O QUE É UMA IGREJA REFORMADA (Pr. Marcos Granconato)

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Características de uma igreja reformada

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1.DEFINIÇÃO

Mt15.8-9 “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. E em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens.”
Igreja Reformada não é uma designação que deve ser aplicada inadvertidamente às igrejas procedentes da Reforma Protestante do Século 16, como muitos pensam. Ainda que as igrejas reformadas sejam fruto desse grande movimento, não é correto usar o vocábulo “reformada” como mero indicador dessa conexão. De fato, o título “reformado”, quando aplicado a uma igreja ou a um determinado teólogo tem um sentido mais estrito. Observe a definição a seguir.
Igrejas reformadas são, a rigor, comunidades eclesiásticas cujas doutrinas seguem na esteira dos teólogos calvinistas holandeses do Século 17.

2.MARCAS DISTINTIVAS

As igrejas reformadas, no campo teológico, apresentam, basicamente, duas marcas distintivas:

O ALIANCISMO

O Aliancismo é uma forma de entender a Bíblia (princípio hermenêutico) que parte do pressuposto de que Deus, ao longo da história da redenção, estabeleceu dois pactos com a humanidade: o Pacto das Obras e o Pacto da Graça. O Pacto das Obras foi quebrado por Adão no Éden, passando a vigorar o Pacto da Graça que perpassa toda a história desde então até o presente. Uma vez que vigora somente um pacto regendo as relações entre Deus e o homem desde a Queda, os preceitos vetero-testamentários (com exceção das estipulações civis e cerimoniais da Lei Mosaica) obrigam todos os homens. Por isso, os aliancistas obedecem o comando da circuncisão (que entendem ter no batismo infantil sua expressão cristã) e também guardam o sábado (que entendem ser o domingo, depois que Cristo ressuscitou). Eles também entendem que a igreja é o “novo Israel de Deus” (supersessionismo ou teologia da substituição), tendo substituído o povo judeu nos planos, promessas e bênçãos de Deus. A ideia de que a Igreja é uma espécie de Israel espiritual tem impacto sobre o ministério pastoral (prerrogativas sacerdotais exclusivas), na devoção cristã e, obviamente, na aplicação das Escrituras à vida das pessoas. O modelo aliancista está consubstanciado na Confissão de Fé de Westminster (1646).
A Confissão de Fé de Westminster no Capítulo VII - DO PACTO DE DEUS COM O HOMEM

I. Tão grande é a distância entre Deus e a criatura, que, embora as criaturas racionais lhe devam obediência como seu Criador, nunca poderiam fruir nada dele, como bem-aventurança e recompensa, senão por alguma voluntária condescendência da parte de Deus, a qual foi ele servido significar por meio de um pacto.

II. O primeiro pacto feito com o homem era um pacto de obras; nesse pacto foi a vida prometida a Adão e, nele, à sua posteridade, sob a condição de perfeita obediência pessoal.

III. O homem, tendo-se tornado, pela sua queda, incapaz de ter vida por meio desse pacto, o Senhor dignou-se a fazer um segundo pacto, geralmente chamado o pacto da graça; nesse pacto ele livremente oferece aos pecadores a vida e a salvação por Jesus Cristo, exigindo daqueles a fé neste para que sejam salvos, e prometendo dar a todos os que estão ordenados para a vida, o seu Santo Espírito, para dispô-los e habilitá-los a crer.

IV. Esse pacto da graça é frequentemente apresentado nas Escrituras pelo nome de Testamento, em referência à morte de Cristo, o Testador, e à herança eterna, com tudo o que lhe pertence, legada neste pacto.

V. Esse pacto, no tempo da Lei, não foi administrado como no tempo do Evangelho. Sob a Lei, foi administrado por meio de promessas, profecias, sacrifícios, da circuncisão, do cordeiro pascoal e de outros tipos e ordenanças dados ao povo judeu, tudo prefigurando Cristo que havia de vir. Por aquele tempo, essas coisas, pela operação do Espírito Santo, foram suficientes e eficazes para instruir e edificar os eleitos na fé do Messias prometido, por quem tinham plena remissão dos pecados e a salvação eterna; essa dispensação chama-se o Antigo Testamento.

VI. Sob o Evangelho, quando foi manifestado Cristo, a substância, as ordenanças, pelas quais este pacto é dispensado, são a pregação da Palavra e a administração dos Sacramentos do Batismo e da Ceia do Senhor; por essas ordenanças, posto que poucas em número e administradas com mais simplicidade e menos glória externa, o pacto é manifestado com mais plenitude, evidência e eficácia espiritual, a todas as nações; aos judeus bem como aos gentios. Isso é chamado o Novo Testamento. Não há, pois, dois pactos da graça diferentes em substância, mas um e o mesmo sob várias dispensações.

A SOTERIOLOGIA DE DORT

A soteriologia de Dort compreende cinco pontos definidos como a essência da doutrina calvinista acerca da salvação. Esses cinco pontos foram destacados no Sínodo de Dort (1618) e são conhecidos pelo acróstico TULIP:
Total depravation - Depravação total
Unconditional election - Eleição incondicional
Limited atonement - Expiação limitada
Irresistible grace - Irresistibilidade da graça
Perseverance of saints - Perseverança dos santos
Assim, para definir-se de modo preciso como “reformada”, no sentido técnico do termo, uma igreja deve ser não somente descendente da Reforma Protestante, mas também calvinista nos moldes holandeses do Século 17, adotando o Aliancismo e os Cânones de Dort. Igrejas que adotam parcialmente o calvinismo holandês do Século 17 podem se identificar como moderadamente calvinistas ou reformadas no campo da soteriologia, por exemplo.

A CONFISSÃO DE FÉ DE WESTMINSTER

A Confissão de Fé de Westminster foi redigida por uma assembléia de teólogos reunida em Westminster por convocação do parlamento inglês, em 1643. O objetivo da referida assembléia era preparar um esquema de uniformidade da religião em face da então recente união entre Inglaterra e Escócia. Concluída em 26 de novembro de 1646, a Confissão de Fé de Westminster, juntamente com outras formulações como a Forma de Governo da Igreja, o Diretório do Culto e os Catecismos Maior e Menor, forneceram a base para uma igreja presbiteriana unida nas duas partes do Reino Unido.
A Confissão de Fé de Westminster no Capítulo III - DOS DECRETOS ETERNOS DE DEUS

I. Desde toda a eternidade e pelo mui sábio e santo conselho de sua própria vontade, Deus ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece, porém de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada a liberdade ou a contingência das causas secundárias, antes estabelecidas.

II. Ainda que Deus sabe tudo quanto pode ou há de acontecer em todas as circunstâncias imagináveis, ele não decreta coisa alguma por havê-la previsto como futura, ou como coisa que havia de acontecer em tais e tais condições.

III. Pelo decreto de Deus e para a manifestação da sua glória, alguns homens e alguns anjos são predestinados para a vida eterna e outros preordenados para a morte eterna.

IV. Esses homens e esses anjos, assim predestinados e preordenados, são particular e imutavelmente designados; o seu número é tão certo e definido, que não pode ser nem aumentado nem diminuído.

V. Segundo o seu eterno e imutável propósito, e segundo o santo conselho e beneplácito de sua vontade, antes que fosse o mundo criado, Deus escolheu em Cristo, para a glória eterna, os homens que são predestinados para a vida; para o louvor da sua gloriosa graça, ele os escolheu de sua mera e livre graça e amor, e não por previsão de fé, ou de boas obras e perseverança nelas, ou de qualquer outra coisa na criatura que a isso o movesse, como condição ou causa.

VI. Assim como Deus destinou os eleitos para a glória, assim também, pelo eterno e mui livre propósito de sua vontade, preordenou todos os meios conducentes a esse fim; os que, portanto, são eleitos, achando-se caídos em Adão, são remidos por Cristo, são eficazmente chamados para a fé em Cristo, pelo seu Espírito que opera no tempo devido, são justificados, adotados, santificados e guardados pelo seu poder, por meio da fé salvadora. Além dos eleitos não há nenhum outro que seja remido por Cristo, eficazmente chamado, justificado, adotado, santificado e salvo.

VII. Segundo o inescrutável conselho de sua própria vontade, pela qual ele concede ou recusa misericórdia, como lhe apraz, para a glória de seu soberano poder sobre as suas criaturas, o resto dos homens, para louvor de sua gloriosa justiça, foi Deus servido não contemplar e ordená-los para a desonra e ira por causa de seus pecados.

VIII. A doutrina deste alto mistério de predestinação deve ser tratada com especial prudência e cuidado, a fim de que os homens, atendendo à vontade revelada em sua Palavra e prestando obediência a ela, possam, pela evidência de sua vocação eficaz, certificar-se de sua eterna eleição. Assim, a todos os que sinceramente obedecem ao Evangelho, esta doutrina fornece motivo de louvor, reverência e admiração a Deus, bem como de humildade, diligência e abundante consolação.

O ARMINIANISMO

Doutrina que deve seu nome ao teólogo holandês Jacobs Arminius (1559-1609). Arminius e seus seguidores questionaram a soteriologia calvinista. Sua teologia ficou conhecida como arminianismo e pode ser resumida da seguinte maneira:
(1) Depravação total: devido ao pecado de Adão, a raça humana é completamente incapaz de fazer qualquer coisa que possa produzir salvação; o homem está morto em pecados e, a menos que Deus aja primeiramente no homem, ele não poderá ser salvo. (2) Eleição condicional: Deus, na eternidade, elegeu para salvação todos aqueles que creriam em Cristo e perseverariam na fé.
(3) Expiação ilimitada: Deus enviou seu Filho, Jesus Cristo, para morrer por todos os homens.
(4) Graça resistível: Deus chama os homens e os capacita através de sua graça; todavia, os homens podem resisti-la.
(5) Perseverança em Cristo: Deus dá graça suficiente para que todos os crentes perseverem na fé, entretanto, há possibilidade de apostasia final.

O CALVINISMO

Pessoas que creem no calvinismo. O calvinismo é a doutrina que deve seu nome e suas ori­gens ao teólogo e reformador francês João Calvino (1509-1564). Essa corrente é popularmente conhecida por defender as doutrinas da eleição incondicional e predestinação. Obviamente o calvinismo é muito mais profundo e não pode ser explicado em apenas uma nota de rodapé, entretanto, quanto à soteriologia, podemos resumir suas ideias principais através dos cinco pontos seguintes:
(1) Depravação total: devido ao pecado de Adão, a raça humana é completamente incapaz de fazer qualquer coisa que possa produzir salvação; o homem está morto em pecados e, a menos que Deus aja primeiramente no homem, ele não poderá ser salvo. (2) Eleição incondicional: Deus, na eternidade, através de um decreto soberano, elegeu alguns homens para serem salvos, inde­pendentemente da vontade do homem ou de fé prevista.
(3) Expiação limitada: Deus enviou seu Filho, Jesus Cristo, para morrer em um sentido salvífico apenas pelos eleitos.
(4) Graça irresistível: Deus chama eficazmente a todos os eleitos através de sua graça; eles não podem resisti-la.
(5) Perseverança dos santos: os eleitos, após chamados, perseverarão até o fim; não existe qualquer possibilidade de apostasia.

3.OUTRAS MARCAS COMUNS

A) O princípio regulador do culto

Esse princípio destaca que o único que tem a prerrogativa de estabelecer como deve ser o culto verdadeiro é o Adorado e nunca o adorador.

CONCEITO

A expressão "princípio regulador do culto" denota a existência de um valor básico e imutável que deve ser protegido enquanto se realiza qualquer ato formal de adoração. A proteção desse valor implica a observância de uma norma geral que rege o culto e lhe dá forma. Esse preceito básico impõe limites ao adorador, impedindo-o de, levado pelos ditames de sua consciência depravada, apresentar diante de Deus qualquer coisa que não corresponda à sua natureza e vontade. O valor básico e imutável a ser protegido no campo da adoração é o "direito" exclusivo de Deus de determinar o modo como deve ser cultuado. A regra básica que protege esse valor pode ser formulada da seguinte maneira: nada pode ser praticado durante o culto a Deus que não tenha sido expressamente estabelecido e determinado por ele próprio nas páginas da sua revelação escrita. É a essa regra básica que convencionou-se chamar "Princípio Regulador do Culto".
Uma das maiores necessidades da igreja moderna, a saber, a necessidade de um princípio fixo que regule os atos do culto prestado a Deus por seu povo. Num tempo em que tão-somente o homem é o alvo de preocupação de diversos líderes religiosos, quando elaboram a ordem e a forma que o culto por eles ministrado deve tomar, mister se faz que recordemos a elementar verdade de que o culto cristão deve ser prestado ao Deus Trino, tendo como preocupação mais elevada agradar a ele só, assumindo, para isso, a forma que ele próprio estabeleceu na sua santa Palavra. Infelizmente, é assustador como verdades tão elementares, tão óbvias quanto antigas, tenham se tornado objeto de descaso e até de ataque por parte dos incontáveis proponentes de um culto antropocêntrico que, para multiplicar adeptos, dispõe-se a sacrificar tudo o que incomode o homem e a trazer para a liturgia qualquer coisa que o entretenha.
A partir do artigo abaixo transcrito, e estendendo-se até o capítulo seguinte, a Confissão apresenta o dever do homem para com Deus exposto na primeira tábua da Lei de Moisés. Esse dever talvez possa ser resumido na palavra "culto" que, basicamente, denota a atitude e comportamento adequados diante da divindade, os quais são expressos em atos formais de veneração.
Conforme estabelece a Confissão, o dever de culto se fundamenta, inicialmente, na existência de um Deus soberano e bom, existência essa percebida graças à luz da natureza. Não basta, porém, ao homem, ter conhecimento do seu dever de adorar o Deus Soberano. É-lhe necessário também saber como adorá-lo. Ora, o conhecimento dessa matéria não advém da análise do universo criado, ma sim do que foi revelado pelo Espírito Santo na Sagrada Escritura, a qual, se for cuidadosamente observada, impedirá que o homem caia no erro e na superstição ao tentar adorar o Criador como melhor lhe convier.
É precisamente nesse ponto que a Confissão de Fé de Westminster oferece elementos para o enunciado do Princípio Regulador do Culto. Tal princípio deve ser formulado a partir do fato de que somente o verdadeiro Deus pode determinar o modo como importa ser adorado. Isso somado ao conceito cristão da Escritura possibilita a construção de um conceito objetivo daquilo que chamamos de Princípio Regulador, possível de ser detectado no texto da Confissão. A importância e base teológica desse princípio também devem ser consideradas. (http://www.igrejaredencao.org.br/ibr/index.php?option=com_content&view=article&id=52:a-confissao-de-fe-de-westminster-e-o-principio-regulador-do-culto-pr-marcos-granconato&catid=19:monografias-txt&Itemid=111)
Símbolos de Fé: Confissão de Fé, Catecismo Maior e Breve Catecismo Capítulo XXI: Do Culto Religioso e do Domingo

I. A luz da natureza mostra que há um Deus, que tem domínio e soberania sobre tudo, que é bom e faz bem a todos, e que, portanto, deve ser temido, amado, louvado, invocado, crido e servido de todo o coração, de toda a alma e de toda a força; mas, o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo, e é tão limitado pela sua vontade revelada, que ele não deve ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens, ou sugestões de Satanás, nem sob qualquer representação visível, ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras.

II. O culto religioso deve ser prestado a Deus o Pai, o Filho e o Espírito Santo – e só a ele; não deve ser prestado nem aos anjos, nem aos santos, nem a qualquer outra criatura; nem deve, depois da queda, ser prestado a Deus pela mediação de qualquer outro, senão unicamente a de Cristo.

III. A oração, com ações de graça, sendo uma parte especial do culto religioso, é por Deus exigida de todos os homens; e, para que seja aceita, deve ser feita em o nome do Filho, pelo auxílio de seu Espíri-to, segundo a sua vontade, e isso com inteligência, reverência, humildade, fervor, fé, amor e perseverança. Se for vocal, deve ser proferida em uma língua conhecida dos circunstantes.

IV. A oração deve ser feita por coisas lícitas, e por todas as classes de homens que existem atualmente ou que existirão no futuro, mas não pelos mortos, nem por aqueles que se saiba terem cometido o pecado para a morte.

V. A leitura das Escrituras, com santo temor; a sã pregação da Palavra e a consciente atenção a ela, em obediência a Deus, com inteligência, fé e reverência; o cântico de salmos, com gratidão no coração; bem como a devida administração e digna recepção dos sacramentos instituídos por Cristo – são partes do culto comum oferecido a Deus, além dos juramentos religiosos, votos, jejuns solenes e ações de graça em ocasiões especiais, os quais, em seus vários tempos e ocasiões próprias, devem ser usados de um modo santo e religioso.

VI. Agora, sob o Evangelho, nem a oração, nem qualquer outro ato do culto religioso é restrito a um certo lugar, nem se torna mais aceitável por causa do lugar em que se ofereça ou para o qual se dirija; mas Deus deve ser adorado em todo lugar, em espírito e em verdade, tanto em família, diariamente, e em secreto, estando cada um sozinho, como também, mais solenemente, em assembleias públicas, que não devem ser descuidadas, nem voluntariamente desprezadas nem abandonadas, sempre que Deus, pela sua providência, proporcione ocasião.

VII. Como é lei da natureza que, em geral, uma devida proporção de tempo seja destinada ao culto de Deus, assim também, em sua Palavra, por um preceito positivo, moral e perpétuo, preceito que obriga a todos os homens, em todos os séculos, Deus designou particularmente um dia em sete para ser um sábado (descanso) santificado por ele; desde o princípio do mundo, até à ressurreição de Cristo, esse dia foi o último da semana; e desde a ressurreição de Cristo, foi mudado para o primeiro dia da semana, dia que na Escritura é chamado domingo, ou dia do Senhor, e que há de continuar até ao fim do mundo como o sábado cristão.

VIII. Este sábado é santificado ao Senhor quando os homens, tendo devidamente preparado o seu coração e de antemão ordenado os seus negócios ordinários, não só guardam, durante todo o dia, um santo descanso das suas obras, palavras e pensamentos a respeito de seus empregos seculares e das suas recreações, mas também ocupam todo o tempo em exercícios públicos e particulares de culto e nos deveres de necessidade e de misericórida.

Fundamentos teológicos do princípio regulador do culto

É do próprio Artigo primeiro do Capítulo XXI da Confissão de Fé de Westminster que constam os fundamentos teológicos do Princípio Regulador do Culto. Pode-se reduzi-los a três, a saber: o senhorio e soberania de Deus sobre tudo; o dever do homem de buscar, servir e adorar a Deus de forma aceitável; e o fato de Deus ter revelado sua vontade na Palavra. A Confissão de Westminster declara que a luz da natureza revela a existência de um Deus soberano. De fato, a chamada revelação geral, a qual inclui em seus aspectos a própria consciência humana, aponta para a existência de um criador, preservador e benfeitor soberano (Sl 19.1-6; At 17.24-25; Rm 1.19-20) . Dessa mesma fonte se depreende que esse ser é o governador moral absoluto, a quem todos os seres pessoais devem temer e adorar, o que é testificado universalmente pelo pensar e agir de todas as nações em todas as épocas (At 17.23; Rm 2.14-15) . Uma vez admitida a existência de um soberano Senhor, o dever de buscá-lo, servi-lo e adorá-lo de maneira que lhe seja aceitável é a verdade a que se chega com fácil e breve reflexão. A Escritura Sagrada é pródiga nas insistências de que o homem deve adorar a Deus, sendo-lhe devedor perpétuo de louvor, obediência e serviço, tudo isso feito com inteireza de coração e empenho absoluto da totalidade de suas forças (Sl 31.23; 150; Jr 10.7; Mt 22.37-38; Jo 4.24) .
O eminente teólogo Archibal Alexander Hodge, comentando esse ensino, escreve: Pode haver sucedido que, no estado natural do homem e em suas relações morais com Deus antes da queda, sua razão natural, sua consciência e instinto religioso tenham sido suficientes para dirigi-lo nesse culto e serviço. Mas quando sua natureza moral se corrompeu, seu instinto religioso se perverteu e suas relações morais com Deus se transtornaram em razão do pecado, é evidente que se fez necessária uma revelação que não somente dissesse aos homens o que Deus admitiria no culto, mas que também prescrevesse os princípios e métodos debaixo dos quais tal serviço e adoração deveriam ser oferecidos. Assim, na Sagrada Escritura, a revelação a que se refere Hodge, aprendemos que o culto ao Deus verdadeiro não deve ser maculado com o uso de imagens de escultura (Ex 20.4-6) ; que tal culto se torna vão quando mesclado com ensinamentos que não passam de regras inventadas por homens (Mt 15.8-9; Cl 2.20-23) ; que o Deus trino é o alvo exclusivo da adoração, não podendo o louvor dos adoradores ser dirigido a nenhum outro (Mt 4.10) ; que o culto cristão dispensa o valor dado a templos de madeira e pedra (Jo 4.21-23) ; que a adoração deve partir do íntimo do indivíduo, sendo verdadeira e sincera (Jo 4.24) ; que o culto deve ocorrer num ambiente marcado por decência e ordem (1Co 14.40); que o crente que cultua deve ter a alma mergulhada em reverência e santo temor (Hb 12.28-29) ; e que o culto genuíno deve ser oferecido a Deus por meio de um mediador, o qual é Jesus Cristo (Ef 2.18; 1Tm 2.5) . A totalidade dessas prescrições, como se vê, baseia-se na Sagrada Escritura, sendo todas elas, quando postas em prática, demonstrações notáveis da aplicação do Princípio Regulador do Culto contemplado nas páginas da Confissão de Fé de Westminster. Sendo Deus o Senhor soberano a que se deve honrar de maneira que lhe agrade, resta ao homem a tarefa de descobrir em que Deus se compraz quando está a ser cultuado e adorado. Ora, essa descoberta não pode ser feita quando o homem vasculha sua consciência, sua imaginação, suas inclinações pessoais ou mesmo o exemplo de povos, antigos ou contemporâneos, que seguiram os impulsos da criatividade humana para estabelecer suas cerimônias religiosas em honra à divindade. Por isso, sendo infinitamente misericordioso e não podendo deixar o homem à mercê de seus impulsos naturais numa matéria de tão elevada importância, o Senhor revelou-lhe em sua Palavra não somente seu caráter e obras, mas também sua vontade, a qual abrange determinações que devem ser observadas no culto de sua santíssima Pessoa.

Conclusão do princípio regulador do culto

Assim, o Princípio Regulador do Culto, conforme ensinado por Calvino e, posteriormente, fixado pela Confissão de Fé de Westminster, pode ser conceituado como o preceito que reserva exclusivamente a Deus a liberdade e poder para determinar o modo como o seu culto deve ser realizado, sendo tais determinações reveladas de forma clara, detalhada e específica na Bíblia. Esse princípio é o que separa os cristãos reformados de outros protestantes. Enquanto luteranos, anglicanos e evangélicos em geral ensinam que as igrejas podem fazer tudo o que a Palavra de Deus não proíbe expressamente, os reformados defendem que as igrejas podem fazer somente o que a Escritura ordena.
A igreja moderna não sofre em virtude da ausência de um princípio que informe o modo como o culto cristão deve ser realizado. Ela sofre, isto sim, com a aplicação de um princípio regulador equivocado. O princípio regulador adotado pela maior parte das igrejas da modernidade, diferentemente do defendido pelos teólogos puritanos de Westminster, não se fundamenta na natureza de Deus, nem nas prescrições da Sagrada Escritura. Antes, foi construído a partir dos anseios do coração humano e sob os ditames das marcas culturais do presente século. O novo princípio pode ser enunciado da seguinte maneira: todo ato de adoração deve ter como alvo central a promoção de sensações agradáveis no ser humano, sendo expressamente inaceitável qualquer gesto cultual que milite contra isso. Evidentemente, à luz desse novo princípio, a expectativa humana determina o formato do culto, dando-se especial atenção aos valores, práticas e apelos que o homem moderno considera interessantes e atraentes. No mar de variedades que surge a partir desse modo de pensar, a única exigência que deve subjazer qualquer prática é a sinceridade. Assim, tudo que o adorador quiser realizar no culto a Deus lhe é permitido desde que o faça livre de hipocrisia. A sinceridade é assim o fator exclusivo que legitima qualquer prática cultual, segundo a atual visão antropocêntrica. É urgente, portanto, que os homens de Deus, na direção de seus rebanhos, resgatem o antigo Princípio Regulador do Culto detectado na Bíblia pelos reformadores e pelos teólogos puritanos de Westminster. É preciso que apresentem ao povo o seu conceito que consiste na determinação de que nada pode ser praticado durante o culto a Deus que não tenha sido expressamente estabelecido e determinado por ele próprio nas páginas da sua revelação escrita. Ademais, a importância desse princípio tanto para a avaliação do que deve ser admitido no culto como para a fixação de convicções acerca de inúmeros temas relativos à vida cristã deve ser demonstrado aos santos por intermédio do ensino doutrinário, da aplicação prática e da alusão a dados da história da igreja. Também os fundamentos doutrinários do Princípio Regulador do Culto devem ser apontados como forma de mantê-lo firmado sobre sólidos alicerces. Tais fundamentos, reduzidos aqui a três (o senhorio e soberania de Deus sobre tudo; o dever do homem de buscar, servir e adorar a Deus de forma aceitável; e o fato de Deus ter revelado sua vontade na Palavra) precisam voltar a formar o tripé sobre o qual se sustenta não só o Princípio Regulador, mas toda a igreja em questões de fé e prática. Resgatado o Princípio Regulador do Culto nos termos definidos em Westminster, talvez pouco espaço continue e existir na igreja para o uso tão comum de coreografias, homenagens a este ou aquele indivíduo (pastores, líderes, políticos, etc.), espontaneidade desregrada, apresentações humorísticas, supostos exorcismos e inúmeras outras práticas carentes de amparo bíblico. O culto público é o meio pelo qual a igreja manifesta de forma mais notável o conteúdo da sua fé. É também o momento em que, reunida, oferece a Deus uma resposta àquilo que sabe que ele é e tem feito. Isso tudo faz do culto uma das facetas mais importantes do viver cristão. Não se pode, portanto, negligenciá-lo sem que se sofra imenso prejuízo. Por isso, o Princípio Regulador do Culto deve ser resgatado. Mantê-lo no esquecimento pode significar, talvez em curto prazo, a perda da própria identidade cristã.

B) A forma de governo representativa

C) O cessacionismo

Não se trata, como alguns dizem, da crença no fim das ações sobrenaturais de Deus na história. Antes, refere-se ao ensino de que os dons denominados “espetaculares” ou “de sinais” pertenceram ao período apostólico para confirmar a mensagem cristã recém-revelada (Hb 2.3-4) e não são mais concedidos a homens específicos, ainda que Deus possa fazer (e eventualmente faça) intervenções milagrosas na vida do seu povo em resposta às suas orações.
Abaixo são elencados os dons espetaculares e a forma como são considerados por grande parte das igrejas reformadas.

Curas e operação de milagres

Os dons de curas eram capacidades dadas por Deus a alguns crentes de erradicar doenças, com o fim de servi-lo. O uso do plural (“dons de curar”) dá margem para formas diferentes de cura, o que pode abranger, além do milagre, o uso de meios naturais como remédios e cuidado médico. Já o dom de operação de milagres, conforme geralmente é entendido, consistia de realizar maravilhas fora da ordem natural das coisas. Parece certo dizer que o dom de curas, em sua expressão sobrenatural, era uma categoria mais específica do dom de operação de milagres que abrangia prodígios num sentido mais geral. Feitos sobrenaturais foram muito comuns na fase inaugural da igreja primitiva (At 5.15-16; 6.8; 8.13). Porém, em poucos anos essa fase começou a apresentar indícios de esfriamento (Fp 2.26-27; 1Tm 5.23; 2Tm 4.20). A razão disso é que as curas sobrenaturais e os milagres tinham por objetivo autenticar a mensagem nova que estava sendo pregada (Mc 16.20; At 14.3; 2Co 12.12; Hb 2.3-4), não havendo necessidade dessa autenticação se perpetuar. Por isso, não se vê hoje pessoas com dons de realizar curas ou feitos milagrosos. Isso, contudo, não significa que o Senhor, eventualmente, não faça obras grandiosas, além da compreensão humana. Antes, significa que quando Deus realiza feitos assim, ele o faz em resposta à oração dos crentes em geral e não por meio de indivíduos dotados por ele com capacitações sobrenaturais (Tg 5.14-18).

Línguas

O dom de línguas era a capacidade dada pelo Espírito Santo a alguns crentes de falar sobre as grandezas de Deus em um idioma humano jamais aprendido por quem falava (At 2.7-11). Ao definir esse dom, Paulo citou Isaías 28.11-12, identificando-o, assim, como um sinal de juízo contra judeus incrédulos que rejeitavam a mensagem de Deus (1Co 14.21-22). De fato, 2 Deuteronômio 28.46,49 diz que ouvir uma língua desconhecida seria um sinal do juízo de Deus contra Israel sempre que esse povo rejeitasse sua mensagem (Jr 5.11-15). Ora, Israel rejeitou o Filho (At 7.51-53). Por isso, Deus usou a igreja para fazer com que os judeus daquela geração ouvissem línguas que não entendiam como sinal do juízo que estava por vir. Esse juízo foi predito por Jesus (Mt 23.37-39) e chegou no ano 70 AD por mãos do general romano Tito. Uma vez que o castigo contra Israel sinalizado pelas línguas ocorreu, esse dom deixou de ser necessário e desapareceu. Obviamente, o fim do dom de línguas trouxe também o fim do dom de interpretação.

Profecias

Os profetas da Igreja Primitiva tinham as seguintes funções: • Edificar, exortar, ensinar e consolar a igreja (At 15.32; 1Co 14.3,31; Ef 4.11-16). Paulo vê isso como central no trabalho dos profetas, cf. 1Co 14). • Orientar a igreja em suas decisões por meio de diretrizes dadas pelo Espírito Santo (At 13.1-3). Essa função, porém, aparece com pouca frequência no NT. • Predizer o futuro em áreas de grande impacto para a igreja (At 21.10-11). Essa função também aparece com pouca frequência na Igreja Primitiva. No AT é ensinado que não bastava o profeta prever algo e isso acontecer para que ele fosse reconhecido como sendo verdadeiro. Essa era uma das exigências (Dt 18.22), mas havia outra. Além de suas profecias se cumprir, o profeta também tinha que ter sua mensagem avaliada. Se sua pregação não se harmonizasse com a verdade já transmitida de Deus, seu ministério devia ser rejeitado, independentemente de ter profetizado algo que realmente ocorreu mais tarde (Dt 13.1-3). Também na igreja, uma das responsabilidades dos crentes no tocante aos profetas era avaliar o que eles diziam, comparando suas revelações com as verdades que o Senhor já havia transmitido (1Co 14.29). De fato, os profetas deveriam profetizar de acordo com a “proporção da fé” (Rm 12.6), ou seja, suas profecias deveriam se harmonizar com a doutrina cristã já fixada. • Trazer revelações doutrinárias novas, sobre as quais a igreja devia ser construída (Ef 2.20-22; 3.4-6). Essa era uma tarefa fundamental realizada pelos profetas do NT junto com os apóstolos. Essa função consistia de lançar os fundamentos teológicos, éticos e funcionais que deveriam permanecer para sempre nas bases da igreja, sendo intocáveis (1Co 3.10-11). Dizer, que há profetas e apóstolos hoje equivale a dizer que ainda estamos na época do lançamento dessas bases e que, portanto, o corpo doutrinário sobre o qual a igreja é construída ainda não foi totalmente revelado.
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