Mateus 18.1-5

Série expositiva no Evangelho de Mateus  •  Sermon  •  Submitted
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O autor explicita o conceito de serviço cristão, por meio do exercício da humildade que os agentes do Reino deverão ter, servindo uns aos outros como é devido no Reino dos céus.

Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
Prosseguindo a narrativa, o autor desdobra um cenário em que alguns princípios que os agentes do Reino devem por em prática a fim de expor sua condição de participantes do mesmo são clarificados, e também quanto a natureza do império do Deus Triuno em seu Messias.
Levando em consideração a seção anterior, a narrativa sugere que os discípulos agora, ainda que tendo uma visão correta acerca do Messias (visão proporcionada pela concessão da fé), precisam também ter sua perspectiva quanto natureza do Reino retificada, sobretudo no que diz respeito ao papel desempenhado por cada agente em relação ao outro. Numa que o Reino e o Messias estão intrinsecamente conectados, não bastou ao autor notar ao seu público o quanto é necessário que pela fé os filhos do Reino entendam e conheçam verdadeiramente o Messias em si, mas também que o percebam mediante a ótica da natureza servil do Reino, completando o quadro geral que concentra as exortações do escritor ao seu público-alvo neste seção.
Considerando essas observações, a temática central da presente seção consiste na exortação divina quanto a natureza servil do Reino.
Elucidação
Mateus introduz o questionamento dos discípulos ligando de alguma forma a prosa por vir aos relatos anteriores. Isso aponta para a intencionalidade do autor de fazer com que o público perceba a tônica mais específica centralizada na compreensão dos discípulos não mais em relação ao Messias somente, mas também em face do Reino e sua natureza corporativa.
O questionamento dos discípulos, registrado por Mateus, é intensificado se levarmos em consideração também a introdução feita no evangelho de Marcos:
Marcos 9.33–34 RA
Tendo eles partido para Cafarnaum, estando ele em casa, interrogou os discípulos: De que é que discorríeis pelo caminho? Mas eles guardaram silêncio; porque, pelo caminho, haviam discutido entre si sobre quem era o maior.
A pergunta exibe uma tentativa de obtenção de primazia de uns sobre os outros, e embora não seja nomeado quem arrogava ser o maior, a problemática sugere uma conclusão que parte de uma premissa equivocada quanto ao Reino, como já observado.
Porém, a pergunta proporciona tanto a Cristo quanto a Mateus, o contexto próprio para que a realidade do Reino quanto a responsabilidade que um agente tem em relação ao outro possa ser ensinada. A introdução feita por Cristo em termos do contraste da realidade do Reino em comparação com a visão do mundo quanto ao que significa ser "grande", propõem um convite à mudança de paradigmas dos discípulos em relação as suas inserções no mesmo.
O ser "grande", de acordo com o a ótica dos doze, era algo que poria acima e além aquele que era considerado de tal forma, sendo digno de honrarias ou até subserviência (levando em consideração o contexto posterior) dos demais em relação a si. O grande "baque" sofrido pelos discípulos foi ouvir do Mestre que ser considerado digno de honra no Reino, era na verdade humilhar-se ao ponto de se tornar pequeno, ao ponto de importar-se profundamente com alguém que poderia ser considerado também menor.
Esse princípio é reforçado com uma representação:
Mateus 18.2–3 RA
E Jesus, chamando uma criança, colocou-a no meio deles. E disse: Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus.
De todas as características pensadas para ser aquela destacada pelo Senhor Jesus ao usar uma criança como exemplo do que os discípulo deveriam buscar ser, a pequenez é a qualidade em questão. Ser grande, no Reino, não era ser digno de que os outro o sirvam, mas sim, de que abraçando a responsabilidade de zelar uns pelos outros, cada agente do Reino tenha a si mesmo em baixa conta, enquanto que considere o irmão como um superior, ou alguém a quem deve servir.
A palavra usada pelo redator que elucida o imperativo de Cristo quanto a como os discípulos deveriam agir é "ταπεινώσει" (gr. transl. "tapeinôsei" = tornar baixo, rebaixar), que também é usada por Paulo em Filipenses 2.8, para descrever o estado de humilhação autoinfligido por Cristo, a fim de concluir e executar o sacrifício que garantiria a salvação do povo de Deus. De maneira análoga Paulo, naquele texto, também convoca à igreja a um sentimento de humilhação mútuo que levaria cada crente a servir seu irmão:
Filipenses 2.3–6 RA
Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros. Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus;
Transição
A grande exortação que o redator faz aos seus leitores/ouvintes, é de que o conceito de grandeza, no Reino, é completamente diferente daquele idealizado e conjecturado pelo mundo. Enquanto que ao longo da vida, aqueles que não conhecem a Cristo buscam a primazia e serem vistos como superiores em relação aos seus semelhantes, no meio da igreja tal sentimento não deve ser encontrado. A vontade de ser reconhecido como "grande" não é de todo rechaçada pelo Senhor, se com isso um cristão estivesse objetivando ser um grande servidor no império divino. O ponto em questão é que ser "grande" no Reino significa querer servir; estar disposto a considerar a si mesmo pequeno e menor, ao ponto de ver nos irmãos pessoas a quem ele deve dirigir seu mais amoroso e solicito serviço.
Aquele que se inclinar ao ponto de achar sumamente importante servir uma "criança", provará que de fato recebeu e serve ao Rei dos reis. Quem serve ao menor, nesse caso, está servindo diretamente o maior, como é dito no versículo 5: "E quem receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me recebe" (Mt 18.5).
Em face disso, o princípio exortativo elucidado pelo autor divino/humano neste texto, pode ser sintetizado a partir do seguinte tópico:
Aplicação
Como cristãos, fomos chamados a servir; servir nosso Rei servindo uns aos outros.
No Reino, todo aquele que quiser subir, deve antes, descer. Não há espaço no Reino para alguém que busca ser servido, ou que coloca os próprios anseios e vontade acima dos outros.
William Hendriksen, comentando esse texto, afirma:
Mateus, Volumes 1 e 2 1. Ser Bondoso para com Os Pequeninos

Que os discípulos – sim, todos (note “todo aquele”) –, pois, se tornem semelhantes a esta criança. Que aprendam que o único caminho para subir é descer. Desejam tornar-se grandes? Então que se tornem pequenos! Desejam erguer-se? Então que caiam! Desejam governar? Então que sirvam!

Se você se acha muito importante para se incomodar com a convivência e serviço entre irmãos em Cristo, está no lugar errado. É impossível servir o Cabeça (Cristo Jesus), sem buscar servir o Corpo (a igreja). É impossível estar em comunhão plena com Deus, sem estar ligado verdadeiramente aos irmãos, alimentando no coração o profundo e legítimo desejo de servir aqueles que primeiro foram servidos pelo próprio Redentor, e rejeitar a humildade do serviço mútuo é considerar a si mesmo como maior do que o Senhor Jesus, pois como Paulo coloca, ele - que é Deus - abriu mão de sua glória, a fim de servir miseráveis pecadores como nós. Não temos como agir diferente disso sem ultrajar o nome de nosso Salvador.
No Evangelho de Lucas, a mesma passagem é complementada com uma ordem clara: "[…] O maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve" (Lc 22.26). Quer ser bem visto por Deus? quer se tornar grande no Reino? não há nenhum problema nisso; ao seu lado está a oportunidade de ser de fato grande: sirva seu irmão!
Conclusão
A virtude da humildade no serviço - pois não basta apenas ser humilde no sentido de não almejar ser grande, mas é necessário que esse humildade redunde em serviço - exibe a compreensão ampla de um coração que nasceu de novo e entrou no Reino.
"Pequeno como uma criança!" é o que nos ordena nosso Senhor. Somente um pequeno que procura servir outros pequenos, pode considerar-se servo do único que de fato é Grande: Cristo Jesus.
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