1 Cortíntios 1.1-3
Série expositiva em 1Coríntios • Sermon • Submitted
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· 24 viewsO redator divino/humano direciona exortações princípiológocas que embasam a vida da igreja, reafirmando sua condição como corpo de Cristo, expondo a santidade como pilar de sustentação da unidade do povo de Deus.
Notes
Transcript
"[....] Aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos" (1Co 1.2).
Pr. Paulo Ulisses
Introdução
A primeira carta aos coríntios foi escrita no ano de 55 d.C. enquanto Paulo estava em Éfeso. Na verdade, à luz de 5.9, esta é a segunda carta enviada àquela igreja; a primeira, cujo conteúdo é desconhecido, perdeu-se no tempo, não havendo quaisquer registros dela atualmente, senão essa menção.
O contexto sócio-cultural da cidade de Corinto nos dá uma explicação quanto aos problemas que aquela igreja enfrentava. Corinto era uma cidade situada à sudoeste de Atenas, e devido sua proximidade desta, também era uma importante cidade do império romano, servindo inclusive como zona portuária e eminente ponto de acesso entre importantes cidades ao longo daquela região. Por essa razão, havia ali uma forte miscigenação cultural, que intensificava o paganismo e a imoralidade. Um exemplo disso eram os vários templos à ídolos espalhados pela localidade, que possuíam em seu interior prostitutas cultuais que ofereciam a possibilidade da prática sexual como parte do culto aos deuses.
Esse ambiente de perversão juntamente com a mentalidade cultural greco-romana, cujos os dogmas éticos divergiam em muito da cosmovisão cristã, formou o ambiente hostil com o qual Paulo teve de lidar ao plantar a igreja. Embora o trabalho tenha inicialmente radicado e irmãos tenham sido salvos pelo poder do Evangelho (At 18.7-8), problemas de ordem social e espiritual começaram a surgir na igreja depois de o servo de Deus ter se ausentado, demandando uma orientação específica.
Frente a essa necessidade, uma delegação é enviada até Paulo portando uma carta (cf. 7.1) com uma coletânea de dúvidas e questionamentos quanto a diversas razões: dons espirituais, casamento, pecado, liberdade cristã, ressurreição etc. Além disso, a comitiva leva até o apóstolo a denúncia de que facções estão minando a unidade da igreja, causando discórdia (cf. 1.11).
As respostas a essas questões são dadas ao longo de toda a carta, mas a base principal de suas exortações e direcionamentos parecem partir de um ponto comum: a santificação como expressão de uma nova mentalidade. Paulo já havia demonstrado a necessidade de que a igreja de Deus estivesse distante de práticas imorais (cf. 5.9), mas infelizmente, a assertiva do apóstolo parece ter sido mal compreendida, pensando os cristãos coríntios que deveriam apenas afastar-se dos ímpios, quando na verdade, a ordem era que se abstivessem da presença de impuros dentro da própria igreja, que insistiam em ter uma postura pagã, mesmo declarando-se cristãos.
Por outro lado, o afastamento da imoralidade não deveria fomentar uma rivalidade animalesca, fazendo um irmão arrogar para si o título de "superior"ao outro, tal como estava ocorrendo, e mesmo quando não faziam isso em relação a si, escolhiam "heróis" a quem ovacionar (cf. 3.4-5), usando-os como estandartes numa guerra interna.
A falta de unidade, antes de qualquer coisa, é pecado, e o pecado macula aquilo que Cristo purificou, por isso o apóstolo abre a carta trazendo à mente dos crentes em Corinto que a base da unidade da igreja é a santificação executada e operada por nosso Senhor Jesus Cristo. Sem uma compreensão clara da santidade da igreja, qualquer clamor por unidade ou comunhão é vazio de sentido: estamos em Cristo, e nEle, juntos uns aos outros, invocando o nome de nosso SENHOR.
Assim, como introdução à carta primeira aos coríntios e tema central desta seção do escrito, observamos que a síntese do texto é a santificação como base para a unidade da igreja.
Elucidação
Como em todas as introduções, o apóstolo Paulo estrutura em seu texto as bases que servirão como arcabouço argumentativo que será desenvolvido ao longo de toda a carta.
Levando em consideração o desejo do apóstolo de fortalecer a unidade da igreja de Corinto sob o princípio do amor e da cumplicidade, típicos àqueles que foram santificados pelo SENHOR (v.2), no texto em questão, de pelo menos três formas o autor tencionar expor essa ênfase:
Traçando um paralelo conectivo entre ele e a igreja, por meio do uso do adjetivo "chamado/s" (gr. "κλητός").
Incorporando seu cooperador (e.g. "o irmãos Sóstenes" v. 1) à saudação que ele dirige à igreja.
Enfatizando a catolicidade da igreja (e.g. "com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso" v. 2).
Essa argumentação baseada numa aproximação entre o autor e seu público, fortalece, em primeiro lugar, a relação pastoral entre Paulo e a igreja, e sob essa perspectiva, há uma intensificação dos princípios elencados pelo redator.
O primeiro paralelo, como dito, ocorre no uso do termo "chamado" (gr. "κλητός") usado pelo redator para referir-se tanto a si, quanto à igreja. Evidentemente, os aspectos específicos que circundam o conceito de "chamado" em referência a ambos os citados, possuem nuances diferentes: enquanto que o chamamento de Paulo é usado como referência de seu credenciamento apostólico, o chamado direcionado à igreja aponta para a obra salvadora desenvolvida em cada crente, separando-o para Deus em Cristo.
Em que pese essa distinção, à luz das outras ênfases em que o princípio da unidade é estabelecido ao longo da carta, sobretudo nesta introdução, Paulo deseja chamar a atenção dos leitores à compreensão de que há mais aspectos em comum entre eles e o apóstolo, do que divergentes. Tanto Paulo quanto a igreja foram chamados, e essa convocação parte do mesmo ponto: Cristo Jesus, segundo a vontade de Deus. Esse sentimento de comunhão deve encorajar os crentes a verem-se não como pontos isolados uns dos outros, mas como membros em condição de iguais de um mesmo corpo coeso e harmônico de pessoas, que foram purificadas pela obra salvadora realizada em Cristo.
Ligado a isso, Paulo - diferentemente do que faz na maioria das suas outras cartas - insere Sóstentes (um provável amanuense) na saudação. Não que o ato de citar um companheiro seja estranho, pelo contrário, em diversas cartas, o apóstolo expõe a ajuda e suporte que recebe em seu trabalho em diversas igrejas, nomeando seus auxiliares (e.g. Rm 16.21-23; Ef 6.21; Cl 4.7, 10-14), no entanto, nesta epístola, ao invés de mencionar ao final da carta o seu ajudador, Sóstenes é citado no início e em conjunto com o apóstolo. A intenção para essa mudança é evidente: Paulo deseja expor a corporatividade da ação exortativa que deseja empreender ao longo do texto, sua e de seu auxiliar, declarando o sentimento mútuo que lhes ocorre em relação à igreja.
Além disso, a "figura" do irmão Sóstenes é pertinente, pois, como é visto à luz de Atos 18, ele foi um dos principais da sinagoga localizada em Corinto que havia sido convertido à fé. Sua instrumentalidade na obra em Éfeso, demonstra o quando cada crente é valioso e útil ao Reino: um corinto agora estava cooperando com o avanço do Reino, o que devia acontecer na própria cidade de onde ele veio, através da igreja a qual Paulo se dirige.
A unidade entre Paulo e Sóstenes é um pequeno modelo de ação, que confronta os leitores: não há uma diferença ou estranheza entre o apóstolo e seu auxiliar; eles estão unidos no propósito de servir à igreja. Diferentemente do que estava acontecendo no meio da igreja de Corinto, em que a rivalidade e competitividade ímpia estavam separando os crentes, Paulo concede um exemplo prático do que é esperado dos que estão em Cristo: uma santa união que glorifique ao SENHOR fortalecendo a igreja.
Por fim, todos os paralelos traçados até esse ponto são ampliados drasticamente por Paulo, quando evoca a catolicidade da igreja. Mais do que um ponto em comum entre ele e a igreja; mais do que a unidade e harmonia que eram encontradas entre Paulo e Sóstenes; a santificação e pureza da igreja era algo muito maior, envolvendo "todos os que todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso"(v.3).
A purificação executada pelo Senhor Jesus naquela igreja, não era uma exclusividade dos crentes corintos, mas os colocava na mesma condição que todos os que haviam sido chamados ao serviço do SENHOR. Isso implicava numa alta consideração que aquela igreja devia ter com relação à sua participação no corpo de Cristo. Corinto não era a única comunidade que professava a fé salvadora, logo, a ocorrência de desavenças e atritos oriundos de corações orgulhosos era uma anomalia; uma mancha que ousava enegrecer a imagem do povo que foi chamado para pertencer à um mesmo Senhor: Jesus Cristo.
Além disso, a devassidão encontrada na cidade não deveria infectar o santos. Era comum que os habitantes de Corinto importassem para suas vidas, conceitos e práticas que encontravam na cultura paganizada e promíscua daquela localidade. Dentre esses conceitos, o egoísmo e a imoralidade agora se destacavam como pecados que ameaçavam minar a saúde da igreja. Contendas pessoais (cf. 3.-5) e imoralidade (5.1) tomam conta daquela igreja, como marca de um modo de pensar que desconsidera o chamado à santidade realizado no momento em que aqueles irmãos foram tocados pelo Evangelho. O remédio não poderia ser mais evidente: santificação e unidade; um conjunto de princípios que o apóstolo traça com o objetivo de trazer a memória dos cristãos corintos a grandeza da igreja, sobretudo em seu serviço ao Salvador.
Ao nos deparamos com o apelo de Paulo, não podemos deixar de compreender que essa perspectiva dupla de santidade e unidade revelam as propriedades características dos eleitos do SENHOR. A salvação é evidenciada numa igreja não pelo seu ativismo, ou pela condição material que possuí. Se fosse esse o caso, Corinto deveria ser uma das mais perfeitas igrejas do Novo Testamento, pois foi alvo de um derramamento poderoso dos dons do Espírito Santo, e possuía excelentes condições sócio-econômicas, estando localizada numa das mais importantes cidades do império romano.
Mas o quadro da igreja era completamente outro. Crentes orgulhosos que consideravam a si como superiores em relação aos demais; indivíduos imorais que manchavam a reputação da igreja, promovendo pecado e promiscuidade; liderança relapsa que encorajava a impunidade etc.
Transição
Embora essa carta tenha sido escrita a mais de dois mil anos atrás, reflete problemas bem atuais que ainda assolam o corpo de Cristo hoje. As mesmas celeumas que fragmentaram a igreja corintia, podem ameaçar a paz em nossas igreja. Porém, as diretrizes espirituais fornecidas por Paulo àquela igreja, direcionam a nós outros hoje em relação a como podemos viver de acordo com a vontade do SENHOR, tendo em vista que tanto os crentes naquele período, quanto nós, invocamos o nome de nosso Senhor Jesus Cristo.
Os princípios elencados por Paulo já na introdução de sua carta, fornecem-nos as aplicações que precisamos observar a fim de que sejamos uma igreja santa. Quais sejam:
Aplicações
1. Tanto quanto o amor e a comunhão, uma das bases para que uma igreja seja saudável é a santificação e pureza oriundas da obediência à vontade de Cristo.
É comum vermos diversas pessoas defenderem a unidade da igreja sob diversos argumentos: amor, comunhão, harmonia entre os irmãos e etc. Todas essas coisas possuem seu fundo de verdade, e são mandamentos bíblicos. Porém, raramente vemos a defesa da comunhão da igreja ter como centro a santificação. A razão para isso é que o princípio da purificação da igreja inclui a confrontação dos nossos pecados, e isso não é algo muito popular ou atrativo.
Uma igreja unida cujos os membros não são confrontados em seus pecados, afim de que sejam santificados, não é uma igreja. Como podemos afirmar que pertencemos a Cristo, se nossas obras refletem um comportamento e modo de pensar mundanos? Através da santificação, nosso vínculo com o Senhor é evidenciado, e através disso, podemos estar em comunhão uns com outros outros, afinal, o motivo de nossa reunião como um corpo não é outro senão a salvação em Cristo Jesus.
"Grupo de pessoas que se reúne apenas para conviver e desfrutar da boa companhia uns dos outros, com fins recreativos"… essa é a definição de um clube, de um ajuntamento social outro. Numa igreja, espera-se que pela Palavra, vejamos nossos pecados serem expostos a fim de que os conheçamos e lutemos contra eles.
O pecado estava se infiltrando na igreja de Corinto, e o resultado é a desunião e a fragmentação da igreja. Se não estamos dispostos a nos santificar, correspondendo ao chamado que recebemos do Senhor à nova vida, a igreja é o pior lugar para se estar. Por outro lado, se entendemos que verdadeiramente fomos salvos, e anexados ao corpo de Cristo, fazendo parte do número de eleitos que em toda parte invocam o nome do Senhor Jesus Cristo, não há outro lugar para estar do que na igreja de Deus.
2. Essa unidade consiste na compreensão de que entre nós não há superior ou inferior: há irmãos.
Paulo demonstra a dinâmica da unidade da igreja através de sua relação com Sóstenes. Como um apóstolo pode nivelar-se à um irmão comum? Sóstenes era chefe da sinagoga, mas não há indícios de que havia sido ordenado presbítero para cooperar na plantação das igrejas. Estava ali como um importante auxiliar, mas não possui nenhum cargo ou título.
O ponto em questão na igreja, estamos numa condição de iguais. Ver-se como parte desse corpo é a grande beleza da comunhão. Entender-se como membro que está sendo santificado, assim como os demais, tendo sido separados do mundo para servir a Deus é o que nos conecta.
Quer aqui, quer no Japão, ou na Índia, ou na Inglaterra, ou nos EUA, há crentes em Cristo que nesse momento estão se fazendo um conosco e nós com eles, louvando e engrandecendo no nome de nosso SENHOR Essa é a beleza da igreja: devemos nos ver como partes de algo maior, como parte do incontável povo de Deus.
Conclusão
Muitos problema assolavam a igreja de Corinto, problemas sumariados ao logo da carta. Mas, o Espírito Santo, inspirou o apóstolo para introduzisse sua carta, demonstrando a todos os crentes em todos os tempos, que o vínculo da igreja prevalecerá: a santificação que nos torna servos e servas do SENHOR Deus Triuno, invocando e adorando seu nome continuamente como um corpo, o Corpo de Cristo.