O arrependimento que todos nós precisamos diariamente
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Assunto: Arrependimento
Tema: O arrependimento que todos nós precisamos diariamente
Autor: Ricardo Moreira
Local: 18ª Igreja Presbiteriana Renovada de Goiânia
Data: 13/08/2022
Texto chave: Salmo 51
Salmo 51.1–19 -“1 Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; e, segundo a multidão das tuas misericórdias, apaga as minhas transgressões. “2 Lava-me completamente da minha iniquidade e purifica-me do meu pecado. “3 Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. “4 Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mau perante os teus olhos, de maneira que serás tido por justo no teu falar e puro no teu julgar. “5 Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe. “6 Eis que te comprazes na verdade no íntimo e no recôndito me fazes conhecer a sabedoria. “7 Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo que a neve. “8 Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que exultem os ossos que esmagaste. “9 Esconde o rosto dos meus pecados e apaga todas as minhas iniquidades. “10 Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável. “11 Não me repulses da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito. “12 Restitui-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário. “13 Então, ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e os pecadores se converterão a ti. “14 Livra-me dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação, e a minha língua exaltará a tua justiça. “15 Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca manifestará os teus louvores. “16 Pois não te comprazes em sacrifícios; do contrário, eu tos daria; e não te agradas de holocaustos. “17 Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus. “18 Faze bem a Sião, segundo a tua boa vontade; edifica os muros de Jerusalém. “19 Então, te agradarás dos sacrifícios de justiça, dos holocaustos e das ofertas queimadas; e sobre o teu altar se oferecerão novilhos.” (Salmo 51.1–19, RA)
1. INTRODUÇÃO
1. INTRODUÇÃO
Muito temos falado até aqui sobre arrependimento, culpa, pecado, perdão, etc. Tudo isso é muito importante, sem dúvidas. Mas deixe-me iniciar esta noite com a seguinte pergunta:
O que significa arrependimento?
Não é estranho isso? Estamos falando de um assunto há dias, mas ainda assim temos dificuldade em conceituar o tema.
Por isso nesta noite iremos propor dois movimentos. Num primeiro movimento iremos conceituar o “Arrependimento”. Depois, num segundo movimento, iremos demonstrar de forma prática, como se arrepender, e os efeitos decorrentes de um arrependimento sincero.
2. O QUE É ARREPENDIMENTO?
2. O QUE É ARREPENDIMENTO?
Já lhe perguntaram o que você faria de maneira diferente, se pudesse reviver a sua vida? Fico admirado quando as pessoas respondem que não fariam nada de maneira diferente. Não posso imaginar alguém que não tenha nada que não desejaria mudar. Não é mesmo verdade que todos nós temos algo de que sentimos remorso? Evidentemente, como cristãos que entendemos o nosso pecado, aproveitaríamos a chance de reviver alguma parte de nosso passado. Talvez tenhamos palavras que apreciaríamos desdizer ou cenas dolorosas que gostaríamos de reescrever. Estes desejos se referem à nossa necessidade de arrependimento.
É vitalmente importante que entendamos o conceito bíblico de arrependimento. Isto é central não apenas ao Novo Testamento, mas a toda a Escritura. O evangelho de Marcos começa com o aparecimento de João Batista, que surge do deserto e anuncia a chegada do Reino de Deus. A sua mensagem ao povo de Israel era muito simples: chamava-os ao arrependimento. Pouco tempo depois disto, Jesus começou seu ministério público, pregando exatamente a mesma mensagem:
“Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galileia, pregando o evangelho de Deus, dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1.14–15).
Este tema se repete em todo o Novo Testamento. Quando pessoas ouviam a Cristo ou à pregação dos apóstolos, respondiam frequentemente por indagar: “O que devemos fazer?”. As respostas tinham uma forma semelhante – “Creiam em Cristo”, “Creiam e sejam batizados” ou “Arrependam-se e sejam batizados”.
Visto que este conceito de arrependimento é tão central à pregação dos apóstolos, é muito importante que o entendamos.
2.1. Definição
2.1. Definição
A palavra arrependimento vem da palavra grega metanoia. O prefixo meta pode significar “com”, “ao lado de” ou “depois”.
Um derivado em português é metafísica. O estudo da física é o estudo daqueles elementos da natureza que são visíveis, perceptíveis e físicos. Metafísica é uma tentativa de ir além da esfera do mundo físico, à esfera transcendental.
A raiz noia é uma forma verbal do substantivo, que achamos frequentemente na Bíblia como nous. Esta é apenas a palavra grega que significa “mente”. Em sua forma mais simples, metanóia tem a ver com “a mente depois” ou, como poderíamos dizer, “uma reconsideração”. Na língua grega, esta palavra chegou a significar “uma mudança significativa da mente”.
Portanto, no sentido mais rudimentar, o conceito de arrependimento, na Bíblia, significa “mudar a mente”.
No entanto, logo veremos que isto não é apenas uma questão de julgamento intelectual, tal como mudar nossa abordagem depois de tentarmos resolver um problema. Falando de modo geral, metanóia tem a ver com a mudança da mente de uma pessoa com relação ao seu comportamento. Contém a ideia de arrepender-se.
· Arrepender-se de algo implica sentir remorso por uma ação específica.
· Leva consigo não somente um assentimento intelectual, mas também uma resposta emocional.
O sentimento mais frequentemente associado com o arrependimento é o de remorso, pesar e um senso de tristeza por haver agido de uma maneira específica. Logo, o arrependimento envolve tristeza por uma forma de comportamento anterior.
O conceito bíblico de arrependimento está enraizado profundamente na experiência de Israel, no Antigo Testamento. Quando estudiosos examinam o conceito de arrependimento no Antigo Testamento, fazem usualmente uma distinção entre dois tipos de arrependimento. O primeiro é o arrependimento cultual ou ritualista, e o segundo é o arrependimento profético.
2.2. Arrependimento cultual ou ritualista
2.2. Arrependimento cultual ou ritualista
Primeiramente, vamos considerar o arrependimento cultual ou ritualista. O termo cultual, usado em seu sentido teológico verdadeiro, refere-se a padrões comportamentais ou à vida religiosa de determinada comunidade.
O culto de Israel, no Antigo Testamento, era sua prática comunal de observâncias religiosas. Foi Deus mesmo quem instituiu o culto de Israel.
2.2.1. Os rituais externos de arrependimento no AT
2.2.1. Os rituais externos de arrependimento no AT
Os rituais de arrependimento, no Antigo Testamento, incluíam frequentemente uma chamada ao jejum durante uma assembleia solene. Quando os israelitas estavam no deserto, congregavam-se na frente do tabernáculo; depois, em tempos posteriores, no templo. Então, os profetas anunciavam o julgamento de Deus e convocavam o povo a um jejum geral. Para remover a ira de Deus, todos ficariam sem alimentos por um período específico de tempo, como um sinal nacional de arrependimento.
Israel, o povo de Deus, também foi instruído a vestir certos tipos de roupa que funcionariam como um símbolo externo de um arrependimento interior, de coração. Por exemplo, lemos sobre pessoas que vestiam “pano de saco e cinzas”. Muitos usavam roupas ásperas e desconfortáveis como um tipo de medida punitiva, infligindo desconforto como uma marca de arrependimento.
Alguns poderiam também pegar cinzas e espalhar sobre as suas vestes ou sobre a testa. Este processo ritualista era um sinal de autoabatimento. Por exemplo, depois que Deus falou com Jó a partir do redemoinho, este disse: “Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza” (Jó 42.6).
Juntamente com a mudança de vestes, havia um tipo específico de canção que era cantada. Era uma canção de lamento, uma canção que expressava tristeza. Às vezes, o lamento era usado quando alguém morria ou acontecia uma catástrofe.
Além disso, orações específicas de arrependimento faziam parte do sistema religioso de Israel. O livro de Salmos, como um tipo de hinário para o povo de Deus, contém orações e poesia colocadas em música e cantadas como parte da liturgia da comunidade de Israel. É formado de diferentes gêneros: salmos de lamento, salmos de ação de graças e salmos reais, entre outros.
O mais famoso dos salmos penitenciais é o Salmo 51. Neste salmo, Davi registra sua confissão emocional de pecado, após ter sido confrontado pelo profeta Natã, em razão de seus pecados contra Urias e Bate-Seba.
As práticas rituais e cultuais do Antigo Testamento permitiam ao povo expressar, verbalizar e demonstrar sua tristeza pelo pecado.
2.2.2. Como fazemos isso hoje?
2.2.2. Como fazemos isso hoje?
Mas, como fazemos isto hoje? Como mostramos um coração contrito por havermos ofendido a Deus? Como demonstramos isto na vida da igreja?
Na Igreja Católica Romana, todo um sistema de penitência está ligado aos sacramentos da igreja, mas parece que os protestantes se perderam, no que concerne a possuir um método prescrito para mostrar arrependimento.
Tão perigoso como as formas específicas de arrependimento, vem o perigo de externalismo. Como veremos, deve ser dada importância primária ao coração. No entanto, ignoramos frequentemente a capacidade de demonstrarmos nosso arrependimento. Neste assunto, podemos, como as pessoas do Antigo Testamento, achar proveitoso ter maneiras mais estruturadas de demonstrar esta mudança de coração.
A bíblia nos fornece alguns modelos de arrependimento, de como a igreja de Deus deve agir em momentos de arrependimento nacional. Veremos primeiro o exemplo de Joel, e depois de Davi.
3. JOEL - UM QUADRO DE ARREPENDİMENTO
3. JOEL - UM QUADRO DE ARREPENDİMENTO
Durante os séculos VII e VIII antes de Cristo, grandes profetas, como Amós, Jeremias, Isaías e Oseias, se dirigiram ao povo para lembrar-lhes que Deus exige tristeza santa e piedosa, que vem do coração.
A questão crucial era esta: o povo era chamado a rasgar o coração e não as vestes.
Quando os profetas exortavam as pessoas desta maneira, não estavam se opondo à prática de rasgar as vestes, mas estavam dizendo que não basta alguém rasgar as vestes como um sinal de arrependimento; o coração precisa ser igualmente rasgado.
Quando compreendemos que temos ofendido a Deus, devemos sentir esta ruptura de nossa alma.
No capítulo 1, lemos que Joel convoca uma assembleia solene, para que as pessoas ouçam um anúncio da parte de Deus.
Um julgamento severo caíra sobre o povo de Deus. A terra fora destruída por seca e invasão de insetos (gafanhotos), que consumiram as colheitas do povo. Tudo isto é percebido pelo profeta como a mão de juízo de Deus sobre o povo, por causa de seu pecado. Portanto, o povo é chamado a converter-se, a mudar sua mente, a arrepender-se.
Joel diz: “Ébrios, despertai-vos e chorai; uivai, todos os que bebeis vinho, por causa do mosto, porque está ele tirado da vossa boca” (v. 5).
Até as colheitas das vinhas foram destruídas; e aqueles que dormiam o sono da embriaguez foram chamados a despertar e ver que o prazer que recebiam do fruto das vinhas acabara. Joel está anunciando que chegara o dia de arrependimento.
“Os sacerdotes, ministros do SENHOR, estão enlutados. O campo está assolado, e a terra, de luto, porque o cereal está destruído, a vide se secou, as olivas se murcharam” (1.9b–10).
Na economia do antigo Israel, o óleo de oliva era muito importante. O profeta está dizendo: “Toda a economia nacional de Israel está em ruína. Tudo está seco. Envergonhem-se, agricultores. Lamentem, vinhateiros. Lamentem pelo trigo e pela cevada, porque a safra no campo pereceu, e o regozijo desapareceu”.
No versículo 13, vemos de novo as instruções para mostrar arrependimento:
“Cingi-vos de pano de saco e lamentai, sacerdotes; uivai, ministros do altar; vinde, ministros de meu Deus; passai a noite vestidos de panos de saco; porque da casa de vosso Deus foi cortada a oferta de manjares e a libação”.
Quando os sacerdotes se tornaram corruptos, a verdadeira piedade foi ocultada do povo. Em vez de educarem o povo na piedade, os falsos profetas e os sacerdotes corruptos tentavam agradar ao povo, em vez de ministrar-lhes. Em vez de exortarem às pessoas, eles as bajulavam. Em lugar de chamarem o povo ao arrependimento quando pecavam, os sacerdotes faziam conluio com as pessoas, fazendo com que se sentissem bem, em vez de arriscarem ofendê-las. Era uma religião do tipo “sinta-se bem”. Mas o profeta vem com a Palavra de Deus e diz aos sacerdotes: “Uivai, clamai e passai a noite vestidos de panos de saco”.
O versículo seguinte diz:
“Promulgai um santo jejum, convocai uma assembleia solene, congregai os anciãos, todos os moradores desta terra, para a Casa do SENHOR, vosso Deus, e clamai ao SENHOR” (V. 14).
O conceito central de arrependimento no Antigo Testamento pode ser resumido em uma palavra: conversão.
3.1.1. A conversão como resultado do arrependimento
3.1.1. A conversão como resultado do arrependimento
Na vida de toda pessoa há um ponto de mudança, um momento crucial que define nossa existência.
Antes de o pecado entrar no mundo, houve um tempo quando toda a raça estava incorporada em nosso cabeça federal, Adão, que nos representava diante de Deus, gozava de obediência diante de Deus e de perfeita comunhão com ele. Perdemos essa comunhão perfeita quando nos afastamos de Deus e cada pessoa passou a seguir seu próprio caminho.
Por isso, hoje, quando chamamos as pessoas à conversão, ainda é apropriado pensarmos na conversão em termos de “ir ao lar” – voltar para onde estávamos originalmente, na presença de Deus, em comunhão com Deus e em submissão a Deus. A chamada ao arrependimento é uma chamada a retornar, uma chamada a voltar para o lar.
Antes da metanoia, antes do arrependimento de conversão, a vida de uma pessoa se dirige para longe de Deus. Quanto mais vivemos em impenitência e permanecemos num estado de não convertido, para tanto mais longe nos afastamos de Deus. A conversão não significa que saltamos de imediato do pecado para a perfeição, mas que nossa vida é mudada fundamentalmente. Desde o momento da conversão, nossa vida se move numa direção diferente, em direção a Deus.
Pense nos momentos de mudança mais cruciais em sua vida. Quais foram esses momentos, as decisões ou os eventos que o afastaram de Deus? Quais desses momentos em sua vida o mudaram para melhor? Agora pergunte a si mesmo: você é uma pessoa convertida? Para onde você está indo? Em que direção você está se movendo? A sua vida precisa mudar?
4. SALMO 51, UM MODELO DE ARREPENDIMENTO
4. SALMO 51, UM MODELO DE ARREPENDIMENTO
A ideia de ser limpo está no âmago do conceito bíblico de arrependimento. Podemos ser tentados a pensar no arrependimento apenas em termos de perdão, mas o arrependimento também envolve limpeza. Somos corruptos e devemos ser purificados.
Nosso guia em explorar este tema será o Salmo 51. Um dos salmos penitenciais, este salmo foi escrito por Davi quando confrontado pelo profeta Natã. O profeta declarou que Davi pecara gravemente contra Deus, ao tomar Bate-Seba para ser sua mulher e assassinar Urias, marido de Bate-Seba.
4.1. Salmo 51 – Um modelo de arrependimento
4.1. Salmo 51 – Um modelo de arrependimento
É importante que vejamos a angústia e o remorso sinceros expressos por Davi, mas devemos também entender que o arrependimento de coração é obra do Espírito Santo. Davi se arrependeu por causa da influência do Espírito Santo nele. Não somente isto, mas, quando ele escreveu sua oração, estava escrevendo sob a inspiração do Espírito Santo. O Espírito Santo demonstra, no Salmo 51, como ele produz o arrependimento em nosso coração. Tenha isto em mente, enquanto consideramos este salmo.
4.2. Devemos rogar por misericórdia (v.1)
4.2. Devemos rogar por misericórdia (v.1)
O Salmo 51 começa assim:
“Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; e, segundo a multidão das tuas misericórdias, apaga as minhas transgressões” (v. 1).
Aqui, vemos um elemento que é fundamental ao arrependimento. Geralmente, quando uma pessoa se torna consciente de seu pecado e se converte dele, ela se lança à misericórdia de Deus.
· O primeiro fruto do arrependimento autêntico é o reconhecimento de nossa profunda necessidade de misericórdia.
Davi não pediu a Deus justiça. Davi sabia que, se Deus tivesse de lidar com ele de acordo com a justiça, seria imediatamente destruído. Como resultado, Davi começou sua confissão com um apelo por misericórdia.
4.3. O pecado necessita ser completamente lavado (v.2)
4.3. O pecado necessita ser completamente lavado (v.2)
Salmos 51:2 - Lava-me completamente da minha iniquidade, e purifica-me do meu pecado.
Quando Davi rogou a Deus que apagasse as suas transgressões, estava pedindo que Deus removesse a mancha de sua alma, que cobrisse sua injustiça e o limpasse do pecado que se tornara uma parte permanente de sua vida. Por isso, ele disse: “Lava-me completamente da minha iniquidade e purifica-me do meu pecado” (v. 2).
4.3.1. Perdão e purificação estão ligados, mas são diferentes
4.3.1. Perdão e purificação estão ligados, mas são diferentes
As ideias de perdão e purificação estão relacionadas, mas não são a mesma coisa. No Novo Testamento, o apóstolo João escreveu: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1.9). Em um espírito de arrependimento, vamos à presença de Deus e confessamos nosso pecado, buscando não apenas o perdão, mas também a força para nos refrearmos de cometer outra vez o mesmo pecado.
4.4. Devemos reconhecer nossa impotência diante pecado (v.3)
4.4. Devemos reconhecer nossa impotência diante pecado (v.3)
Vejamos como Davi reconheceu sua impotência diante do pecado.
Davi prosseguiu: “Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim” (Sl 51.3).
Isto não é simplesmente um reconhecimento casual de culpa. Não há nenhuma tentativa de autojustificação. Davi está reconhecendo que não importa o que ela faça, esse pecado sempre estará diante dele, ou seja, o pecado o perseguia.
Nós, porém, somos frequentemente peritos em racionalizar e prontos a desculpar a nós mesmos, por apresentarmos todos os tipos de razão para nosso comportamento pecaminoso. Mas, neste texto, pelo poder do Espírito Santo, Davi foi levado ao ponto em que se mostrou honesto diante de Deus. Davi admitiu sua culpa, reconhecendo que seu pecado era sempre presente. Não podia se livrar dele, e isto o perseguia.
4.5. Todo pecado, em última análise é contra Deus (v.4a)
4.5. Todo pecado, em última análise é contra Deus (v.4a)
Então, ele clamou: “Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mau perante os teus olhos” (v. 4a).
Em um sentido, aqui Davi estava usando uma hipérbole. Ele havia pecado horrivelmente contra Urias, a família e amigos de Urias, Bate-Seba e toda a nação.
Mas Davi entendeu que o pecado é, essencialmente, uma ofensa contra Deus, porque Deus é o único ser perfeito no universo.
Visto que Deus é o juiz do céu e da terra, todo pecado é definido em referência à transgressão da lei de Deus, sendo uma ofensa contra a sua santidade. Davi sabia disto e o reconheceu. Ele não estava minimizando a realidade de seu pecado contra os seres humanos, mas reconheceu a essencialidade de seu pecado contra Deus.
4.6. O pecado pode atrair a ira de Deus (v.4b)
4.6. O pecado pode atrair a ira de Deus (v.4b)
Em seguida, Davi fez uma afirmação que é frequentemente ignorada. Ela se acha na segunda parte do versículo 4; é uma das mais poderosas expressões de verdadeiro arrependimento que achamos nas Escrituras:
“De maneira que serás tido por justo no teu falar e puro no teu julgar” (v. 4b).
Basicamente, Davi estava dizendo: “Ó Deus, tu tens todo o direito de me julgar, e é claro que eu mereço nada mais do que teu julgamento e tua ira”. Não há barganha ou negociação com Deus.
4.7. Davi conhecia seu estado pecaminoso (v.5-6)
4.7. Davi conhecia seu estado pecaminoso (v.5-6)
“Eu nasci na iniquidade, e em pecado me concebeu minha mãe. Eis que te comprazes na verdade, no íntimo e no recôndito me fazes conhecer a sabedoria” (vv. 5–6).
Davi não somente reconhecia seu pecado, mas tinha plena consciência de seu estado pecaminoso. O estado pecaminoso é bem maior que um simples pecado. Ele tinha ciência que seu estado era totalmente depravado.
4.8. Além do arrependimento, devemos pedir por purificação (v.7)
4.8. Além do arrependimento, devemos pedir por purificação (v.7)
Em seguida, Davi clamou novamente por purificação:
“Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo que a neve” (v. 7).
Podemos ouvir o desamparo total na voz de Davi. Ele não disse: “Deus, espere um minuto. Antes que eu continue este diálogo em oração, tenho de limpar as mãos. Tenho de ficar limpo”.
Davi sabia que era incapaz de remover de si mesmo a mancha de sua culpa. Temos de nos unir a Davi em reconhecer que não podemos fazer expiação por nossos próprios pecados.
4.9. O peso da culpa do pecado quebra o homem (v.8)
4.9. O peso da culpa do pecado quebra o homem (v.8)
Salmos 51:8 Faze-me ouvir de novo júbilo e alegria; e os ossos que esmagaste exultarão.
O arrependimento é uma coisa dolorosa. Quem gosta de passar pela confissão de pecado e o reconhecimento de culpa? A culpa é o maior estragador de prazer que existe.
Não é uma afirmação interessante? Ele disse: “Deus, tu me esmagaste. Meus ossos estão quebrados; não foi Satanás, ou Natã quem me quebrou os ossos, mas tu quebraste meus ossos”.
Muitas vezes não paramos para pensar no que o pecado pode fazer com nossas vidas, mas a bíblia nos ensina que o pecado pode gerar muitos problemas. Além das doenças emocionais, pode gerar também várias doenças psicossomáticas.
4.10. Passo seguinte, é pedir um coração puro (v.9-10)
4.10. Passo seguinte, é pedir um coração puro (v.9-10)
Depois, ele disse: “Esconde o rosto dos meus pecados e apaga todas as minhas iniquidades. Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável” (vv. 9–10).
O verdadeiro arrependimento também gera, indubitavelmente, um desejo de ter o coração regenerado. Se o seu arrependimento ainda não gerou esse coração puro, é porque foi um arrependimento somente intelectual, ritual, cultual, exterior.
A única maneira de termos um coração puro é por meio da obra divina de recriação. Sou incapaz de criar isso em mim mesmo. Somente Deus pode criar um coração puro, e ele cria realmente um coração puro, por apagar nosso pecado.
4.11. O arrependido sabe da importância da presença do Espírito Santo (v.11)
4.11. O arrependido sabe da importância da presença do Espírito Santo (v.11)
Em seguida, Davi suplicou:
“Não me repulses da tua presença, nem me retires o teu Santo Espírito” (v. 11).
Ele compreendeu que isso era a pior coisa que poderia acontecer a qualquer pecador. Davi sabia que Deus nos excluirá realmente de sua presença se persistirmos em impenitência. Jesus advertiu que as pessoas que o rejeitam serão lançadas para longe de Deus para sempre. Mas a oração de arrependimento é um refúgio para o crente. É a resposta piedosa daquele que sabe que está em pecado. Este tipo de resposta deveria caracterizar a vida de todos que são convertidos.
4.12. O arrependido perdoado precisa da alegria e certeza da salvação (v.12-13)
4.12. O arrependido perdoado precisa da alegria e certeza da salvação (v.12-13)
“Restitui-me a alegria da tua salvação e sustenta-me com um espírito voluntário. Então, ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e os pecadores se converterão a ti” (vv. 12–13).
Ouvimos, muitas vezes, que pessoas não gostam de estar na presença de cristãos, porque estes manifestam uma atitude de presunção e justiça própria ou uma atitude de “sou mais santo do que você” e “sempre faço o que é certo”. Mas isto não deveria acontecer. Os cristãos não tem nada de que se gloriarem; não somos pessoas justas que tentam corrigir os injustos. Como disse um pregador: “Evangelização é apenas um mendigo dizendo a outro mendigo onde achar pão”. A principal diferença entre o crente e o incrédulo é o perdão. A única coisa que qualifica uma pessoa para ser um ministro em nome de Cristo é que ela experimentou o perdão e quer contar isso aos outros.
4.13. O perdão não pode ser adquirido por sacrifícios externos (v. 15-17)
4.13. O perdão não pode ser adquirido por sacrifícios externos (v. 15-17)
“Salmos 51:15-17 Ó Senhor, dá palavras aos meus lábios, e a minha boca anunciará o teu louvor. (51:16) Não te deleitas em sacrifícios nem te agradas em holocaustos, se não eu os traria. (51:17) Os sacrifícios que agradam a Deus são um espírito quebrantado; um coração quebrantado e contrito, ó Deus, não desprezarás.”
É aqui que achamos o âmago e essência do arrependimento profético, como vimos no capítulo anterior. A verdadeira natureza do arrependimento piedoso se acha na expressão “coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus”.
Davi estava dizendo que, se pudesse expiar seus próprios pecados, ele o faria; entretanto, a sua única esperança era que Deus o aceitaria de acordo com a sua misericórdia.
A Bíblia nos diz explicitamente e nos mostra, de modo implícito, que Deus resiste ao orgulhoso e dá graça ao humilde. Davi sabia que isto era verdade.
Embora estivesse abatido, Davi conhecia a Deus e sabia como ele se relaciona com pessoas arrependidas. Entendia que Deus nunca odeia e despreza um coração compungido e contrito. Isto é o que Deus deseja de nós. Isto é o que Jesus tinha em mente nas bem-aventuranças, quando disse: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mt 5.4).
4.14. Conclusão
4.14. Conclusão
Recomendo que todos os cristãos memorizem o Salmo 51. É um modelo perfeito de arrependimento.
Muitas vezes, já me aproximei do Senhor e lhe disse: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro” ou: “Apaga as minhas transgressões. Purifica-me com hissopo. Lava-me e purifica-me”. Muitas vezes, eu orei: “Ó Senhor, restitui-me a alegria da tua salvação” e clamei: “Pequei contra ti, contra ti somente”.
Quando nos sentimos tomados pela realidade de nossa culpa, nos faltam palavras para nos expressarmos em tristeza diante de Deus. Ter as palavras da própria Escritura em nossos lábios, nessas ocasiões, é verdadeiramente uma bênção.
5. REGENERAÇÃO E ARREPENDIMENTO
5. REGENERAÇÃO E ARREPENDIMENTO
Muitos séculos atrás, Agostinho criou uma controvérsia com uma simples oração. Ele orou: “Dá o que tu ordenas, e ordenas o que quiseres”. Pelágio, o famoso contendedor teológico de Agostinho, não gostou e reagiu muito negativamente. Ele argumentou que, se Deus ordena algo, a razão indicaria que somos capazes, sem qualquer ajuda de Deus, de fazer o que ele ordena.
No entanto, Agostinho reconheceu o que Pelágio se recusou a admitir – que somos criaturas caídas, e, desde a Queda, somos moralmente incapazes de fazer tudo que Deus ordena. A Queda nos afeta em todos os níveis de nossa capacidade.
Por exemplo:
· Deus ordena obediência perfeita; e quem entre nós é capaz de oferecer este tipo de obediência a Deus?
· Deus ordena que sejamos santos como ele é santo, mas não somos santos. Como criaturas caídas, não temos em nós o poder moral para a santidade.
Um dos grandes temas do Novo Testamento é que Deus, em sua graça, nos capacita a fazer o que ele nos ordena. Seu primeiro mandamento é que nos arrependamos. Esta foi a mensagem tanto de João Batista, como de Jesus, no começo de seus ministérios. Entretanto, como podemos nos arrepender, se estamos completamente sob o poder do pecado?
O arrependimento genuíno é algo que é operado em nós, por meio do Espírito Santo. É uma atividade graciosa da parte de Deus. Já vimos que a conversão e o arrependimento estão ligados inseparavelmente. Se examinamos com atenção o conceito de fé no Novo Testamento, a qual é a exigência suprema para a redenção, aprendemos que o arrependimento piedoso é uma parte integral da fé. Se uma pessoa tem fé, mas não arrependimento, essa pessoa não tem fé autêntica. Essa pessoa não possui os ingredientes necessários para a redenção; a conversão é um resultado de fé e arrependimento.
Conversão = Fé + Arrependimento
Sermão baseado no livro de
R. C. Sproul, O Que é Arrependimento?, org. Tiago J. Santos Filho, trad. Francisco Wellington Ferreira, 1a Edição, vol. 17, Questões Cruciais (São José dos Campos, SP: Editora FIEL, 2014), 7–43.