O PERIGO DA IDOLATRIA NA IGREJA CRISTÃ
Idolatria • Sermon • Submitted
0 ratings
· 3,144 viewsSendo assim, hoje veremos uma pouco deste pecado, que apesar de tão temido no meio dos evangélicos, é tão comum quanto ver um crente com a bíblia debaixo do braço. Nos surpreenderemos ao perceber o quanto somos idólatras, e o quanto isso afeta nosso relacionamento com Deus.
Notes
Transcript
Sermon Tone Analysis
A
D
F
J
S
Emotion
A
C
T
Language
O
C
E
A
E
Social
1. Introdução
1. Introdução
Muitos de nós deve estranhar o tema de hoje: Idolatria. Talvez alguns devem imaginar que a mensagem será falando dos idólatras da ICAR[1]. Isso ocorre porque nosso entendimento sobre o pecado da idolatria é muito mais superficial do que imaginamos.
É importante iniciarmos nosso percurso no projeto original da Criação, quando o homem deveria adorar somente a Deus, o Criador de todas as coisas, mas, com a Queda, tudo mudou, o homem mudou completamente sua forma de adoração. A inclinação para adorar permanece no coração dos seres humanos, mas, como cegos, todos erram o alvo, sem nem ao menos se darem conta disso.
Os cristãos evangélicos no Brasil, no entanto, correm mais perigo quanto à idolatria. Na concepção de muitos, apenas as imagens e peças sacras comuns entre os católicos ou as religiões animistas indicam a prática idólatra, já que esses objetos são claramente condenados por Deus na Bíblia, constituindo uma violação direta do segundo dos Dez Mandamentos: “Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem embaixo na terra, ou nas águas debaixo da terra; não te curvarás diante delas, nem as cultuarás” (Dt 5.8,9).
Sendo assim, hoje veremos uma pouco deste pecado, que apesar de tão temido no meio dos evangélicos, é tão comum quanto ver um crente com a bíblia debaixo do braço.
Nos surpreenderemos ao perceber o quanto somos idólatras, e o quanto isso afeta nosso relacionamento com Deus.
2. O conceito de idolatria
2. O conceito de idolatria
Antes de darmos um conceito de idolatria, vamos, primeiro, descrever como nós pensamos a idolatria, qual é a definição de idolatria no senso comum.
2.1. A idolatria no senso comum
2.1. A idolatria no senso comum
· A primeira característica que pensamos quando queremos definir idolatria, é um comportamento, ou seja, algo que nós fazemos. Sendo assim, para nós, idolatria tem a ver com um comportamento externo, uma ação.
· Uma segunda característica, é pensar a idolatria como um pecado específico e místico. Específico porque pensamos que a idolatria é apenas aquela ação de adorar uma imagem qualquer.
· Uma terceira característica, pensamos em idolatria apenas como um pecado dos outros, ou seja, dos fiéis da ICAR. Em geral a idolatria é um pecado que os evangélicos costumam apontar como um pecado de religiões pagãs.
· Uma quarta característica, pensamos idolatria em um pecado litúrgico, ou seja, algo relacionado com uma imagem, alguém se prostrando diante de uma imagem, etc.
Em resumo, esse é entendimento sobre o pecado da idolatria. Todavia, o que precisamos entender é o seguinte: Será que a idolatria se resume somente a isso? O que a bíblia ensina sobre o pecado da idolatria?
2.2. Como a bíblia define o pecado da idolatria?
2.2. Como a bíblia define o pecado da idolatria?
Para compreendermos a definição de pecado que a bíblia nos traz, vejamos um texto de Ezequiel 14
Ezequiel 14.1–5
“1 Então, vieram ter comigo alguns dos anciãos de Israel e se assentaram diante de mim. “2 Veio a mim a palavra do Senhor, dizendo: “3 Filho do homem, estes homens levantaram os seus ídolos dentro do seu coração, tropeço para a iniquidade que sempre têm eles diante de si; acaso, permitirei que eles me interroguem? “4 Portanto, fala com eles e dize-lhes: Assim diz o Senhor Deus: Qualquer homem da casa de Israel que levantar os seus ídolos dentro do seu coração, e tem tal tropeço para a sua iniquidade, e vier ao profeta, eu, o Senhor, vindo ele, lhe responderei segundo a multidão dos seus ídolos; “5 para que eu possa apanhar a casa de Israel no seu próprio coração, porquanto todos se apartaram de mim para seguirem os seus ídolos.” (Ezequiel 14.1–5, RA)
Do texto acima podemos extrair alguns elementos que poderão nos ajudar na compreensão melhor da definição bíblica do pecado da idolatria.
2.2.1. Um pecado interno
2.2.1. Um pecado interno
Em primeiro lugar, a bíblia fala que o pecado da idolatria é um pecado interno, que nasce no coração, e não externo. (...estes homens levantaram os seus ídolos no seu coração e o tropeço da sua maldade puseram diante da sua...)
Veja que segundo a bíblia, a idolatria não é apenas um ato exterior, mas um pecado interno, no coração.
2.2.2. Um pecado raiz
2.2.2. Um pecado raiz
Em segundo lugar, enquanto pensamos a idolatria num pecado específico, a bíblia ensina que a idolatria é um pecado radical, raiz, ou seja, não é um pecado específico, mas é a raiz de todos os demais pecados. (...tropeço para a iniquidade que sempre têm eles diante de si...)
2.2.3. A idolatria é um pecado universal
2.2.3. A idolatria é um pecado universal
Ao contrário de nosso senso comum, a idolatria não é um pecado somente de alguns grupos pagãos, mas é um pecado intrínseco ao ser humano, como veremos mais a diante. Veja o que o apostolo Paulo nos ensina em Romanos acerca da idolatria humana:
Romanos 1.21–25
“21 porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. “22 Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos “23 e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis. “24 Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si; “25 pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!” (Romanos 1.21–25, RA)
Quando o homem rejeita o conhecimento de Deus, ele é inevitavelmente levado à idolatria. Esse estado de escravidão da idolatria não é somente para os ímpios, mas para todos que desconhecem ou rejeitam o conhecimento do Deus criador.
Tal pecado também pode estar dentro da igreja cristã. Uma pessoa pode se dizer cristã, e ser um idólatra. Veja que a bíblia nos adverte do pecado da idolatria:
1Coríntios 10.14 - “14 Portanto, meus amados, fugi da idolatria.” (1Coríntios 10.14, RA)
Veja que os 10 mandamentos foram dados ao povo escolhidos de Deus. Tais imperativos bíblicos foram dados à igreja.
2.2.4. A idolatria é um pecado geral
2.2.4. A idolatria é um pecado geral
A idolatria não é apenas um pecado litúrgico, que é cometido apenas dentro de locais religiosos. A idolatria pode ser praticada em nossa vida como um todo. Podemos ser idólatras em nosso dia a dia, quando temos que decidir o que fazer, quando tomamos nossas decisões diárias.
2.3. A definição de idolatria conforme a bíblia
2.3. A definição de idolatria conforme a bíblia
Para criarmos nossa definição de idolatria, podemos partir do texto de Romanos que acabamos de ler, vejamos novamente:
Romanos 1.21–25 “21 porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. “22 Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos “23 e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis. “24 Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si; “25 pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!” (Romanos 1.21–25, RA)
Sendo assim, uma boa definição de idolatria, segundo esse texto, seria: “Substituição do Deus verdadeiro por um falso deus. A idolatria consiste em atribuir status de criador à criatura”
No núcleo do pecado da idolatria, está a substituição do Criador pela criatura.
Dessa forma, veremos daqui em diante, que diariamente nós temos substituído o Deus Criador, por algo que não é o Deus criador. Frequentemente damos mais valor às criaturas do que a Deus, elevando a criatura ao status de Criador.
3. O perigo da idolatria
3. O perigo da idolatria
Como sabemos, a idolatria caracteriza-se pela substituição de Deus por qualquer outro “deus”. Por essa razão, ao tratar dos mandamentos divinos, Deuteronômio 6.3,4 alerta:
“Ó Israel, ouve e tem o cuidado de guardá-los, para que vivas bem e te multipliques muito na terra que dá leite e mel, como o SENHOR, Deus de teus pais, te prometeu. Ouve, ó Israel: O SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR”.
Esse texto, de modo bastante expressivo, chama nossa atenção para o perigo da idolatria. Ele salienta que, quando deixamos de adorar o único Deus, adoramos qualquer outra coisa.
A seriedade com que as Escrituras tratam a questão da idolatria pode ser especialmente verificada no Decálogo, os Dez Mandamentos. Nos quatro primeiros, Deus condena com veemência a idolatria. Assim, em cada um desses mandamentos, são expostos riscos específicos de negligenciarmos nossa adoração exclusiva a Deus. Como muitas pessoas não têm familiaridade com os Dez Mandamentos conforme apresentados nas Escrituras, reproduzo a seguir os quatros primeiros, que tratam especificamente do tema em questão:
Primeiro: “Não terás outros deuses além de mim” (Êx 20.3).
Segundo: “Não farás para ti imagem esculpida, nem figura alguma do que há em cima no céu, nem embaixo na terra, ou nas águas debaixo da terra. Não te curvarás diante delas nem as cultuarás, pois eu, o SENHOR teu Deus, sou Deus zeloso…” (Êx 20.4,5).
Terceiro: “Não tomarás o nome do SENHOR teu Deus em vão…” (Êx 20.7). (Êx 20.8–10).
Nesse grupo inicial de mandamentos do Decálogo, que tratam de nossa relação vertical com Deus, são apresentadas as bases de um relacionamento adequado com ele. Especificamente, podemos depreender de cada um desses mandamentos as mais absolutas expectativas:
(1) de total devoção a Deus,
(2) de pleno entendimento de sua existência única, sem qualquer paralelo com este mundo criado,
(3) de zelo absoluto por sua glória, em qualquer situação de nossa existência.
O mais sutil desvio dos padrões absolutos expostos nesses mandamentos de Deus nos faz recair no pecado da idolatria.
4. Como surge a idolatria
4. Como surge a idolatria
Para compreendermos como surge a idolatria, devemos voltar nossos olhos ao pecado original.
Diz o texto de Gênesis 3.1 que a serpente “era o mais astuto de todos os animais do campo que o SENHOR Deus havia feito”. A serpente entra em cena e se mostra em oposição absoluta a Deus. Em Gênesis 2.17, vemos Deus afirmar: “… porque no dia em que dela [árvore do conhecimento do bem e do mal] comeres, com certeza morrerás”. No capítulo seguinte, porém, a serpente diz a respeito da mesma ação proibida: “Com certeza, não morrereis” (Gn 3.4). Há, portanto, uma clara oposição a Deus feita pela serpente, a qual, podemos dizer, é a encarnação do Diabo.
Depois dessa investida da serpente, são relatadas no versículo 6 as fatídicas ações do primeiro casal: “Então, vendo a mulher que a árvore era boa para dela comer, agradável aos olhos e desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, comeu e deu dele a seu marido, que também comeu”. Assim, tanto o homem como a mulher fizeram exatamente tudo o que Deus havia ordenado que não fizessem. Eis o exato momento em que nasceu a idolatria!
Neste momento a humanidade fez o que Paulo descreve como a definição do pecado da idolatria lá em Romanos. Deram ouvidos à criatura, ao invés do Criador.
“22 Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos “23 e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis. “24 Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si; “25 pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém!” (Romanos 1.21–25, RA)
5. A herança da idolatria
5. A herança da idolatria
O chamado supremo do ser humano era o de glorificar a Deus, adorá-lo em reverente obediência, ao reconhecer no Criador a fonte de toda a vida e sabedoria. Então, podemos dizer que Eva adorou a serpente? De certa forma, sim. Ela entregou a sua confiança (sua fé) para aquele animal com quem passou a relacionar-se em maldito diálogo. E foi acompanhada nesse ato por Adão. Portanto, é assim que passamos a adorar algo: quando nos submetemos a isso e à sua influência como se fosse superior a Deus. O que os nossos primeiros pais fizeram foi trocar a confiança naquilo que Deus havia dito por uma confiança na palavra de outrem (no caso, a palavra do Diabo).
6. O habitat da idolatria
6. O habitat da idolatria
Tendo em vista que a idolatria, desde o Éden, passou a ser algo presente na natureza humana, uma dúvida essencial vem à tona: Onde mora a idolatria?
Para conhecer o habitat da idolatria, vejamos o que diz Ezequiel 14.1–3:
“Então alguns dos anciãos de Israel vieram a mim e se assentaram. E a palavra do Senhor veio a mim: Filho do homem, estes homens deram lugar no coração aos seus ídolos e puseram o tropeço da sua maldade diante deles mesmos; devo eu ser consultado por eles?” (grifo do autor).
Deus afirma que a idolatria está no coração daqueles homens. A palavra “coração” aparece 858 vezes no Antigo Testamento e é um termo essencial em toda a sua teologia.
O coração do homem controla o homem completo. Se alguma coisa deve ser guardada como o que de mais precioso há, deve ser o coração: “Acima de tudo que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida” (Pv 4.23).
Havia idolatria em Israel, e ela se manifestava muitas vezes por meio do culto a Baal e a outros deuses. Entretanto, a manifestação externa de idolatria não era o problema maior, mas apenas a ponta de um imenso iceberg. Na verdade, o grande problema da idolatria estava muito bem escondido no coração daquele povo. De acordo com o texto em Ezequiel, os ídolos estavam presentes no coração dos homens de Israel como “o tropeço da sua maldade diante deles mesmos”, pois, ao colocá-los diante de si, o próprio eu deles estava sendo exposto.
O texto de Ezequiel prossegue:
“Ezequiel 14.4–5
“4 Portanto, fala com eles e dize-lhes: Assim diz o SENHOR Deus: Qualquer homem da casa de Israel que levantar os seus ídolos dentro do seu coração, e tem tal tropeço para a sua iniquidade, e vier ao profeta, eu, o SENHOR, vindo ele, lhe responderei segundo a multidão dos seus ídolos; “5 para que eu possa apanhar a casa de Israel no seu próprio coração, porquanto todos se apartaram de mim para seguirem os seus ídolos.” (Ezequiel 14.4–5, RA).
O problema não estava nas formas externas em si, mas no íntimo daqueles homens. Como diz o texto, eles tinham ídolos no coração. Uma vez o coração controlado pelo ídolo, todo o homem está controlado.
Mais adiante nós veremos que esses ídolos do coração estão mais próximos de nós do que pensávamos. Devemos estar preparados para identificar nossos próprios ídolos do coração para eliminarmos isso definitivamente de nossas vidas, entronizando o verdadeiro Deus em nossos corações.
7. Consequências da Idolatria
7. Consequências da Idolatria
Como consequências drásticas de ter acreditado na completa mentira (meia verdade) contada por Satanás no Éden e de ter cedido à cobiça e à idolatria, o homem sofreu diversas perdas.
7.1. O homem perdeu sua pureza e integridade, tornando-se mau
7.1. O homem perdeu sua pureza e integridade, tornando-se mau
“Agora o homem […] conhece o bem e o mal” (Gn 3.22).
Cedendo à cobiça do coração, Adão e Eva adquiriram, por meio de uma experiência real da maldade, o conhecimento que desejavam. No diálogo com a mulher, Satanás escondeu esse fato crucial, dizendo apenas meia verdade. Quando afirmou que os dois se tornariam como Deus ao conhecerem o bem e do mal, na realidade Satanás escondeu o fato de que eles também se tornariam maus por causa de sua desobediência a Deus. A satisfação que procuravam no mistério do fruto daquela árvore tornou-se para eles o mais amargo de todos os frutos, a perda de sua integridade diante do Criador e diante um do outro.
7.2. O homem perdeu a intimidade com Deus
7.2. O homem perdeu a intimidade com Deus
Vemos no relato que o privilégio de ser amigo íntimo do Criador também desapareceu, pois o homem passou a se envergonhar também diante de Deus (Gn 3.8–10). O homem foi criado à sua imagem e semelhança para ser íntimo de Deus e caminhar em sua companhia no jardim. Mas o que a desobediência ocasionou foi exatamente o oposto: o homem passou a se esconder daquele com quem deveria ter a maior de todas as intimidades, maior até mesmo da que desfrutava com aquela que havia sido tirada de seus próprios ossos e carne. A presença, transparência e intimidade foram substituídas pelo esconder-se, medo e vergonha. Quando Deus chega ao jardim para confrontar o homem, o texto diz: “Mas o SENHOR Deus chamou o homem, perguntando: Onde estás? O homem respondeu: Ouvi a tua voz no jardim e tive medo, porque estava nu; por isso me escondi” (Gn 3.9,10).
7.3. O homem perdeu sua habitação no jardim
7.3. O homem perdeu sua habitação no jardim
“Por isso, o SENHOR Deus o mandou para fora do jardim do Éden…” (Gn 3.23)
Outra consequência inevitável da escolha do primeiro casal de desobedecer a Deus foi a expulsão do Jardim do Éden. Isso aconteceu porque Adão e Eva se tornaram maus ao conhecerem o mal. Infelizmente, eles não atentaram para o fato de que não vale a pena conquistar algo, por melhor que pareça, se o preço a ser pago for a desobediência a Deus. Embora tenham de fato conhecido a realidade do bem e do mal, Adão e Eva ficaram desconectados da Verdade, que é o próprio Deus. Perderam sua casa, seu habitat, perderam o paraíso!
7.4. O homem perdeu seu propósito original
7.4. O homem perdeu seu propósito original
Expulso do jardim que deveria guardar e cultivar, o homem se distanciou do propósito original para o qual havia sido chamado. A partir de então, o homem passou a habitar em outro ambiente, amaldiçoado por Deus, sem um propósito claramente definido, a não ser a expectativa de uma vida condicionada por sua subsistência física e pela expectativa da morte (Gn 3.17–19). A tarefa dada por Deus ao homem, de espalhar e levar a realidade do jardim por toda a terra (até os seus confins), agora é substituída por uma pobre realidade, marcada por incertezas, na qual não vive mais para Deus e seu propósito, mas para si mesmo!
7.5. O homem perdeu sua liberdade
7.5. O homem perdeu sua liberdade
Entre outras coisas proporcionadas pela liberdade de que desfrutava, o homem perdeu o acesso à árvore da vida. Agora o homem já não podia ter livre acesso à plenitude de vida que Deus lhe oferecia no jardim: “E havendo expulsado o homem, pôs a leste do jardim do Éden os querubins e uma espada flamejante que se revolvia por todos os lados, para guardar o caminho da árvore da vida” (Gn 3.24). Portanto, não poderiam mais desfrutar do livre acesso à “árvore da vida” que ficava no jardim com toda a sua abundância de vida (v. 22). Em lugar da árvore, herdaram “espinhos e ervas daninhas”.
7.6. O homem perdeu sua própria vida
7.6. O homem perdeu sua própria vida
O homem foi feito por Deus alma vivente. Recebeu do Criador mandados diversos que deveria cumprir diante dele. Porém, o resultado da desobediência seria a morte em todas as suas dimensões: física, moral e espiritual. Depois de comer do fruto da árvore proibida por Deus, perdeu a plenitude da vida e passou a conhecer não só o mal, mas a própria a morte (Gn 3.19).
7.7. O homem perdeu o pleno exercício da autoridade
7.7. O homem perdeu o pleno exercício da autoridade
Criado para dominar sobre a criação, o homem passa a ser assolado pelo medo. Em vez de exercer uma vida de autoridade sobre o que está à sua volta, o homem é agora dominado pelo temor e receio de tudo.
É dessa nova condição humana que nasceram os cultos externos da idolatria. O homem, que com a presença e a orientação de Deus exercia pleno domínio, passa a ser orientado pelo medo e, a fim de obter novamente algum controle, começa a adorar a criação e tudo o que considera maior que ele — trovões, os astros, os animais etc., além de tudo o que não pode compreender completamente. A expressão da verdade conforme o salmo 8 torna-se agora confusa em razão do pecado: “Deste-lhe domínio sobre as obras das tuas mãos; tudo puseste debaixo de seus pés: todas as ovelhas e os bois, assim como os animais selvagens, as aves do céu, os peixes do mar e tudo o que percorre as veredas dos mares” (Sl 8.6–8). Seria necessário algum outro que pudesse exercer esse domínio!
Aqui nos vemos diante de um fato bastante paradoxal: aquela árvore do Éden era desejável para dar conhecimento e entendimento, mas agora, após alcançá-la, o homem passa a adorar tudo o que não consegue conhecer ou entender. Ele sente medo e assim adora. Exatamente o oposto do que deveria ocorrer.
8. Manifestações da Idolatria no Século 21
8. Manifestações da Idolatria no Século 21
Vivemos um período completamente diferente de qualquer outro na história. Sobretudo na aérea tecnológica, experimentamos um avanço impensável em épocas mais remotas. A internet, por exemplo, ferramenta admirável, explodiu no fim do século 20, e nos dias atuais é particularmente difícil para muitos imaginar como seria viver sem ela. A tecnologia e os telefones sempre à mão deram ao homem contemporâneo um novo modo de sentir-se conectado com o mundo. Não poder fazê-lo torna-se absolutamente frustrante, principalmente para as gerações mais novas que já cresceram diante dessa nova realidade.
No entanto, apesar de todos esses avanços tecnológicos, algo não mudou. O homem continua idólatra. A tecnologia, sobretudo com o advento das mídias sociais, apenas potencializou e tornou mais manifesto nosso narcisismo, nossa adoração do eu. Muitas formas de arte já faziam isso, mas a maneira rápida, imediata e disponível a todos trouxe uma força maior à maneira como manifestamos nossos ídolos, como veremos abaixo.
8.1. O “eu” e a selfie
8.1. O “eu” e a selfie
As redes sociais, fenômeno mundial, têm se destacado ainda mais ultimamente com a moda do momento: a famosa selfie. É difícil encontrar alguém que, com um smartphone em mãos, resista à tentação de registrar e compartilhar imediatamente fotos de sua presença em todo e qualquer lugar, desde aquela paisagem deslumbrante, passando por restaurantes, festas e eventos dos mais variados tipos.
Contudo, a selfie retrata com fidelidade algo que não começou agora, mas, sim, há muito tempo, no Jardim do Éden: a adoração do próprio eu.
Se quiser comprovar essa verdade, pense na última vez que você tirou uma foto no celular. Imediatamente você foi conferir se a foto ficou boa. E se não tiver ficado boa, o que você faz? Tira outra, até ficar ótima. Sabe porquê? O fato de não “sair bem na foto”, ou melhor, na selfie, é particularmente frustrante. Afinal, Narciso acha feio o que não é espelho!
8.2. O “eu” e a comunicação
8.2. O “eu” e a comunicação
O “Eu” se manifesta de muitas maneiras, nas mais variadas situações, mas é nas comunicações cotidianas que se revela mais assiduamente. Em cada oportunidade, no exato momento em que estabelecemos qualquer tipo de comunicação com o semelhante, o “Eu” reivindica seu espaço e, portanto, naturalmente exige também o papel de protagonista nas postagens das redes sociais. Nosso desejo de reconhecimento e status encontra ali um cenário bastante favorável, e com isso a adoração do “Eu” se torna ainda mais evidente para todos.
8.3. A egolatria no culto cristão
8.3. A egolatria no culto cristão
Contudo, esse comportamento voltado para o próprio “Eu”, infelizmente, não se restringe aos ambientes que consideramos “seculares”, mas se manifesta com igual intensidade no culto cristão. Os hinos cristãos do passado, ao contrário de muitos cânticos de hoje, eram de fato uma expressão de louvor ao personagem mais importante da reunião da igreja: Deus. As composições mais antigas evidenciavam uma preocupação teológica maior de ressaltar a grandeza do Criador, bem diferente do que ouvimos hoje em boa parte dos cânticos entoados nas rádios e reproduzidos em muitas igrejas.
Por falta de uma teologia adequada, na chamada “música gospel” atual simplesmente transparece o individualismo exacerbado, que nada mais é do que a manifestação concreta da nossa antiga idolatria.
Desse modo, em muitas das nossas celebrações dominicais, o “Eu”se destaca e ocupa o lugar mais proeminente durante o culto. Caso você queira ter uma percepção melhor desse fato, sugiro que faça uma experiência em sua igreja no próximo domingo. Anote quantas vezes a palavra “Eu” é mencionada, explícita ou implicitamente, durante o momento de louvor, nas orações ou em outras expressões de devoção.
Essa experiência o fará constatar a presença insidiosa da adoração do “Eu” também nos cultos cristãos. O “Eu” não é proibido. Se observarmos a própria Escritura e o livro de Salmos, grande parte deles relaciona-se às angústias do indivíduo, os chamados lamentos individuais. Entretanto, a construção do contexto do culto nunca é em torno do próprio homem, mas do Deus altíssimo.
A triste realidade mostra que a cultura individualista se infiltrou nas reuniões em que os cristãos deveriam se reunir como o corpo de Cristo, com o propósito de edificar uns aos outros e adorar conjuntamente ao nosso Salvador (Cl 3.15–17). Assim, já não nos reunimos para adorar a Deus. Apesar de estarmos juntos, no mesmo espaço, nossa adoração é fragmentada e sem foco no único que merece toda a nossa atenção e adoração. Não somos nós coletivamente adorando o “Grande Eu Sou”; ao contrário, sou eu individualmente adorando a mim mesmo.
8.4. Dinheiro, poder e sexo: inclinações do coração expressas em impulsos
8.4. Dinheiro, poder e sexo: inclinações do coração expressas em impulsos
Talvez os três impulsos mais fortes da raça humana sejam os motivados por dinheiro (o desejo de possuir), por poder (o desejo de exercer domínio/status) e por sexo (o desejo pelo prazer).
Hoje pecamos da mesma forma. Tiago falou a esse respeito em sua carta. Aliás, parece que ele acabara de ler os capítulos iniciais de Gênesis quando a escreveu: “Mas cada um é tentado quando atraído e seduzido por seu próprio desejo” (Tg 1.14).
O passo seguinte à atração é a sedução. Quando alguém olha para algo e acha que é muito desejável, isso gera a cobiça e, então, surge a idolatria, a qual dá à luz o pecado; e o pecado, por sua vez, gera a morte, porque “no dia em que dela [árvore do conhecimento do bem e do mal] comeres, com certeza morrerás” (Gn 2.17).
O apóstolo João descreve estes três impulsos em sua carta, vejamos:
1João 2.15–16
“15 Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele; “16 porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne (desejo pelo prazer – sexo), a concupiscência dos olhos (desejo por possuir - dinheiro) e a soberba da vida(desejo por status - poder), não procede do Pai, mas procede do mundo.” (1João 2.15–16, RA)
Essas três inclinações de nosso coração estão intimamente ligadas à idolatria gerado no pecado original lá no Éden.
Observe que as três inclinações são desejos, que são gerados dentro do coração do homem, e, por fim, externalizados, mas tudo começa no coração, nos desejos do coração.
Mateus 15.19
“19 Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias.” (Mateus 15.19, RA)
8.5. A egolatria – Adoração do próprio “Eu” – O maior inimigo do cristão
8.5. A egolatria – Adoração do próprio “Eu” – O maior inimigo do cristão
Deus é “o grande Eu Sou”. E Israel, assim como nós hoje fazemos, trocou “o grande Eu Sou” pelo “grande sou eu”.
Deus verdadeiramente é grande, mas eu decido trocá-lo pelo meu próprio eu dominado e inflado. Dentre os ídolos presentes no coração de Israel nos tempos do profeta Ezequiel e que estão igualmente presentes no coração dos seres humanos nos dias atuais, o mais adorado certamente é o “grande sou eu”. Esse ídolo, originado lá no Éden, destronou “o grande Eu Sou”.
Ao dar ouvidos à proposta da serpente de que seriam “como Deus, conhecendo o bem e o mal” (Gn 3.5), Adão e Eva vislumbraram a si mesmos e seus desejos como alvo maior da sua existência. Foi, portanto, no Éden que essa idolatria teve início. Ali surgiu a primeira manifestação concreta da idolatria — a adoração do próprio eu. E essa inclinação idólatra continua a habitar no coração de todos os seres humanos.
A adoração do “Eu” começa no Éden, mas não termina lá. Hoje em dia, vivemos para adorar nosso próprio “Eu”. O mundo, o sistema do mundo, facilitou a egolatria. As redes sociais são ferramentas a serviço da adoração do “Eu”. Deus foi destronado. O que Deus quer para nossas vidas não mais nos interessa.
A celebre frase do Pai Nosso, “... seja feita a Tua vontade assim na terra como nos céus...” nunca esteve tão em desuso como agora. Ninguém quer saber qual seja a vontade de Deus (apesar desta vontade estar expressa na bíblia), porque para o homem e mulher do século 21 o que interessa é sua vontade, seus desejos, seu prazer.
“....Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos...”
A religião da egolatria é o hedonismo. A teologia do triunfalismo, os coachees ensinam “...Deus quer que você seja feliz...” Em busca dessa felicidade vale tudo, até colocar-se no lugar de Deus. Se for para desprezar um mandamento bíblico para ser feliz, que seja...
8.6. A egolatria é a quebra dos dois mandamentos
8.6. A egolatria é a quebra dos dois mandamentos
Uma passagem muito esclarecedora sobre a humanidade, nos últimos dias, se encontra e 2 Timóteo 3, vejamos:
2Timóteo 3.1–5
“1 Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, “2 pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, “3 desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, “4 traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus, “5 tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, sua eficácia. Foge também destes.” (2Timóteo 3.1–5, RA)
Interessante notar o adjetivo que encabeça essa lista enorme de pecados. EGOÍSTAS. O egoísta é aquele que ama mais a si mesmo que os outros. Esse amor elevado de sí mesmo é a ruptura e afronta contra os dois mandamentos maiores.
Mateus 22:35-40 (ACF2007)
(22:35) E um deles, doutor da lei, interrogou-o para o experimentar, dizendo: (22:36) Mestre, qual é o grande mandamento na lei? (22:37) E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. (22:38) Este é o primeiro e grande mandamento. (22:39) E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. (22:40) Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.
Note bem, o egoísta é aquele que ama mais a si mesmo. Para o egoísta, não importa a vontade de Deus, nem a do próximo, só importa a vontade dele mesmo.
8.7. Como identificar o idólatra na prática?
8.7. Como identificar o idólatra na prática?
Importante esclarecer que a carta foi destinada aos crentes, e não aos ímpios, portanto, tal advertência deve ser encarada com seriedade pelos crentes, pois podem, em certo grau, serem egoístas, amantes de si mesmos.
Quando a pessoa está diante de um mandamento bíblico, e decide seguir seus próprios caminhos, ao invés de dar ouvidos à Palavra de Deus, ela está sendo egoísta. Essa pessoa não está amando a Deus sobre toda as coisas, não está amando a Deus acima de sua própria vontade ou decisão. João 14.21 “...Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama...”
Outro ponto importante a esclarecer que toda a regra moral bíblia se coaduna com os dois maiores mandamentos neotestamentários (Mateus 22:35-40), que são, em última análise, o resumo e a condensação de toda a norma moral veterotestamentária.
Vamos aos exemplos:
Exemplo 1: A mãe que idolatra os filhos. Se meus filhos não se converterem, então eu também vou sair da igreja.
Exemplo 2: A pessoa se converte para salvar seu casamento. A pessoa usa Jesus para adquirir outra coisa, Jesus Cristo passa a ser um meio para a pessoa alcançar aquilo que para ela tem status de Deus.
Exemplo 3: Tomando por base agora a tríade do mal. Poder, Dinheiro e Sexo, o qual aprendemos cujas inclinações internas são: dinheiro(o desejo de possuir), por poder (o desejo de exercer domínio/status) e por sexo (o desejo pelo prazer).
· Prazer: Uma pessoa que passa mais tempo cultivando prazeres do que se relacionando com Deus. Essa pessoa possui o hedonismo como seu Deus, ela só busca satisfazer seu prazer, seja nos esportes, na arte, ou no sexo, ou em qualquer atividade que lhe proporcione prazer. Essa pessoa foi dominada pela “...concupiscência da carne...” (desejo pelo prazer – sexo)
· Poder/Status: Uma pessoa que faz de tudo para manter numa posição social, não quer perder seu status, a o matem a qualquer custo. Nas redes sociais, mesmo que esteja passando por dificuldades, aparenta estar tudo bem, para manter o status. Dá exacerbada importância para o que as pessoas pensam dela. Essa pessoa foi dominada pela “...soberba da vida...” (desejo por posição/status)
· Dinheiro: A pessoa se converte para ficar rico. Seu foco na igreja é a prosperidade, campanha atrás de campanha, somente pensa no dinheiro. Jesus é apenas um meio para alcançar o alvo: Ficar rico. Essa pessoa foi dominada pela “...concupiscência dos olhos...” (desejo de possuir, de posse)
9. Conclusão / Aplicação
9. Conclusão / Aplicação
Estamos diariamente diante de situação que põe a prova nossa lealdade e fidelidade a Deus. Constantemente somos testados, como Eva o foi no Éden, e, invariavelmente tomamos a mesma escolha da nossa matriarca, escolhendo os ídolos do nosso coração.
Essa necessidade pujante de adorar é inata do ser humano. Precisamos redirecionar essa necessidade ao Deus Criador urgentemente, sob pena de quebrarmos os mandamentos morais de Deus a cada instante de nossas vidas.
A primeira coisa a fazer é identificar nossos próprios ídolos, aquilo que nosso coração se deleita, que deseja, que pulsa. Quando descobrirmos, devemos realocar nosso coração destinando-o para adorar apenas o único e verdadeiro Deus, o nosso Criador.
[1] Igreja Católica Apostólica Romana