Santidade é melhor do que sacrifício

Exposição em Ageu  •  Sermon  •  Submitted
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1. INTRODUÇÃO

Examinamos até aqui as duas primeiras mensagens de Ageu (Ag 1.1-14; 2.1-9). Agora, examinaremos as duas últimas (Ag 2.10-19;2.20-23).
Na primeira mensagem, Deus chama seu povo à reflexão. Na segunda mensagem, Deus o chama ao trabalho. Agora, Deus chama seu povo à santidade.
O que emperra o avanço da obra de Deus não é a falta de recursos financeiros, nem a oposição dos inimigos, nem mesmo os entraves políticos, mas o pecado. Deus não requer do seu povo apenas rituais religiosos; ele exige santidade. Obediência é melhor do que sacrifícios. Sem obediência, tudo em que colocamos as mãos torna-se imundo aos olhos de Deus.
O Senhor não pode aceitar nossas ofertas sem antes aceitar nossa vida. Primeiro o Senhor se agrada do ofertante, depois da oferta. A vida do adorador precisa recomendar sua oferta. Deus está mais interessado no que somos do que naquilo que fazemos. Deus não busca adoração; ele procura adoradores que o adorem em espírito e em verdade (Jo 4.23,24).
Ainda hoje há muitos ritos sagrados e pouca santidade. Há muitos que fazem a obra, mas estão com a vida, as obras e as ofertas contaminadas. Deus não requer apenas que pisemos nos seus átrios; quer que nos acheguemos a Ele com santa reverência e inegociável obediência. Deus exige a verdade no íntimo.
Gerard Van Groningen diz corretamente que a preocupação de Iavé não é somente abençoar materialmente o povo. Seu maior propósito e dar início ao tempo em que o Messias, de que eles necessitam muito mais urgentemente, virá e “tabernaculará” entre eles (Jo 1.14).
O que o profeta Ageu irá tratar nestas duas últimas mensagens é a santidade do povo.
No início o povo estava invertendo os papeis, estavam dando maior ênfase para a construção de suas casas, do que a casa de Deus, isso foi consertado na primeira profecia.
Depois que o povo resolveu priorizar o templo de Deus, eles começaram a se desanimar, diante da pobreza exterior do segundo templo. Mais uma vez o foco do povo estava equivocado, pois Deus não importa com as externalidades da vida, mas com a conversão interior. Mas isso também parece ter sido resolvido na mensagem anterior onde Deus deixa claro que a presença de Deus não está relacionada com sua beleza externa, mas na obediência interna.
Agora o problema é outro. O problema é o pecado dos sacerdotes que estavam contaminando toda a obra de reconstrução do templo. Portanto, Deus agora chama o povo à santidade. Só tem um jeito de resolver o problema do pecado em nossas vidas, quando entendemos o que é santidade, e o quanto Deus requer que sejamos santos.
Portanto, nosso tema agora é santidade.

2. COMPREENDENDO O CONCEITO BÍBLICO DE SANTIDADE

A Palavra de Deus demonstra enfaticamente que a nossa salvação não é um fim em si mesma, antes é o início da vida cristã, através da qual nos tornamos filhos de Deus e progredimos em santificação até à consumação de todo propósito de Deus em nossa vida. Devemos estar atentos para o fato de que a salvação (justificação, regeneração, união com Cristo), não é a linha de chegada da vida cristã; antes, é o ponto de partida.
A palavra santificação vem do hebraico "kadosh" e do grego "Ágios", que significa SEPARADO.
Mas separado do que? E para quê? Do pecado, da imundícia, dos desejos desenfreados da carne, e para Deus. Isso é ser Kadosh.

2.1. Definição:

Podemos definir operacionalmente a santificação como ato sobrenatural de Deus que se inicia com a regeneração, consistindo no progressivo abandono do pecado em direção a Deus tendo como padrão a imagem de Jesus Cristo.

2.2. Classificação da santificação

Podemos classificar a santificação considerando três aspectos, o aspecto ontológico, o aspecto temporal e o aspecto subjetivo.
· Pelo aspecto ontológico[1] podemos dizer que a santificação opera uma mudança em nosso ser, em nossa natureza, por isso ontológico.
· Pelo aspecto temporal, podemos dizer que essa operação divina se processa em três momentos distintos em nossa vida, no passado, no presente e no futuro.
· Pelo aspecto subjetivo, podemos dizer que a santificação se inicia por uma ação exclusiva do Espírito Santo, depois se processa sinergicamente, e por fim, volta a ser um ato exclusivo de Deus.
Percebe-se que compreender as nuances da santificação em nossas vidas é algo que não é tão simples como parece, mas isso é discussão para a academia. Por hora, vamos tomar apenas uma classificação mais simples.

2.2.1. Posicional

A santificação posicional seria obtida quando o ímpio se torna um cristão, i.e., quando a pessoa é alcançada pela graça divina, reconhece-se como pecador, arrepende-se, e, portanto, é aceita na família divina, se tornando co-participante da herança de Cristo.
Está relacionada com o status, a posição da pessoa. Antes a posição do homem caído em Adão, era de completa inimizade contra Deus, agora somos adotados na família divina, e passamos a ser filhos, por isso posicional.
ANTES DEPOIS
Mortos em nossos delitos e pecados Vivificados pelo Espírito Santo
Escravos do pecado Livres do pecado
Filhos da ira por natureza Filhos de Deus por adoção
Servos de satanás Servos de Cristo
Esta santificação é totalmente operada pelo Espírito Santo e não existe nenhuma ação humana cooperativa.

2.2.2. Progressiva

Se a santificação “posicional” é um marco dramático na vida de qualquer um, ela por si só não garante uma transformação de vida. Somos sim nascidos de novo (Jo 3:7), contudo, não passamos de bebês (1 Pe 2:2) e, como tais, precisamos de crescer.
A santificação começa com o nosso novo nascimento; todavia, ela jamais terá fim nesta vida. Nós não somos perfeitos, nem o seremos, enquanto estivermos neste modo de vida terreno; todavia, buscamos a perfeição; caminhamos em sua direção (Fp 3.12-14).
Louis Berkhof (1873-1957) usa uma figura para ilustrar a nossa nova condição:
"Uma criança recém-nascida é, salvo exceções, perfeita em suas partes, mas não está no grau de desenvolvimento ao qual foi destinada. Justamente assim, o novo homem é perfeito em suas partes, mas, na presente vida, continua imperfeito no grau de desenvolvimento espiritual."· EXPLICAR A FIGURA RETORICA
A santificação progressiva é aquela operada após o novo nascimento, e perdurará até sermos definitivamente santificados, o que ocorrerá somente na glorificação de nosso corpo.
Na santificação progressiva, há a cooperação humana, há, portanto, um sinergismo no processo de santificação progressiva. Neste sentindo, esta é a única etapa da salvação que o homem tem alguma participação ativa, pois nas demais, são todas operadas pelo poder de Deus, pela graça salvadora de Jesus Cristo.
Filipenses 3:12-14:12 Não que eu já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas vou prosseguindo, procurando alcançar aquilo para que também fui alcançado por Cristo Jesus. 13 Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha alcançado; mas faço o seguinte: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, 14 prossigo para o alvo, pelo prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus.
A Confissão de Westminster (1647) conclui o capítulo XIII dizendo:
“Nesta guerra, embora prevaleçam por algum tempo as corrupções que restam (Rm 7.23), contudo, pelo contínuo socorro da eficácia do santificador Espírito de Cristo, a parte regenerada vence (Rm 6.14; Ef 4.15,16; 1Jo 5.4), e assim os santos crescem em graça (2Pe 3.18), aperfeiçoando a sua santidade no temor de Deus (2Co 7.1)” (XIII.3).

2.2.3. Definitiva

A santificação definitiva ou consumada será operada na glorificação de nosso corpo, por ocasião do advento de Jesus Cristo.
A santificação definitiva será operada por Deus e nos permitirá viver com ele para sempre. Esta é nossa esperança.
"sem santidade ninguém verá o Senhor" (Hb 12.14).
A santificação é um processo que jamais alcançaremos plenamente enquanto não formos transformados, e isso só ocorrerá por ocasião da volta de Cristo Jesus
1 Coríntios 15:52-53:52 “....Porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão imperecíveis, e nós seremos transformados. 53:Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade”.
Agora que já aprendemos um pouquinho sobre santificação, podemos dizer com toda a certeza que a palavra de Deus dada através do profeta Ageu, estava se referindo à SANTIFICAÇÃO PROGRESSIVA.

3. DEUS INTERROGA O POVO ACERCA DO SEU PECADO (2.10-14)

10 No vigésimo quarto dia do nono mês, no segundo ano de Dario, a palavra do SENHOR veio ao profeta Ageu: 11 Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Pergunta agora aos sacerdotes a respeito da lei: 12 Se alguém levar carne consagrada na aba das vestes e tocar com a aba no pão, no prato de comida, no vinho, no azeite, ou em qualquer outro mantimento, este ficará santificado? Os sacerdotes responderam: Não. 13 Então Ageu perguntou: Se alguém for contaminado pelo contato com um defunto e tocar em alguma dessas coisas, ela ficará impura? E os sacerdotes responderam: Ficará impura. 14 Então Ageu respondeu: Este povo é assim, e esta nação é assim diante de mim, diz o SENHOR; toda a obra das suas mãos é assim; tudo o que oferecem ali é impuro.
Dois meses e três dias depois da segunda mensagem de Ageu, Deus voltou a falar com ele (2.10).

3.1. Quem fala é Deus e não o profeta.

O profeta Ageu fala em nome de Deus. Ele não é dono da mensagem, mas seu servo. Ele não produz a mensagem, mas a transmite. A mensagem não é do profeta à nação, mas de Deus por meio do profeta à nação.
Quem se dirige ao povo por meio de Ageu é o Senhor dos Exércitos (2.11). Aquele que domina sobre as hostes celestiais e sobre os reinos da terra. Aquele que tem toda autoridade e todo poder nos céus e na terra.

3.2. Deus faz uma prova oral com os sacerdotes acerca da lei

11 Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Pergunta agora aos sacerdotes a respeito da lei:

3.2.1. O sentido do texto

O soberano Senhor dá uma ordem para que consultem os sacerdotes acerca do ritual da contaminação e da purificação. Os sacerdotes ensinavam e interpretavam a lei para o povo (Dt 33.10). Eles eram os professores do povo em questões da lei mosaica (Dt 17.8,9). Sempre que alguém tivesse alguma dúvida sobre um ponto da lei mosaica, o sacerdote era a pessoa a quem devia recorrer (Dt 33.8-10; Ml 2.7).
O problema aqui era que os sacerdotes não estavam conseguindo interpretar a lei de purificação corretamente. Ageu, portanto, não está interessado aqui em legislar, mas em mostrar qual a maneira correta de interpretar um aspecto particular da lei. O que o profeta Ageu estava fazendo, direcionado pelo Senhor dos Exércitos, era mostrar que eles não estavam interpretando a palavra de Deus da forma como deveria.

3.2.2. O significado do texto

Isso é muito comum em nossos dias. A falta de uma escorreita interpretação bíblica faz surgir muitas heregias dentro das igrejas. Alguns ficam surpresos ao saber que Satanás usa cristãos dentro da igreja para realizar sua obra. Mas, certa ocasião, Satanás usou Pedro para tentar Jesus a tomar o caminho errado (Mt 16:21-23), e usou Ananias e Safira com a intenção de enganar a igreja de Jerusalém (At 5). Paulo advertiu que falsos mestres surgiriam dentro da igreja (At 20:30).
1 Timóteo 4:1-2: 1 O Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns se desviarão da fé e darão ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios, 2 sob a influência da hipocrisia de homens mentirosos, que têm a consciência insensível.
É absurdamente impressionante a quantidade de heresias que estão sendo pregadas nas igrejas que se dizem cristãs hoje em dia. E a cada dia que se passa, mais e mais heresias vão surgindo e enganando a muitos.
A bíblia está repleta de avisos contra as heresias, mas tais advertências só são eficazes para quem estuda a bíblia.
Jeremias 14:14:E disse-me o SENHOR: OS profetas profetizam falsamente no meu nome; nunca os enviei, nem lhes dei ordem, nem lhes falei; visão falsa, e adivinhação, e vaidade, e o engano do seu coração é o que eles vos profetizam. 1 João 4:1:AMADOS, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. Mateus 24:4:E Jesus, respondendo, disse-lhes: Acautelai-vos, que ninguém vos engane; Colossenses 2:8:Tenham cuidado para que ninguém os escravize a filosofias vãs e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo.
Aos sacerdotes foram feitas duas intrigantes perguntas. A primeira pergunta versou sobre santidade, e a segunda sobre contaminação. Em seguida, temos duas respostas, sendo a primeira negativa e a segunda positiva. Finalmente, temos uma aplicação espiritual. Vamos olhar essas lições.

3.3. Em primeiro lugar, as coisas santas não têm o poder de tornar puras as coisas imundas (2.12).

“Se alguém leva carne santa na orla de sua veste, e ela vier a tocar no pão, ou no cozinhado, ou no vinho, ou no azeite, ou em qualquer outro mantimento, ficará isto santificado? Responderam os sacerdotes: Não” (2.12).
Quando um animal sem defeito era levado para o sacrifício, era considerado santo; ou seja, separado exclusivamente para Deus (Lv 6.25).
Levítico 6:25: Fala a Arão e a seus filhos: Esta é a lei da oferta pelo pecado: no lugar em que se sacrifica o holocausto, se sacrificará a oferta pelo pecado diante do SENHOR; é coisa santíssima.
No altar ele era oferecido ao Senhor como sacrifício. A carne que sobejava de alguns sacrifícios podia ser usada pelos sacerdotes. Porém, eles precisavam ter cuidado com sua maneira de comer, com o lugar onde se alimentavam e com o que faziam com os restos (Lv 6.8-7.38). Se essa veste santa (Lv 6.27) que transportava a carne tocasse em algum alimento não santificado, esse contato não tornava esse alimento puro.
O significado era claro: a santidade não pode ser transmitida de um objeto para o outro nem de uma pessoa para outra. A santidade não se transfere. Não há santidade por osmose.
A suma do argumento é que aquilo que era cerimonialmente santo não podia santificar o imundo ao tocá-lo.
Nessa mesma trilha de pensamento, a pureza moral não podia ser transmitida, mas impureza moral podia, da mesma forma que um homem saudável não pode comunicar sua saúde a um filho enfermo, mas o filho enfermo pode transmitir sua enfermidade ao pai.

3.4. Em segundo lugar, as coisas imundas têm o poder de con­taminar as coisas santas (2.13).

Então, perguntou Ageu.
Se alguém que se tinha tornado impuro pelo contato com um corpo morto tocar nalguma destas cousas, ficara ela imun­da? Responderam os sacerdotes: Ficará imunda” (2.13).
Pelo contrário, o que era cerimonialmente imundo contaminava tudo aquilo que tocava (Nm 19.11-22).
O contato com um cadáver ocasionava grave impureza que só podia ser removida mediante purificação com água depois de sete dias (Nm 19.11-13). Durante esse tempo, tudo quanto o imundo tocava tornava-se também imundo (Nm 19.22). A lição é clara: se a santidade não se transmite de uma pessoa para outra, o pecado tem o forte poder de contaminação. O pecado contamina. É contagioso. A santidade não é contagiosa, mas o pecado é.
Nessa mesma linha de pensamento pode-se apanhar um resfriado pelo contato com quem o tenha, mas é impossível adquirir a saúde de outrem. Na esfera moral e espiritual, o pecado de Adão contaminou toda a raça humana (Rm 5.12), mas os pais crentes não podem transmitir aos filhos a sua condição de salvos.
Com esta parábola, Ageu ensina que, ainda que a justiça não seja contagiosa, a injustiça o é.

3.5. Em terceiro lugar, uma profunda, aplicação espiritual

“Então, prosseguiu Ageu: Assim é este povo, e assim esta nação perante mim, diz o Senhor; assim é toda a obra, das suas mãos, e o que ali oferecem: tudo é imundo”
Dionísio Pape, um grande teólogo e missionário inglês disse corretamente que o santuário desmoronado se comparava a um cadáver. Quem o tocasse naquele estado e oferecesse sacrifícios nele seria imundo, e o efeito do culto seria nulificado: “tudo é imundo”.
Logicamente, para o templo voltar a ser um corpo vivo, era imprescindível restaurá-lo à perfeição anterior. Só assim Deus aceitaria o culto solene.
A negligência da liderança sacerdotal contaminara toda a nação. A nação inteira pagava por isso. Tudo se contaminara.
Por isso, diz o profeta: “Assim é este povo, e assim é esta nação diante de mim, diz o Senhor; assim é toda a obra das suas mãos; e o que é ali oferecem: tudo e imundo” (2.14).

4. UMA ADMOESTAÇÃO SOLENE (2.15-18)

Ageu 2:15-18: 15 Agora considerai o que acontece desde aquele dia. Antes que se lançasse pedra sobre pedra no templo do SENHOR, 16 quando alguém vinha a um montão de trigo esperando tirar vinte medidas, encontrava somente dez; quando vinha ao tanque de espremer uvas para tirar cinquenta, achava somente vinte. 17 Eu atingi todo o trabalho das vossas mãos com mofo, ferrugem e granizo; mas ninguém dentre vós voltou para mim, diz o SENHOR. 18 Considerai, eu vos peço, de hoje em diante, do vigésimo quarto dia do nono mês, desde o dia em que se lançaram os alicerces do templo do SENHOR; considerai essas coisas.
Wilson de Souza Lopes, um dos paladinos do púlpito evangélico afirmou certa feita: “Quem não tem memória, não tem história. Quem não tem história, não tem gratidão. Quem não tem gratidão, não tem o que agradecer.
Precisamos voltar os olhos para o passado a fim de ler o presente e preparar-nos para o futuro. Mais uma vez o profeta conclama o povo a considerar o que está acontecendo. Voltar os olhos para o passado nos ajuda a entender o presente e a marchar rumo ao futuro.
Precisamos ter os olhos da alma abertos para fazermos uma correta leitura do que acontece ao nosso redor. Sem discernimento, nós nos tornaremos piores do que o boi (Is 1.3) e a mula (SI 32.9). O que o povo precisa discernir?

4.1. Em primeiro lugar, negligenciar uma ordem de Deus acarretará sérios prejuízos (2.15,16).

Assim escreve o profeta Ageu. Ageu 2:15-16:15 "Agora prestem atenção: de hoje em diante reconsiderem. Como eram as coisas antes que se colocasse pedra sobre pedra no templo do Senhor? 16 Quando alguém chegava a um monte de trigo procurando vinte medidas, havia apenas dez. Quando alguém ia ao depósito de vinho para tirar cinquenta medidas, só encontrava vinte.” (2.15,16).
Talvez a melhor tradução seja essa: Ageu 2:15:Agora, pois, aplicai o vosso coração a isso...(ARC)

4.1.1. Sentido do texto

A construção do templo havia ficado parada por dezesseis anos. O povo havia lançado os fundamentos e abandonado a obra por causa dos obstáculos. Eles corriam atrás de seus próprios interesses, construindo suas casas com requinte e luxo enquanto a Casa do Senhor permanecia em ruínas. Esse desprezo pela Casa de Deus desencadeou o desgosto de Deus, que se manifestou na subtração drástica nas colheitas, atingindo uma diminuição de 50% do trigo e 60% do vinho.
Os campos foram afetados, e as lavouras diminuíram suas safras em virtude do pecado do povo. Herbert Wolf diz corretamente que era o pecado deles que arruinava tudo o que tocavam, e que provocou o tempestuoso juízo de Deus. Quando se veem hoje, em vários países, as colheitas terrivelmente arruinadas pelas secas ou pelas inundações, perguntamos quanto disso é castigo do pecado. O lucro que os judeus buscavam tão avidamente não veio porque o investimento que deveriam ter feito na Casa de Deus estava destinando apenas aos seus projetos pessoais.
É importante ressaltar que o povo retornara do cativeiro com o claro propósito de reconstruir o templo (Ed 1.5). Eles fizeram promessas e votos de que se engajariam nessa obra. Porém, o tempo e as dificuldades os fizeram esquecer seus votos (Ag 1.2).

4.1.2. Significado do texto

Ainda hoje o povo de Deus negligenciar sua obra, sua presença, sua palavra, seu conhecimento, sua revelação. Deixa Deus para segundo, terceiro plano de sua vida. Só se lembram de Deus nos momentos da adversidade.
Naquele tempo Deus os disciplinou com o fruto de suas mãos, ou seja, com a agricultura, que era o meio de subsistência daquele povo, e era o meio que Deus os disciplinava.
Mas hoje, você ainda pode colher sérios prejuízos na sua vida espiritual por abandonar o projeto de Deus em sua vida. Muitos abandonam o projeto de Deus em sua vida, por vários motivos, sempre haverá um motivo “aparentemente” justo para que você deixe as coisas de Deus de lado. Quando isso acontece, não se esqueça, você vai cair na disciplina de Deus. O mesmo Deus que disciplinava seu povo no Velho Testamento, é o mesmo no Novo Testamento e se você é filho, e não bastardo, você sofrerá a disciplina de Deus. (Hebreus 12:6)

4.2. Em segundo lugar, o pecado atrai inevitavelmente a disciplina de Deus (2.17a).

“Eu vos feri com queimaduras, e com ferrugem, e com saraiva, em toda a obra das vossas mãos...” (2.17a).

4.2.1. Sentido do texto

Deus envia três desastres naturais que atingiram as lavouras (queimadura, ferrugem e saraiva), mas tais desastres naturais não tinha o objetivo de afetar a natureza, mas os homens. O juízo não é sobre a natureza, mas sobre o povo. Para disciplinar o seu povo, Deus pode usar acidentes climáticos.
O Senhor da colheita tinha poder para reter as chuvas do céu e os frutos da terra (Dt 28.22). A linguagem é a mesma de Amós 4.6-9. La, a declaração de Deus vem acompanhada da expressão contudo, não nos convertestes a mim” (Am 4.6,8, 9,10,11). Aqui, em Ageu, a situação não foi diferente: “e não houve, entre vós, quem voltasse para mim” (4.17b).
Apesar de sentir a disciplina divina, o povo endurecia o coração. “mas ninguém dentre vós voltou para mim

4.2.2. Significado do texto

O castigo de Deus alcançou não apenas os campos, mas toda a obra de suas mãos. O pecado jamais fica impune. Quando o povo de Deus peca, seu pecado é pior que o pecado do incrédulo. Os pecados do crente são os mestres do pecado. O pecado do crente é mais grave, mais hipócrita e mais danoso que o pecado do descrente. Mais grave, porque ele peca contra um conhecimento maior. Mais hipócrita, porque o crente denuncia o pecado em público e o pratica em secreto. Mais danoso porque quando o crente desobedece a Deus, mais pessoas são atingidas. Um dos grandes enganos de nossa geração é que o pecado compensa. O pecado na verdade é uma fraude: promete liberdade e escraviza; promete prazer e traz desgosto; promete vida e mata.

4.3. Em terceiro lugar, a disciplina de Deus sempre visa o arrependimento do faltoso (2.17b).

"... e não houve, entre vós, quem voltasse para mim, diz o Senhor” (2.17b).

4.3.1. Sentido do texto

A disciplina de Deus não visa destruir seu povo, mas salvá-lo. O propósito de Deus não era salvar o seu povo no pecado, mas do pecado. A disciplina de Deus, embora amarga, produz frutos pacíficos de justiça. A disciplina de Deus visa afastar o transgressor do pecado, restaurá-lo e aproximá-lo de sua santa presença.
Doloroso, porém, é constatar que o povo endureceu sua cerviz e não se voltou para Deus a despeito de sua disciplina: “... e não houve, entre vós, quem voltasse para mim, diz o Senhor” (2.17b). A disciplina de Deus não produziu quebrantamento no povo nem o inclinou à obediência. Nem sequer uma pessoa se voltou para Deus. A transgressão estendeu-se a todos; o arrependimento não alcançou ninguém.

4.3.2. Significado do texto

E o pior de tudo é que quando da pessoa é disciplinada por Deus por causa do seu pecado, a tendencia natural é se revoltar contra o Criador. Ao invés de profundo arrependimento, nasce uma raiz de amargura contra Deus. Pessoas que nutrem tanto rancor contra Deus, que se afastam dos caminhos do Senhor, porque, para elas, Deus é injusto quando os disciplina.

5. UMA PROMESSA BENDITA (2.18,19)

Duas verdades sublimes merecem destaque neste ponto:

5.1. Em primeiro lugar, a obediência traz bênção certa (2.18).

“Considerai, eu vos rogo, desde este dia em diante, desde o vigésimo-quarto dia do mês nono, desde o dia em que se fundou o templo do Senhor, considerai nestas cousas” (2.18).
Até o versículo 17, o profeta olhou para trás. Fez uma retrospectiva do passado. O versículo 18 dirige o olhar para frente. Tudo será diferente. Tudo será novo agora. A desobediência passada havia trazido juízo e disciplina, mas a obediência presente marcaria um novo tempo de bênção, prosperidade e vitória na vida do povo. Se o pecado traz derrota, a obediência é o caminho da bênção.
A bênção de Deus é certa: “...desde este dia em diante...” (2.18).
Quem prometeu é fiel para cumprir. Os campos voltariam a produzir com abundância. As lavouras voltariam a ficar pejadas de frutos. Os celeiros voltariam a se encher, e os lagares transbordariam novamente de vinho.
Isaltino Filho é absolutamente pertinente quando alerta para o fato de que planos muito bem elaborados, técnica promocional muito bem cuidada, recursos modernos bem funcionais e dinheiro, nada disto substitui a obediência que a igreja deve à Palavra de Deus. Uma igreja deve caracterizar-se por sua lealdade à Palavra de Deus. O reformador João Calvino entendia que a pregação fiel das Escrituras era a primeira marca de uma igreja verdadeira.

5.2. Em segundo lugar, a obediência traz bênção imediata (2.19).

“Já não há semente no celeiro. Além disso, a videira, a figueira, a romeira e a oliveira não têm dado os seus frutos; mas, desde este dia, vos abençoarei” (2.19).
Os celeiros estavam vazios, e os campos estavam estéreis. Mas, agora, Deus respondeu à obediência do povo com a promessa imediata de bênção: “...mas, desde este dia, vos abençoarei”.
Ageu estava pedindo que o povo confiasse em Deus com relação à próxima colheita. Ele não falava como um engenheiro agrônomo ou um técnico agrícola, mas como um profeta de Deus. Tratava-se do princípio de buscar em primeiro lugar o reino de Deus e sua justiça (Mt 6.33), na certeza de que Deus cuidaria do resto. O dia da obediência é o dia da vitória. O dia da obediência é fim do castigo.
Deus está firmando sua Palavra; ela basta porque Deus não falta com ela. Mas Deus está lhe dando um significado jurídico. Deus não tem receio de ajuramentar sua Palavra. Cem anos mais tarde o profeta Malaquias alertará esse mesmo povo dizendo que só a obediência em trazer todos os dízimos à casa do Tesouro poderia suspender a maldição divina sobre a vida de cada um deles (Ml 3.8-10).

6. UMA VITÓRIA GLORIOSA (2.20-23)

Ageu 2:20-23: 20 Esta palavra do SENHOR veio a Ageu pela segunda vez, no vigésimo quarto dia do mês: 21 Fala a Zorobabel, governador de Judá: Farei tremer os céus e a terra; 22 e derrubarei o trono dos reinos, e destruirei a força dos reinos das nações; destruirei o carro e os que andam nele; os cavalos e os seus cavaleiros cairão, cada um pela espada do seu próximo. 23 Diz o SENHOR dos Exércitos: Naquele dia, eu te tomarei, ó Zorobabel, meu servo, filho de Sealtiel, e te farei como um anel de selar, pois te escolhi, diz o SENHOR dos Exércitos.
Aqui começa a quarta e última mensagem do profeta Ageu. Ela é dirigida a Zorobabel, governador de Judá, no mesmo dia em que a terceira mensagem foi entregue (2.20,21). Essa palavra trouxe encorajamento para o presente e bendita esperança para o futuro. A profecia tinha aplicação imediata e cumprimento pleno no fim dos tempos. A profecia apontava tanto para o presente como para o futuro. Gerard Van Groningen com lucidez interpreta essa profecia:
Não pode haver dúvida na mente de ninguém de que houve revolta a sublevações no império persa quando Cambises cometeu suicídio e Dario I teve dificuldades para manter o império unido e pacífico. A situação existente ajudou o remanescente a compreender o que Ageu estava explicando. Mas não é verdade que Ageu estava realmente proclamando que os céus e a terra estavam sendo abalados por Iavé e que tronos, reinos e forças militares estavam sendo subvertidos e exterminados. Ageu estava usando a linguagem apocalíptica. Ageu proclama a palavra de Iavé para o futuro em termos das circunstâncias do seu presente.198
Dionísio Pape diz que esta última profecia rasga novos horizontes perante o olho da fé. O profeta enxergou, de longe, acontecimentos ao fim da história humana. Esta profecia prediz o momento quando o Senhor abalará o céu e a terra (Ag 2.21).
Isaltino Filho está correto quando diz que o livro chega agora ao seu clímax com o davidismo, embora o nome de Davi não seja mencionado. O sentido do texto é claramen­te messiânico, e a linguagem que o exprime é apocalíptica. Zorobabel não deveria desanimar diante das convulsões históricas à sua volta. Ele estava dentro da linhagem mes­siânica (Mt 1.12). A obra que ele está cumprindo é valiosa aos olhos do Eterno por ser relacionada com a figura do Messias vindouro.200
Duas verdades se destacam nestes versículos:

6.1. Em primeiro lugar, o colapso dos reinos do mundo (2.20­22).

“Veio a palavra do Senhor segunda vez a Ageu, ao vigésimo-quarto dia do mês, dizendo: Fala a Zorobabel, governador de Judá: Farei abalar o céu e a terra; derribarei o trono dos reinos e destruirei a força dos reinos das nações; destruirei o carro e os que andam nele; os cavalos e os seus cavaleiros cairão, um pela espada do outro” (2.20-22).
O texto em apreço é muito semelhante a Mateus 24.29,30, em que a vinda do Messias é acompanhada de grandes desastres cósmicos. Quatro fatos merecem destaque neste texto:
Deus é quem conduz os destinos da história (2.21,22). O governo de Deus abrange todo o cosmo. Ele faz abalar o céu e a terra. As rédeas da história não estão nas mãos dos poderosos deste mundo. Os impérios megalomaníacos pensam que têm o poder e o controle dos acontecimentos, mas na verdade é Deus quem faz abalar o céu e a terra. É Deus quem derriba o trono dos reinos e destrói a força dos reinos. E Deus quem levanta e abate, quem exalta e humilha. O profeta Ageu deixa absolutamente claro que a ação descrita nos versículos em apreço é uma ação divina, e não humana; é algo planejado, e não acidental. Isaltino Filho oferece-nos uma grande contribuição quando escreve:
O substantivo trono é singular. Refere-se ao reino humano, à ordem social implantada pelos homens. A presente ordem social vai ser aniquilada. Uma nova ordem surgirá, a estabelecida pelo Messias. O templo é necessário pelas expectativas messiânicas que traz, pela necessidade de sobrevivência do vinho velho do judaísmo até a sua substituição pelo vinho novo do cristianismo. A reedificação do templo, por mais que exalta o judaísmo, é, contraditoriamente, o sinal de que este caminha para o fim. Tudo será abalado, inclusive os reinos do mundo. Uma nova era, um novo tempo, há de surgir com o advento do descendente de Zorobabel que é Jesus, o Messias esperado.
Deus torna nulos os maiores símbolos do poder humano (2.22). Naquele tempo os carros e os cavalos eram a maior expressão de força e poder de um exército. Deus, porém, destrói o carro e os que andam nele, os cavalos e os seus cavaleiros. Nenhuma força ou poder pode resistir ao braço do Deus Todo-poderoso. Nenhum reino pode prevalecer contra Deus.
Deus entrega os homens à sua própria insanidade
. Ageu registra que “... os cavalos e os seus cavaleiros cairão, um pela espada do outro”. Herbert Wolf diz que o colapso do poder das nações provoca pânico e confu­são porque os povos cairão “um pela espada do outro”.202 Os homens, na sua loucura, se autodestruirão. Como os midianitas dos tempos de Gideão, os homens se lançarão contra suas próprias espadas. Como os inimigos confede­rados contra Judá, os homens serão desbaratados por suas próprias mãos (2Cr 20.22).
Os reinos deste mundo passarão (2.22). Vale a pena ressaltar que Deus derruba não apenas os tronos, mas o trono dos reinos, e destrói a força dos reinos das nações. Os reinos deste mundo governam muitas vezes inspirados pelo príncipe deste mundo, pelo deus deste século, agindo no espírito do anticristo. Mas este trono de violência será desfeito. Aquele que se assenta neste trono será quebrado repentinamente. Os reinos deste mundo passarão, e o reino será do Senhor e do seu Cristo, que reinará pelos séculos dos séculos (Ap 11.15).

6.2. Em segundo lugar, a vitória triunfante do Reino de Cristo

“Naquele dia, diz o Senhor dos Exércitos, tomar-te-ei, ó Zorobabel, filho de Salatiel, servo meu, diz o Senhor, e te farei como um anel de selar, porque te escolhi, diz o Senhor dos Exércitos” (2.23).
Aqueles que pensam que esta profecia era uma espécie de panfletagem política de conspiração contra os persas, para promover a ascensão de Zorobabel como rei dos judeus, estão em desacordo.
Todos esses acontecimentos são futuros e não ocorreram nos dias de vida de Zorobabel, sendo, portanto, claro que essa promessa lhe foi dirigida como representante da linhagem davídica, pela qual a promessa espera cumprimento.
O texto em tela comporta um encorajamento para o presente, mas um cumprimento pleno no futuro. Trata-se de um texto messiânico. Ageu está subindo nos ombros dos gigantes, tendo a visão do farol alto, contemplando com o telescópio da fé, o futuro, quando o descendente de Zorobabel, Jesus de Nazaré, da dinastia davídica, haveria de vir ao mundo para estabelecer o seu reino de graça e depois consumando o seu reino de glória.
Os termos usados para descrever Zorobabel são todos termos messiânicos: “servo meu”, “anel de selar”, “te escolhi”. Jesus foi descendente de Zorobabel (Mt 1.12; Lc 3.27). O anel de selar é um símbolo muito precioso. Com ele os reis autenticavam os documentos oficiais e autorizavam todos os editos e leis que eram promulgados. Era um símbolo de poder e autoridade. Warren Wiersbe diz que o anel de selar era usado pelos reis para colocar sua “assinatura” oficial em documentos (Et 3.10; 8.8,10), como garantia de que o rei cumpriria sua promessa e as estipulações do documento. O anel de selar era usado, portanto, para autenticar cartas e documentos reais. Sem o anel, não havia impressão no documento e, sem a impressão, o documento não tinha valor algum. Desta forma a profecia de Ageu está mostrando que alguém da linhagem de Zorobabel, no futuro, autenticaria definitivamente a intervenção de Deus na história: Jesus de Nazaré.
[1] Parte da metafísica que estuda o ser em geral e suas propriedades transcendentais.
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