Mateus 17.24-27

Série expositiva no Evangelho de Mateus  •  Sermon  •  Submitted
0 ratings
· 39 views

O autor leva seus ouvintes/leitores a comprensão de que, por pertencerem ao Reino dos céus, isso os coloca sim numa posição de honra, mas, para o bom testemunho do Evangelho, também devem agir sabiamente nesse mundo, inclusive obedecendo as leis regulamentos estabelecidos nessa terra.

Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
No final do capítulo 17, Mateus registra um episódio que não aparecem em nenhum dos outros evangelhos. O pagamento do tributo anual para manutenção do templo é usado por Mateus após as narrativas em que a fé como instrumento de reconhecimento do Messias aparece como tema central, visando ensinar um princípio ainda mais aprofundado quanto a essa noção.
Após o evento grandioso da transfiguração, em que a fé dos agentes do Reino é fortalecida com a imagem análoga ao futuro da igreja (cf. Mt 17.1-13), e depois de verem que essa fé não foi posta em seus corações como isenta de sofrer interferências oriundas da natureza caída, tais como dúvidas e lapsos (cf. Mt 17.14-23), Mateus direciona um ensinamento que resume as duas verdades, expandindo-as sob a ótica do lugar que os discípulos de Cristo (não somente os onze, mas todo aquele que nele crê) ocupam no Reino e quais suas obrigações em face disso.
Diferentemente do que poderiam supor os discípulos, o pertencimento ao Reino não encoraja algum tipo de fuga das responsabilidades, embora os filhos do Reino estivessem de fato isentos daqueles rudimentos passados que apontavam para a realidade superior da redenção como inaugurada por Cristo, tal como o imposto para manutenção do templo.
Mateus traz à tona a dinâmica inebriante da dupla cidadania: como filhos de Deus, especialmente aqueles que eram judeus, não pesa qualquer obrigação em cumprir aspectos cerimoniais que objetivavam demonstrar a grandeza da salvação com a chegada do Messias (Jesus Cristo), por outro lado, a fim de não escandalizarem o público para o qual deveriam se dirigir a fim de expor o Evangelho do Reino, os discípulos deveriam aquiescer à oportunidade de, mediante obediência e sabedoria, testificar da verdade em que criam, agindo como bons cidadãos do mundo - princípio representado pelo pagamento do tributo.
Diante dessas informações, o texto em destaque enfatiza a responsabilidade da fé como instrumento de testemunho do Reino.
Elucidação
Outra vez, a movimentação geográfica de Cristo enseja a inserção de outro tópico a ser tratado pelo autor, como consta no verso 24: "Tendo eles chegado a Cafarnaum...". Em face da pergunta abrupta feita no inicio do capítulo 18, a compreensão comum é de que entre esses versos esteja a perícope ou parágrafo em sua divisão natural, assim como proposto.
O questionamento dos cobradores do imposto do templo, sugere algum tipo de tempo de demora no pagamento do tributo, certamente devido ao fato de Cristo e seus discípulos peregrinarem ao longo das cidades de Israel, e também que tal prática já estava bem estabelecida naquele período. Na verdade, o imposto referido aparece como uma ordenança do próprio Deus em Êxodo 30.13 e 38.26 destinado à manutenção do tabernáculo/templo, e devido a colonização de Roma sobre Israel, o pagamento do imposto foi convertido da moeda hebraica para a grega, chamada dracma.
O ponto central da passagem é o uso dessa situação por Cristo como sendo fortuita a que um ponto da dinâmica do Reino fosse explicada a Pedro, e tal ponto foi reiterado por Mateus e direcionado ao seu público. Sendo uma Lei veterotestamentária de aspecto cerimonial, Cristo adianta em sua pergunta ao discípulo, que haveria de chegar o momento em que sua obrigatoriedade seria suspensa, e a razão para isso é a adoção dos agentes do Reino como o "filhos", no caso, de Deus.
A movimentação histórica-progressiva das sombras do Antigo Testamento para a realidade superior do Novo, implicava que aqueles de quem eram cobrados os impostos, por agora gozarem do privilégio da salvação, estavam escusados de cumprirem aquele rito, embora, somente a morte e ressurreição de Cristo ativassem a Nova Aliança.
Contudo, a resultante dessa problemática é o ponto de questionamento exposto por Jesus: "Simão, que te parece? De quem cobram os reis da terra impostos ou tributo: dos seus filhos ou dos estranhos?" (Mt 17.25). A "estranheza" de Cristo com relação a ter de pagar aquele tributo, lhe serve como argumento para a exortação seguinte. A fim de que o testemunho do Evangelho não fosse comprometido, o Senhor ordena ao discípulo que pague o devido: "Mas, para que não os escandalizemos… entrega-lhes por mim e por ti." .
Neste ponto, a exortação do evangelista alcança seu público-alvo. A informação de pertencerem ao Reino de Deus, além de ser uma grande benção, parecia também isentar os discípulos de obedecerem aos rudimentos do mundo que deixaram para trás ao seguirem a Cristo. Porém, a dupla cidadania os coloca numa situação em que não deve partir deles algum tipo de levante ou rebelião "não-piedosa", que pusesse em cheque o testemunho do Evangelho.
A responsabilidade de servirem como arautos do Rei, pregando com suas vidas o Evangelho do qual foram feitos testemunhas, os encaminha à submissão quanto as leis desse mundo, o que inclui impostos ou outras obrigações, desde que não firam os princípios apontados pela própria Palavra de Deus. Por exemplo, no império romano, era comum que o imperador exigisse honrarias como a um deus, sendo chamado inclusive de "senhor" (gr. "κυριος"), termo posteriormente direcionado pelos cristãos para referirem-se apenas a Cristo, pois somente Cristo é seu Senhor. Aqui se encontra uma lei terrena que os cristãos recusaram-se acertadamente em obedecer. Porém, assim com o imposto mencionado na passagem, outras obrigações devem ser acatadas por aqueles que servem a Deus, como parte de sua vida de serviço ao Reino dos céus, através de um bom testemunho nesse mundo.
Transição
Ao invés de se revoltarem contra Roma, ou contra algum tirano em Israel (e.g. os Herodes), os agentes do Reino deveriam usar de sabedoria e prudência a fim de não escandalizarem os não crentes com uma postura revoltosa, assim como o próprio Cristo demonstra no fim da passagem:
Mateus 17.26–27 RA
Respondendo Pedro: Dos estranhos, Jesus lhe disse: Logo, estão isentos os filhos. Mas, para que não os escandalizemos, vai ao mar, lança o anzol, e o primeiro peixe que fisgar, tira-o; e, abrindo-lhe a boca, acharás um estáter. Toma-o e entrega-lhes por mim e por ti.
Isto posto, o ensinamento legado pelo autor bíblico ao público primeiro, alcança a igreja hoje, a partir da seguinte síntese:
Aplicação
Embora esteja isento de submissão última as rudimentos desse mundo, todo agente do Reino deve dar bom testemunho da fé, mediante o exercício de sua dupla cidadania (celestial e terrena) para a glória de Deus.
J. C. Ryle, comentando e enfatizando esse princípio, asserta:
Meditações no Evangelho de Mateus O Peixe e a Moeda do Tributo (Leia Mateus 17.22–27)

Lembremo-nos dessa passagem na qualidade de cidadãos e patriotas. Talvez não aprovemos todas as medidas políticas adotadas por nossos governantes. Talvez discordemos de alguns dos impostos que eles determinam. Mas, após tudo isso, a grande indagação é: “Redundará em qualquer benefício para a causa da religião cristã se eu resistir às autoridades constituídas? As medidas decretadas por elas realmente estão prejudicando o bem-estar da minha alma?”. Em caso negativo, fiquemos tranquilos, “para que não os escandalizemos”.

Como cristãos, não pesa sobre nós qualquer tipo de compromisso último com esse mundo e seus governos, ao ponto de nos vermos obrigados a cumprir leis que rejam e governem a nossa vida como se delas dependêssemos essencialmente. Nossa vida depende da graça do SENHOR em nos sustentar e proteger.
Porém, estamos de tal forma ligados ao Reino de Deus que, devendo agir com sabedoria, também precisamos obedecer as autoridades estabelecidas por ele para o bom andamento da sociedade comum.
Além disso, e como enfatiza o texto, nossa cidadania terrena nos fornecer a oportunidade de que precisamos para testemunharmos do senhorio bendito de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Votar, pagar impostos ou tributos, obedecer leis e outros compromissos, devem ser vistos não com pesar ou revolta, mas como meios através dos quais tornamos célebre o nome de nosso Senhor, a fim de que "não os escandalizemos".
Conclusão
Os discípulos - sobretudo os que estavam sendo perseguido em Roma - poderiam sentir-se tentados a, devido sua confissão de fé (i.e. Jesus Cristo é o Senhor), não cumprirem com suas responsabilidades como cidadãos terrenos. Mas agora, recebem a orientação de agirem como verdadeiros arautos do Rei: dando bom testemunho da fé, não servindo de escândalo, mas como luzeiros que apontam para a grandeza e majestade do grande Rei de toda a terra: Cristo.
De igual forma nós, crentes atuais, devemos acatar as ordens de nosso Senhor, agindo com responsabilidade e prudência nesse mundo, declarando e confirmando nosso pertencimento como filhos de Deus ao seu Eterno Reino.
Related Media
See more
Related Sermons
See more