O que os nossos pecados suscitam em Jesus - Os 11.7-9
Jesus, quem ele é? • Sermon • Submitted
0 ratings
· 22 viewsNotes
Transcript
Handout
Introdução
Introdução
Eu adoro a maneira como Hollywood transforma em grandes produções cinematográficas os temais difíceis da realidade humana.
A vida, o pecado, a morte, as grandes jornadas de heróis, a terribilidade do inferno.
Quem não ficou amedrontado com a atuação de Keanu Reeves em Constantine, onde a trama se passa nas idas e vindas ao inferno e luta contra demônios.
Ou recentemente com a última temporada de Stranger Things, onde o mundo das sombras revela os Demogorgon, demônios da maldade.
Mas, por outro lado, eles também são grandes produtores de relativização de verdades imutáveis.
Provavelmente é impossível conceber a realidade do horror do inferno e da ferocidade da justiça retributiva de Deus e sua ira justa que varrerão aqueles que não estão em Cristo no último dia.
Talvez uma palavra como ferocidade de a impressão de que a ira de Deus será descontrolada ou desproporcional.
Mas nada há de descontrolado ou desproporcional em Deus.
A razão para sentirmos que a ira divina ou o inferno podem ser facilmente superestimados e desacreditados é que não sentimos o real peso do pecado em nossas vidas.
Martyn Lloyd-Jones, refletindo sobre isso, disse:
Você nunca conseguirá sentir que é um pecador, porque há um mecanismo dentro de você, por causa do pecado, que sempre o defenderá contra qualquer acusação. Estamos muito bem conosco e sempre podemos entender bem o nosso lado. Mesmo que tentemos nos fazer sentir que somos pecadores, nunca conseguiremos. Há somente uma forma de saber que somos pecadores, e é por meio de uma noção vaga e obscura de Deus.
Em outras palavras, não sentimos o peso do nosso pecado por causa de um simples fato, o nosso pecado.
Se vivêssemos com maior clareza como o nosso pecado é insidioso, abrangente e revoltante.
Como Lloyd-Jones sugere, só podemos ver isso quando virmos a beleza e a santidade de Deus, saberíamos que o mal humano clama por um julgamento de proporções divinas.
Alguém disse certa vez que, se "a ira de Deus contra o pecado for o fogo", então "todos os combustíveis mais inflamáveis terrenos ainda não [...] poderiam deixar a fogueira quente o suficiente"
Assim como dificilmente podemos conceber a ferocidade divina que espera quem está fora de Cristo, é igualmente verdade que dificilmente podemos conceber a ternura divina que já repousa sobre quem está em Cristo.
Não preciso ficar desconfortável ou me sentir culpado ao enfatizar a ternura de Deus com a mesma intensidade de sua ira.
Porque a Bíblia não compartilha desse desconforto.
Considere Romanos 5.20b
20 A lei veio para que aumentasse a ofensa. Mas onde aumentou o pecado, aumentou muito mais ainda a graça,
A culpa e a vergonha de quem está em Cristo são sempre superadas pela sua abundante graça.
Quando sentimos que nossos pensamentos, palavras e ações estão diminuindo a graça de Deus para conosco, esses pecados e falhas na verdade estão fazendo com que a graça recaia ainda mais sobre nós.
Porém, vamos aplicar esse principio inviolável à economia do evangelho.
Como temos tratado da graça de Deus pelo modo como ela vem satisfazer abundantemente a nossa necessidade por ela?
Todavia, no sentido próprio da palavra, a graça não é uma coisa qualquer que precisamos ou não, que podemos comprar ou deixar de comprar.
Pensar na graça como uma coisa é a postura da teologia católica romana, em que a graça é como se fosse um tesouro acumulado que pode ser acessado por vários meios cuidadosamente controlados. (indulgências, ofertas, romarias, adoração a supostos santos).
Mas a graça de Deus vir a nós é nada mais e nada menos que Jesus Cristo vir a nós.
No evangelho bíblico, não recebemos uma coisa; recebemos uma pessoa.
Vamos nos aprofundar.
O que recebemos quando recebemos a Cristo?
Para ser mais preciso, se falamos da graça sendo extraída para encontrar o nosso pecado, mas vindo a nós somente no próprio Cristo, então nos deparamos com um aspecto vital de quem Cristo é.
Um aspecto bíblico sobre o qual devemos sempre refletir: quando pecamos, o próprio coração de Cristo se achega a nós.
Isso pode ser um pouco estranho.
Se Cristo é perfeitamente santo, ele não deveria se afastar do pecado?
Entramos aqui num dos mistérios mais profundos sobre quem Deus é em Cristo.
Não somente a santidade e a pecaminosidade são mutuamente excludentes.
Mas Cristo, sendo perfeitamente santo, conhece e sente o horror e o peso do pecado mais profundamente que qualquer um de nós.
Assim como, quanto mais puro for o coração de um homem, mais horrorizado ficará ele ao imaginar que seu próximo será roubado ou ferido.
Em contrapartida, quanto mais corrupto for o coração de alguém, menos afetado ele será pelos males ao redor.
Continuemos aplicando a analogia.
Assim como, quanto mais puro for o coração, mais horrorizado ele estará diante do mal, da mesma forma ele se inclina naturalmente a ajudar, aliviar, proteger e confortar, enquanto um coração corrupto se omite com indiferença.
É assim que Deus age em Cristo.
A sua santidade julga de forma justa e revoltante o mal, mais revoltante do que nós jamais sentiremos ser.
Mas é exatamente essa santidade que inclina seu coração a nos ajudar, aliviar, proteger e confortar.
Novamente, precisamos aprender a crucial distinção entre quem não está em Cristo e quem está em Cristo.
Para aqueles que não pertencem a ele, o pecado suscita santa ira e uma eternidade no inferno.
Como poderia um Deus moralmente sério e profundamente santo, responder de outra forma?
Mas, para aqueles que pertencem a ele, que estão em Cristo, os pecados suscitam santo anseio, santo amor, santa ternura.
Se você é parte do corpo do próprio Cristo, seus pecados comovem o fundo de seu coração, sua compaixão e piedade.
Ele está do seu lado contra o pecado, e não contra você por causa do seu pecado.
Ele odeia o pecado. Mas ele te ama, se você estiver arraigado nele.
Podemos entender isso ao considerar o ódio de um pai contra uma terrível doença que aflige o seu filho - o pai odeia a doença ao mesmo tempo que ama o filho.
De fato, em algum nível, a presença da doença aproxima ainda mais o seu coração do filho.
Isso não significa ignorar o lado disciplinar do cuidado de Cristo pelo seu povo.
A Bíblia claramente ensina que os nossos pecados suscitam a disciplina de Cristo (p. ex., Hb 12.1-11).
Ele não nos amaria de fato, caso isso não fosse verdade.
Mas até isso é um grande reflexo de seu grande coração que bate por nós.
Quando uma parte do corpo se machuca, o esforço e a dor de um tratamento fisico são necessários.
Mas esse tratamento não é uma punição, pois a sua intenção é curar.
Vejamos o texto que lemos para entendermos o que nossos pecados suscitam em Jesus e como este texto nos leva profundamente ao coração de Deus que assume forma concreta em Jesus.
Lemos:
7 Porque o meu povo é inclinado a rebelar-se contra mim; se são chamados a dirigir-se para o alto, ninguém o faz. 8 Como poderia eu abandoná-lo, Efraim? Como poderia entregá-lo, Israel? Como faria com você o que fiz com Admá? Como poderia fazer de você outra Zeboim? Meu coração se comove dentro de mim; toda a minha compaixão se manifesta. 9 Não executarei o furor da minha ira; não voltarei para destruir Efraim. Porque eu sou Deus e não homem; sou o Santo no meio de vocês. Não virei com ira.”
Temos aqui todos os elementos tratados até agora: o povo de Deus, todo seu pecado, o coração de Deus, uma explícita afirmação da santidade de Deus.
E qual é a conclusão do texto?
A principal observação é a seguinte:
Justamente enquanto considera o pecado de seu povo, é que o coração de Deus os alcança em compaixão.
Deus olha para o seu povo em toda sua sujeira moral.
Eles provaram o seu desvio espiritual vez após vez não ocasionalmente, mas como um povo "inclinado a desviar-se de mim (v.7).
É uma obstinação sedimentada.
Então, o que acontece dentro de Deus?
Precisamos ter cuidado aqui. Deus é Deus e ele não está à mercê de emoções passageiras da mesma forma que nós, muito menos nós, criaturas pecaminosas.
Mas que o texto diz? O que os nossos pecados suscitam em Deus?
Temos um raro vislumbre do próprio centro de quem Deus é e vemos e sentimos a convulsão profundamente afetiva que acontece dentro do próprio ser de Deus.
O coração dele se inflama com piedade e compaixão por seu povo.
Ele simplesmente não consegue desistir deles. Nada poderia fazer com que ele os abandonasse. É o povo dele.
Que pai abandonaria seu amado filho no orfanato, só porque ele se meteu numa encrenca daquelas?
Não desonremos a Deus ao enfatizar tanto a sua transcendência que acabamos por perder a noção da vida emocional de Deus, da qual a nossa vida é um pequenino eco, um eco caído e distorcido.
Deus não é um ideal platónico, imóvel, austero, além do alcance de genuíno comprometimento com humanos.
Deus é livre de qualquer emoção caída, mas não de toda emoção (ou sentimento)- de onde vêm nossas emoções, afinal, somos imagens de quem?
O texto diz que as suas "compaixões despertam todas de uma vez" diante do pecado do seu povo.
Quem poderia imaginar que Deus lá no fundo é assim?
O texto conecta a suprema santidade de Deus com sua recusa em se entregar à ira.
Quem poderia inventar uma coisa dessas?
Lemos mais.
9 Não executarei o furor da minha ira; não voltarei para destruir Efraim. Porque eu sou Deus e não homem; sou o Santo no meio de vocês. Não virei com ira.”
É isso que esperávamos que Deus dissesse?
De verdade, lá no fundo, você não esperava que ele falasse o seguinte, com pequenas adaptações?
Eu executarei a minha ira. Porque eu sou Deus e não homem, o Santo no meio de ti; portanto, eu chegarei com ira.
A Bíblia diz que, ao olhar para o pecado do seu povo, a sua santidade transcendente, a sua deidade, a sua própria divindade, o que torna Deus diferente de nós, é justamente o que o torna incapaz de chegar com ira ao seu povo.
Por amor ao seu povo, ele desvia a sua ira de nós, mas não deixa de satisfaze-la.
Ele coloca toda a sua ira em Jesus Cristo, seu único filho na Cruz.
Por isso que somente Jesus pode nos livrar do pecado e da condenação do pecado que é a morte e uma eternidade interminável no inferno ardente.
Este texto não está dizendo que no final todos indistintamente serão salvos, mas está dizendo, que somente aqueles que se achegam a Cristo em arrependimento e Fé e nele permanecem, o Senhor não virá com ira, mas com um coração de perdão, graça e salvação eternas.
Oséias 11 e todo o enredo da história bíblica nos fazem perder o fôlego.
Os pecados daqueles que pertencem a Deus abrem o diluvio de compaixão que há no coração de Deus para nós.
A represa se rompe.. Não é nossa amabilidade que conquista seu amor. É a nossa falta de amabilidade e pecado que o fazem nos amar.
Mas contra aqueles que não estão em Cristo, a represa da Justa e santa ira de Deus varrerá a todos ao inferno, que é o lugar que todos merecemos ir como resultado dos nossos pecados.
Não o inferno de Constantine, ou de Stranger Things, mas o inferno real, terrivelmente literal, onde o fogo da justiça divina arderá sobre todos aqueles que não estão em Cristo.
O que devemos fazer diante desse realidade?
Não devemos ter a postura de quem sai de uma sala de cinema depois de um fim como Constantine, ou aperta o off no controle depois de mais uma temporada de uma série de TV.
Pois de fato, não estamos diante de uma produção de cinema.
Estamos diante da terrível realidade do inferno àqueles que vivem sem Cristo, e da abundante graça para aqueles que estão em Cristo.
Ou vamos a Cristo e vemos seu coração suscitar amor e compaixão por pecadores confessos e arrependidos.
Ou seguiremos o curso da condenação para aqueles que não estão em Cristo.
Eu sei que essa lógica de Deus não é como o mundo ao nosso redor funciona.
Não é como os nossos corações funcionam.
Mas, só nos cabe, nos curvarmos em humilde submissão, arrependimento e fé, deixando que Deus estabeleça os termos de seu amor por nós.
E em Cristo, seu coração suscita de amor por aqueles que vem a ele.
SDG