Aqui não é a casa da mãe Joana

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A manutenção das diretrizes bíblicas para o culto público que envolve a prece, a paz e a padronização deve ser guardada pelo pastor.

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Aqui não é a casa da mãe Joana
Eduardo M. Bittencourt / Geral
A manutenção das diretrizes bíblicas para o culto público que envolve a prece, a paz e a padronização deve ser guardada pelo pastor.

Diretrizes com respeito ao culto público.

Texto: 1Timóteo 2.1-15
1Timóteo 2.1–15RA
1 Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, 2 em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranquila e mansa, com toda piedade e respeito. 3 Isto é bom e aceitável diante de Deus, nosso Salvador, 4 o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. 5 Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem, 6 o qual a si mesmo se deu em resgate por todos: testemunho que se deve prestar em tempos oportunos. 7 Para isto fui designado pregador e apóstolo (afirmo a verdade, não minto), mestre dos gentios na fé e na verdade. 8 Quero, portanto, que os varões orem em todo lugar, levantando mãos santas, sem ira e sem animosidade. 9 Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso, 10 porém com boas obras (como é próprio às mulheres que professam ser piedosas). 11 A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. 12 E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio. 13Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. 14 E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. 15Todavia, será preservada através de sua missão de mãe, se ela permanecer em fé, e amor, e santificação, com bom senso.
"Nós adoramos a Deus porque Ele nos criou para adorá-lo"[1]
"A adoração correta ao verdadeiro Deus é uma atitude de fé, gratidão e obediência na qual o adorador se prostra diante do Deus que o atraiu com a sua graça irresistível"[2].
A adoração faz parte da vida dos homens. Mas nós, como cristãos, quando nos aproximamos de Deus para adorar, para prestar culto, devemos fazer de uma forma determinada por Ele ou de maneira espontânea? Existe algum princípio regulador? Eu entendo que sim.
Antes da Lei, Deus já era adorado por seus seguidores. Essa adoração envolvia sacrifícios, orações, ações de graças, testemunhos etc. Na Lei, vemos Deus prescrevendo com detalhes a forma como o seu povo deveria adorá-lo. Ele diz claramente quem deveria ministrar na tabernáculo e no templo (levitas), como deveria funcionar as cerimônias e como deveriam ser oferecidos os sacrifícios. Deus não aceitava nenhum culto que não fosse realizado da forma como Ele determinara. No Novo Testamento, mesmo que não tenhamos conjuntos de regras tão rígidas como temos no Antigo Testamento, parece inquestionável o fato de que havia ordem e decência no culto. As coisas não eram feitas de qualquer forma.
Em Atos 2.42-47 vemos que a vida em comunidade dos primeiros convertidos era uma vida de culto. Nesse ajuntamento eles aprendiam a doutrina dos apóstolos (homens claramente estabelecidos como líderes da igreja), eles provavelmente obedeciam ao sacramento da ceia (partiam o pão), oravam, ofertavam, se reuniam e louvavam a Deus. O que temos então? Temos:
1. Instrução
2. Oração
3. Contribuição
4. Comunhão / participação no sacramento da Ceia
5. Adoração
Quando olhamos para esses elementos presentes na prática da igreja primitiva, nós conseguimos ver uma similaridade enorme com as práticas litúrgicas das sinagogas. Conforme a Mishná (Meghillah, IV.3), o culto da sinagoga era dividido em seis partes[3]:
1. Recitação responsiva do Shemá que consistia na leitura de Dt 6.4-9; 11.13-21 e Nm 15.37-41.
2. Recitação do Shemone Esreh ("Dezoito bênçãos), que supõe ter o nome dezoito em virtude do fato de o nome de Deus aparecer dezoito vezes no Shemá. Eram louvores a Deus.
3. Cânticos de Salmos do Saltério e composições mais novas.
4. Orações rituais e silenciosas
5. Leitura da Lei e dos Profetas. Após a leitura dos textos sagrados, qualquer pessoa da congregação, que fosse considerada competente, recebia o convite para pronunciar o "sermão expositivo" (cf. Lc 4.16; At 13.15). Era a parte mais importante do culto
6. Uma bênção pronunciada por algum membro sacerdotal da congregação ou, na ausência de alguém com qualificações sacerdotais, em vez da bênção, havia uma oração.
Sumariando, podemos afirmar que a liturgia na sinagoga envolvia:
1. Louvor (itens 1,2 e 3)
2. Orações (itens 4 e 6)
3. Instrução (item 5)
Olhando agora para o nosso texto, nós vemos o apóstolo Paulo dando claras diretrizes a respeito do culto na igreja de Éfeso e que se estende a todas as igrejas de todos os tempos. Na passagem nós aprendemos que:
IDEIA CENTRAL:
A manutenção das diretrizes bíblicas para o culto público que envolve a prece, a paz e a padronização deve ser guardadas pelo pastor.
O pastor deve manter as diretrizes bíblicas, apostólicas, para o culto público. Essas diretrizes envolvem:
1. A PRECE (1Tm 2.1-7)
a. A oração pública deve ser uma prioridade da igreja (v.1)
i. Ela deve vir "antes de tudo"- Parece claro que a igreja havia deixado de orar pelos perdidos e Paulo exorta que essa prática retorne e se torne uma prioridade. A oração deve ser uma prática da igreja. A casa de Deus era casa de oração. O povo de Deus, que é a casa de Deus, deve viver em oração. A oração não só nos conecta com Deus, mas nos humilha diante dele ao reconhecermos nossa total pequenez e dependência.
b. A oração pública deve envolver súplicas, orações, intercessões e ações de graças (v.1)
i. Súplicas - δεήσεις - um pedido severo ou urgente a Deus
ii. Orações - προσευχάς - um pedido feito a uma divindade, no nosso caso, orações a Deus Pai.
iii. Intercessões/petição - ἐντεύξεις - uma mensagem formal solicitando algo que é submetido a um rei (ou autoridade). Geralmente designando as orações feitas a Deus como Rei.
Calvino entendia que "Paulo, intencionalmente, junta esses três termos com o mesmo propósito, ou seja, com o fim de recomendar, com o maior empenho possível, e pedir com a máxima veemência, que se façam orações intensas e constantes."[4]
iv. Ações de graças - εὐχαριστίας - ato de demonstrar gratidão a alguém. Tudo que temos vem de Deus e devemos tributar a Ele gratidão por todas as coisas. Em tudo devemos ser gratos. Devemos orar colocando diante de Deus a salvação dos homens, mas também agradecer o que Deus está fazendo no mundo através dos homens que estão na posição de liderança, quer sejam bons ou maus.
c. A oração pública deve envolver as autoridades (v.2)
i. Reis/autoridades - explicam melhor os "todos os homens" do v.1.
• Todos os homens - não individualmente, mas indiscriminadamente (v.1,2 - cf.v.4).
• Orar pelos reis e autoridades como magistrados não seria algo fácil para os cristãos. Todos os magistrados daquele tempo eram inimigos de Cristo.
• Concordo com Calvino (2009, p.53–54) quando ele afirma que:
"a depravação humana não é razão para não se ter em alto apreço as instituições divinas no mundo. Portanto, visto que Deus designou magistrados e príncipes para a preservação do gênero humano, e por mais que fracassem na execução da designação divina, não devemos, por tal motivo, cessar de ter prazer naquilo que pertence a Deus e desejar que seja preservado. Eis a razão por que os crentes, em qualquer país em que vivam, devem não só obedecer às leis e ao comando dos magistrados, mas também, em suas orações, devem defender seu bem-estar diante de Deus. Disse Jeremias aos israelitas: “Orai pela paz da Babilônia, porque, em sua paz, tereis paz” [Jr 29.7]. Eis o ensino universal da Escritura: que aspiremos o estado contínuo e pacífico das autoridades deste mundo, pois elas foram ordenadas por Deus".
ii. Propósito:
1. Vivamos vida tranquila e mansa - Orar é proveitoso para quem ora. Os cristãos podem ser abençoados por um governo bem regulamentado. Quando a liderança de uma nação realiza o seu trabalho, quando os magistrados bem armados mantêm a paz, restringindo o atrevimento de homens perversos, todos, inclusive os cristãos são beneficiados. A manutenção da paz é uma bênção.
2. Com toda piedade e respeito - Dois benefícios nós temos aqui, o primeiro está relacionado à religião. Líderes convertidos e tementes a Deus se afastarão do mau e temerão a Sua santíssima Palavra. Bem-aventurada é uma nação cujo Deus é o Senhor (Sl 33.12). O segundo benefício está relacionado à moral, a honra e a pureza. Calvino disse que "se porventura nos preocupamos com a tranquilidade pública, com a piedade ou com a decência, lembremo-nos de que o nosso dever é diligenciarmo-nos em favor daqueles por cuja instrumentalidade obtemos tão relevantes benefícios"[5].
d. A oração pública deve ser motivada pelos propósitos salvíficos de Deus (v.3-7)
i. Deus se deleita e aceita a oração do seu povo (v.3) - Saber que algo agrada a Deus deveria ser suficiente para nos levar a praticar o que nos manda. Uma vez que essa prática é aceitável diante de Deus, podemos concluir que ela é justa. Procurar saber o que Deus aceita é fundamental para todos os homens. Podemos na nossa pecaminosidade oferecer a Deus o que pensamos ser espiritual, mas que no fim das contas é carnal e diabólico. Orar pela salvação dos homens é algo que Deus se agrada. A oração pode não agradar a Deus se não for feita segundo a sua vontade. Deus se agrada em ver seu povo orando, mas orando segundo a sua santa vontade revelada.
ii. Deus deseja que todos (indiscriminadamente) sejam salvos (v.4)
1. Cheguem ao pleno conhecimento da verdade - De que verdade? De que:
a. Há um só Deus (v.5)
b. Há um só Mediador entre Deus e os homens (v.5)
i. Cristo Jesus, homem (v.5)
1. A si mesmo se deu (entregou / morreu) (v.6)
2. Em resgate por todos (indiscriminadamente) (v.6)
a. Testemunhos sobre essa verdade devem ser dados em tempos oportunos (v.6)
b. Paulo havia sido designado para esse propósito (v.7)
• Se “todos” se referissem a todos os homens individualmente, nós poderíamos cair no erro teológico do universalismo.
• Se “todos” se referissem a todos os homens individualmente nós teríamos problemas com outros textos que afirmam que ele morreu pela igreja e pelas suas ovelhas.
O pastor deve manter as diretrizes bíblicas, apostólicas, para o culto público. Essas diretrizes envolve a PRECE, mas também envolve:
2. A PAZ (1Tm 2.8-10)
a. O papel dos homens na adoração (v.8)
"No culto público, os homens, não as mulheres, devem pôr-se de pé com as mãos erguidas, a fim de oferecer oração em voz alta. Para essa oração deve haver uma preparação adequada, a fim de que o coração não esteja saturado de malícia contra um irmão nem com predisposição para o mal"[6].
Esse texto nos fala sobre três questões que devem ser levadas em consideração:
i. Localização - "em todo lugar" – aqui nós temos uma quebra de paradigma, pois os judeus acreditavam que deveriam adorar no templo em Jerusalém.
ii. Posição - "levantando mãos santas" - as mãos estão relacionadas as ações dos homens. Os judeus oravam geralmente levantando as mãos. A vida e a piedade andam juntas. A vida do adorador é importante para o Adorado (Sl 66.18). As mãos do adorador devem estar purificadas pelo sangue de Cristo. Sua vida precisa ser íntegra. Somente os limpos de mãos e puros de coração podem comparecer perante o Senhor.
Era costume dos judeus levantar as mãos na hora da oração. As mãos levantadas para Deus, conforme Carl Spain, sugerem "as mãos de uma criança dependente levantadas para um pai que tem o poder de conceder o que a criança precisa e deseja"[7].
Segundo Hernandes Dias Lopes "a questão, porém, não é o gesto, mas a vida. Não é a postura do corpo, mas a atitude da alma. O gesto precisa ser acompanhado da motivação certa. Se vamos levantar as mãos, precisam ser mãos santas. A vida santa é a base da oração eficaz"[8].
Ainda sobre posição, Hendriksen diz que “A postura na oração não é uma questão indiferente. É uma abominação ao Senhor assumir uma postura displicente quando se presume estar alguém orando ao Senhor.”[9] Entretanto, como ele mesmo afirma, não existe uma única forma de expressão. A Bíblia apresenta várias que Hendriksen aponta no seu comentário:
(1) Em pé: Gênesis 18.22; 1 Samuel 1.26; Mateus 6.5; Marcos 11.25; Lucas 18.11; Lucas 18.13. (Note o contraste entre as últimas duas passagens. Ainda faz diferença comoe onde alguém está em pé.)
(2) As mãos estendidas ou/e erguidas para o céu: Êxodo 9.29; Êxodo 17.11, 12; 1 Reis 8.22; Neemias 8.6; Salmo 63.4; Salmo 134.2; Salmo 141.2; Isaías 1.15; Lamentações 2.19; Lamentações 3.41; Habacuque 3.10; Lucas 24.50; 1 Timóteo 2.8; Tiago 4.8. (Compare os “Orantes” das Catacumbas. E veja A. Deissmann, Light From the Ancient East, traduzido por L. R. M. Strachan, quarta edição, Nova York, 1922, pp. 415, 416.)
(3) A cabeça inclinada: Gênesis 24.48 (cf. v. 13); Êxodo 12.27; 2 Crônicas 29.30; Lucas 24.5.
(4) Os olhos erguidos para o céu: Salmo 25.15; 121.1; 123.1, 2; 141.8; 145.15; João 11.41; 17.1; cf. Daniel 9.3; Atos 8.40.
(5) De joelhos: 2 Crônicas 6.13; Salmo 95.6; Isaías 45.23; Daniel 6.10; Mateus 17.14; Marcos 1.40; Lucas 22.41; Atos 7.60; 20.36; 21.5; Efésios 3.14.
(6) Prostrado com o rosto em terra: Gênesis 17.3; 24.26; Números 14.5, 13; 16.4, 22, 45; 22.13, 34; Deuteronômio 9.18, 25, 26; Josué 5.14; Juízes 13.20; Neemias 8.6; Ezequiel 1.28; 3.23; 9.8; 11.13; 43.3; 44.4; Daniel 8.17; Mateus 26.39; Marcos 7.25; 14.35; Lucas 5.12; 17.16; Apocalipse 1.17; 11.16.
(7) Outras posições: 1 Reis 18.42 (ajoelhado com o rosto entre os joelhos); Lucas 18.13 (de pé, ao longe, e batendo no peito).[10]
iii. Comunhão - "sem ira e sem animosidade" - "Ira e justiça são mutuamente excludentes (Tg 1.20; cf. Lc 9.52-56). Uma tradução melhor para "animosidade" é "dissensão", e se refere a uma hesitante relutância quanto ao compromisso de orar. A oração fervorosa do justo pode muito e é eficaz (Tg 5.16). Essas condições referem-se à postura interior do cristão"[11].
É possível que muitos homens estivem tendo conflitos com "as demais pessoas da igreja" que estavam se entregando às fábulas e genealogias. A exclusão de Himeneu e Alexandre da igreja pode ter causado partidarismo na igreja. Por mais que existam conflitos e problemas a serem tratados e resolvidos na igreja, a ira e animosidade são contrárias à justiça de Deus. O ideal é que os homens orem buscando a salvação daqueles que estão enganados e perdidos.
Algo importante aqui é ressaltar a questão da essência e da cultura. Do que Paulo está ensinando que continua para a nossa realidade? Tudo? Devemos em todo tempo orar levantando as mãos? Ou podemos orar somente em pé, sentado, sem levantar as mãos? Estaremos em pecado se não orarmos com as mãos levantadas?
Stott diz que:
"santidade, amor e paz são indispensáveis para a oração. Mas levantar as mãos é igualmente essencial? Não, posturas corporais e gestos na oração são culturais, e uma ampla gama de variações ocorre nas Escrituras. Quer estejamos em pé, sentados, curvados, ajoelhados ou prostrados e quer nossas mãos estejam levantadas, abertas, dobradas, entrelaçadas, batendo palmas ou balançando, isso é uma questão de pouca importância – embora precisemos ter certeza de que nossa postura é apropriada à nossa cultura e uma expressão genuína de nossa devoção interior"[12].
b. O papel das mulheres na adoração (v.9-10)
“Assim como os homens devem fazer os preparativos necessários, de modo que com coração apercebido e sem disposição prévia para o mal, eles “vão à igreja” capazes de erguer mãos santas, assim as mulheres devem dar evidência do mesmo espírito de santidade, e devem demonstrar isso quando ainda estão em casa, preparando-se para participarem do culto.”[13]
Paulo apresenta:
i. Um padrão a ser perseguido:
1. Decência
2. Modéstia
As boas obras são os melhores trajes para uma mulher realmente bela aos olhos de Deus - boas obras que sejam frutos da piedade.
ii. Um padrão a ser rejeitado
1. Indecência
2. Luxo
a. Esse comportamento deseja chamar a atenção das pessoas para si e não para Deus.
b. Rouba a atenção que deveria ser dada à Palavra, ao louvor e aos outros elementos do culto.
c. Estimula a inveja de algumas mulheres e a sexualidade dos presentes.
Também sobre questões essenciais e culturais, Stott (p.32) diz que "as mulheres devem ser discretas e modestas no modo como se vestem e não usar roupas deliberadamente sugestivas ou sedutoras. Isso estabelece um princípio universal. Não há permissão bíblica nesses versículos para as mulheres negligenciarem a aparência. A questão é como elas devem se adornar: “Com boas obras, como convém a mulheres que declaram adorar a Deus”. Essa é a beleza da semelhança com Cristo.
É interessante escutar de algumas mulheres que o problema não está na roupa que uma mulher veste, mas nos olhos de quem vê. Se o problema estivesse somente nos olhos de quem vê, nós não encontraríamos exortações bíblicas a respeito do vestuário feminino (Pv 11.22).
3. A PADRONIZAÇÃO (1Tm 2.11-15)
a. Restrição
i. No aprendizado. Ela deve aprender:
1. Em silêncio - alguém que não se intromete.
2. Em toda submissão - estar debaixo da autoridade de outrem.
"essa aprendizagem em silêncio não deve ser com uma atitude de rebeldia no coração, mas “em total submissão” (cf. 2Co 9.13; Gl 2.5; 1Tm 3.4). Deve de bom grado refugiarse sob a lei de Deus para sua vida. Sua plena igualdade espiritual com o homem como participante em todas as bênçãos da salvação (Gl 3.28: “não há homem nem mulher”) não implica nenhuma mudança básica em sua natureza como mulher ou na tarefa correspondente que, como mulher, foi chamada a cumprir" (William Hendriksen, 1 e 2 Timóteo e Tito, ed. Cláudio Antônio Batista Marra, trans. Valter Graciano Martins, 2a edição., Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2011), 140).
ii. No ensino
Hernandes Dias Lopes (pp. 71-72) acertadamente relembra que está claro nas Escrituras que a mulher pode ensinar, afinal de contas:
• O derramamento do Espírito foi prometido aos filhos e às filhas (Jl 2.18-30). Quando esta profecia se cumpriu no Pentecostes, havia no Cenáculo algumas mulheres. Todos os que estavam no Cenáculo, inclusive as mulheres, passaram a falar das grandezas de Deus (At 1.14; 2.1-3).
• Havia profetisas na igreja primitiva (At 21.8,9).
• As mulheres podiam orar no culto público e também profetizar (1Co 11.5).
• As mulheres mais velhas devem ensinar as mais jovens (Tt 2.3,4).
• Timóteo foi ensinado em sua casa por sua mãe, Eunice, e sua avó, Loide (2Tm 1.5; 3.15).
• Não há nenhuma proibição bíblica de uma mulher piedosa, ao lado do seu esposo, instruir um homem (At 18.24-28).
Qual o problema então levantado por Paulo? Qual a restrição?
A questão em tela é que a mulher não deve, no culto público, ocupar a posição de liderança do homem e exercer autoridade sobre os homens.
Paulo trata dessa questão também em 1Co 14.33-35. Leiamos o texto:
33porque Deus não é de confusão, e sim de paz. Como em todas as igrejas dos santos, 34 conservem-se as mulheres caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam submissas como também a lei o determina. 35Se, porém, querem aprender alguma coisa, interroguem, em casa, a seu próprio marido; porque para a mulher é vergonhoso falar na igreja”.
Mas que proibição de falar é essa? Ele está proibindo as mulheres de falar em línguas, ou que conversem durante os cultos? Essa proibição é para todas as mulheres ou apenas para as casadas, já que elas teriam seus esposos para auxiliá-las em alguma questão? Parece que não se trata de nada disso.
Augustus Nicodemos Lopes diz que "essa restrição não parece ser absoluta, a ponto de reduzir as mulheres ao silêncio total nos cultos, já que ele, em 1Co 11.5, dá a entender que elas podem orar e profetizar durante as reunião, desde que se apresentassem de forma apropriada, que refletisse estarem debaixo da autoridade eclesiástica masculina"[14].
Entretanto, parecer que Paulo faz uma distinção entre o ensinamento de 1Co 11 e 1Co 14. Em 1Co 11 Paulo requer das mulheres que se apresentem submissas à liderança masculina, mas em 1Co 14 ele lhe determina que não falem de forma a parecer que estão na liderança.
Segundo Lopes (2012, p.179) a proibição se refere a um tipo de fala que implique uma posição de autoridade que lhes levasse a parecerem insubmissas (v.34b). No contexto, Paulo fala sobre julgamentos dos profetas no culto (v.29), o que envolveria questionamentos por parte da igreja reunida. A proibição, portanto, é que as mulheres questionem ou ensinem os líderes em público. Qualquer dúvida ou questionamento a respeito do ensino do líder na igreja deveria ser tirada com o seu marido em casa.
Esse ensino bíblico apostólico:
• Estava em acordo com o que já era praticado em todas as igrejas cristãs (1Co 14.33b). Alguém poderia argumentar, muitas mulheres, como Débora (Jz 14.4) e outras profetizaram e ensinaram o povo, mas, como acertadamente disse Calvino, "os atos extraordinários de Deus não anulam as regras ordinárias, às quais ele quer que nos sujeitemos. Por conseguinte, se em determinado tempo as mulheres exerceram o ofício de profetisas e mestras, e foram levadas a agir assim pelo Espírito de Deus, Aquele que está acima da lei pode proceder assim; sendo, porém, um caso extraordinário, não se conflita com a norma constante e costumeira"[15].
• Estava de acordo com o ensino da Lei, onde afirma que Deus delegou ao homem e à mulher papeis diferentes na família e nas questões religiosas (1Co 14.34b). - "Paulo não pode permitir outra coisa. Ele não pode permiti-lo, porque a santa lei de Deus não o permite (1Co 14.34). Essa santa lei é sua vontade expressa no Pentateuco, particularmente na história da criação da mulher e de sua queda (ver especialmente Gn 2.18–25; 3.16). Daí, ensinar, isto é, pregar de um modo oficial e, desse modo, exercer autoridade sobre o homem pela proclamação da Palavra no culto público, dominá-lo, é algo impróprio para a mulher. Ela não deve assumir o papel de mestre"[16].
• Deixa claro que o apóstolo Paulo estava estabelecendo um princípio permanente não só para a igreja de Corinto, mas para as igrejas, não fazendo jurisprudência teológica local. Conforme vemos em 1Tm 2.13-15. Calvino (2009, p. 71) diz que "todos os homens sábios sempre rejeitaram o governo feminino (γυναικοκρατία), como sendo uma monstruosidade contrária à ordem natural. E assim, para uma mulher usurpar o direito de ensinar seria o mesmo que confundir a terra e o céu. É por isso que ele lhes ordena a permanecerem dentro dos limites de sua condição feminina"
• Expressam sentimento de terna simpatia e cuidado com as mulheres. Concordo com Hendriksen quando ele diz que "a mulher não deve entrar na esfera de atividade para a qual a força de sua própria criação não é apta. Que a ave não tente viver debaixo d’água. Que o peixe não tente viver em terra seca. Que a mulher não queira exercer autoridade sobre o homem, instruindo-o nos cultos públicos. Por amor a ela e para o bem-estar espiritual da igreja, proíbe-se essa pecaminosa intromissão na autoridade divina"[17].
Corroborando com esse pensamento, Hendriksen (2011, p.141) nos lembra que "A tendência a seguir foi incorporada à própria alma de Eva quando ela saiu das mãos de seu Criador. Daí não seria correto inverter essa ordem em relação ao culto público. Por que estimular uma mulher para que faça as coisas que são contrárias a sua natureza? Seu próprio corpo, longe de precedero de Adão na ordem da criação, foi tomado do corpo de Adão. Seu próprio nome – Ish-sha, derivou-se do nome do homem – Ish (Gn 2.23). Só quando a mulher reconhece essa distinção básica e age em conformidade com ela é que ela pode vir a ser uma bênção para o homem, pode exercer uma graciosa influência, porém muito poderosa e benéfica sobre ele e pode promover sua própria felicidade, para a glória de Deus
b. Fundamentação (1Tm 2.13-15)
Paulo utiliza três argumentos para fundamentar o seu ensino inspirado:
i. A criação - "primeiro foi formado Adão, depois Eva" (v.13). Não se trata de superioridade, homem e mulher foram criados a imagem e semelhança de Deus. Entretanto, a mulher foi criada a partir do homem e para o homem (1Co 11.7-9).
ii. A transgressão - "E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão" (v.14) - Stott diz que "o mais provável é que o ponto essencial com respeito à participação de Eva na queda não foi o fato de ela ter sido enganada, mas de ter tomado uma iniciativa indevida, usurpando assim a autoridade de Adão e invertendo os papéis atribuídos a cada um deles (Gn 3.6,17)"[18].Para Calvino (2009, p.73), "Paulo não quer dizer que Adão não fora envolvido na mesma ilusão diabólica, senão que a causa e fonte de sua transgressão vieram de Eva". Por que Eva foi enganada e transgrediu? Porque usurpou a liderança do seu marido, caindo na artimanha de Satanás.
iii. A missão - "será salva/preservada através da sua missão de mãe". Parece que Paulo agora traz uma palavra de encorajamento e consolação para as mulheres. A expressão "será preservada", pode significar "resgatar", "manter seguro e a salvo", "livrar de". Aparece várias vezes o NT sem o sentido de salvação espiritual (Mt 8.25; 9.21-22; 2Tm 4.18). Ele não está dizendo que a mulher terá salvação eterna por meio da maternidade, salvação é só pela graça por meio da fé (Rm 3.19-20). "Paulo ensina que, mesmo carregando o estigma de ter sido o instrumento inicial que levou a raça humana ao pecado, é a mulher, pela missão de mãe, que pode ser preservada ou livrada desse estigma ao levantar uma geração de filhos piedosos (cf. 1Tm 5.10). Uma vez que as mães têm um vínculo especial e intimidade com os fihos e passam muito mais tempo com eles do que os pais, elas exercem maior influência na vida deles e, assim, uma responsabilidade e oportunidade única de criar filhos piedosos. Embora uma mulher tenha leva a raça humana ao pecado, as mulheres têm o privilégio de tirar muitos do pecado e levá-los à piedade"[19].
Condição:
1. Se permanecer em fé - na crença a respeito de Cristo e na fé apostólica (doutrinária)
2. Se permanecer em amor - a mulher que permanece no amor de Deus, ama o que Deus ama e se sujeita com alegria à Sua Palavra. Veste-se com modéstia, submete-se à liderança e dedica-se na criação de filhos piedosos.
3. Se permanecer em santificação - não se deixando levar pelos valores do mundo. Uma mulher santa foi separada do mundo para Deus. Ela é um vaso útil na mão do Seu possuidor para cumprir o Seu eterno propósito.
Tudo com bom senso.
Conclusão:
• Que papel a adoração ocupa na sua vida espiritual?
• Por que a oração deve ter um papel prioritário na vida de adoração da igreja?
• Você tem o hábito de orar pelos líderes do seu país? Por que a Palavra de Deus diz que devemos orar por eles? Ore hoje por eles.
• Como Cristo é apresentado por Paulo nos vv.5-6 e qual a nossa responsabilidade diante da informação? Pense em como aplicar essa verdade nesta semana.
• A vida do adorador interfere na sua adoração? Como devemos nos portar no culto?
• Como mulher, você entende o seu papel dentro do plano de Deus? Você aceita a sua função? Quais bênçãos poderíamos experimentar se homens e mulheres excercessem bem os seus papeis?
[1] Hughes Oliphant Old, Worship: That Is Reformed According to Scripture, Atlanta: John Knox Press, 1984, p.1 [2] Confissão de Fé de Westminster, X.1,2 [3] Costa, Hermisten Maia Pereira da, Princípios bíblicos de adoração cristã. Traduzido por Maia Pereira da Costa - São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p.57-58. [4] João Calvino, Pastorais, ed. Franklin Ferreira e Tiago Santos, trans. Valter Graciano Martins, Primeira Edição., Série Comentários Bíblicos (São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2009), 53. [5] Idem, 54. [6] William Hendriksen, 1 e 2 Timóteo e Tito, ed. Cláudio Antônio Batista Marra, trans. Valter Graciano Martins, 2a edição., Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2011), 144. [7] SPAIN, Carl. Epístolas de Paulo a Timóteo e Tito, p. 48. [8] Dias Lopes, Hernandes. 1 Timóteo (Comentários expositivos Hagnos) (p. 62). Editora Hagnos. Edição do Kindle. [9] William Hendriksen, 1 e 2 Timóteo e Tito, ed. Cláudio Antônio Batista Marra, trans. Valter Graciano Martins, 2a edição., Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2011), 132. [10] Idem, 133. [11] John MacArthur, Bíblia de Estudo, p.1656. [12] Stott, John; Larsen, Dale; Larsen, Sandy. Lendo Timóteo e Tito com John Stott (Lendo a Bíblia com John Stott) (p. 31). Editora Ultimato. Edição do Kindle. [13] William Hendriksen, 1 e 2 Timóteo e Tito, ed. Cláudio Antônio Batista Marra, trans. Valter Graciano Martins, 2a edição., Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2011), 135–136. [14] Lopes, Augustus Nicodemus. O Culto Espiritual: um estudo em 1Coríntios sobre questões atuais e diretrizes bíblicas para o culto cristão. São Paulo: Cultura Cristã, 2012, p.178-179. [15] João Calvino, Pastorais, ed. Franklin Ferreira e Tiago Santos, trans. Valter Graciano Martins, Primeira Edição., Série Comentários Bíblicos (São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2009, 70. [16] William Hendriksen, 1 e 2 Timóteo e Tito, ed. Cláudio Antônio Batista Marra, trans. Valter Graciano Martins, 2a edição., Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2011, 140. [17] Ibidem. [18] STOTT, John. A mensagem de 1 Timóteo, Tito e Filemom. 2004, p. 78-79. [19] John MacArthur, Bíblia de Estudo, p.1657.
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