eles persistiram por um bom tempo sem entendendo nada.
Lucas 18.31–34 (NAA)
31Chamando os doze para um lado, Jesus lhes disse: — Eis que subimos para Jerusalém, onde se cumprirá tudo o que está escrito por meio dos profetas a respeito do Filho do Homem.
32Ele será entregue aos gentios, que vão zombar dele, insultá-lo e cuspir nele.
33Depois de açoitá-lo, eles o matarão, mas, ao terceiro dia, ressuscitará.
34Eles, porém, não entenderam nada disso. O significado dessas palavras lhes era encoberto, e eles não sabiam do que Jesus estava falando.
João 12.16 (NAA)
16Seus discípulos a princípio não compreenderam isso. Mas, quando Jesus foi glorificado, então eles se lembraram de que essas coisas estavam escritas a respeito dele e também de que tinham feito isso com ele.
2. Caminho da notoriedade. (vv. 46-48)
(a) Enquanto Jesus afirmava seu caminho de humildade, os discípulos se envolveram em uma discussão sobre qual deles seria o maior. Mais paradoxal, impossível.
J. C. Ryle:
“O trono de Davi”, afirmou um grande teólogo, “ocupava tanto a mente dos discípulos que não podiam ver a cruz”.
Este é um ditado simples, porém bastante verdadeiro: “Nenhum ídolo tem recebido tanta adoração quanto o ‘eu’”.
Lucas 22.24–27 (NAA)
24Houve também entre eles uma discussão sobre qual deles parecia ser o maior.
25Mas Jesus lhes disse: — Os reis dos povos dominam sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados de benfeitores.
26Mas vocês não são assim; pelo contrário, o maior entre vocês seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve.
27Pois qual é maior: aquele que está à mesa ou aquele que serve? Não é verdade que é aquele que está à mesa? Pois, no meio de vocês, eu sou como quem serve.
C. S. Lewis:
O prazer do orgulho não está em se ter algo, mas somente em se ter mais que a pessoa ao lado. Dizemos que uma pessoa é orgulhosa por ser rica, inteligente ou bonita, mas isso não é verdade. As pessoas são orgulhosas por serem mais ricas, mais inteligentes e mais bonitas que as outras. Se todos fossem igualmente ricos, inteligentes e bonitos, não haveria do que se orgulhar. É a comparação que torna uma pessoa orgulhosa: o prazer de estar acima do restante dos seres. Eliminado o elemento de competição, o orgulho se vai. É por isso que eu disse que o orgulho é essencialmente competitivo de uma forma que os outros vícios não são.
Não pense que, se você conhecer um homem verdadeiramente humildade, ele será o que as pessoas chamam de “humilde” hoje em dia: ele não será nem uma pessoa submissa ou bajuladora, que vive lhe dizendo que não é nada. Provavelmente, o que você vai pensar dele é que se trata de um camarada animado e inteligente, que realmente se interessou pelo que você tinha a lhe dizer. Se você não simpatizar com ele, será porque sente um pouco de inveja de alguém que parece contentar-se tão facilmente com a vida. Ele não estará pensando sobre a humildade; não estará pensando em si mesmo de modo algum.
Se alguém quer adquirir a humildade, creio poder dizer-lhe qual é o primeiro passo: é reconhecer o próprio orgulho. Aliás, é um grande passo. O mínimo que se pode dizer é que, se ele não for dado, nada mais poderá ser feito. Se você acha que não é presunçoso, isso significa que você é presunçoso demais.
(b) A onisciência de Jesus é um dos seus atributos mais sublimes, que ele compartilha com o Pai.
Salmo 139.2 (NAA)
2Sabes quando me sento e quando me levanto; de longe conheces os meus pensamentos.
Salmo 139.23 (NAA)
23Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos;
Jeremias 17.10 (NAA)
10Eu, o Senhor, sondo o coração. Eu provo os pensamentos, para dar a cada um segundo os seus caminhos, segundo o fruto das suas ações.”
João 2.25 (NAA)
25E não precisava que alguém lhe desse testemunho a respeito das pessoas, porque ele mesmo sabia o que era a natureza humana.
(c) Como padrão de simplicidade Jesus evoca a imagem de uma criança… ou mais do que isso ele toma uma criança e a faz de modelo de humildade.
Provérbios 18.12 (NAA)
12Antes da ruína, o coração humano se gaba, mas a humildade precede a honra.
Lucas 9.48 (NAA)
48e lhes disse: — Quem receber esta criança em meu nome é a mim que recebe; e quem receber a mim recebe aquele que me enviou; porque aquele que for o menor de todos entre vocês, esse é que é grande.
Comentário Bíblico de Lucas: Através da Bíblia O Maior No Reino dos Céus (Lc 9.46–48)

Jesus lhes apresentou uma parábola viva. E usou para essa lição um elemento totalmente inesperado para eles. Jesus tomou uma criança e, certamente, a colocou no colo e lhes ensinou. A criança, além de ser o símbolo da despretensão, da fraqueza e da dependência, era o símbolo da pureza de fé, da humildade e principalmente da falta de hipocrisia, isto é, da sinceridade e da transparência. Naqueles dias, a criança não tinha qualquer valor na sociedade, assim como os escravos. E a lição ensinada acabava com qualquer pretensão: O menor é o maior, e quem recebe o menor recebe a Jesus e ao Pai que o enviou. Quem acolhe os pequenos, humildes e sinceros acolhe Jesus e a Deus que o enviou!

(d) O entendimento se amplia para não apenas “nos convertermos como uma criança”, mas recebermos “esta criança” no nome de Jesus.
Os discípulos também deveriam receber a Jesus não como um novo imperador a estabelecer uma nova hierarquia de poder e privilégios. Ele mesmo já havia afirmado que embora fosse o Filho de Deus, ainda sofreria muitas coisas e seria morto e, da mesma forma, seus discípulos deviam carregar suas cruzes para segui-lo. Deveriam recebê-lo como se recebe uma criança, como algo novo e puro, sem os velhos vícios próprios dos adultos. Dessa maneira receberiam a Deus.
Gouvêa de Oliveira, Flávio; Gouvêa de Oliveira, Flávio. O Evangelho em Carne e Osso: Uma exposição do evangelho de Lucas para pessoas de corpo e alma (p. 172). Flávio Gouvêa de Oliveira. Edição do Kindle.
Marcos 10.13–16 (NAA)
13Então trouxeram algumas crianças a Jesus para que as abençoasse, mas os discípulos os repreendiam.
14Jesus, porém, vendo isto, indignou-se e disse-lhes: — Deixem que os pequeninos venham a mim; não os impeçam, porque dos tais é o Reino de Deus.
15Em verdade lhes digo: Quem não receber o Reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele.
16Então, tomando as crianças nos braços e impondo-lhes as mãos, as abençoava.
https://www.ultimato.com.br/conteudo/a-crianca-e-a-igreja-hoje-mas-como-e-isso-na-pratica
A criança é a igreja hoje. Mas como é isso na prática? Márcia Barbutti
Jesus ama as crianças:
Seu amor foi demonstrado com atitudes. Ele dispensa seu tempo sem pressa ou correria. É preciso amar para abençoar. Você pode imaginar como essa cena foi impactante para cada criança e para seus pais? Em outros momentos, Jesus demonstrou seu amor curando crianças da sua terra e também estrangeiras, expulsando demônios, libertando-as da opressão e até da morte. Seu amor era claramente percebido.
Jesus valida a capacidade espiritual das crianças.
Ao enfatizar que as crianças devem ir a ele sem qualquer impedimento, Jesus deixa claro que as crianças têm capacidade de desenvolver um relacionamento pessoal com ele. As crianças são aptas para crerem em Cristo como seu Senhor e Salvador. Contudo, precisamos ressaltar que a credulidade natural da criança não deve ser confundida com a fé salvadora. Segundo destacou Perry Downs em seu livro Ensino e crescimento (Editora Cultura Cristã), quando ensinamos uma criança na fé cristã, nós dirigimos a tendência natural de crer para crer no Senhor Jesus Cristo. Ainda que ela não compreenda todas as implicações dessa decisão, ela é capaz de colocar em Jesus a sua confiança.
As crianças precisam ser conduzidas a Cristo.
A criança é total, completa e objetivamente dependente de um adulto. Jesus ressaltou essa característica ao dizer que devemos nos tornar como uma criança para entrar no reino do céu. Alguns afirmam que essa característica seria a inocência, mas isso é incompatível com a realidade de que todos pecaram (Rm 3.23) e a criança não é uma categoria à parte. Jesus deixa claro que é a humildade e a dependência.
3. Outras aplicações:
(a) Temos de ser marcados pela humildade de Jesus, ao não pleitearmos posições de destaque neste mundo. Na morte de Jesus, o nosso ego morreu junto.
Gálatas 2.19–20 (NAA)
19Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo;
20logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. E esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim.
2Coríntios 1.5 (NAA)
5Porque, assim como transbordam sobre nós os sofrimentos de Cristo, assim também por meio de Cristo transborda o nosso consolo.
T. Austin-Sparks:
Os sofrimentos são necessários para muitas coisas, a primeira das quais é: manter as coisas reais, práticas e atualizadas. O Senhor não permitirá que qualquer um de nós viva sobre o passado, sobre uma teoria, sobre uma tradição, sobre uma doutrina apenas como doutrina. Antes, Ele irá permitir-nos viver somente no que é real, prático e atualizado, e, sendo feitos como somos, nós não viveremos a não ser para o que fomos feitos. Eu poderia fazer várias confissões pessoais agora, mas elas não teriam muito valor, exceto como ilustração. Se eu conheço, mesmo que apenas um pouco acerca do Senhor e das coisas do Senhor, eu posso dizer a você, de maneira perfeitamente franca, que isso é decorrência do sofrimento.
(b) Deseje com todo o seu coração ser “o menor de todos”, para ser encontrado grande beneficiário da misericórdia de Deus sobre a sua vida.
Efésios 3.8 (NAA)
8A mim, o menor de todos os santos, foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo
1Coríntios 15.9 (NAA)
9Porque eu sou o menor dos apóstolos, e nem mesmo sou digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a igreja de Deus.
1Timóteo 1.15 (NAA)
15Esta palavra é fiel e digna de toda aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal.
Ilustr.:
Świdnica e Auschwitz – Entre a paz e a guerra (Carlos Caldas)
Nos últimos dias de maio e nos primeiros de junho de 2022, sob os auspícios da Escola de Teologia Evangélica de Wroclaw, Polônia, pude participar do meu primeiro congresso presencial desde 2020. O tema geral da conferência que tive a honra de participar foi Wrocławskie drogi do wolności – “Os caminhos de Wroclaw para a liberdade”.
Primeiramente, a visita à Igreja da Paz em Świdnica (pronuncia-se “Ishvidnitsa”), uma cidade pequena que fica a mais ou menos 50 quilômetros de distância de Wroclaw. Seu templo, em estética barroca, todo construído em madeira, é o maior da Europa no gênero, e consta da lista do Patrimônio Mundial da UNESCO. A igreja é a Paróquia de Świdnica da Igreja Evangélica (Luterana) da Confissão de Augsburgo na Polônia.
A história da Igreja da Paz (ou melhor, das Igrejas da Paz) é, sem exagero, interessantíssima: três igrejas foram chamadas de Friedenskirche – “Igreja da Paz” na região da Silésia, sendo que a de Świdnica é a única que não foi destruída nas duas guerras mundiais. O nome “da Paz” se deve ao fato que as três igrejas foram construídas após os acordos do Tratado de Westfalia, de 1648, que pôs fim à Guerra dos Trinta Anos, travada por motivos diversos, mas em considerável medida, religiosos. Os protestantes da Silésia tiveram seus templos tomados pelo Imperador da Áustria. Com apoio do Rei da Suécia, os protestantes tiveram direito de construir três templos, mas as condições que lhes foram impostas eram extremamente severas, praticamente impossíveis de serem atendidas: os templos não poderiam ser construídos com material durável, como pedra ou tijolos, e deveriam estar prontos em um ano. Proibidos de usar material durável, o que lhes restou foi madeira e argila. O início da construção não se deu de imediato, pois o primeiro culto no templo de Świdnica foi realizado em 24 de junho de 1657, mas o templo foi construído em dez meses. Um milagre! A decoração do templo, com capacidade para 5.000 pessoas, foi acrescentada posteriormente. No centro do altar principal há cinco estátuas: o sacerdote Arão, Moisés, Jesus ao centro, e os apóstolos Pedro (segurando uma chave) e Paulo (portando uma espada). Imediatamente acima do altar está a pintura de um triângulo com o tetragrama sagrado, as quatro letras do nome divino em hebraico. Nas laterais há inscrições em alemão com versículos bíblicos. E na outra extremidade, em uma linha reta em direção à estátua de Jesus, está uma pintura de Martinho Lutero.
E exatamente no centro do templo, no teto, uma pintura representa o mistério da Trindade. A Igreja da Paz é um verdadeiro milagre, não apenas do engenho humano, capaz de fazer o (quase) impossível, mas um milagre da graça de Deus. É, no mínimo, impressionante que, tal como anteriormente mencionado, não tenha sido destruída em nenhuma das duas guerras do século XX. A igreja funciona ininterruptamente desde sua organização em 1657. Atualmente, um culto por semana, nas manhãs de domingo. Estar na Igreja da Paz transmitiu-me sensação de paz e leveza. Foi um momento de quietude, admiração e contemplação do que Deus pode fazer meio de pessoas que se dispõem a servi-lo.
Mas no dia seguinte tivemos uma experiência totalmente diferente, em todos os sentidos: visitamos o complexo do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau. Vale registrar que Auschwitz é o nome alemão do lugar. O nome polonês da cidade que abrigou o campo de morte é Oświęcim (pronuncia-se algo mais ou menos como “Oshfientim”). A viagem é um pouco mais longa, cerca de três horas distante de Wroclaw. Visitar a igreja de Świdnica transmitiu paz, mas visitar Auschwitz produziu – produz – inquietude, tristeza, raiva, perplexidade, confusão, dúvida, desespero.
Auschwitz foi também uma obra de engenharia – só, que uma engenharia para a morte. Durante os anos de seu funcionamento, recebendo em sua maioria absoluta judeus (russos, poloneses, ciganos e pessoas de outras etnias também foram levados para lá), o campo foi projetado para matar gente em escala industrial, algo simplesmente inimaginável. Não dá para processar o que foi aquilo. O guia polonês que conduziu nosso grupo nos disse que até 2019, ou seja, antes da explosão da crise mundial da Covid19, o campo recebia uma média de 8.000 visitantes por dia, mas que em seu auge, cerca de 12.000 pessoas eram assassinadas por dia em Auschwitz. Não há como entender ou processar isso. Foi a “banalidade do mal”, no dizer da filósofa Hannah Arendt. Para que uma quantidade tão grande de pessoas fosse morta por dia, f0i necessário um esquema que envolveu muita gente, desde pessoas que faziam serviço pesado até engenheiros qualificados, que gastaram energia para pensar em como matar o máximo de pessoas no menor tempo possível. Os “funcionários” do campo trabalhavam lá durante o dia, e no fim da tarde ou início da noite, voltavam para suas casas para jantar com suas famílias, e no dia seguinte, voltavam e faziam a mesma coisa. Para eles, não havia nada de mal no que fizeram. Algo surreal, que nenhum romancista do mundo foi capaz de pensar. Mas, infelizmente, isso aconteceu.
Na entrada do museu do campo há uma placa com a frase conhecida do filósofo espanhol George Santayana: “quem não recorda o passado está condenado a repeti-lo”. Como humanos, criaturas caídas, manchadas e marcadas pelo pecado, somos tentados a querer eliminar o “outro”, que é diferente de nós, aquele que está errado mesmo quando está certo, que não pertence ao nosso grupo. O “outro” é e pode ser literalmente qualquer um: o esquerdista, o fascista, o homossexual, o pentecostal, o católico, o rico, o pobre, o quilombola, o indígena, o gordo, o magro, o feio, o bonito, o sem religião, o muçulmano, o usuário de drogas, o... A lista não tem fim. Auschwitz foi uma tentativa terrível de eliminar o “outro”. Deus nos guarde de tal tentação. Que possamos seguir não o caminho de Auschwitz, mas o de Świdnica.
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