Mateus 18.10-14

Série expositiva no Evangelho de Mateus  •  Sermon  •  Submitted
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O autor enfatiza o valor que cada agente do Reino tem diante do Pai celeste, e que isso deve fazer com que cada cristão zele e ame seu irmão como parte de seu dever para com o Reino e o Evangelho.

Notes
Transcript
“[...] Porque é chegado o Reino dos céus” (Mateus 3.2).
Pr. Paulo U. Rodrigues
Introdução
Após as exortações que direcionou mediante as observações de Cristo com relação a responsabilidade dos agentes do Reino em relação uns aos outros em 1) ser humildes e servos e 2) proceder como filhos do Reino, evitando dar mal testemunho (o que poderia levar outros a tropeçar), Mateus expõe o princípio do valor que cada um dos eleitos possui diante de Deus, fazendo seu público perceber a razão e importância desse compromisso mútuo que devem cultivar, como parte vital da confissão de fé que declararam ter no Messias (ponto central desta quinta parte do Evangelho).
Logo, a temática abordada nessa seção centraliza o valor dos agentes do Reino como diretriz da responsabilidade mútua.
Elucidação
Como analisado anteriormente, as expressões figurativas "pequeninos" nos versos 5 (cf. "crianças"); 6; 10, repetem a força do mesmo princípio sob ênfases diferentes: no primeiro caso, a atenção é chamada em relação à humildade que deveria ser encontrada entre os discípulos. No segundo, o cuidado para não testemunhar falsamente do evangelho, através de um pecado público que serviria de tropeço para um irmão, é o foco. E por fim, tal como encontramos na presente passagem, o apreço direcionado de um agente do Reino ao outro, é a reação fomentada por Cristo Jesus como própria dos que professam a verdadeira fé no Filho de Deus, reforçada pela expressão que torna o sentimento comum entre os discípulos e o próprio Pai celeste:
Mateus 18.14 RA
Assim, pois, não é da vontade de vosso Pai celeste que pereça um só destes pequeninos.
A argumentação do Senhor parte do princípio de que o valor que cada eleito possui é algo notável não apenas entre os agentes do Reino, mas relevante inclusive ao próprio Pai celeste. A partir de três argumentações Cristo examina e expõe essa verdade: Em primeiro lugar, demonstrando o serviço prestado por anjos, que estão à disposição do Criador para servir aqueles que foram chamados ao Reino.
O próprio Pai celeste, sendo soberano senhor sobre tudo e todos, mobiliza seus mensageiros a respeito dos eleitos. Esse princípio é claro à luz das Escrituras (e.g. Sl 91.11) e agora enfatiza o cuidado do SENHOR para com seus filhos. Naturalmente, a permanência do teor didático quanto aos deveres mútuos entre os agentes do Reino, direciona o ensinamento quanto aos anjos verem incessantemente a face do Pai celeste (v. 10) (i.e. uma posição de prontidão para o cumprimento de ordens) ao público-alvo, elucidando o fato de que assim como os anjos estão sempre prontos a cumprir a vontade do Pai, nós, levando em consideração a honra e importância que cada irmão tem para o Senhor, também precisamos nos prontificar a servir-nos, refletindo essa mesma ânsia em ser úteis ao Reino.
Em segundo lugar, o próprio Cristo é evidenciado como grande servo do Reino: "[Porque o Filho do Homem veio salvar o que estava perdido.]" (v.11). Entretanto, esse verso consta apenas nas fontes textuais mais recentes, o que sugere que foi inserido ao texto posteriormente, como uma forma de explicar a parábola posterior. De toda forma, o copista ao perceber o teor da passagem e a intenção do autor, reforçou a tese em questão (possivelmente vendo a necessidade que o público que receberia o texto tinha de compreender esse princípio) e adicionou a afirmação supracitada.
Essa edição textual ao invés de depor contra a integridade do texto, na verdade demonstra quão urgente é a demanda de que a igreja de Cristo entenda o valor do serviço mútuo que deve ser prestado de um irmão para outro, além de exibir que essa é uma necessidade global, isto é, de toda a igreja de Cristo espalhada pela face da terra, pois muito provavelmente o copista não estava direcionando o texto do Evangelho de Mateus para a mesma igreja (i.e. Roma), numa que aquela já havia recebido o texto da própria pena do autor, e sim, estava direcionando as exortações de Cristo registradas no Evangelho à outros irmãos noutras partes do mundo.
A compreensão de que devemos nos esmerar no serviço mútuo, reconhecendo o valor que nosso irmão tem diante do SENHOR, é uma obrigação que deve nos encorajar imediatamente a assumir tal postura e princípio, e essa convicção é intensificada por meio da parábola narrada em seguida:
Mateus 18.12–13 RA
Que vos parece? Se um homem tiver cem ovelhas, e uma delas se extraviar, não deixará ele nos montes as noventa e nove, indo procurar a que se extraviou? E, se porventura a encontra, em verdade vos digo que maior prazer sentirá por causa desta do que pelas noventa e nove que não se extraviaram.
Os elementos da parábola são os mesmos levando em consideração o texto de Lucas 15.3-7 em que a parábola também aparece, porém as ênfases caracterizam os personagens de maneiras diferentes. Enquanto que Lucas está interessando em por meio da parábola, expor o alcance da obra redentiva, demonstrando que Cristo exibe a extensão da salvação aos pecadores - a despeito do que achavam os fariseus e escribas (cf. Lc 15.2) - Mateus toca o ponto da importância que cada ovelha (i.e. cada agente do Reino) tem para Jesus, ao ponto de dramatizar novamente o cuidado desprendido para cada uma delas, que deve encorajar o mesmo nos próprios agentes do Reino, como dito.
O pastor, que representa o próprio Cristo, sai em busca de uma única ovelha que se perdeu, quando na verdade, em seu aprisco, restam ainda outras noventa e nove. Contudo, o montante do número das que ficaram não é posto em detrimento da que extraviou-se, e vice-versa. O texto não pode ser visto sob o locus interpretativo de uma "balança" que questiona quem é mais importante, ressaltando a uma ovelha perdida em contraste com as demais. Nesse caso específico, uma é tão importante quanto cem, por isso, o pastor sai em sua busca, embora a alegria do retorno da perdida seja evidenciado como mais intenso, como exibido ao final da parábola.
Transição
O complexo princípio ensinado na passagem aponta para o sentimento que a igreja de Cristo deve ter em relação aos seus membros. Um é tão importante quanto cinquenta, cem ou mil, e assim, o mesmo cuidado e amor que desprendemos para com a comunidade como um todo, deve ser direcionado à uma única pessoa. Como podemos afirmar que amamos a igreja, mas não nos devotamos a externar esse amor, direcionando-o a uma única pessoa que precisa de nossa atenção e cuidado?
É louvável que amemos estar todos juntos em um mesmo lugar. É válido que nos sintamos bem na presença de toda a igreja. Só não podemos deixar de notar que o amor que temos pelo todo, também devemos ter pela parte.
Sintetizando essa perspectiva, o texto de Mateus 18.10-14 direciona o seguinte ensino:
Aplicação
Devemos compreender que cada membro do Corpo de Cristo deve ser tratado com o mesmo valor que o próprio Pai celeste lhe concede.
Já temos visto que nosso compromisso com o Reino passa, em primeiro lugar, por um sentimento de humildade que devemos ter entre nós, ao ponto de nos colocar como servos uns dos outros. Em segundo lugar, por uma profunda vigilância para que nossas falhas e pecados não sejam motivos de tropeços na caminhada de nosso irmão. Todos esses cuidados (acrescidos pela misericórdia e graça que serão introduzidos a partir da seção seguinte) são direcionados aos membros do Corpo de Cristo como ordenança do próprio SENHOR, só fazendo sentido e sendo corretamente empregados na dinâmica da vivência em comunidade, se o valor que cada um de nós tem diante do outro estiver em evidência.
Cristo veio para salvar o que se havia perdido, e a vontade do Criador é que nenhum de seus pequeninos se perca. Ora, isso posto, não há como ver meu irmão como alguém sem importância, ou que deprecie seu valor, sem que eu viole o mandamento do SENHOR, e desonre a majestade da obra redentiva que nos torna irmãos.
O bom pastor saiu para reaver uma única ovelha, e se alegrou ao encontrá-la. Isso aponta para a necessidade que nos consideremos todos como dignos de nosso serviço, e nos esmeremos nessa tarefa. Cada membro da igreja deve ser amado profundamente, assim com o próprio Pai celeste nos ama, sabendo que nós somos um dos instrumentos usados por ele para o cuidado de seus filhos, e a promessa que a igreja recebe é que, por meio desse cuidado, nenhum só dos pequeninos se perderá.
Conclusão
Estar vinculado ao corpo de Cristo encoraja em nós um sentimento de valor e cuidado mútuo, que nos faz ver nosso irmão como alguém que por ser amado e cuidado por Deus, deve ser cuidado e amado por nós.
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