Imagem, semelhanças e diferenças

Introdução

Hoje estamos começando uma série de pregações intitulada Viver Família.

Esse é um assunto palpitante, porque está no centro do funcionamento da sociedade; prático, já que todos estamos direta e pessoalmente ligados a ele; e extenso, uma vez que o tema pode ser tratado sob diversos e diferentes olhares como o da psicologia, da sociologia, do direito, da antropologia e da teologia.

Durante o tempo em que vamos refletir sobre esse tema, não me proponho a fazer uma abordagem amparada nos saberes da academia, mas sim uma reflexão bíblico-teológica singela e prática; por outro lado pretendo examinar com atenção qualquer conhecimento que possa nos ajudar a compreender melhor os problemas que temos enfrentado para viver família à luz da palavra de Deus.

Para isso, vamos dividir nossas reflexões em três grandes blocos:

No primeiro bloco vou apresentar as bases bíblicas para a dignidade humana, a evolução da família até a forma como a conhecemos no século XXI e as diferentes faces com que ela se apresenta em nossos dias.

No segundo bloco vamos identificar a proposta bíblica para se viver família, destacar os principais impactos causados pelo pecado nos relacionamentos familiares e esclarecer os papeis de marido, esposa e filhos, segundo as escrituras;

No terceiro bloco vamos examinar os principais desafios relacionados a viver família conforme o projeto de Deus na atualidade e procurar pistas que nos ajudem a enfrentar esses desafios com confiança e segurança.

Começar no começo

Antes de tratar o assunto família, e para que possamos fazer isso com responsabilidade, de maneira a oferecer ajuda para quem deseja viver os relacionamentos humanos com alegria e de forma plena, precisamos tratar sobre as raízes cristãs para a dignidade da pessoa humana.

Não é possível viver família sem que esteja bem claro em nossa mente as razões e a extensão da dignidade da pessoa humana. Entender isso é de suma importância tanto para o tema família quanto para todos os demais relacionamentos em que estamos envolvidos.

Por dignidade da pessoa humana, quero dizer que os seres humanos, sem qualquer tipo de distinção e sem quaisquer exceções, são dignos de respeito simplesmente por existirem. Ser humano, existir como ser humano, é uma condição que trás consigo mesma direitos e deveres inalienáveis, que não podem ser negados sem que isso viole essa dignidade.

Não importa, por exemplo, se você gosta ou não do jeito como alguém vive, fala, age ou faz negócio, seja do seu agrado ou não, essa pessoa precisa ser respeitada como um ser humano. Ela tem direitos e deveres que não deixam de existir por causa de suas diferenças ou discordâncias.

Não importa, por exemplo se a pessoa tem dinheiro e posses ou se é pobre e mal sobrevive; também não importa se ela é simpática e agradável ou irritante e antipática; nem tampouco faz diferença se ela concorda ou não com você sobre qualquer assunto; ela tem direitos e deveres que lhe foram dadas junto com sua existência. De onde vem essa dignidade?

Criação e dignidade

Genesis 1:26–27 NVI

26 Então disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os grandes animais de toda a terra e sobre todos os pequenos animais que se movem rente ao chão”. 27 Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.

O texto afirma que os seres humanos, homens e mulheres, foram criados por uma decisão de Deus. Isso revela que nossa existência não é um acidente. O fato de você existir nesse mundo tem uma intenção da parte de Deus, isto é, os seres humanos, todos os seres humanos, todos nós, existimos para cumprir um propósito que veio antes de nós; isso nos dá dignidade.

Meu sogro tem um caixa onde ele guarda todo tido de tranqueira que ele encontra pelo caminho. Ele vai passando e quando vê algo diferente pelo chão, um pedaço de metal, um parafuso diferente, uma peça com um encaixe, ele leva pra casa e coloca nessa caixa.

Minha sogra diz que ele precisa parar de levar lixo para casa. Ela não vê qualquer utilidade nos achados dele. Mas ele sabe que não esta levando lixo, embora estivesse jogado no chão. Para ele, cada pecinha é importante. Elas tem valor porque foram criadas com um propósito. Várias vezes eu o vi recorrer àquela caixa como quem tem um tesouro.

Da mesma forma, não importa se fomos deixados de lado ou jogados pelo chão. Fomos criado por Deus com um propósito, uma razão para existir, e isso nos dá uma dignidade que pode ser tirada de nós. Isso também quer dizer que eu e você temos que respeitar, defender e valorizar a dignidade das pessoas com quem convivemos. Ela também foram criadas por Deus com um propósito.

O lugar onde esse respeito à dignidade humana precisa acontecer é na família. Antes de ser seu esposo, ele é alguém criado por Deus com propósito. Antes de ser sua esposa, ela é alguém que Deus criou com um propósito. Antes de ser seu filho ou sua filha, eles são pessoas criadas por Deus com um propósito, essa dignidade precisa ser respeitada.

Imagem e dignidade

O texto avança para dizer que homens e mulheres foram criados à imagem e semelhança de Deus. E esse simples registro bíblico concede ao ser humano, a todo ser humano, uma dignidade que vai além da criação com um propósito. Afinal, todo o universo foi criado por Deus com um propósito e isso coloca toda a criação no mesmo nível.

Um certo comentarista afirmou que “Deus deixou algo de si mesmo no ser humano…” Esse algo de Deus que nós temos, essa imagem dele gravada em nós, essa semelhança a Ele nos confere uma dignidade especial.

Em 2012, um colecionador muito rico, Josef Renz, adquiriu por uma fortuna um quadro que tinha sido encontrado, esquecido, numa garagem do norte da Áustria. Era uma das primeiras obras do pintor simbolista famoso Gustav Klimt que todos julgavam perdida". Na época, vários peritos e historiadores de arte vieram a público questionar a autenticidade da obra, e disseram que Josef tinha feito um péssimo negócio, comprando por uma fortuna algo que não valia nada.

Mas em 2018, depois de examinar cada detalhe do quadro, os especialistas descobriram duas assinaturas autênticas do autor escondidas na frente e no verso da obra. O pintou deixou sua marca, algo de si mesmo no quadro, e foi isso que tornou aquela pintura valiosa.

Da mesma forma, não importa se nos sentimos esquecidos, largados numa garagem qualquer dessa vida. Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus e isso nos torna dignos, importantes e de valor. Não importa se você tem vivido por anos encostado na parede e coberto de poeira, a assinatura do criador está em você e isso faz de você alguém digno de respeito.

Veja só, é assim também na família. Todos aqueles que convivem com a gente como família, marido, esposa, filhos, pais, avós, cunhados, tios, primos… são seres humanos criados à imagem e semelhança de Deus. A assinatura de Deus está neles e você precisa respeitar isso. Você não pode negar a eles o tratamento cordial e a dignidade que eles merecem.

Resumo

Para viver família de forma saudável nós precisamos começar com o entendimento sobre a dignidade da pessoa humana, sem qualquer tipo de distinção e sem quaisquer exceções, os seres humanos, homens e mulheres, são dignos de respeito porque foram criados por Deus com um propósito e foram criados à imagem e semelhança de Deus.

Iguais, mas diferentes

Em nosso texto, depois de colocar a humanidade em condição de igualdade quanto possuir um propósito e a ser imagem e semelhança de Deus, vemos que nos é dito que há uma diferença entre os dois seres humanos criados: um dele é um homem e o outro é uma mulher.

Iguais, mas diferentes. Ao criar o ser humano, Deus decidiu fazer-nos homens e mulheres. Deus, que revelou a nós como uma trindade em perfeito relacionamento de amor, criou a humanidade como um duo e nos chamou a experimentar, mesmo diferentes, perfeitos relacionamentos de amor.

De maneira simples e direta as Escritura afirmam que o projeto de Deus para a humanidade é um ser humano, criado imagem e semelhança de Deus, expressa na polaridade entre masculino e feminino. Não se trata de uma construção cultural posterior, mas de uma opção divina por uma forma de existência para a humanidade que nos permite experimentar e usufruir de igualdades e diferenças.

IGUALDADE

Homens e mulheres são iguais em sua condição, porque ambos foram feitos à imagem e semelhança. Deus deixou sua marca em ambos e isso tornar possível que se relacionem como iguais, sem que nenhum possa se afirmar superior ao outro. Podemos ver isso no verso 27.

Homens e mulheres são iguais em sua vocação, porque ambos recebem o mandado de dominar a terra. Os dois recebem o mandato para moldar e transformar a criação. Podemos ver isso no verso 28.

Homens e mulheres são iguais em sua satisfação, porque são criados para receberem-se um ao outro. Entre os dois se estabelece de imediato uma mútua aceitação e a alegria do pertencimento mútuo. Podemos ver isso no verso 31.

DIFERENÇAS

Homens e mulheres são criados por Deus seres sexuais, “macho e fêmea”. Não se trata de uma construção social apenas, mas de diferenças físicas, fisiológicas, hormonais, produzidas desde a gestação que acabam moldando a forma de ser, de perceber o mundo, de reagir, de relacionar-se e etc.

As diferenças fazem parte do projeto concebido e executado pelo criador. Elas tornam homens e mulheres mutuamente complementares, isto é, um tem o que falta no outro. Como disse Jorge Atiência “Essa diferença torna possível o enriquecimento mútuo, a eficiência e desenvolvimento de uma relacional funcional entre um homem e uma mulher”.

Conclusão

Viver família é algo que tem se tornado cada vez mais difícil em nossos dias. Os problemas são muitos: casais que não se entendem, maridos irresponsáveis e grosseiros, empurrando a vida com a barriga; mulheres sobrecarregadas e tristes, levando o mundo nas costas; pais que não saber como criar seus filhos; filhos rebeldes clamando por amor e disciplina.

As vozes se levantam por todo lado para dizer que cada um deve ser o quiser ser e fazer o que quiser fazer. Viver família para essas pessoas é uma questão de opção pessoal. Muitos tem acreditado nisso e estão por aí fazendo seus experimentos, vivendo como acham que devem.

Mas nós preferimos encontrar nas Escrituras, lidas, interpretadas e aplicadas com o auxílio do Espírito Santo, a orientação segura para vivermos família.

Nosso ponto de partida é a dignidade humana. Ela é a base dos relacionamentos sadios. Tudo começa com o reconhecimento de que as pessoas à nossa volta, inclusive dentro de nossa família são dignas de respeito. Elas foram criadas por Deus e tem o direito de viverem o projeto de Deus.

Todos fomos criados por Deus com um propósito. E mesmo que você se sinta jogado na beira da estrada, não tenha dúvidas: há um propósito de Deus para sua existência.

Todos temos em nós a assinatura do criador, sua imagem e semelhança. E mesmo que você se sinta encostado no fundo de um garagem, coberto de poeira, você tem grande valor.

Da mesma forma que o seu coração se alegra em ouvir essas verdades, seu marido, sua esposa, seus filhos, seus pais, tios, avós, sogros, primos, também vão se alegra se você os tratar com a dignidade que eles merecem.

Somos iguais, mas Deus nos fez homens e mulheres. Ele nos fez sua imagem, nos deu a missão de moldar sua criação, mas nos fez diferentes. Essa diferença é um projeto dele para nossa realização mútua e para espelhar quem Ele mesmo é.

Que o Senhor nos ajude a prosseguir no desafio de viver família.