DE PAI PRA FILHO (2)
1Timóteo • Sermon • Submitted
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· 9 viewsBênçãos espirituais são endereçadas por um pai ao seu filho na fé
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INTRODUÇÃO À 1 TIMÓTEO
INTRODUÇÃO À 1 TIMÓTEO
Cuidado, amparo e direção são atitudes que se espera de um pai em relação ao(s) seu(s) filho(s). É exatamente isso que vemos Paulo fazendo em relação à Timóteo que não era o seu filho segundo a carne, mas seu filho segundo a fé.
Em 1274, Thomás de Aquino se referiu a essa carta como sendo uma "epístola pastoral", devido às diversas orientações ministeriais que Paulo deu à Timóteo, seu filho na fé. A carta de 1Timóteo, juntamente com 2Timóteo e Tito, compreendem os últimos escritos produzidos pelo apóstolo Paulo.
A respeito das características dessas epístolas, elas estão intrinsecamente associadas às epístolas de 1Coríntios e 2Coríntios por tratar de questões eclesiológicas (referente à igreja), mas contrastam a respeito dos destinatários. Enquanto as epístolas aos coríntios se dirigiam à igreja como um todo, as epístolas pastorais são dirigidas a "pessoas que serviam como embaixadores ou representantes apostólicos em certas regiões"[1] .
A epístola de Paulo a Timóteo sofreu algumas retaliações quanto a autoria, mas não há motivos para isso. Olhemos para a lista de argumentos contra e a favor da autoria paulina apresentada pelo Dr. Carlos Osvaldo Cardoso Pinto:
1. Argumentos Históricos: As epístolas estão ausentes dos primeiros cânones, mas os primeiros autores do segundo século citam as pastorais como Escritura.
2. Argumentos Cronológicos: Alguns afirmam que as "pastorais" não podem ser encaixadas em qualquer período conhecido da vida de Paulo e, por isso, são de origem pós-apostólica, mas esse argumento ignora a esperança de libertação de Paulo da sua primeira prisão em Roma (Fm 22). Em Fp 2.24 nós lemos que Paulo tinha convicção de que seria liberto. A própria tradição cristã assegura a libertação de Paulo (Clemente de Roma, Aos Coríntios, é o mais antigo e crucial, já que fala da ida de Paulo para o extremo oeste, o que confirma Rm 15.28).
3. Argumentos Eclesiásticos: A organização da igreja, com cargos de bispos, presbíteros e diáconos é colocada como argumento para afirmar que a epístola fora escrita no segundo século (por causa do aparente papel de Tito e Timóteo assumirem um papel como de bispos monárquicos), mas a verdade é que a hierarquia que encontramos nos Escritos de Inácio é muito mais complexa do que encontramos na epístola. Em 1Timóteo os termos bispos e presbíteros são utilizados intercambiavelmente, como em Atos 20. Timóteo e Tito foram colocados como delegados apostólicos na ocasião.
4. Argumentos Doutrinários: A ausência de temas paulinos e o combate a heresia gnóstica do segundo século, mas quem afirma isso ignora o fato de encontrarmos a justificação pela graça, por meio da fé, nas epístolas pastorais, Tt 3.5. Tema já formalizado por Paulo em várias outras epístolas (Gl 1.23; Fp 1.17; Ef 4.5). Sobre a heresia gnóstica do segundo século, não vemos um conteúdo definido desta suposta heresia, exceto os mitos judáicos (Tt 1.14), as genealogias (1Tm 1.3-7), e as controvérsias vagas (1Tm 6.3-5).
5. Argumentos Linguísticos: as ausências de palavras típicas de Paulo e a presença de nada menos que 175 hapax legoemena que também são encontradas em literaturas do segundo século são usadas para questionar a autoria paulina, mas a ausência de certas palavras não poderia ser um argumento conclusivo, uma vez que várias dessas palavras também estão ausentes em livro reconhecidamente paulinos. A presença dos hapax legomenas pode ser justificada pelo assunto diferente, ou crescimento do vocabulário de Paulo ou uso de amanuense diferente.
O Dr.Carlos Osvaldo (2008,p.428) resume dizendo que:
"não há razão persuasiva para se abrir mão da autoria paulina das epístolas pastorais. Elas se encaixam numa cronologia razoável dos anos finais da vida de Paulo; seus temas são coerentes com o desenvolvimento da doutrina, da prática e do governo na sétima década do primeiro século da era cristã. Seu estilo e vocabulário, embora um tanto diferentes das epístolas anteriores, são compatíveis com o vocabulário e o estilo paulinos, e a sua rápida atestação na literatura cristã invalida reivindicações de autoria no segundo século".
É possível que o apóstolo Paulo tenha escrito 1Timóteo depois da sua libertação da primeira prisão em Roma, quando da sua visita a Macedônia (1Tm1.3), entre o outono de 62 e o inverno de 63 d.C, uns 5 anos antes do seu martírio.
Timóteo, que esteve com Paulo na sua primeira prisão em Roma (Cl 1.1), fora enviado pelo apóstolo à Filipos depois da absolvição de Paulo (Fp 2.3) e depois se encontrou com Paulo em Éfeso (1Tm 1.3). A razão de Paulo voltar à Éfeso foi o surgimento dos "lobos ferozes" (At 20.29-30), como ele mesmo já havia previsto que aconteceria. Mesmo tendo advertido os presbíteros da igreja que isso iria acontecer, o seu coração pastoral, o fez desistir dos seus planos originais de ir à Espanha para lidar com essa insidiosa heresia que ameaçava as igrejas da Ásia. Himeneu, Alexandre e Fileto (1Tm 1.20; 2Tm 2.17) podem ter sido esses falsos mestres que atacaram a igreja. Vemos uma nova investida do legalismo judaizante atacando a igreja (1Tm 1.7-11; 6.4; 4.8), o que exigia atenção por parte do apóstolo. Por causa disso, quando chegou a época de Paulo partir, ele julgou necessário deixar Timóteo em Éfeso como seu representante legal para manter a ordem e a sã doutrina na igreja. A epístola serve como um vade mecum de Timóteo para a dura tarefa que enfrentaria.
O propósito geral da carta, combinando os sub propósitos pessoais e eclesiásticos pode ser descrito como sendo:
"Capacitar Timóteo a fornecer uma orientação eficaz para a igreja de Éfeso de modo que sua conduta seja coerente com seu caráter" (Pinto, 432).
No texto separado para nossa meditação, entendo que o cuidado paterno de Paulo para com o seu filho na fé, Timóteo, é a mensagem principal.
Podemos dividir o nosso texto ressaltando:
1. O cuidado de Paulo (1Tm 1.1)
a. Apóstolo de Cristo Jesus
Ele inicia a sua epístola se identificando como um apóstolo de Cristo Jesus. Essa era uma saudação comum de Paulo (Rm 1.1; Ef 1.1; Tt 1.1). Mas nesse contexto, demonstra um profundo cuidado com o ministério de Timóteo à frente da igreja em Éfeso. Pinto ( 2008, p.433) diz que “à luz dos fatos de que Timóteo estava lidando com os hereges e de que a carta visava uma audiência maior do que seu destinatário principal, sua autoridade apostólica era importante para Timóteo”.
William Hendriksen diz que “apóstolo”, “em seu sentido mais amplo, refere-se a todo mensageiro do evangelho, toda pessoa que é enviada em missão espiritual, quem quer que nessa qualidade represente a quem o enviou e leva a mensagem de salvação. O termo usado assim, Barnabé, Epafrodito, Apolo, Silvano e Timóteo são também chamados “apóstolos” (At 14.14; 1Co 4.6, 9; Fp 2.25; 1Ts 2.6; cf. 1.1; e ver também 1Co 15.7). Representam a causa de Deus, ainda que ao fazê-lo também podem representar certas igrejas em particular das quais são chamados “apóstolos” (cf. 2Co 8.23). Assim Paulo e Barnabé representam a igreja de Antioquia (At 13.1, 2), e Epafrodito é o “apóstolo” de Filipos (Fp 2.25). Sob essa conotação mais ampla, alguns incluiriam também Andrônico, Júnias (Rm 16.7) e Tiago, irmão do Senhor (Gl 1.19)”[2]
Paulo, entretanto, era apóstolo no sentido mais profundo, ele estava revestido com a autoridade daquele que o enviou, Jesus. Ele era apóstolo como os 12, mas um apóstolo nascido fora de tempo e com uma vocação específica, pregar aos gentios.
Hendriksen (2011, p.67) destaca cinco: características do apostolado, dos Doze e as de Paulo:
• Os apóstolos foram escolhidos, chamados e enviados por Cristo pessoalmente. Receberam a comissão diretamente dele (Jo 6.70; 13.18; 15.16, 19; Gl 1.6).
• Jesus, pessoalmente, os preparou para sua tarefa, tendo sido testemunhas presentes de suas palavras e seus feitos; especificamente são testemunhas de sua ressurreição (At 1.8, 22; 1Co 9.1; 15.8; Gl 1.12; Ef 3.2–8; 1Jo 1.1–3).
• Foram dotados com o Espírito Santo numa medida especial, e é este Espírito Santo quem os guia a toda a verdade (Mt 10.20; Jo 14.26; 15.26; 16.7–14; 20.22; 1Co 2.10–13; 7.40; 1Ts 4.8).
• Deus abençoa a obra deles, confirmando sua validade por meio de sinais e milagres, e dando-lhes muito fruto por meio de seu trabalho (Mt 10.1, 8; At 2.43; 3.2; 5.12–16; Rm 15.18, 19; 2Co 12.12; 1Co 9.2; Gl 2.8).
• O ofício não é restrito a uma igreja local nem se estende sobre um breve período; ao contrário, é para toda a igreja e vitalício (At 26.16–18; 2Tm 4.7, 8).
Mas Paulo deixa claro que ele era apóstolo...
i. Pelo mandato de Deus
A respeito do apostolado, Paulo faz questão de afirmar que Deus o escolheu para essa função (Rm 1.1; 1Co 1.1; 2Co 1.1; Gl 1.1; Ef 1.1; Cl 1.1; 2Tm 1.1,11). Ele não era um usurpador. Ele recebeu uma direção autoritativa ou uma missão clara do próprio Deus para se dirigir aos gentios, promovendo a fé que é dos eleitos de Deus e o pleno conhecimento da verdade segundo a piedade (Rm 11.13; 1Tm 2.7; Tt 1.1). Deus o chamou para ser apóstolo (Rm 1.1; 1Co 1.1) e, por isso, sofreu e estava sofrendo. Ele entendia perfeitamente que Deus o escolhera desde o ventre de sua mãe para o ministério (Gl 1.15), e que ministério era esse? Dar a conhecer o nome de Deus diante dos gentios, dos reis e dos filhos de Israel (At 9.15).
"Não foi um poderoso deste mundo, que decreta suas ordens, mas o Rei dos reis e o Senhor dos senhores (1Tm 6.15) que deu incumbência a seu apóstolo. Desde o começo até o fim de sua atuação Paulo está ciente dessa vocação e envio divinos; para ele isto representa impulso e autorização para o serviço"[3]
Atualmente muitos buscam títulos importantes para serem bajulados pelos homens, desejam posição visando admiração, mas Paulo foi buscado por Deus para sofrer por causa do Seu nome. Ele, que foi apóstolo, foi considerado a escória do mundo e, por diversas vezes, sofreu por causa do seu chamado.
A respeito de Deus, Paulo afirma que Ele é:
• Nosso salvador (1Tm 1.1)- Geralmente Paulo utiliza esse substantivo para se referir a Cristo como aquele que salvou o Seu povo dos seus pecados, mas aqui ele se refere a Deus Pai como Salvador.
A origem desse nome para Deus está no AT. Deus é o Redentos do Seu povo de Israel. É Ele quem salva. Ele libertou o Seu povo da escravidão do Egito e, em Cristo, libertou Seus eleitos do pecado. É interessante o fato de Paulo deixar claro que Deus é "nosso" Salvador, se referindo obviamente aos eleitos e a ele próprio e a Timóteo. A expressão pode parece apenas uma questão simples de introdução, mas na verdade ela traz uma profunda relação com toda a mensagem que Timóteo irá receber.
O Libertador, Salvador, de Timóteo e de Paulo é o mesmo ontem, hoje e sempre. Timóteo deveria desenvolver o seu ministério tendo firme convicção que é Deus quem liberta os homens, inclusive os que se opõe ao evangelho, como era o caso de Paulo. Neste caso sempre será correto dizer: "só Deus na causa".
Temos alguns textos em Paulo que mostram Deus tomando a iniciativa de salvar os homens:
1Coríntios 1.21 RA
21Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que creem pela loucura da pregação.
Efésios 2.4–5 RA
4Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, 5 e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, —pela graça sois salvos,
Filipenses 1.28 RA
28e que em nada estais intimidados pelos adversários. Pois o que é para eles prova evidente de perdição é, para vós outros, de salvação, e isto da parte de Deus.
• Pai (1Tm 1.2) - Deus não é somente o Salvador, mas também o Pai que abençoa o Seu povo. Ele é o Pai de Jesus Cristo e de todo aquele que crê no Filho (Jo 1.12). Se antes não fazíamos parte da família de Deus, hoje fazemos parte desta família e podemos afirmar que Deus é nosso Pai (Rm 8.15). Timóteo é filho espiritual de Paulo, mas é antes de tudo filho do próprio Deus.
Paulo também deixa claro que seu apostolado foi por decreto de Deus Pai, mas também...
ii. Pelo mandato de Cristo Jesus
Foi o próprio Senhor quem o comissionou. Hendriksen (2011,p.68) sabiamente destacou que "Ele pertence a Cristo, é enviado e comissionado por ele e, consequentemente, recebeu dele a autoridade. Em última análise, é Cristo mesmo quem ata e desata. É ele quem está operando em Paulo. A mensagem de Paulo é a mensagem de Cristo. A autoridade de Paulo é a autoridade de Cristo que lhe foi delegada. Seguindo o fluxo do pensamento, receber uma carta de orientação de um homem como esse era a mesma coisa que receber uma incumbência do próprio Cristo e ter a autoridade do próprio Senhor.
Cristo Jesus é:
• Nossa esperança (1Tm 1.1)
"Diante de circunstância que para o homem poderia parecer sem esperança, Cristo Jesus se apresenta como “nossa Esperança”, ou seja, o próprio fundamento de nosso sincero anelo, nossa confiante expectativa e nossa paciente espera pela manifestação da salvação em toda sua plenitude (cf. 1.16; 6.14–16, 19). É ele quem tornou possível e real essa esperança. É ele quem a revitaliza diariamente. É ele a Fonte, bem como o Objeto, de nossa esperança (cf. At 28.20; Cl 1.27)" (William Hendriksen, 2011, 70).
• Nosso Senhor (1Tm 1.2)- Paulo é apóstolo, mas também é servo. Escreve a Timóteo como apóstolo e pai na fé, mas também como alguém que está debaixo da autoridade de outro e deve honra ao outro. Timóteo deve lembrar que Paulo além de Pai espiritual também é apóstolo, mas que a sua submissão maior é a Cristo Jesus, o Senhor. Todos os líderes de ministério deveriam entender, assimilar essa tremenda verdade: tudo o que fazemos, seja em palavras ou em ação deve ser feito para o Senhor e não para os homens. É a Cristo que prestaremos contas. Mas também é de Cristo que vem a nossa autoridade. Ele é o Senhor soberano que nos separou com santa vocação para a obra do ministério (1Tm 1.12).
2. O filho de Paulo
a. Timóteo
• Verdadeiro filho na fé
O que sabemos sobre Timóteo? Bom, sabemos que
1. ele morava em Listra, uma cidade da Licaônia, uma região da província da Galácia.
2. Filho de pai grego e mãe judia (At 16.1), cujo nome era Eunice (2Tm 1.5), elogiada por Paulo por causa da sua fé sem fingimento.
3. Timóteo foi criado sob a influência das Escrituras hebraicas desde a sua infância por meio da sua mãe e avós, Lóide (2Tm 3.15;1.5).
4. Provavelmente, Timóteo foi convertido ao cristianismo durante a primeira viagem missionária de Paulo, por meio do ministério pessoal dele (cf. 1Co 4.17; 1Tm 1.2; 2Tm 1.2).
5. Timóteo se destacou tanto na fé que quando Paulo voltou para a Galácia, alguns anos mais tarde, o seu filho na fé já era um obreiro cristão reconhecido (At 16.2).
6. Paulo tomou Timóteo como seu companheiro de viagem, depois de tê-lo circuncidado (At 16.3).
7. É possível que antes da partida para a primeira viagem com Paulo, Timóteo tenha sido "ordenado" pelos presbíteros da igreja de Listra (1Tm 4.14; 2Tm 1.6).
8. Timóteo foi o amigo mais chegado de Paulo e extremamente útil ao apóstolo na Macedônia (At 19.22; Fp 2.19-22), Acaia (1Co 4.17), e Ásia (1Tm 1.3).
9. No final da sua vida, Paulo desejava que Timóteo estivesse ao seu lado (2Tm 4.9).
Paulo toma para si o direito de chamar Timóteo de seu verdadeiro filho na fé. Isso, de forma alguma, implica em tirar de Deus a glória devida ao Seu nome ou querer, com isso, dizer que Timóteo veio à fé sem a ação soberana de Deus, mas por meio da instrumentalidade de Paulo. Deus usou Paulo para transformar a vida de Timóteo. Então, como bem afirmou Calvino: "Deus era o Pai espiritual de Timóteo, e, estritamente falando, exclusivamente ele; Paulo, porém, que fora ministro de Deus no novo nascimento de Timóteo, reivindica para si direito ao título, porém em segundo plano"[4]
Como pastor que começou cedo o ministério, eu posso falar com propriedade como faz falta um Paulo na vida de um Timóteo. O ministério é cercado de desafios, internos e externos. Os desafios se potencializam quando o pastor é novo e não lhe dão crédito. O ministério pode ser sufocante e solitário. Não é fácil para um pastor ter que lidar com as tentações do pecado, com as acusações de Satanás e ainda por cima com o desprezo dos irmãos e as perseguições de homens desviados da verdade. Para Timóteo, ter nas mãos uma carta do seu pai na fé, que também é apóstolo de Cristo, dando orientações sobre o que ele deveria fazer na igreja, foi, sem sombra de dúvida, um descanso e ao mesmo tempo uma injeção de ânimo.
3. O anseio de Paulo
Paulo deseja que "graça, misericórdia e paz" estejam com Timóteo. "Essa tríade é encontrada apenas nas epístolas pastorais, como que para indicar que os homens num papel pastoral precisam de uma provisão extra de capacitação divina" (Pinto, 2008, p.433).
a. Graça - para fazer tudo o que Deus pede - capacitação extra de força. Graça sobre graça. A graça que salva também capacita para a missão e para a santificação. Nenhum cristão deve fazer a obra na sua própria força, mas na suficiência que vem de Cristo. Paulo roga que Deus conceda gratuitamente esse favor para o seu amado filho na fé.
b. Misericórdia - Somente nas epístolas pastorais é que Paulo acrescenta a misericórdia na sua comum saudação. Agora, por que será que ele incluiu "misericórdia" nesta saudação? Um dos motivos pode estar ligado ao seu profundo afeto pelo seu filho na fé. É como se Paulo estivesse orando para que Deus fosse compassivo com seu filho, perdoando as suas falhas e ao mesmo tempo mantendo sobre ele a Sua compaixão. Outro motivo pode estar ligando ao próprio ministério. Timóteo teria um grande desafio pela frente e, diante de sua miséria e incapacidade, clamar por misericórdia seria algo apropriado. Muitos pastores estão “deitados” nas estradas, feridos, olhando muitos passando a largo por eles e, quase sem esperanças, aguardam o cuidado do bom samaritano, Jesus. Deus ampare os seus pastores e cure as feridas da alma para que exerçam o seu ministério com alegria e não com pesar.
c. Paz - é a consciência de que fomos reconciliados com Deus por intermédio da nossa fé em Jesus Cristo. Graça é a fonte, e paz é o fluxo que emana dessa fonte (cf. Rm 5.1). Em meio às dificuldades do ministério, Timóteo e todos os pastores podem encontrar paz em Deus e ter paz com Deus.
Conclusão:
Na introdução à 1Timóteo, aprendemos sobre o cuidado paterno de Paulo, quem era Timóteo, o verdadeiro filho na fé de Paulo e o anseio desse pai de que a bênção de Deus estivesse sobre a vida e o ministério do seu filho.
Você tem filhos? Você tem cuidado, amparado e direcionado os seus filhos a respeito dos caminhos do Senhor? E filhos espirituais, você os tem? Quem foi o seu pai espiritual? Você recebe(eu) apoio, amparo e direção do seu pai espiritual?
[1] Carlos Osvaldo Cardoso Pinto, Foco e desenvolvimento no Novo Testamento; Foco no Novo Testamento (São Paulo: Hagnos, 2008), 425
[2] William Hendriksen, 1 e 2 Timóteo e Tito, ed. Cláudio Antônio Batista Marra, trans. Valter Graciano Martins, 2a edição., Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2011), 66.
[3] (Hans Bürki, Comentário Esperança, Primeira Carta a Timóteo. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2007, 173.)
[4] João Calvino, Pastorais, ed. Franklin Ferreira e Tiago Santos, trans. Valter Graciano Martins, Primeira Edição., Série Comentários Bíblicos. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2009, 23.